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sábado, 9 de abril de 2016

Jesus desmentiu que Enoque, Elias e Moisés já estavam no Céu? – João 3:13



“Ora, ninguém subiu ao Céu, senão Aquele que de lá desceu, a saber, o filho do homem” (João 3:13), parece contrariar outros testemunhos escriturísticos que nos inteiram que Enoque, Elias e Moisés já haviam subido ao Céu.
Temos aqui uma “alusão à ascensão, que manifestará a origem celeste de Jesus e o entronizará na glória do Filho do Homem” (Anotação da Bíblia de Jerusalém a esta passagem).
A leitura atenta do contexto nos mostrará que o que Cristo quis dizer é que ninguém subira ao Céu para obter informações acerca do plano de Deus concernente ao homem.
Clarke apresenta o seguinte comentário: “Parece haver aqui uma expressão figurada, indicando que ninguém conhece os mistérios do reino de Deus como lemos em Deuteronômio 30:12; Salmos 73:17; Provérbios 50:4; Romanos 11:34. A expressão pode ser compreendida relacionando-a com a seguinte máxima: “Para estar perfeitamente familiarizado com os acontecimentos de um lugar é necessário que a pessoa esteja no lugar”. Nosso Senhor provavelmente pretendia corrigir uma falsa noção dos judeus, a saber, que Moisés ascendera ao céu para receber a lei”.
Sobre a variante – “que está no céu” – que aparece em algumas traduções, ela não se encontra no original. Talvez tenha sido uma anotação tardia feita por um copista, quando Jesus em realidade estava no Céu.

Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário – Passagens Aparentemente Conflitantes – item 5

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Deus deseja ou não que todos se salvem? – Romanos 9:13-24 e 1Timóteo 2:3-4



Será que Paulo em Romanos 9:13-24 declara que Deus não deseja a salvação para todos, enquanto, em 1Timóteo 2:3-4, afirma que Deus deseja que todos se salvem? A primeira declaração é falsa; porém a segunda é verdadeira.
O problema subjacente nestas declarações paulinas poderia ser apresentado com uma palavra – predestinação. Este assunto vem explicado em nosso livro Explicação de Textos Difíceis da Bíblia.
Quanto a este controvertido tema, a verdade está sintetizada na frase: “Deus quer que todos os homens se salvem”.
Romanos 9:13-24 não diz que há pessoas a quem Deus não possa salvar, diz apenas que tudo se adapta ao seu plano. O ímpio será destruído, mas Deus não impele ninguém a ser ímpio (Ezequiel 33:11). A ação de Deus sobre o homem é semelhante a ação do sol. O sol é culpado por endurecer o barro? Não. O problema está com a natureza do barro. Podemos culpar a Deus por alguns corações se endurecerem e outros se abrandarem? A resposta apenas pode ser negativa. O mesmo sol que endurece o barro, derrete a manteiga e a cera.

Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário – Passagens Aparentemente Conflitantes – item 8

terça-feira, 5 de abril de 2016

Apenas Paulo ouviu a voz no caminho para Damasco? – Atos 9:7 e 22:9




Na primeira citação, Lucas declara que as pessoas que iam com Paulo ouviram a voz, mas, em Atos 22:9, o próprio Paulo afirma que os circunstantes não ouviram a voz.
A tradução de Almeida Revista e Corrigida assim apresenta as duas passagens:
Atos 9:7 – “E os varões, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém”.
Atos 22:9 – “E os que estavam comigo viram, em verdade, a luz, e se atemorizaram muito; mas não ouviram a voz daquele que falava comigo”.
Na Edição Almeida Revista e Atualizada este problema de tradução já foi sanado, pois Atos 22:9 reza: “Os que estavam comigo viram a luz, sem contudo perceber o sentido da voz de quem falara comigo”.
Vincent apresenta a seguinte nota para Atos 22:9 – “O verbo deve ser tomado no sentido de compreender, como em Marcos 4:33; 1Coríntios 14:2, que explica a aparente discrepância com Atos 9:7.
A Bíblia de Cambridge apresenta o seguinte esclarecimento:
“Paulo ouviu palavras inteligíveis; os outros ouviram uma voz, sem distinguir as palavras. Não ouviram a voz, isto é, as palavras dirigidas a Paulo. Só tinham consciência de ter ouvido um som próximo”.
Em outras palavras: Paulo compreendeu o sentido das palavras; os outros só ouviram o som.
O conhecimento da sintaxe grega ajuda a solucionar o problema:
“Quem lê grego facilmente pode resolver a dificuldade. A construção do verbo ouvir (akouo) não é a mesma nos dois relatos. Em Atos 9:7 o verbo é empregado como genitivo, e em Atos 22:9 com o acusativo. A construção com o genitivo simplesmente expressa que algo está sendo ouvido, ou que determinados sons alcançam o ouvido. Não se indica se a pessoa entende ou não o que ouve. A construção com o acusativo descreve um ouvir que inclui apreensão mental da mensagem falada. Daí se torna evidente que as duas passagens não se contradizem. Atos 22:9 não nega que os companheiros ouviram determinados sons. Simplesmente declara que não ouviram de modo a entender o que estava sendo dito. Algumas línguas, nesse caso, não são tão expressivas como o grego” (W. Arndt, A Bíblia se Contradiz?, pág. 11).

Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário – Passagens Aparentemente Conflitantes – item 9

quinta-feira, 31 de março de 2016

Como entender Efésios 4:8 e 9 onde menciona que Jesus ‘levou cativo o cativeiro’. Esse cativeiro seria o inferno?

 

Vamos, então, ao texto bíblico citado por nosso ouvinte. Efésios 4:8 e 9: ‘Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido até às regiões inferiores da terra’

‘Ás partes inferiores da terra’ . Esta frase pode ser entendida como se referindo tanto para a própria terra quanto para o ‘inferno’ (hades ‘ sepultura) aonde o corpo de Cristo é descrito como tendo ido por ocasião da sua morte (Atos 2:31).

Entender a passagem como se referindo ao ‘inferno’ (sepultura), faz com que a passagem fale especificamente a respeito da morte e sepultamento de Cristo. Foi esta humilhação de Cristo que o levou a Sua exaltação (Filipenses 2:5-11).

Ao participar de tal experiência em sua vida, Jesus Cristo tornou-se um Sumo Sacerdote eficaz e conhecedor de todas as fraquezas da vida humana, até mesma a própria morte (Hebreus 2:14-18 e 7:25-27)

Esse mesmo Jesus que neste mundo viveu, e morreu não continua morto. Ele ressuscitou. Mas você sabia que ele não ressuscitou sozinho da morte? Mateus 27:50 a 53 relata: ‘E Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito. Eis que o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo; tremeu a terra, fenderam-se as rochas; abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram; e, saindo dos sepulcros depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos.’

O que Efésios está dizendo é que quando Jesus ascendeu aos céus Ele levou para o céu com ele um grupo de pessoas ressuscitadas com Ele. Ele levou as pessoas que estavam no cativeiro da morte, cativas (isto é, redimidas) com Ele (longe do poder de Satanás) para o reino de Seu Pai. Foi uma pequena amostra da eficácia de seu sacrifício.

