Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.
“Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou; a quem também Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é, por interpretação, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que é rei de paz; sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre”.
Qual o Enigma deste Personagem?
Um estudo cuidadoso deste personagem bíblico nos esclarecerá que nada existe de misterioso a seu respeito, a despeito da interpretação de alguns quanto a Hebreus 7:3.
A palavra em hebraico Malkicedeq, significa rei de justiça, ou ainda, de acordo com Hebreus 7:2, rei de Salém, isto é, rei de paz.
Para melhor compreensão deste tema duas coisas são necessárias:
1º) Estudo do contexto das passagens onde seu nome aparece.
2º) Alguns conceitos sobre o sacerdócio levítico e o de Cristo.
A) O nome Melquisedeque aparece dez vezes na Bíblia, sendo duas no Velho Testamento (Gênesis 14:18; Salmos 110:4); e oito no livro de Hebreus (5:6, 10; 6:20; 7:1, 10,11, 15, 17). Especialmente o capítulo sete de Hebreus precisa ser bem estudado.
B) Após a entrada do Pecado o indivíduo tornou-se sacerdote de si mesmo. Depois este encargo coube ao primogênito. Posteriormente a tribo de Levi foi escolhida para este mister. Quem não fosse da Tribo de Levi era indigno para este mister como vemos em Esdras 2:62. O relato desta passagem deve ser lembrado para melhor compreensão deste assunto.
O sacerdote devia ser tirado dentre os homens, com suas fraquezas, para que pudesse entender as fraquezas dos homens (Hebreus 4:14-16).
Sacerdote é a pessoa que atua como mediador ou intermediário entre duas partes.
Aquele que está encarregado de uma missão respeitável, o intercessor perante Deus a favor dos homens.
O Novo Comentário da Bíblia, editado em português por Russell P. Shedd, vol. 3, pág. 1357, afirma o seguinte:
“Sumo sacerdote é aquele que é nomeado para agir em prol dos homens naquilo que diz referência a Deus, especialmente para apresentar ofertas a Deus. O sumo sacerdote deve ser escolhido dentre os homens e ser capaz de, na qualidade de verdadeiro homem, simpatizar com as fraquezas humanas. Além disso, ele não deve presumir em tomar sobre si mesmo tal ofício; deve ter sido chamado para tal tarefa por nomeação de Deus. Tudo isso (em ordem reversa) é declarado como cumprido na pessoa de Cristo; conforme o escritor sagrado considera Sua nomeação divina, Sua perfeita humanidade e consequente habilidade de simpatizar conosco, e Seu ofício e obra. Pois foi Deus quem, ao ressuscitá-Lo de entre os mortos, reconheceu-O como Seu Filho, declarando abertamente a Sua nomeação para um sacerdócio eterno, segundo uma classificação diferente daquela de Arão, a ordem de Melquisedeque”.
Do exposto, esta declaração deve ser guardada: o sacerdote deve ser escolhido dentre os homens para poder simpatizar com as fraquezas humanas. Está é a razão pela qual Cristo só passou a exercer a função sacerdotal após ter tomado a natureza humana.
As Escrituras nos informam que há dois tipos de sacerdócio:
1º) Levítico – hereditário, e extinto com a morte de Cristo.
2º) Melquisediano – prefigurando o sacerdócio de Cristo, caracterizado por sua superioridade e eternidade.
Cristo apresenta um contraste com os sumos sacerdotes segundo a ordem levítica, que eram instalados no ofício para posteriormente serem removidos por motivo de falecimento. Por isso é que Ele se tornou sumo sacerdote para sempre. É justamente essa qualidade eterna que distingue a ordem sacerdotal de Melquisedeque da ordem levítica de Arão.
Que sabemos de Melquisedeque?
Através dos tempos tem havido muita discussão, procurando identificar quem foi Melquisedeque. As referências bíblicas para sua identificação são muito escassas. Aparece numa citação ligeira em Gênesis 14:18. Creem os estudiosos que ele era rei de algum clã semita ou de Salém. Sabe-se que era sacerdote e rei. Cristo também é sacerdote e rei, de onde ser Melquisedeque considerado uma figura de Cristo. Por ser “sacerdote do Deus altíssimo” no tempo de Abraão, este lhe devolveu o dízimo.
