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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Salmo 36 - Um Grande Constraste

Vamos estudar no livro dos Salmos o maior contraste que poderíamos imaginar entre dois caracteres. Quando Davi escreveu o Salmo 1, ele fez um grande contraste entre o justo e o ímpio. Mas no Salmo 36, ele vai muito além, comparando o caráter do ímpio com o caráter de Deus, criando uma grande antítese.
Parece que ele estava descontente com algumas pessoas que ele conhecia do palácio e na sua própria família, como Amnom, Absalão, Aitofel, Joabe, Simei e outros, em suas artimanhas malévolas, e começou a descrever o caráter do ímpio. Entretanto, após um pouco de meditação, não mais querendo fixar os seus olhos em tanta degeneração, ele voltou-se para meditar no caráter de Deus. E escreveu por inspiração do Espírito Santo. Suas palavras são penetrantes e reveladoras.
I – O CARÁTER DO ÍMPIO (V. 1-5)
Vamos começar fazendo algumas perguntas, e responder conforme nos diz a palavra inspirada deste salmo.
1. Como é o coração do ímpio? “Há no coração do ímpio a voz da transgressão.” (v. 1). O grande problema do homem é o coração, tanto do justo como o do ímpio, mas o ímpio não sabe disso. O coração é a fonte da vida e é um símbolo de nossa mente, onde se encontram todas as faculdades que regulam a nossa consciência.
Pois, se temos tantos poderes em nossa mente, em nosso coração, qual é a voz que ouvimos de dentro para fora? O que nos fala a consciência? Davi personaliza a transgressão e diz que ela tem uma voz, que fala ao coração do ímpio. Ou seja, a consciência do ímpio está tão degenerada e cauterizada que só lhe fala para transgredir todas as leis de Deus. Há no coração do ímpio uma voz que não é mais a voz doce e suave da consciência falando-lhe para agradar a Deus, mas é uma voz que lhe fala para transgredir.
Mas qual é o grande problema? Falta alguma coisa na consciência de tal homem? Há alguma faculdade que ele não possui? Sim, ele tem a faculdade espiritual morta: “não há temor de Deus diante de seus olhos” (v. 1). O grande problema do homem é o coração, e o grande problema do coração é a falta do temor de Deus. Os olhos de sua consciência têm uma visão materialista, egoísta e avarenta: uma visão impura. Eles não veem a Deus e sequer têm noção da presença do Eterno e onipresente. Portanto, o temor de desagradar ao Senhor é algo que não passa pela cabeça do ímpio, dentro ou fora da igreja.
Então, por que o ímpio não teme nem ao seu semelhante a quem ele pode ver? Note o verso 2: “Porque a transgressão o lisonjeia a seus olhos e lhe diz que a sua iniquidade não há de ser descoberta, nem detestada.” A transgressão continua lhe falando e agora o persuade de que não tem problema nenhum porque ninguém vai saber, ninguém vai descobrir, e nem será desprezado e odiado, e ele pode continuar fazendo o que quer.
Portanto, o ímpio não tem o temor de Deus e não tem o temor do homem, porque age escondido nas trevas e nas sombras da noite. E Cristo falando dessa atividade ímpia, disse: “O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem arguidas as suas obras” (Jo 3:19-20).
Por que os ímpios não temem a Deus e tampouco aos homens, como disse o juiz iníquo, da parábola (Lc 18:2)? Porque pensam que não serão descobertos. Julgam que as suas obras não serão arguidas, eles pensam que não serão julgados. Vivem como se Deus não existisse. Mas Jesus Cristo advertiu a todos: “Nada há encoberto que não venha a ser revelado; e oculto que não venha a ser conhecido” (Lucas 12:2).
2. Como são as palavras do ímpio? V. 3: “As palavras de sua boca são malícia e dolo.” Malícia é maldade e dolo é engano. É assim que se manifestam as palavras do homem ímpio: através da aparência de boas intenções, ele comete a maldade pelo seu engano, porque fala uma coisa objetivando outra. Quando as pessoas menos percebem, elas foram enganadas e são vítimas da maldade de um homem que já se foi embora. E muitas vezes, já estão fora do seu alcance.