Um dia por ocasião de sua Segunda Vinda todos aqueles que creram nEle irão também ressurgir da tumba para serem revestidos da imortalidade.

domingo, 27 de março de 2016

O filho deve pagar pela iniquidade do pai? – Êxodo 20:5 e Ezequiel 18:20



Na primeira passagem lemos: “… Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos…”. Enquanto a segunda declara: “…o filho não levará a iniquidade do pai…”.
Estes dois textos interpretados cuidadosamente em seus contextos e na compreensão da Bíblia em suas doutrinas gerais  jamais se contradizem.
Através da declaração “visito a iniquidade dos pais nos filhos”, Deus nos quer ensinar que os filhos sofrem as consequências dos pecados dos pais. Pensemos no filho de um alcoólatra inveterado. Os filhos herdam dos pais fraquezas que os levam a pecar. Estudos têm sido feitos provando que os pais praticantes de vícios e pecados transmitem aos filhos e netos as consequências de sua vida desregrada. Embora os filhos sofram as consequências dos pecados dos pais, Deus em Sua justiça irá punir apenas os responsáveis pelo pecado. A pessoa sofre fisicamente, mas isto não afasta a sua salvação.
A primeira passagem está falando do aspecto físico, enquanto a segunda se refere ao aspecto espiritual.
O filho do maior marginal, não seguindo o exemplo paterno e aceitando a Cristo como seu Salvador, tem o privilégio da salvação. Na primeira passagem há referências às tendências hereditárias; na segunda, Ezequiel dá ênfase a esta verdade – o filho não é responsável pelos erros dos pais.
O primeiro texto trata dos resultados físicos nesta vida; o segundo, da salvação espiritual para a vida por vir.

Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário – Passagens Aparentemente Conflitantes

sábado, 26 de março de 2016

Setenta ou Setenta e Cinco Pessoas desceram ao Egito com Jacó? – Gênesis 46:27 e Atos 7:14





Gênesis 46:27 – “Todas as pessoas da casa de Jacó, que vieram para o Egito, foram setenta”.
Atos 7:14 – “Então José mandou chamar a seu pai, Jacó, e toda a sua parentela, isto é, setenta e cinco pessoas”.
“Moisés acrescenta Jacó, José e seus dois filhos aos 66 descendentes de Jacó, perfazendo um total de 70 pessoas da família que se estabeleceu no Egito.
O total que Estêvão dá, de 75 (Atos 7:14), em vez de 70, se deve ao fato de ele ser um judeu de fala grega que usou a versão grega do Antigo Testamento, muitas vezes citada no Novo Testamento, que inclui os netos de José (ver comentários de Atos 6:1)” (Comentário Bíblico Adventista, referente Gênesis 46:27).

Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário – Passagens Aparentemente Conflitantes – item 10

quinta-feira, 24 de março de 2016

Examinais ou Examinai as Escrituras? Uma Crítica ou uma Ordem? – João 5:39


“Examinais (ou examinai) as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de Mim testificam”.

Por que razão algumas traduções da Bíblia apresentam o verbo examinar em João 5:39 no modo indicativo e outras no imperativo?

Seriam ambas as traduções igualmente corretas? Ou seria uma melhor do que a outra?

O problema com esta passagem encontra-se no seguinte: as segundas pessoas do plural do presente do indicativo e do imperativo são idênticas em grego, portanto, o original “ereunate” pode ser traduzido por examinais ou examinai. Diante deste impasse, a única maneira segura de solucionar o problema é o estudo do contexto.

Comentários

As traduções de Almeida Revista e Corrigida, e Almeida Atualizada no Brasil, bem como a Bíblia de Jerusalém apresentam examinais, mas a Atualizada e a Bíblia de Jerusalém trazem uma nota ao pé da página indicando ser possível também traduzir o verbo no modo imperativo examinai.

Após a leitura da exposição de comentaristas e exegetas, que se seguem, você estará em condições de responder com mais autoridade sobre esta declaração de Cristo:

“Examinai as Escrituras. Esta passagem pode ser traduzida ou como uma simples declaração ‘Vós examinais as Escrituras’, ou como uma ordem ‘Examinai as Escrituras’. O contexto parece indicar que estas palavras são mais bem compreendidas como uma franca declaração de Cristo aos judeus: “Vós examinais…”. Era um antigo pensamento judeu que o conhecimento da lei asseguraria ao homem a vida eterna. Afirmam que Hillel, um rabino do 1º século a.C., havia declarado: ‘aquele que adquiriu para si as palavras da Torá, adquiriu para si mesmo a vida do mundo por vir’. Jesus aqui faz uso desta crença para lembrar aos judeus que as Escrituras nas quais eles pensavam encontrar a vida eterna eram os escritos que testificavam dEle (veja Patriarcas e Profetas, 367). Esta passagem tem também sido usada efetivamente como uma injunção para estudar as Escrituras (veja Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 121). Tivessem os judeus pesquisado as Escrituras com os olhos da fé, eles teriam sido preparados para reconhecer o Messias quando Ele estivesse entre eles” (Comentário Bíblico Adventista, referente João 5:39).

“Orígenes e Tertuliano advogam o uso imperativo aqui, portanto, a nossa exortação familiar ‘Examinai as Escrituras’ remonta pelo menos ao fim do segundo século. Este mesmo comentário, porém, opina que é melhor traduzir pelo indicativo – examinais, e interpreta: ‘Vós examinais a Escritura por causa da vossa crença errada de que essa minuciosa pesquisa de palavras e sílabas nos livros sagrados vos assegure a vida no porvir. Estais errados. O valor das Escrituras é que testemunham de Mim. E estais duplamente errados porque não vindes para Mim pessoalmente, quando Eu vos concedo a oportunidade’” (William Carey Taylor, O Evangelho de João, vol. 2, pág. 171).

“Todos os antigos exegetas, com exceção de Ciril, lêem no modo imperativo. Mais recentemente é que um bom número tem considerado no indicativo. A questão é unicamente de contexto, desde que nenhuma outra evidência está disponível. Mas, o certo é que o imperativo se ajusta à situação total, enquanto que o indicativo requer modificações, que não temos o direito de fazer. Jesus disse aos judeus: ‘Aqui está o Meu testemunho, examinai-o’” (R. C. H. Lenski, The Interpretation of St. John’s Gospel, pág. 413).

“A forma do verbo pode ser indicativa ou imperativa; o contexto mostra que o indicativo foi a forma usada. Somente esta interpretação faz sentido com “ereunate”, que segue, e com o contexto total” (C. K. Barrett, The Gospel According to St. John, pág. 222).

“Examinais as Escrituras. Estudaram as Escrituras pensando que a obediência mecânica aos preceitos da lei lhes daria o galardão da vida eterna. Não estavam errados em estudar as Escrituras na esperança de encontrar a vida eterna, mas sua interpretação delas estava totalmente errada, e não podiam encontrar o Cristo, que é o centro das Escrituras” (Edições Vida Nova, O Novo Comentário da Bíblia, pág. 1075).