Tem sido assunto de grandes investigações entre os comentaristas o saber quem era realmente Melquisedeque. Defendem alguns ter sido Cristo; supõem outros que fosse o Espírito Santo; ainda outros sustentam que era um anjo; Enoque.
Não há necessidade de contestar cada uma destas suposições, mas apenas dizer o seguinte: Melquisedeque não era Cristo, declara Ellen G. White, pois Ele ainda não tinha tomado a natureza humana. Melquisedeque não podia ser o Espírito Santo, visto que o Espírito Santo não foi tirado dentre os homens. O sacerdote vivia do dízimo, porque era humano; o Espírito Santo não precisa de dízimo.
“Sem pai, sem mãe”. Esta afirmativa é que tem dado motivo para defenderem que fosse um rei sobrenatural. A opinião mais sensata e provável é a que o considera um rei, justo e pacífico, adorador e sacerdote do Deus altíssimo na terra de Canaã, amigo de Abraão, e como sacerdote superior a ele em dignidade.
A Bíblia nos apresenta a superioridade do sacerdócio de Melquisedeque sobre o sacerdócio levítico, por isso um significativo símbolo do sacerdócio de Cristo.
Russell Norman Champlin afirmou:
“Hermeneuticamente, Melquisedeque importante porque ilustra diversas coisas:
1) Um significado mais profundo da história;
2) Como a história pode ser profética e simbólica;
3) A unidade do Antigo e do Novo Testamentos;
4) A universalidade do ofício messiânico e sumo sacerdotal de Cristo;
5) A ab-rogação das ordens sacerdotais do Antigo Testamento, por estarem todas cumpridas em Cristo” (O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Vol. 5, pág. 527).
Salmos 110:4 nos ensina que o Messias seria um sacerdote divinamente nomeado, de acordo com a classificação de Melquisedeque. Essa afirmação bíblica sobre a necessidade de uma nova ordem sacerdotal é uma indicação de que a ordem levítica havia fracassado e uma melhor ordem de coisas devia levantar-se de acordo com Hebreus 7.
Pelo fato dos judeus rejeitarem a Cristo, não O aceitavam como sacerdote, então Paulo em Hebreus diz aos judeus: qual a razão de vocês não aceitarem a Cristo como sacerdote, se Abraão considerado tão grande por vocês aceitou a Melquisedeque como sacerdote, não sendo ele da tribo de Levi? É do conhecimento de todos que os sacerdotes tinham que ser da tribo de Levi, mas que Cristo pertencia a tribo de Judá (“tribo à qual Moisés nunca atribuiu sacerdotes” – Hebreus 7:14).
M. L. Andreasen escreveu: “Os judeus eram muito rigorosos no registro e preservação de suas genealogias, especialmente com referência aos sacerdotes. Ninguém podia servir como sacerdote a menos que pertencesse à família de Arão, da tribo de Levi, e isso tinha ele de provar, além de qualquer sombra de dúvida. Se porventura houvesse uma quebra na linhagem, seria ele excluído, perdendo assim os privilégios assegurados aos sacerdotes. Por esta razão todo judeu, e especialmente os sacerdotes, guardavam muito ciosamente todos os registros genealógicos” (The Bookof Hebrews, pág. 247).
A declaração de Hebreus 7:3 – “sem pai, sem mãe, sem genealogia; que não teve princípio de dias, nem fim de existência” deve ser compreendida como significando que estas informações genealógicas não estavam registradas em cartório.
Este aspecto da vida de Melquisedeque deve ser destacado: o livro de Gênesis nada diz sobre seus antepassados. No Antigo Testamento as genealogias se revestem de grande importância, particularmente no caso dos sacerdotes. Ele é apresentado como sacerdote por seu próprio direito, e não por motivo de descendência física. Semelhantemente não são mencionados nem seu nascimento nem sua morte. Nada é dito a respeito de seu sucessor. Em tudo isso ele é feito, pelo próprio silêncio das Escrituras, parecer-se ao Filho de Deus.
Se o livro de Gênesis apresenta algumas provas da grandeza de Melquisedeque, como o fato de ele ter abençoado a Abraão e este lhe devolver o dízimo, o livro de Hebreus (cap. 7) salienta a superioridade de Cristo como nosso sumo sacerdote.
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