As palavras têm uma grande influência em quem fala e na vida de quem ouve. O sábio Salomão disse: “As palavras dos perversos são emboscadas para derramar sangue, mas a boca dos retos livra os homens.” “Se o governador dá atenção a palavras mentirosas, virão a ser perversos todos os seus servos.” “Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a alma e medicina para o corpo” (Pv 12:6; 29:12; 16:24). As palavras podem construir ou destruir; podem ferir ou curar.
3. Como são as atitudes do ímpio? V. 3, (2ª p): “Abjurou o discernimento.” Um dos sentidos da palavra “abjurar” é abandonar, deixar. A maioria das versões, de modo mais simples, usa a palavra “deixar.” Assim acontece com o ímpio em suas atitudes: ele deixou de lado todo o discernimento.
Discernimento tem que ver com a mente e as atitudes. Se as suas faculdades intelectuais, morais e espirituais estão em harmonia, então, você terá excelente discernimento capaz de distinguir entre o bem e o mal (Hb 5:14). Mas os ímpios não gostam de discernimento, porque isso os levaria a fazer juízo entre o certo e o errado, e como eles sabem que estão no erro, pelos padrões da sociedade, e preferem o erro, então, o jeito é evitar todo o discernimento, para que eles mesmos não sejam condenados.
Portanto, a sua pregação e defesa será: “Não faça julgamento de ninguém. Cada cabeça é uma sentença. Ninguém tem o direito de dizer se eu estou certo ou errado. Se você é feliz assim do seu jeito, então, prossiga assim.” Eles abandonaram todo discernimento e juízo. Eles não gostam de leis e regulamentos. Não gostam de ser discriminados. E assim anda a passos largos esta sociedade sem regras, sem normas, sem leis, e caminha para a destruição. Assim prosperam as doutrinas do Existencialismo e Evolucionismo em sua declarada impiedade.
4. E como são as obras dos ímpios? Davi continua dizendo que eles abandonaram “a prática do bem” (V. 3, úp). É uma simples consequência do rumo dos seus pensamentos e atitudes. Suas obras espelham coerentemente o mal que está em seu coração. Não nos iludamos com as manifestações de caridade que existem na TV e outros meios de comunicação. Tudo isso é feito com dúbias intenções. Eles dão casas, roupas e comida para os pobres, mas com a intenção de fazer propaganda do seu nome e render muitos dividendos nessa empreitada. Eles fazem tudo isso com segundas intenções. Portanto, Deus diz que isso não vale nada! São justiças e caridades baseadas no egoísmo e não são aceitas. São meros “trapos da imundícia” (Is 64:6).
5. Qual é a essência da vida do ímpio? Na conclusão desta parte, Davi resume a vida do ímpio em 3 estágios, (V. 4): “No seu leito, maquina a perversidade, detém-se em caminho que não é bom, não se despega do mal.”
Meditação. No 1º estágio, ele “maquina”. Esta palavra-chave significa “planejar, meditar, inventar; premeditar.” O ímpio, na sua cama, antes de se levantar, planeja nas suas meditações matinais como irá executar o mal e a perversidade. Ele acorda pensando em praticar o mal. Ele planeja enganar, roubar, adulterar, matar e praticar toda sorte de males. Ele pratica uma meditação nada saudável; é uma meditação perversa, cheia de ideias más. O justo acorda e o seu primeiro pensamento se dirige a Deus e a Sua Palavra. “O seu prazer está na Lei do Senhor e na Sua Lei medita de dia e de noite”. (Sl 1:2).
Consideração. No 2º estágio da vida ímpia, ele se detém no caminho do mal, ou seja: ele fica detido, ele analisa todas as possibilidades, calcula todas as circunstâncias, pondera em todos os resultados, em uma tentativa de ser bem sucedido. Disse Salomão: “Quanto ao ímpio, as suas iniquidades o prenderão, e, com as cordas do seu pecado, será detido” (Pv 5:22, RC). Ele está detido, obcecado, analisando o seu plano de ação, e considerando as vantagens de suas próximas ações.  