“Não há maneira (com base na gramática grega ou na estrutura das sentenças do versículo) de averiguar com certeza se a palavra examinais é a tradução correta aqui, pois no grego pode ser tanto o indicativo, o que significaria costumais examinar, indicando uma ação contínua, ou, então, pode ser o imperativo, o que seria ‘examinai as Escrituras‘, como se fora uma ordem. Segundo a gramática grega pode ser uma coisa ou outra e há uma longa lista de nomes de intérpretes que têm defendido ambos os lados da questão. Porém, como quer que compreendamos a sentença, o sentido do versículo em nada é afetado. Parece mais provável que a tradução da Almeida Atualizada está correta aqui, ao traduzir a frase com o verbo no modo indicativo, o que descreve a febril atividade do estudo das Escrituras do Antigo Testamento, por parte do povo de Israel, e, mais especialmente ainda, pelas suas autoridades religiosas, para quem o conhecimento das Escrituras era motivo de intensa ufania…

“Os rabinos costumavam dizer: ‘Aquele que adquire as palavras da lei, adquire para si mesmo a vida eterna'” (Russell Norman Champlin, O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol. 2, págs. 350-351).

“Este verso deve ser traduzido não no modo imperativo, mas no indicativo. Assim: ‘Examinais diligentemente as Escrituras’. É sobejamente conhecido que estas palavras são comumente traduzidas no imperativo; mas tal tradução não se ajusta de maneira alguma ao verso seguinte, e a força e intensidade das palavras também não pode ser percebida por esta versão” (Adam Clarke, Clarke’s Commentary, vol. 5, pág. 554).

Conclusão

A estrutura da frase em grego nos leva a concluir que a única tradução correta é examinais. Se fosse imperativo, a oração subordinada seria: para que tenhais ou a fim de terdes vida eterna.

O plano da salvação apresentado na Bíblia jamais admitiria que Cristo ensinasse que a vida eterna possa ser adquirida pelo diligente estudo das Escrituras.

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

terça-feira, 22 de março de 2016

A Bíblia autoriza matar alguém? – Deuteronômio 5:17 e Levítico 20:27



À revista O Atalaia apresentaram o seguinte pedido: “Peço-vos a especial fineza de esclarecer-me a visível contradição entre Deuteronômio 5:17 – “Não matarás”, e Levítico 20:17 – “Quando, pois, algum homem ou mulher em si tiver um espírito de necromancia ou espírito de adivinhação, certamente morrerá; serão apedrejados; o seu sangue será sobre eles”.
Transcreveremos sua resposta: “É preciso notar que os hebreus constituíam uma teocracia, isto é, eram diretamente governados por Deus, por intermédio de seus juízes. Neste caso, era-lhe lícito, por ordem divina, executar a pena de morte contra quem desobedecesse a ordens expressas de Jeová. Foi, por exemplo, o que fizeram no caso relatado em Números 15:32-36, e em muitos outros. Hoje, é claro que semelhante procedimento seria crime grosseiro. O mandamento “Não matarás” naturalmente não afetava as ordens expressas de Deus, a um povo governado direta e exclusivamente por Ele. As ordens de matar tais ou quais pessoas, as quais encontramos nas instruções aos hebreus, e que hoje causam tanta estranheza a muitos leitores superficiais da Bíblia, representam apenas a consumação da infalível justiça de Deus. Assim é que os israelitas tiveram ordem de exterminar povos inteiros. Crueldade, injustiça? Não; a história desses povos mostra a que profundeza de corrupção haviam chegado, enchendo a ampla medida da misericórdia divina. Naquele tempo os hebreus eram os instrumentos pelos quais o Senhor executava a justiça” (O  Atalaia, julho de 1935, pág. 18).

Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário – Passagens Aparentemente Conflitantes – item 3

segunda-feira, 21 de março de 2016

Houve um tempo em que não existia lei? Romanos 2:12 e 5:13 se contradizem?



Paulo escreveu: “Assim, pois, todos os que pecaram sem lei, também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram, mediante lei serão julgados” (Romanos 2:12).

“Porque até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado em conta quando não há lei” (Romanos 5:13).

Ao Deus criar o homem e colocá-lo no Jardim do Éden escreveu a Sua lei no coração humano, sendo desnecessária a lei escrita em tábuas de pedra. Mesmo nas regiões mais atrasadas do mundo as pessoas têm conceitos de justiça, sabendo distinguir o certo do errado. Deus não exige do gentio que tem pouca luz, mas é sincero, mais do que a sua razão possa alcançar. Do outro lado, o homem que tem conhecimento dos Dez Mandamentos, mas não vive de conformidade com a luz que possui, ele não será aceito por Deus. Não é o conhecimento mental e intelectual que nos salva, mas a disposição de viver de acordo com a luz que possuímos e a aceitação de Cristo em nossa vida.

Romanos 5:13 não indica que houve um tempo quando não existia lei, porque a segunda parte do verso declara – “mas o pecado não é levado em conta quando não há lei”. A expressão “até à lei” tem apenas o significado de até que a lei fosse escrita.

Os israelitas no Egito perderam a intuição da lei divina escrita em sua mente e coração, daí a necessidade de Deus apresentá-la por escrito.
O comentário que se segue é de autoria do personagem já muitas vezes citado em nossas pesquisas, Adam Clarke, sobre Romanos 2:12 e 5:13.
Romanos 2:12 – “Eles, a saber, os gentios, que se verificar haverem transgredido contra a mera luz da natureza, ou antes, aquela verdadeira luz que ilumina todo homem que vem ao mundo (João 1:9), não estarão sob a mesma regra que aqueles, os judeus, que além disto desfrutaram de uma extraordinária revelação; mas serão tratados segundo sua dispensação inferior, sob a qual se alinharam: enquanto que aqueles, os judeus, que pecaram contra a lei – a positiva revelação divina a eles concedida, serão julgados por esta lei, e punidos proporcionalmente ao abuso de uma vantagem tão extraordinária”.

Romanos 5:13 – “Como a morte, também o pecado reinou de Adão até Moisés, visto que não houve lei escrita desde Adão até a que foi outorgada a Moisés, a morte que prevalecia não podia ser a infração dessa lei; pois o pecado, para ser punido com a morte temporal, não é imputado onde não há lei, o que mostra que a penalidade do pecado é a morte. Portanto, os homens não estão sujeitos à morte por suas próprias transgressões pessoais, mas pelo pecado de Adão, uma vez que, através da transgressão dele, todos vêm ao mundo com as sementes da morte e corrupção em sua própria natureza, adicionadas a sua depravação moral. Todos são pecaminosos – todos são mortais – e todos devem morrer”.

Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário – Passagens Aparentemente Conflitantes – item 7

sexta-feira, 18 de março de 2016

Há ou não justos neste mundo? – Eclesiastes 7:20; Mateus 1:19; Lucas 1:6


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Eclesiastes 7:20 parece chocar-se com Mateus 1:19 e Lucas 1:6, desde que na primeira passagem se declara que não há homem justo sobre a terra, enquanto nas outras duas, José esposo de Maria e os pais de João Batista são apresentados como justos.
Com o conhecimento de apenas um aspecto da linguagem tudo se esclarecerá. As palavras podem ser empregadas em sentido absoluto e relativo. Em sentido absoluto não existe nenhum justo entre os homens desde que este predicado pertence única e exclusivamente à Divindade. Cristo recebeu este título – “o justo”. Em sentido relativo todo aquele que se esforça para seguir a orientação divina pode receber este elogioso título. A Bíblia chama justos a Abel, José, Daniel e a alguns outros que se submeteram às diretrizes da Palavra de Deus.
Pensemos na palavra “santo”, empregada por escritores bíblicos para designar personagens por vezes falhos e claudicantes na estrada da vida. A Bíblia está mais interessada em mostrar as intenções do que as realizações.
As palavras apresentam gradações de significado. Um dicionário de sinônimo sindicará para justo os seguintes matizes: reto, íntegro, imparcial, racional, lógico,preciso, certo, exato, legítimo, adequado, conveniente, merecido, etc.

Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário – Passagens Aparentemente Conflitantes – item 6

terça-feira, 15 de março de 2016

Quem foi Melquisedeque? – Hebreus 7:1-3


Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

“Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou; a quem também Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é, por interpretação, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que é rei de paz; sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre”.

Qual o Enigma deste Personagem?

Um estudo cuidadoso deste personagem bíblico nos esclarecerá que nada existe de misterioso a seu respeito, a despeito da interpretação de alguns quanto a Hebreus 7:3.

A palavra em hebraico Malkicedeq, significa rei de justiça, ou ainda, de acordo com Hebreus 7:2, rei de Salém, isto é, rei de paz.

Para melhor compreensão deste tema duas coisas são necessárias:

1º) Estudo do contexto das passagens onde seu nome aparece.

2º) Alguns conceitos sobre o sacerdócio levítico e o de Cristo.

A) O nome Melquisedeque aparece dez vezes na Bíblia, sendo duas no Velho Testamento (Gênesis 14:18; Salmos 110:4); e oito no livro de Hebreus (5:6, 10; 6:20; 7:1, 10,11, 15, 17). Especialmente o capítulo sete de Hebreus precisa ser bem estudado.

B) Após a entrada do Pecado o indivíduo tornou-se sacerdote de si mesmo. Depois este encargo coube ao primogênito. Posteriormente a tribo de Levi foi escolhida para este mister. Quem não fosse da Tribo de Levi era indigno para este mister como vemos em Esdras 2:62. O relato desta passagem deve ser lembrado para melhor compreensão deste assunto.

O sacerdote devia ser tirado dentre os homens, com suas fraquezas, para que pudesse entender as fraquezas dos homens (Hebreus 4:14-16).

Sacerdote é a pessoa que atua como mediador ou intermediário entre duas partes.

Aquele que está encarregado de uma missão respeitável, o intercessor perante Deus a favor dos homens.

O Novo Comentário da Bíblia, editado em português por Russell P. Shedd, vol. 3, pág. 1357, afirma o seguinte:

“Sumo sacerdote é aquele que é nomeado para agir em prol dos homens naquilo que diz referência a Deus, especialmente para apresentar ofertas a Deus. O sumo sacerdote deve ser escolhido dentre os homens e ser capaz de, na qualidade de verdadeiro homem, simpatizar com as fraquezas humanas. Além disso, ele não deve presumir em tomar sobre si mesmo tal ofício; deve ter sido chamado para tal tarefa por nomeação de Deus. Tudo isso (em ordem reversa) é declarado como cumprido na pessoa de Cristo; conforme o escritor sagrado considera Sua nomeação divina, Sua perfeita humanidade e consequente habilidade de simpatizar conosco, e Seu ofício e obra. Pois foi Deus quem, ao ressuscitá-Lo de entre os mortos, reconheceu-O como Seu Filho, declarando abertamente a Sua nomeação para um sacerdócio eterno, segundo uma classificação diferente daquela de Arão, a ordem de Melquisedeque”.

Do exposto, esta declaração deve ser guardada: o sacerdote deve ser escolhido dentre os homens para poder simpatizar com as fraquezas humanas. Está é a razão pela qual Cristo só passou a exercer a função sacerdotal após ter tomado a natureza humana.

As Escrituras nos informam que há dois tipos de sacerdócio:

1º) Levítico – hereditário, e extinto com a morte de Cristo.

2º) Melquisediano – prefigurando o sacerdócio de Cristo, caracterizado por sua superioridade e eternidade.

Cristo apresenta um contraste com os sumos sacerdotes segundo a ordem levítica, que eram instalados no ofício para posteriormente serem removidos por motivo de falecimento. Por isso é que Ele se tornou sumo sacerdote para sempre. É justamente essa qualidade eterna que distingue a ordem sacerdotal de Melquisedeque da ordem levítica de Arão.

Que sabemos de Melquisedeque?

Através dos tempos tem havido muita discussão, procurando identificar quem foi Melquisedeque. As referências bíblicas para sua identificação são muito escassas. Aparece numa citação ligeira em Gênesis 14:18. Creem os estudiosos que ele era rei de algum clã semita ou de Salém. Sabe-se que era sacerdote e rei. Cristo também é sacerdote e rei, de onde ser Melquisedeque considerado uma figura de Cristo. Por ser “sacerdote do Deus altíssimo” no tempo de Abraão, este lhe devolveu o dízimo.

Tem sido assunto de grandes investigações entre os comentaristas o saber quem era realmente Melquisedeque. Defendem alguns ter sido Cristo; supõem outros que fosse o Espírito Santo; ainda outros sustentam que era um anjo; Enoque.

Não há necessidade de contestar cada uma destas suposições, mas apenas dizer o seguinte: Melquisedeque não era Cristo, declara Ellen G. White, pois Ele ainda não tinha tomado a natureza humana. Melquisedeque não podia ser o Espírito Santo, visto que o Espírito Santo não foi tirado dentre os homens. O sacerdote vivia do dízimo, porque era humano; o Espírito Santo não precisa de dízimo.

“Sem pai, sem mãe”. Esta afirmativa é que tem dado motivo para defenderem que fosse um rei sobrenatural. A opinião mais sensata e provável é a que o considera um rei, justo e pacífico, adorador e sacerdote do Deus altíssimo na terra de Canaã, amigo de Abraão, e como sacerdote superior a ele em dignidade.

A Bíblia nos apresenta a superioridade do sacerdócio de Melquisedeque sobre o sacerdócio levítico, por isso um significativo símbolo do sacerdócio de Cristo.

Russell Norman Champlin afirmou:

“Hermeneuticamente, Melquisedeque importante porque ilustra diversas coisas:

1) Um significado mais profundo da história;

2) Como a história pode ser profética e simbólica;

3) A unidade do Antigo e do Novo Testamentos;

4) A universalidade do ofício messiânico e sumo sacerdotal de Cristo;

5) A ab-rogação das ordens sacerdotais do Antigo Testamento, por estarem todas cumpridas em Cristo” (O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Vol. 5, pág. 527).

