sexta-feira, 1 de abril de 2016

Confissão Auricular e Perdão de Pecados – Quem Perdoa: Deus ou a Igreja?




Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

A Igreja Católica, baseada em algumas passagens bíblicas, como Mateus 3:6, Lucas 5:21 e 7:49, destacando-se João 20:23, instituiu a confissão auricular.

Autoriza a Bíblia esta doutrina? Vejamos o que ela diz sobre a confissão.

Alfredo Vaucher, em L’Histoire du Salut, diz:

“Parte alguma da Escritura designa os guias espirituais como encarregados de receber as confissões dos fiéis e conceder ou recusar absolvição”.

Nenhuma passagem da Bíblia autoriza a confissão auricular como afirmam teólogos católicos.

João 20:23: “Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos”.

Alguns exegetas afirmam que os verbos perdoar e reter deste verso se equivalem a ligar e desligar que aparecem em Mateus 16:19 e 18:18. A exegese de Mateus não pode ser aplicada neste contexto de João.

A interpretação eclesiástica católica defende que os apóstolos na qualidade de representantes de Cristo podiam, na realidade, perdoar ou reter os pecados dos homens no sentido literal, através da administração do confessionário. Sendo que a transferência apostólica, no seu entender, foi feita para os sacerdotes católicos, eles se sentem no direito de ter hoje este privilégio. Essa transferência se baseia única e exclusivamente na tradição eclesiástica, e não em qualquer declaração bíblica ou na autoridade das Escrituras.

As passagens bíblicas que falam em confissão e perdão de pecados, de modo nenhum autorizam a confissão auricular e muito menos lhe dão o direito de perdoar pecados. É desarrazoada a crença de que uma criatura possa perdoar pecados cometidos por outra criatura contra o Criador.

Mateus 3:6 é uma referência a João que batizava os que se arrependiam e confessavam os pecados. Mas a quem eles confessavam? Naturalmente a Deus e aos semelhantes a quem eles haviam ofendido.

De acordo com a Bíblia temos três espécies de confissões:

a) A confissão feita a Deus, de todos os nossos pecados;

b) A confissão recíproca às pessoas, que ofenderam e foram ofendidas;

c) A confissão pública de pecados que se tornaram públicos e trouxeram escândalo à igreja.

De maneira nenhuma podemos aceitar que, em João 20:23, Cristo instituísse a confissão auricular. Nesta passagem Cristo reconhece que Sua Igreja está investida de autoridade. Os atos da legítima igreja de Deus na Terra, em matéria de disciplina imposta aos seus membros, são ratificados pelo céu como concluímos da leitura de Mateus 18:18.

De acordo com o relato inspirado, somente Deus pode perdoar pecados (Neemias 9:17; Salmos 32:1; Romanos 4:6-8), porque Ele esquadrinha o nosso coração e nos cerca com Sua providência (Salmos 139:1-18; Jeremias 17:10).

O comentário que o insigne exegeta metodista Adam Clarke fez sobre João 20:23 não pode ser ignorado por nós:

“É certo que Deus, unicamente, pode perdoar pecados; e seria não somente uma blasfêmia, mas também crasso absurdo dizer que qualquer criatura pudesse perdoar a culpa de uma transgressão cometida contra o Criador. Os apóstolos receberam do Senhor a doutrina da reconciliação e a doutrina da condenação. Os que, em consequência de sua pregação, cressem no Filho de Deus, tinham perdoados os seus pecados; e os que não cressem, permaneciam na condenação”.

É uma sublime esperança, a declaração bíblica da disposição divina em nos perdoar, conforme relata o profeta Isaías (55:7). De outro lado, devemos exercer para com nosso próximo a mesma misericórdia que esperamos de Deus (Mateus 6:14; 18:23-25; Marcos 11:25).

Deus nos perdoa em Cristo por ter Ele vertido o Seu sangue pelos pecadores (Efésios 4:32; 1Pedro 1:18-19).

A declaração paulina de 1Timóteo 2:5 é muito enfática, em nos assegurar que o ser humano não necessita confessar os seus pecados a um sacerdote: “Porquanto há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem”.

Cristo deu a Sua vida pela nossa redenção; aceitando-O pela fé, receberemos a remissão dos pecados (Atos 13:38; 26:18).

Outra passagem que mereceria ser destacada, no contexto de confissão e perdão de pecados é Tiago 5:16, por aconselhar: “Confessai, pois, os nossos pecados uns aos outros…”.

Não encontramos nesta exortação a ideia de que devemos confessar os pecados a uma terceira pessoa, porém, está ele recomendando a reconciliação entre o ofensor e o ofendido, além da confissão a Deus, que em última análise foi também ofendido.

João 20:23 proclama esta sublime verdade: a mensagem de reconciliação trazida e perdão aos que a recebem, mas resulta em condenação e permanência da culpa com os que a rejeitam.

Segue-se o que diz o Comentário Bíblico Adventista sobre João 20:23:

“Aqueles a quem perdoardes os pecados. Jesus fala aqui aos discípulos como representantes de Sua igreja na Terra, à qual, atuando na capacidade de corporação, havia Ele confiado a responsabilidade de cuidar dos interesses e necessidades espirituais de seus membros individualmente. Jesus já lhes havia explicado plenamente como tratar com membros errantes: em primeiro lugar, pessoalmente (veja Mateus 18:1-15, 21-35), e, então, com a autoridade da igreja (ver os versos 16-20). Reitera Ele agora o conselho dado naquela ocasião anterior.

“A igreja deve trabalhar fielmente para a restauração de seus membros errantes, encorajando-os a arrependerem-se e se volverem de seus maus caminhos. Quando há evidências de que as coisas foram acertadas com Deus e os homens, a igreja deve aceitar o arrependimento como genuíno, liberar o errante das acusações trazidas contra ele (“perdoar” seus “pecados”), e recebê-lo de volta em plena comunhão. Tal ato de perdoar pecados é ratificado no céu; em realidade, Deus já aceitou e perdoou ao penitente (veja Lucas 15:1-7). Ensinam expressamente as Escrituras, porém, que a confissão do pecado e o arrependimento por havê-lo praticado devem ser feitos diretamente ao trono da graça no céu (veja Atos 20:21; 1João 1:9), e que a liberação da alma do pecado vem apenas pelos méritos de Cristo e Sua mediação pessoal (1João 2:1). Esta prerrogativa jamais foi delegada por Deus a errantes mortais, que tão frequentemente necessitam eles próprios da divina misericórdia e graça, muito embora sejam líderes nomeados da igreja. Veja O Desejado de Todas as Nações, 769-770; Mateus 16:19.

“Lhes são retidos. Quando não há evidências de genuíno arrependimento, as acusações trazidas contra um membro errante devem ser “retidas”. O céu reconhecerá a decisão da igreja, pois nenhum homem pode estar em condição satisfatória para com Deus quando deliberadamente está em desavença com seu próximo. Aquele que despreza o conselho dos representantes de Deus nomeados na Terra não pode esperar desfrutar do favor de Deus. Para uma ilustração da operação deste princípio na igreja primitiva leia Atos 5:1-11″.

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