Identificação. No 3º estágio, disse Davi, ele “não se despega do mal”. Fica completamente decidido, e deseja arrostar as consequências, sejam elas quais forem, porque ele não tem nada a perder. E, como dizem as outras versões nesse texto, ele “não aborrece o mal”. A implicação é a de que ele ama o mal e o pecado e a iniquidade, e começa a se identificar com o pecado. A grande diferença entre o justo e o ímpio é a de que o justo odeia, aborrece o mal, enquanto que o ímpio ama o mal, o pecado e a perversidade. E se alguém ama o mal, não o aborrece, não odeia o pecado, isso faz parte de todos os seus atos. É a sua vida e o seu prazer. Então, só pode esperar pelas trágicas consequências.  
Aqui estão as 3 etapas do pecado, e de uma vida de pecado: Meditação, Consideração e Identificação. Qualquer pecado passa por esses 3 estágios. O pecador planeja o mal, considera o caminho em que estará entrando, e finalmente, se identifica com o pecado, amando-o, e se apegando a ele. É por isso que no Juízo final, Satanás e todos os seus anjos serão destruídos. E assim todos os pecadores, juntamente. Porque o fogo que destrói o pecado terá de destruir aqueles que se identificaram com o pecado, e estão apegados a ele.
E quanto a você: Você aborrece o mal? Odeia o pecado? Ou não o detesta? Por acaso você gosta de pecar, ama o pecado? Disse o apóstolo Paulo sobre o caráter de Jesus: “Amaste a justiça e odiaste a iniquidade.” (Hb 1:9). Podemos amar a justiça e praticá-la, como fez o nosso Salvador. Mas antes disso, precisamos odiar o pecado e a iniquidade. Precisamos ter inimizade contra o nosso maior inimigo e aborrecer o pecado. Esta inimizade é um dom que Deus coloca em nossa natureza, sob o poder do Espírito Santo. Ele prometeu: “Porei inimizade” contra Satanás e contra o mal (Gn 3:15).
As palavras iniciais do livro dos Salmos, apresentam-nos os 3 estágios da vida do ímpio e afirmam a resolução inabalável e invencível dos justos, em um caminho diametralmente oposto: “Bem-aventurado o homem que (1º) não anda no conselho dos ímpios, (2º) não se detém no caminho dos pecadores, (3º) nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.” (Sl 1:1-2).
6. Quem são os ímpios? Alguém poderia dizer: É, de fato, os ímpios são maus, eles são perversos, eles vivem na iniquidade, eles não têm lei, eles só praticam a maldade, e merecem ser punidos. Eles merecem a morte. Davi também pensava assim. Mas num belo dia, o profeta Natã veio à sua presença e lhe contou a história de um homem rico que possuía muito gado e muito rebanho de ovelhas e roubou a ovelha doméstica de um homem pobre. Davi se levantou de seu trono e julgou corretamente: “Tal homem deve morrer!” E Natã lhe respondeu: “Tu és o homem, que deve morrer, porque adulteraste com a mulher do teu próximo e o mataste para ficar com ela.”
Quem é o ímpio deste salmo, na interpretação do apóstolo Paulo? Ele disse: “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado... Não há temor de Deus diante de seus olhos... pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3:9,18,23). Paulo prova que esse ímpio, sem o temor de Deus, em pecado, cheio de iniquidade, em pensamentos, palavras e obras, somos todos nós, ele se incluindo também.
Mas se eu sou esse ímpio, se você é esse ímpio, cheio de corrupção e maldade, cheio de pecado, merecendo o castigo e a morte, onde está a nossa esperança? A nossa única esperança está no caráter de Deus.
II – O CARÁTER DE DEUS (V. 6-10)
Tendo analisado o caráter pecaminoso dos ímpios, Davi agora, apresenta a grande esperança de todos os ímpios, na única esperança de todos os pecadores, ele faz um grande contraste do caráter dos ímpios com o caráter de Deus. A única esperança dos ímpios, a nossa única esperança, está no caráter de Deus. Se não fosse o caráter amorável de Deus, todos nós estaríamos perdidos.
1. A sublimidade da misericórdia de Deus. V. 5: “A tua misericórdia, Senhor, está nos céus, e a tua fidelidade chega até às mais excelsas nuvens” (RC). Misericórdia é a compaixão despertada pela miséria alheia. Os anjos não precisam de misericórdia, porque eles não caíram em pecado. Esta é uma necessidade humana. E onde está a nossa esperança? Nossa única esperança está na misericórdia de Deus que alcança os céus.