Salmos 110:4 nos ensina que o Messias seria um sacerdote divinamente nomeado, de acordo com a classificação de Melquisedeque. Essa afirmação bíblica sobre a necessidade de uma nova ordem sacerdotal é uma indicação de que a ordem levítica havia fracassado e uma melhor ordem de coisas devia levantar-se de acordo com Hebreus 7.

Pelo fato dos judeus rejeitarem a Cristo, não O aceitavam como sacerdote, então Paulo em Hebreus diz aos judeus: qual a razão de vocês não aceitarem a Cristo como sacerdote, se Abraão considerado tão grande por vocês aceitou a Melquisedeque como sacerdote, não sendo ele da tribo de Levi? É do conhecimento de todos que os sacerdotes tinham que ser da tribo de Levi, mas que Cristo pertencia a tribo de Judá (“tribo à qual Moisés nunca atribuiu sacerdotes” – Hebreus 7:14).

M. L. Andreasen escreveu: “Os judeus eram muito rigorosos no registro e preservação de suas genealogias, especialmente com referência aos sacerdotes. Ninguém podia servir como sacerdote a menos que pertencesse à família de Arão, da tribo de Levi, e isso tinha ele de provar, além de qualquer sombra de dúvida. Se porventura houvesse uma quebra na linhagem, seria ele excluído, perdendo assim os privilégios assegurados aos sacerdotes. Por esta razão todo judeu, e especialmente os sacerdotes, guardavam muito ciosamente todos os registros genealógicos” (The Bookof Hebrews, pág. 247).

A declaração de Hebreus 7:3 – “sem pai, sem mãe, sem genealogia; que não teve princípio de dias, nem fim de existência” deve ser compreendida como significando que estas informações genealógicas não estavam registradas em cartório.

Este aspecto da vida de Melquisedeque deve ser destacado: o livro de Gênesis nada diz sobre seus antepassados. No Antigo Testamento as genealogias se revestem de grande importância, particularmente no caso dos sacerdotes. Ele é apresentado como sacerdote por seu próprio direito, e não por motivo de descendência física. Semelhantemente não são mencionados nem seu nascimento nem sua morte. Nada é dito a respeito de seu sucessor. Em tudo isso ele é feito, pelo próprio silêncio das Escrituras, parecer-se ao Filho de Deus.

Se o livro de Gênesis apresenta algumas provas da grandeza de Melquisedeque, como o fato de ele ter abençoado a Abraão e este lhe devolver o dízimo, o livro de Hebreus (cap. 7) salienta a superioridade de Cristo como nosso sumo sacerdote.

domingo, 13 de março de 2016

Que Tratamento Jesus Dispensava a Maria? – João 2:4


“Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho Eu contigo? Ainda não é chegada a Minha hora”.

Do relato das bodas em Caná da Galileia, o verso 4 tem preocupado sobremaneira os comentaristas e os leitores da Bíblia, porque muitos concluem que a resposta de Cristo ao pedido de Maria não era cortês.

Os estudiosos da Palavra de Deus são quase unânimes em declararem que um dos nubentes era parente de Maria, devido ao seu procedimento em preocupar-se com a falta de vinho e também ao transmitir ordens aos criados.

Outros, familiarizados com os costumes dos judeus, nos informam que a provisão de vinho para a festa devia ser um presente dos convidados, especialmente dos familiares (Mario Veloso, Comentário do Evangelho de João, pág. 73).

Como Cristo não havia trazido um presente, Maria achou que era seu dever ajudar naquela emergência.

João 2:4, traduzido literalmente, significa: “Disse-lhe Jesus, Mulher, o que a ti e a Mim? Ainda não tem vindo a Minha hora”. Estas duas afirmações têm levado os comentaristas a apresentarem muitas sugestões visando equacioná-las de conformidade com as diretrizes divinas.

Para os protestantes a resposta de Cristo à sua mãe é um subsídio valioso para combater a mariolatria. O tratamento de “mulher” tem levado a muitos a afirmarem que Cristo não tinha Sua mãe em tão grande conceito como defende a igreja de Roma. João 19:26 e o procedimento de Cristo em todas as circunstâncias nos levam a fazer a seguinte afirmação: Jamais deveria passar pela nossa mente que Jesus usasse a palavra mãe em sentido pejorativo ou que faltasse ao respeito para com Maria. O costume da época e a índole da língua hebraica nos esclarecem que “mulher” era um título respeitoso.

As seguintes autoridades neotestamentárias são esclarecedoras:

a) De acordo com a Gramática de Robertson, pág. 539, há nesta frase uma expressão idiomática, significando, coloquialmente, mais ou menos o seguinte: ‘Não se importe com esta questão, que ela não nos diz respeito’.

b) Adam Clarke, comentando a declaração de Cristo, afirma: “Há aqui uma negação inesperada, como se Ele tivesse dito: Nós não somos empregados para providenciar as coisas necessárias para esta festa; este assunto pertence aos outros, que deveriam ter feito uma provisão adequada e suficiente para as pessoas que eles convidaram”.

c) Apesar da atitude de Cristo ser cortês, ela é firme, e inegavelmente encerra uma censura. Jesus não permitiria que de agora em diante seus familiares interferissem em Seu ministério. Não poderia ser tutelado por Maria desde que Sua missão era divina. As passagens de João 7:1-10; Marcos 3:33-35 e Lucas 2:49 nos mostram que Cristo não permitia que os familiares interviessem em Suas decisões.

Vincent, sempre muito feliz em suas sínteses, declara: “Embora de forma gentil e afetuosa, Jesus rejeitou a interferência dela, tencionando dar solução ao problema à Sua própria maneira” (Word Studies in the New Testament, vol. 2, pág. 80).

d) A Bíblia de Jerusalém apresenta a seguinte nota a este verso: “Literalmente ‘Que tenho Eu e tu com isso?’, semitismo bem frequente no Antigo Testamento (Juízes 11:12; 2Samuel 16:10; 19:23; 1Reis 17:18; etc.) e no Novo Testamento (Mateus 8:29; Marcos 1:24; 5:7; Lucas 4:34; 8:28). É empregado para rejeitar uma intervenção que se julga inoportuna ou, então, para demonstrar a alguém que não se deseja relacionamento algum com ele. Somente o contexto poderá indicar a nuança exata. Aqui, Jesus objeta a Sua mãe que ‘Sua hora ainda não chegou'”.

Todo este comentário poderia ser sintetizado com esta frase: O nome “mulher” era um título respeitoso em hebraico.

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

terça-feira, 8 de março de 2016

Pecado Para Morte e Pecado Não Para a Morte – 1João 5:16


Tem sido grande a diversidade de opiniões com respeito à significação desta passagem, e as ideias de alguns expositores do Novo Testamento não podem ser aceitas.

Entre as explicações apresentadas, as seguintes se destacam:

1ª) Há aqui referência ao pecado contra o Espírito Santo.

2ª) João faz alusão a um grande pecado, como homicídio, idolatria, adultério.

3ª) Alguns comentaristas creem que haja aqui referência ao pecado punido com a morte pelas leis do Velho Testamento.

4ª) Pecados castigados com a expulsão da sinagoga ou da igreja.

