terça-feira, 12 de setembro de 2017

É bíblico ter relações sexuais durante as horas do sábado?



Esse tema é frequentemente citado no contexto de Isaías 58:13: “Se desviares o teu pé do sábado, de fazer a tua vontade no meu santo dia... .” Uma vez que o sexo é prazeroso, o texto é usado para proibir a relação sexual durante as horas sabáticas. No entanto, uma investigação mais profunda revela que a passagem de Isaías está falando sobre o Dia da Expiação, um dia dedicado ao autoexame, julgamento e purificação. Cada indivíduo deveria participar do cerimonial para que não fosse “cortado” (Levítico 23:29). Não há nenhuma evidência textual indicando que o sexo era proibido no sábado ou no Dia da Expiação. Não há também nenhuma evidência bíblica de que a relação sexual contamina a pessoa. 


Na verdade, todas as referências ao prazer sexual no Antigo Testamento são positivas! Então, a que se refere a palavra “prazer”, citada em Isaías 58:13? A palavra hebraica é a mesma encontrada no verso 3, que adverte contra a exploração. Essa mesma palavra (na Bíblia judaica NIPS) é traduzida também como “o prazer nos negócios” (ou “interesse comercial” da pessoa). Isaías 58:14 ordena “chamar delícia o sábado” (NVI). A palavra “prazer”, em hebraico, é ‘oneg, que significa deleitoso. O significado de Isaías 58:13 é de que Deus quer que deixemos de lado os nossos próprios compromissos e os substituamos por algo muito mais excelente. 

Deus nos chama para vivermos uma vida de prazer altruísta, focados em nosso relacionamento com Ele. A noção de que o sábado proíbe o prazer e as alegrias concedidas por Deus durante as horas sagradas é basicamente uma leitura equivocada do texto original. O significado desse texto é de que devemos evitar “o prazer nos negócios” ou irmos em busca dos nossos próprios “interesses comerciais”. Caso contrário, qualquer coisa prazerosa, incluindo a ingestão de alimentos, o estudo da Bíblia ou o cântico devem ser proibidos também. 

O que entra em questão é a compreensão bíblica da sexualidade. Os judeus antigos, conhecidos pelos seus códigos de leis rigorosas sobre a observância do sábado, não proibiram a atividade sexual no sábado, conquanto que fosse dentro dos limites do casamento. Essa “bênção sabática” era considerada um momento de consumação matrimonial. O sábado e o casamento foram as duas santas instituições originadas no Jardim do Éden. No plano original de Deus, o sexo tinha por objetivo tornar-se a melhor maneira pela qual marido e mulher experimentariam os níveis mais profundos de intimidade dentro dos sagrados laços do matrimônio – os dois se tornariam uma só carne. Tragicamente, a sexualidade tem sido distorcida e pervertida pelo pecado. Os antigos códigos hebraicos eram necessários porque Deus queria evitar as perversões sexuais praticadas pelas nações pagãs circunvizinhas. A sexualidade devia ser cuidadosamente guardada. 

Outra perversão veio do pensamento grego que considerava o homem um ser composto de corpo e alma – o corpo como sendo matéria e mau, portanto, temporário e perecível; a alma como sendo o espírito e bom, por eles definido como eterno e imperecível. Alguns pensadores cristãos abraçaram esse dualismo entre corpo e alma, que tinha implicações no que diz respeito à sexualidade humana (bem como ao sábado e outras doutrinas). 

O impacto duradouro do platonismo pode ser visto na repressão da sexualidade apresentada nos escritos dos primeiros pais da igreja, como Orígenes e Agostinho. Todos os impulsos sexuais deveriam ser reprimidos. Essa visão da sexualidade cristã teve uma correlação direta com a eclesiologia, como no caso dos monges que se retiraram para lugares afastados e cavernas. Aqueles que se negaram ao prazer sexual e se tornaram celibatários foram considerados mais espirituais e, portanto, mais merecedores de cargos na igreja. Tudo isso contribuiu para uma teologia que, à semelhança do sábado do sétimo dia, afastou-se da visão bíblica da sexualidade. 

A beleza com que o sábado e o sexo foram agraciados no Éden acabou se perdendo durante a Idade das Trevas. O tema do sexo no sábado, de qualquer forma, é uma decisão profundamente pessoal e deve ser discutido com espírito de oração entre marido e esposa. Alguns casais escolhem, “por mútuo consentimento” (1 Coríntios 7:5, NVI), se renunciarem um ao outro durante as horas do sábado, a fim de manterem o seu foco espiritual. Isso é admirável, mas, para outros, pode ser algo perturbador. Para os casais que mantêm relações sexuais no sábado, tal visão tem raízes profundas na criação original. Uma visão da sexualidade que envolva todo o ser conecta o sexo à criação como um belo dom de Deus para a humanidade. Satanás distorceu esse dom. Quer a distorção venha pela opinião de que o sexo é um prazer egoísta e, portanto, precisa ser reprimido, quer pelo ponto de vista dos meios de comunicação de hoje, de que sexo não tem nada a ver com moralidade e de que está na vontade e no desejo pessoal indulgente, Satanás está por trás dessas tentativas de roubar este dom precioso do projeto original de Deus. 

Quanto à nossa questão sobre o sábado, o princípio que o apóstolo Paulo usou em outro contexto pode ser aplicado aqui também: “O que come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu” (Romanos 14:3, ARC). Deus criou o sexo como uma maneira de os seres humanos se conectarem mutuamente no nível mais profundo. Tal visão abarca toda a pessoa e vê o sexo como um belo presente de Deus.

Michael W. Campbell, PhD pela Universidade Andrews, é professor assistente de estudos histórico-teológicos no Adventist International Institute of Advanced Studies, em Silang, Cavite, nas Filipinas. (via Diálogo Universitário)

Assista no vídeo abaixo a opinião do professor Leandro Quadros sobre esse assunto:


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