Somos como aquele paralítico que estava deitado num leito, pobre, miserável, um farrapo humano. E lá estava ele no tanque de Betesda. E ali Se encontrava Jesus diante dele. Foi pela misericórdia de Jesus Cristo que esse homem pôde se levantar. A sua esperança estava no poço, mas era uma esperança vã. Somente Jesus pôde ajudá-lo. E, portanto, disse-lhe: “Levanta-te e anda!” E ele deu um salto para nunca mais ser um paralítico e glorificava o nome de Jesus, a cada passo. Nossa esperança se encontra em Cristo.
A misericórdia de Deus é sublime, excelsa, altaneira, “chega até os céus”. O que significa isso? Davi interpreta as suas próprias palavras, significando a grandeza deste atributo de Deus, como no Salmo 103:11: “Pois quanto o céu se alteia acima da terra, assim é grande a Sua misericórdia.” O Seu amor, a bondade e misericórdia são imensos.
Mas não basta isso, porque também a Sua fidelidade se eleva “até as nuvens”. A bondade e a fidelidade sempre estão juntas, a fim de nos certificar de que as Suas promessas de misericórdia serão fielmente cumpridas. Imagine um político rico que se aproximasse de um mendigo, e compadecido dele lhe prometesse que lhe dará uma casa e comida todos os dias. Mas, como é comum, o rico vai embora e se esquece do pobre. O que aconteceu? O rico teve misericórdia, mas não teve fidelidade. A misericórdia de Deus está sempre ligada à Sua fidelidade, e ambas alcançam os céus, em sublimidade e imensidão.
2. A profundidade da justiça de Deus. Assim se expressa o salmista: V. 6: “A tua justiça é como as montanhas de Deus; os teus juízos, como um abismo profundo.” Deus é justo e a Sua justiça é tão alta como as montanhas do Criador, e, ao mesmo tempo, é tão profunda. Sua justiça e juízos são insondáveis. A Sua justiça se manifesta nos Seus juízos, que são como um “abismo profundo”. O homem caiu no mais profundo lamaçal de podridão e iniquidade. Mas Deus estava pronto para abaixar-Se e erguer o homem da sujeira do pecado e da imundície da sua iniquidade.
A justiça de Deus é tão profunda que nem mesmo Satanás podia entender como é que Deus pode ser ao mesmo tempo “justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3:26). A aplicação da justiça era uma reivindicação de Satanás, quando Adão pecou. Ele exigia que Adão deveria ser morto imediatamente. Mas a misericórdia de Deus o preservou, dando-lhe uma segunda oportunidade e assim também a todos nós. “Senhor, Tu preservas os homens e os animais” (V.6,úp). Até os animais são objetos da justiça divina, que é tão profunda e insondável. Mas os homens estão em primeiro lugar. É por causa dos homens que os animais são preservados, e não o contrário.
Os pecados impunes, não estavam sendo castigados, em sua justiça máxima (Rm 3:25), desde Adão. Isso o inimigo não podia entender e acusava a Deus de injustiça. A justiça de Deus surpreendeu ao inimigo que não podia contar com os Seus mais profundos recursos. Então, Cristo foi enviado, e nEle a justiça de Deus foi cumprida e derramada a ira divina sobre “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” e transforma ímpios pecadores em homens justos. Porque “Cristo... morreu ... pelos ímpios” que somos nós todos (Rm 5:6).
3. A preciosidade dos atributos de Deus. Então, agora, podemos dizer com o salmista: V. 7: “Como é preciosa, ó Deus, a Tua benignidade!  
A misericórdia de Deus nos provê a fortaleza. V. 7: “Por isso, os filhos dos homens se acolhem à sombra das Tuas asas.” A benignidade de Deus é tão preciosa que todos dependemos dela para viver. “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos.” (Lm 3:22). Acolhemo-nos à sombra das asas do Altíssimo, em Sua poderosa fortaleza. Estamos seguros porque temos a Deus como o nosso Refúgio.
Mas, muitas vezes não queremos a proteção divina, e nos acolhemos nas asas de poder humano. Disse Cristo a Sua nação, que O rejeitava: “Quantas vezes quis Eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” Quantas vezes fazemos o mesmo, e nos afastamos da proteção de Cristo! Quantas vezes nós O traímos como Judas, negamos como Pedro e O abandonamos como os demais discípulos! Mas a misericórdia de Cristo é tão preciosa que não nos abandona, e ainda nos atrai com as cordas de Seu amor, e nos recebe com terna compaixão. Porque “para vós outros que temeis o Meu nome nascerá o Sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas” (Ml 4:2).