5ª) Pecado que acarretaria doença fatal sobre o ofensor.

6ª) Crimes contra as leis, pelos quais o ofensor era sentenciado à morte.

7ª) Pecados cometidos antes e depois do batismo; os primeiros seriam perdoados, mas os segundos, jamais.

8ª) A Igreja Católica explica que eram pecados que poderiam ou não ser perdoados após a morte. Baseando-se neste verso, a Igreja de Roma estabeleceu a doutrina do purgatório. Ainda com base nesta passagem, teólogos e comentaristas católicos classificam os pecados em dois grupos: pecados veniais e pecados mortais. Pecado venial é aquele digno de vênia, de desculpa, perdoável; enquanto o pecado mortal é aquele para o qual não há perdão; a pessoa deve pagá-lo com a morte.

Um dos primeiros pontos na exegese desta passagem é saber o que significa pecado para a morte (hamartia prós thánaton). Seria o pecado que terminaria em morte, teria como penalidade a morte, ou o pecado que, se prosseguisse em seu curso, traria doença que acarretaria a morte?

A palavra morte é usada no Novo Testamento com três significados:

1º) A morte física ou do corpo.

2º) A morte espiritual. Mortos em delitos e pecados (Efésios 2:1).

3º) A segunda morte.

Cingir-nos-emos a dois comentários por serem suficientes para nos elucidarem sobre o texto joanino.

I. “Se alguém. Comparar com capítulos 1:6; 2:1; 4:20. João usa um caso hipotético para apresentar uma importante lição. Aqui a referência é obviamente a um cristão que possui sã consciência de pecado.

Seu irmão. Isto limita a lição de João à comunidade cristã: ele está falando da preocupação com um irmão na fé.

Cometer pecado. Literalmente, “pecando um pecado”, isto é, verdadeiramente no ato do pecado.

Não para morte. Parece inegável que João esteja fazendo uma distinção entre formas de pecado, uma vez que, pouco depois, neste mesmo verso, ele fala de “pecado para morte”. Mas deve-se ter em mente o contexto. Nos versos 14 e 15 ele deu a certeza de que as orações do crente serão atendidas; aqui está aplicando a promessa a um tipo específico de oração – a oração em favor de outro – e está explicando sob que circunstâncias esta pode ser eficaz. Ao fazê-lo, discute duas classes de pecado – aqueles nos quais há esperança para o pecador e aqueles nos quais não há esperança. Na primeira classe, a oração pode ser um eficaz auxílio para a redenção; na segunda, como João mais tarde explica, não há garantia de que a oração será eficaz. Sustenta-se geralmente que o pecado para morte é o pecado imperdoável (ver Comentário Bíblico Adventista, Mateus 12:31-32). Daí que um pecado não para morte é qualquer outra forma de pecado em que incorre um irmão que caiu em erro.

Pedirá. Pedirá a Cristo, isto é, orará pelo irmão que caiu em erro. A frase pode ser tomada ou como uma injunção para orar ou como uma descrição da relação natural de um crente fervoroso quando confrontado com a delinquência de outro. Quão mais feliz seria a igreja se, em vez de discutir a fraqueza de um irmão, orasse por ele, e, se possível, com ele. Tal atividade intercessória habilitar-nos-á para a delicada tarefa de falar ao pecador e apontar-lhe o Salvador. Tal conversação servirá para edificar a igreja, enquanto que o mexerico e crítica derrubá-la-ão.

Lhe dará vida. É difícil determinar a quem os prenomes desta frase se referem. A sequência de ideias sugere que o apóstolo ainda está falando do cristão que ora por um irmão errante e é portanto um instrumento para conferir vida ao pecador. Mas é também possível que João tenha mudado abruptamente de assunto e esteja dizendo: Cristo dará, ao cristão que ora, vida para transmitir aos pecadores que não endureceram definitivamente o coração. A diferença é apenas de interpretação, pois a operação é a mesma em qualquer dos dois casos. O cristão não tem qualquer poder à parte do Salvador; assim, no final, é Cristo quem dá a vida, embora a oração intercessória possa ter sido o instrumento através do qual tenha sido concedida essa vida. Tal “vida”, contudo, é concedida apenas se há sincero arrependimento por parte do pecador.

Aos que. O escritor passou do caso particular ao geral, e fala de todos os que cometem “pecado não para morte.”

Há pecado para morte. Uma vez que João não define um pecado particular que resulte inevitavelmente na morte, é provável que esteja aqui se referindo a um tipo de pecado que certamente produzirá a morte. Se ele soubesse de um pecado específico que deixaria um homem sem esperança de salvação, poderíamos esperar que ele o identificasse, para que todos se acautelassem de cair na condenação irrevogável. Conquanto seja verdade que todo pecado, se nele se persistir, levará à morte (Ezequiel 18:4 e 24; Tiago 1:15), há uma diferença no grau ao qual qualquer ato específico de pecado trará um homem próximo da morte. Os pecados cometidos por aqueles que estão genuinamente ansiosos de servir a Deus, mas que sofrem de uma vontade fraca e fortes hábitos, são muito diferentes daqueles pecados que são deliberadamente cometidos em desafio impudente e deliberado a Deus. É mais a atitude e o motivo que determinam a diferença do que o ato do pecado em si. Neste sentido há distinções de pecados. Os erros menores, dos quais logo houve arrependimento e perdão, são pecados não para morte. Os pecados graves, nos quais se caiu repentinamente pela falha em manter o poder espiritual, ainda não é também um pecado para morte se seguido de genuíno arrependimento; mas a recusa em arrepender-se torna certa a morte final.

A distinção é claramente ilustrada nas experiências de Saul e Davi. O primeiro pecou, e não se arrependeu; o segundo pecou gravemente, mas se arrependeu sinceramente. Saul morreu sem esperança de desfrutar a vida eterna; Davi foi perdoado e lhe foi assegurado um lugar no reino de Deus.

Não digo. João não nos ordena orar, nem diz que não vamos fazê-lo, mas hesita em garantir respostas a oração por aqueles que deliberadamente se desviaram de Deus. Há uma diferença entre oração por nós mesmos e oração em favor de outros. Quando nossa própria vontade está ao lado de Deus, podemos pedir de acordo com Sua vontade e saber que receberemos resposta às nossas orações, mas, quando há uma terceira pessoa envolvida, precisamos lembrar que ela, também, tem vontade. Se recusar arrepender-se, todas as nossas orações e toda a obra que Deus poderia fazer e levar-nos a fazer não forçará a vontade. Ao recusar-Se a forçar o homem a permanecer bom, Deus também renunciou ao poder de forçar um pecador a arrepender-se.

Isto não significa que não devemos continuar a orar por aqueles que se desviaram do caminho da justiça, ou que nunca se entregaram ao Salvador. Não significa que não haverá muitas conversões surpreendentes como resultado de orações fervorosas e contínuas de corações fiéis. Mas João está mostrando que é inútil orar pelo perdão de um pecador enquanto ele se recusa a arrepender-se de seu pecado. Contudo, enquanto há qualquer base para esperança, devemos continuar a orar, pois não podemos dizer com certeza quando um homem já foi longe demais” (Comentário Bíblico Adventista,  1João 5:16).