A misericórdia de Deus também provê a fartura. V. 8: “Fartam-se da abundância da Tua casa, e na torrente das Tuas delícias lhes dás de beber.” Quão preciosa é a misericórdia de nosso Deus! Comemos e bebemos das fontes e do manancial das delícias de Suas bênçãos incontáveis.
A misericórdia de Deus provê a fonte. V. 9: “Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a luz.” Jesus Cristo é a Fonte da vida: “A vida estava nEle e a vida era a luz dos homens.” (Jo 1:4). Esta é a interpretação cristológica que João faz das palavras do salmista. E Cristo ainda completa: “Eu sou a Luz do mundo; quem Me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (Jo 8:12).
4. A perpetuidade do caráter de Deus. V. 10: “Continua a tua benignidade aos que Te conhecem, e a Tua justiça, aos retos de coração.” Assim vaticinou o profeta Jeremias: “As Suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã” (Lm 3:22-23). E Davi completa no Salmo 107: “A Sua misericórdia dura para sempre”. (Sl 107:1). E sobre a justiça divina? “A Tua justiça é justiça eterna” (Sl 119:142). Graças a Deus porque a Sua misericórdia e a Sua justiça continuam, e assim será pelos séculos intérminos da eternidade. Pela misericórdia, temos os nossos pecados perdoados. Pela Sua justiça, recebemos diariamente de Cristo a força para vencer a Satanás. A justiça de Cristo para a nossa justificação nos é imputada; mas para a nossa santificação nos é comunicada.  
Mas, para quem continua a Sua misericórdia e a Sua justiça? A misericórdia é um atributo que se manifesta de modo geral, e com justiça, a todos os seres humanos, santos ou ímpios pecadores. Mas de um modo particular e especial, ela será sempre vista e sentida por pessoas especiais.
Os que conhecem a Deus. Conhecer ao nosso Criador é a base para a vida eterna. Disse Jesus Cristo, em uma oração dirigida a Deus: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste.” (Jo 17:3). E Ele mesmo indicou como podemos conhecê-lO, não apenas por um conhecimento intelectual, mas através de um  conhecimento experimental: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim”. “Buscai no Livro do Senhor e lede” (Jo 5:39; Isaías 34:16). Precisamos examinar e buscar na Bíblia o nosso relacionamento com Deus e com Jesus Cristo, através do Espírito Santo, que foi Quem inspirou as Escrituras.
Os retos de coração. Esta é a vida de quem conhece a Deus de modo experimental: os que conhecem a Deus são retos de coração. Essas pessoas são os homens e mulheres justos de coração. O salmo começou com o coração perverso do ímpio e termina com o coração reto dos justos. Se o coração é o grande problema dos ímpios, é a solução para os justos. Não que por natureza os cristãos sejam melhores do que os ímpios, mas porque já entregaram o seu coração a Deus que nos transformou e purificou, e agora, temos a mente de Cristo (1Co2:16).
Graças a Deus que os Seus atributos de caráter, a misericórdia e a justiça continuam para sempre e eternamente. Este é o perfeito caráter divino. Jamais foi igualado, jamais foi sequer imaginado. Os anjos cantam alegremente: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, Aquele que era, que é e que há de vir.” (Ap 4:8). Este é o santo e perfeito caráter de Deus, cuja misericórdia e justiça continuam a fortalecer os justos até que Ele venha. E eles O louvarão por Seus atributos continuamente, porque os atributos de Deus são eternos como Ele mesmo.
 CONCLUSÃO (V. 11-12)
Davi termina o salmo com esta oração: V. 11: “Não me calque o pé da insolência, nem me repila [expulse, afugente] a mão dos ímpios.”
Esta é a oração de conclusão que Davi faz para se proteger. Ele ora para que os pés dos insolentes e orgulhosos não o atinjam. Ora para que as mãos dos ímpios não o afugentem. Ele sabia muito bem o que isso significava. O seu próprio filho Absalão se encheu de orgulho e o expulsou de seu próprio palácio, ameaçando matá-lo para usurpar-lhe o trono. Mas aquele filho transviado não se lembrou de que o seu pai era um filho muito amado de Deus, e que nenhum exército jamais o vencera.