II. “Verso 16. Pecado não para morte. Esta é uma passagem extremamente difícil, e tem sido interpretada de várias maneiras. O que é o pecado não para morte, pelo qual devemos pedir, e será dada vida àquele que o cometer? E o que é o pecado para morte, pelo qual não devemos rogar?

Mencionarei três das principais opiniões sobre este assunto:

1. Presume-se que haja aqui alusão a uma distinção na lei judaica, onde havia chattaah lemithah, “pecado para morte”, e chattaah lo lemithah, “pecado não para morte,” isto é, um pecado, ou transgressão, para o qual a lei determinara a punição de morte, tal como idolatria, incesto, blasfêmia, quebra do sábado, e outros semelhantes. E um pecado não para morte, isto é, transgressões por ignorância, inadvertência, etc., e as que, por sua própria natureza, parecem ser comparativamente leves e triviais. Que tais distinções de fato existiam na sinagoga judaica tanto Schoeltgen como Carpzovius provaram.

2. Por pecado não para morte, pelo qual se podia fazer intercessão, e para morte, pelo qual não se podia rogar, devemos entender transgressões da lei civil de determinado lugar, das quais algumas devem ser punidas com a morte, segundo os estatutos, sendo que o crime não admite perdão; outras poderiam ser punidas com a morte, mas o magistrado tem o poder de comutar a pena, isto é, de mudar a morte para banimento, etc., por razões que pudessem parecer-lhe satisfatórias, ou pela intercessão de amigos poderosos. Interceder no primeiro caso seria inútil, porque a lei não cederia, portanto, não necessitam suplicar por isto; mas a intercessão no último caso poderia surtir efeito, portanto, podiam suplicar; caso não o fizessem, a pessoa poderia sofrer a punição de morte.

Esta opinião, que foi promovida por Rosenmüller, insinua que os homens devem sentir as aflições um dos outros, e usar sua influência em favor dos infelizes, sem nunca abandonar os desafortunados, a não ser que o caso fosse absolutamente sem esperança.

3. O pecado não para morte significa um caso de transgressão, particularmente de grave apostasia da vida e poder da piedade, que Deus determina punir com morte temporal, estendendo ao mesmo tempo misericórdia à alma penitente. O profeta desobediente, em 1Reis 13:1-32, é, segundo esta interpretação, um exemplo: muitos outros ocorrem na história da igreja e de todas as comunidades religiosas. O pecado não para morte é qualquer pecado que Deus não escolha punir desta forma. Esta opinião sobre o assunto foi tomada por John Wesley, num sermão entitulado Um Chamado aos Apostatados – Works, vol. 2, pág. 239.

Não creio que a passagem tenha qualquer coisa a ver com o que é chamado o pecado contra o Espírito Santo; muito menos com a doutrina papista do purgatório; nem com pecados cometidos antes e depois do batismo – os primeiros perdoáveis, os últimos imperdoáveis, segundo alguns dos pais da igreja. Qualquer uma das duas últimas opiniões fazem sentido; e a primeira não é improvável; o apóstolo pode aludir a alguma máxima ou costume na igreja judaica que não é distintamente conhecida agora. Contudo, isto sabemos, que qualquer penitente pode encontrar misericórdia através de Jesus Cristo, pois através dEle todo tipo de pecado pode ser perdoado ao homem, exceto o pecado contra o Espírito Santo, que provei que nenhum homem pode cometer agora. Ver o comentário sobre Mateus 12:31-32.” (Adam Clarke, A Commentary and Critical Notes, vol. 6, págs. 925-926).

Pensamentos:

“Só existe uma coisa pior que o pecado: a perda do senso do pecado” (Papa João Paulo II).

“A única coisa com a qual contribuo para a minha salvação é o pecado do qual preciso ser redimido” (Vincent).

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Deus Envia Espíritos Malignos e Mentirosos? – 1Samuel 18:10 e 1Reis 22:19-22



1Samuel 18:10 – “E aconteceu no outro dia, que o mau espírito da parte de Deus se apoderou de Saul, e profetizava no meio da casa”.

1Reis 22:19-22 – “Vi ao SENHOR assentado sobre o Seu trono, e todo o exército do céu estava junto a Ele, à Sua mão direita e à Sua esquerda. E disse o SENHOR: Quem induzirá Acabe, para que suba, e caia em Ramote de Gileade? E um dizia desta maneira e outro de outra. Então saiu um espírito, e se apresentou diante do SENHOR, e disse: Eu o induzirei. E o SENHOR lhe disse: Com quê? E disse ele: Eu sairei, e serei um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas. E ele disse: Tu o induzirás, e ainda prevalecerás; sai e faze assim”.
Inegavelmente nos encontramos diante de declarações que causam dificuldades aos leitores.

Para boa compreensão destas passagens é necessário ter em mente os seguintes fatos:

1º) Tanto anjos bons quanto maus estão sujeitos ao poder de Deus. O próprio poder de que Satanás dispõe lhe é permitido por Deus.

2º) Veracidade destaca-se como atributo divino (Números 23:19), enquanto Satanás é o originador da mentira (João 8:44).

3º) É difícil, por vezes, transmitir em português o que os escritores bíblicos expressaram em hebraico e grego, por serem línguas com peculiaridades distintas.

Partindo do princípio que a divindade não está imbuída de nenhum espírito maléfico, a lógica determina que nenhum ente espiritual malfazejo integra a Essência Divina, logo nenhuma personalidade angelical maligna pode emanar de “Eli him”, precisamente o termo hebraico ocorrente em 1Samuel 18.10.

O que se deve ter muito em conta nesta investigação teológica é que a expressão(em português) “da parte de” não aparece no original hebraico. O famoso interlinear de Green traz, cautelosamente, a preposição inglesa “from” entre parênteses, querendo com isso denotar que não pertence ao Texto Massorético.

A melhor explicação para 1Samuel 18:10 é a que fornece o teólogo A. Neves de Mesquita, em sua obra Estudos nos Livros de Samuel, quando comenta 16:14-23. Eis o que diz:

“Deus mandara tanto nos espíritos bons como nos maus. Nada escapa ao governo divino, e os demônios são usados para perseguir os que estão desviados. O mundo invisível é muito misterioso para nós que só entendemos as coisas de acordo com a vista. Pode-se entender pelo texto que Deus tanto mandou um espírito mau para Saul, como o permitiu. Tanto vale uma coisa como outra. Em Jó, capítulo 1, verso 7, Deus dialoga com Satanás a respeito das atividades deste na Terra. Parece estranho, mas não é. Deus tem sob Seu domínio anjos e demônios, como tem os homens, e usa-os no Seu governo providencial, do modo que quer”.

Há uma particularidade no sistema verbal hebraico que deve ser lembrada. O chamado “hifel” é causativo, mas também é permissivo. É tarefa árdua distinguir nos escritores do Antigo Testamento o que é executado por Deus e por Ele permitido. Esta informação lança luz sobre o endurecimento do coração de Faraó.

O espírito maligno da parte de Deus significa permitido por Deus.

O Comentário Bíblico Adventista, referente Ezequiel 20:25, afirma: “Na linguagem bíblica, muitos atos são atribuídos a Deus, não com a ideia de que Deus os executa, mas de que em Sua onipotência e onisciência, não os impede”.

A expressão “o Senhor pôs o espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas”, de 1Reis 22:23, é uma adaptação antropomórfica, que traz indestrinçável incógnita. O tal espírito pertencia às hostes do bem ou do mal?

Na exegese precedente (1Samuel 18:10), “um espírito mau” pode ser entendido: um anjo bom autorizado ou ordenado à prática de um ato mau. O anjo que sai para ferir mortalmente os primogênitos dos egípcios pertencia às potestades benéficas, comissionado a ceifar vidas humanas, para o cumprimento da justiça de Deus, foi em certo sentido um “anjo mau” da parte de Deus.

É útil o comentário de Adam Clarke (*) sobre 1Reis 22:23:

“Ele permitiu ou tolerou que um espírito mentiroso influenciasse teus profetas. É indispensável novamente lembrar ao leitor que as Escrituras reiteradamente representam a Deus como o autor daquilo que Ele, no desenrolar de Sua providência, apenas permite ou tolera que ocorra. Nada pode ser feito no Céu, na Terra ou no inferno, que não seja por Sua atividade imediata ou por sua permissão”.

Síntese: Muitas vezes anjos bons são solicitados a fazer o mal para a obtenção do bem. Similarmente anjos maus operam o bem para a aquisição do mal, em inumeráveis circunstâncias.

(*) Adam Clarke, teólogo metodista, 1760-1832.

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

domingo, 6 de março de 2016

A Bíblia Manda Odiar o Pai e a Mãe em Nome de Jesus? – Lucas 14:26





“Se alguém vem a Mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo”. Assim foi traduzido este verso na Almeida Revista e Atualizada no Brasil, mas com a seguinte nota ao pé da página: “Aborrecer – isto é, amar menos. Mateus 10:37”.
O verbo aborrecer parece ser uma amenização do texto original, onde se encontra o verbo miseo, que significa odiar.
A Bíblia de Jerusalém verte o texto da seguinte maneira: “Se alguém vem a Mim e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser Meu discípulo” – explicando que esta construção é um hebraísmo, onde Jesus não exige ódio, mas desapego completo e imediato.
O Novo Testamento Vivo transmite com muito mais propriedade o sentido exato da declaração de Cristo: “Todo aquele que quer ser Meu seguidor deve amar-Me bem mais do que ao seu pai, mãe, esposa, filhos, irmãos ou irmãs; sim, mais do que a própria vida; caso contrário, não pode ser Meu discípulo”.
A Bíblia na Linguagem de Hoje também o traduz sem deixar nenhuma margem para dúvida quanto ao que Cristo quis dizer.
Uma exegese correta nos mostrará que não há necessidade para preocupações, pensando que Cristo exige ódio aos familiares para poder tornar-se Seu discípulo.
O procedimento de Cristo no lar e Seu ensino nos é muito útil para elucidar o que Ele queria dizer.
Se Lucas declarasse ódio aos parentes como condição essencial para tornar-se cristão, como entendemos em nossa linguagem ocidental, estaria em contradição consigo  mesmo ao declarar que até aos trinta anos Jesus era submisso aos Seus pais (Lucas 2:51).
Lucas 18:20 relata a impressionante cena do moço rico, que afirma ter guardado os mandamentos de Deus, e, ao citar cinco deles, conclui com o “honrar pai e mãe”. Jesus não condena este procedimento de respeito e obediência aos pais.
Uma explicação literal de Lucas 14:26 colocaria Cristo em conflito com o que Ele apresenta na Parábola do Filho Pródigo, considerada a pérola das parábolas. Seria uma narrativa conflitante a terna e comovente história do afeto paterno para com o filho extraviado em relação com Lucas 14:26.
De Seus ensinos, a declaração mais enfática se contra em Marcos 7:10 – “Pois Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe, e quem maldisser a seu pai ou a sua mãe, seja punido de morte”.
Este verso é uma introdução para condenar o falso sentimento de religiosidade expresso com o objetivo final de prejudicar os próprios genitores. Havia judeus tão apegados aos bens materiais que engendraram um plano para não ajudar os pais necessitados. O plano era oferecer a Deus os próprios bens. Cristo condena tal atitude fingida, porque ela se opõe ao mandamento divino que ordena honrar aos pais. Cristo aqui apresenta um caso de prioridades, isto é, a ajuda e a honra aos pais têm precedência sobre a oferta material a Deus.
Com a declaração de que os discípulos de Cristo devem “odiar os familiares”, Ele está apresentando uma subordinação de valores, isto é, os afetos mais íntimos não devem embaraçar a nossa ligação total a Deus.
Os comentaristas em geral mandam ver Mateus 10:37, que expressa com objetividade a verdadeira significação desta passagem: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim”.
Lucas 14:26 será compreendido quando sabemos que existe aqui um idiomatismo hebraico, semelhante aos encontrados em Gênesis 29:30-31 e Deuteronômio 21:15-17, onde aparece a palavra odiar significando amar menos.
Ângelo Pena, no livro Cem Problemas Bíblicos, pág. 326, concluiu a explicação desta passagem da seguinte maneira: “Mas por que usa Lucas o termo ‘odiar’? Pelo simples motivo que, no estilo oriental, amante da ênfase, prefere-se assinalar uma oposição aparentemente radical (ódio-amor), mesmo quando se quer manifestar uma subordinação precisa ou um grau diverso de sentimento afetivo. Os casos desse contraste, justamente com os dois verbos famosos, são muito numerosos no Novo Testamento e, mais ainda, no Antigo. Conhecemos essa tendência do estilo oriental; muitas vezes, porém, nos esquecemos. Para evitar explicações ilógicas basta ter presente o princípio e examinar os ditos de Jesus não separados, mas no conjunto e confrontando-os entre si. Então se vê logo que não existe o problema de conciliar o quarto mandamento com a máxima de odiar os parentes. As duas normas supõem uma perspectiva diversa. No fundo, Jesus com aquelas palavras quis simplesmente aplicar o princípio do maior preceito: amor a Deus e ao próximo. Este último, mesmo se referindo às pessoas mais caras, deve ser subordinado ao primeiro”.
A explicação apresentada para esta passagem pelo Comentário Bíblico Adventista, vol. 5, pág.894, não deve ser desprezada: “A Escritura torna claro que o verbo odiar não está empregado no sentido usual da palavra. Na Bíblia, ‘odiar’ frequentemente deve ser compreendido simplesmente como uma típica hipérbole oriental, significando ‘amar menos’ (veja Deuteronômio 21:15-17). Este fato é salientado claramente na passagem paralela, onde Jesus diz: ‘Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a Mim não é digno à mim’ (Mateus 10:37). Esta impressionante hipérbole é aparentemente usada para impressionar o seguidor de Cristo de que sempre na vida precisa escolher em primeiro lugar o Reino dos Céus”.
Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

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