Sempre devemos orar para que o mal dos ímpios não chegue até nós. Sempre devemos estar em comunhão com Deus a fim de que Ele nos avise contra o mal que os pecadores intentam contra nós. O Seu próprio Filho Jesus Cristo precisou dos anjos que avisassem a José, seu pai terrestre, para que tomasse cuidados especiais porque Herodes queria matá-lO.
Nosso maior inimigo, Satanás, é um adversário vencido. Jamais deveríamos esquecer que se ele e todos os demônios são poderosos, Cristo é o Todo-poderoso, Ele é o Senhor dos Exércitos e dará uma vitória esmagadora ao povo de Deus.
No final, quando todas as coisas estiverem resolvidas, quando tiver passado o Milênio (Ap 20), poderemos dizer, com o salmista, em suas últimas palavras deste salmo: V. 12: “Tombaram os obreiros da iniquidade; estão derrubados e já não podem se levantar.” Mas os justos estarão em pé diante de Deus e do universo. Vale a pena nós nos prepararmos. Você está se preparando?
Então, a Terra será purificada com fogo e transformada no Paraíso dos salvos. Então, “não se levantará por duas vezes a angústia” (Na 1:9). Jamais se levantará novamente o pecado com todas as suas atrozes consequências. Todo o Céu proclamará a harmonia eterna, e por toda a eternidade será exaltado o caráter do Criador, em Sua justiça e misericórdia, atributos tão sublimes que chegam até as nuvens e tão elevados que alcançam os Céus.

Pr. Roberto Biagini
Mestrado em Teologia
prbiagini@gmail.com

domingo, 28 de abril de 2013

Salmo 35 – Que Orações Você Publicaria?


Se você fosse Deus, que orações você publicaria? Pense bem: você publicaria na sua Bíblia as mais belas orações? Somente as orações que fossem sempre inspiradoras? Você editaria orações que pudessem representar belamente o seu caráter? Você publicaria apenas os anseios que dignificassem os escritores, seus auxiliares nessa publicação? Assim não fez o nosso Deus: Ele publicou os chamados "Salmos Imprecatórios". A expressão parece bonita, mas não o seu significado. Ele registrou orações que poderiam ser mal compreendidas e até comprometer o Seu caráter. Mas Deus é muito imprevisível mesmo. Isso não deveria nos surpreender.
Mas como podemos entender esses salmos imprecatórios, salmos em que os autores pedem vingança contra os seus inimigos? Como podemos entender estas orações inspiradas pelo Espírito Santo (At 1:16,20) em que os salmistas pedem o mal para os seus adversários, quando Cristo nos ordenou amar os inimigos e orar pelos que nos perseguem? (Mt 5:44).
A primeira resposta que devemos manter é que esta decisão de Deus não foi errada, porque Ele é onisciente, conhece todas as coisas e sabe que estamos lendo um salmo difícil de compreender. Ele sabe que isso haveria de surpreender a muitas pessoas; mas Deus é um Deus é de surpresas mesmo. Ele deve ter as suas razões para agir assim. Mais: ele deve ter algumas lições para nós ao publicar esse tipo de oração. Portanto, devemos estudar os salmos imprecatórios ao lado dos outros que nos parecem mais "inspiradores", a fim de descobrir qual foi o propósito de Deus ao deixar publicar tais orações.
Uma coisa a mais devemos manter: Deus não está disposto a defender a causa dos nossos inimigos; antes, defende a nossa causa, quando estamos de fato ao lado da justiça e da verdade. Mas Ele não estará a defender-nos se mudarmos a nossa posição.
Esboço e estrutura do Salmo 35:
I. APELO POR VINDICAÇÃO (1-10)
A. Razão do Apelo (1-3)
B. Apelo por Vindicação (4-8)
C. Promessa de Louvor (9-10)
II. APELO POR LIBERTAÇÃO (11-18)
A. Razão do Apelo (11-16)
B. Apelo por Libertação (17)
C. Promessa de Louvor (18)
III. APELO POR JUSTIFICAÇÃO (19-28)
A. Razão do Apelo (19-22)
B. Apelo por Justificação (23-26)
C. Promessa de Louvor (27-28)
Por que foram escritos, publicados e registrados na Bíblia os Salmos imprecatórios? Por que encontramos Davi e outros salmistas, além dos profetas, escrevendo orações que pedem a vingança contra os inimigos? HÁ OITO RAZÕES que respondem a esta pergunta, e estão claras no Salmo 35, que é um dos mais drásticos que encontramos em toda a Bíblia.
Este é um salmo dividido em três partes, sendo que no final de cada parte temos um louvor, e no início de cada parte, temos as razões do apelo que será feito. E são 3 os apelos de Davi para Deus: VINDICAÇÃO, LIBERTAÇÃO E JUSTIFICAÇÃO.
I. APELO POR VINDICAÇÃO (1-10)
A. Razão do Apelo (1-3): Os inimigos estão contendendo, lutando e guerreando contra Davi.
Davi introduz o salmo pedindo a Deus que assuma as contendas e lutas que ele tinha com os seus inimigos, e o represente, usando uma linguagem legal e militar: "1 ¶ Contende, Senhor, com os que contendem comigo; peleja contra os que contra mim pelejam." As circunstâncias deste salmo são a fuga de Davi escapando da perseguição de Saul com o seu exército de 3.000 homens, no deserto de En-Gedi (1Sm 24:1,2). Note as palavras de Davi para Saul naquele dia, após ter poupado a sua vida: "Seja o Senhor o meu juiz, e julgue entre mim e ti, e veja, e pleiteie a minha causa, e me faça justiça, e me livre da tua mão" (1Sm 24:15). Seguramente, o Salmo 35 foi um desdobramento disso.
1ª razão dos salmos imprecatórios é que temos inimigos e não adianta você se desculpar, dizendo que não temos inimigos, que somos cristãos, porque certamente eles estão por aí, em todo o lugar, embora sejam inimigos não de nossa parte (Rm 12:18). Pois basta que alguém seja um cristão para sofrer perseguições (2Tm 3:12). Davi tinha inimigos entre os pagãos, inimigos entre o povo de Israel, inimigos dentro do palácio, inimigos dentro dos parentes, inimigos dentro da própria família, e dentro de si mesmo, e sem falar dos inimigos demoníacos e do próprio Satanás (1Cr 21:1). Nunca vi alguém que tivesse tantos inimigos na vida exceto Jesus Cristo (Sl 69:4; Jo 15:25). Nós também temos muitos inimigos: No trabalho, na escola, na rua, em casa, entre os parentes, na família e dentro da própria igreja, sem falar dos demônios e de nossa natureza pecaminosa – todos conspirando contra nós.
2ª razão dos salmos vindicativos é que precisamos aprender a deixar os inimigos nas mãos de Deus. Assim como fez Davi. Estava Davi se vingando dos inimigos com as suas próprias mãos? Não. Ele deixou a vingança nas mãos de Deus. Não adianta contendermos com eles, não vai ajudar nada lutarmos contra os adversários. Não podemos vencê-los. Isso exigiria possuir armas próprias, mas muitas vezes são eles os que possuem as armas mais poderosas.  
Por isso Davi pede que Deus use as Suas armas: "2  Embraça o escudo e o broquel e ergue-te em meu auxílio. 3  Empunha a lança e reprime o passo aos meus perseguidores." Portanto, é Deus que deve agir no seu tempo certo, para guerrear as nossa batalhas com as Suas armas. Portanto, a Bíblia diz mais: "Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; Eu é que retribuirei, diz o Senhor." (Rm 12:19). Os salmos imprecatórios nos ensinam a clamar a Deus e deixar a nossa luta com o Todopoderoso. Você tem alguns inimigos? Deixe-os com Deus.
3ª razão para esse tipo de salmos, é nos lembrar de Quem é o nosso único e suficiente Salvador que nos liberta dos nossos adversários. O cristão não é ignorante de Seu Libertador. Ele nunca diz: "Quem me livrará do corpo desta morte?" (Rm 7:24), porque ele conhece o Salvador. Portanto, um salmo imprecatório é uma oração em que o salmista clama pela salvação que há em Deus somente, quando ele está desesperado em uma situação de grave perigo de vida.
O salmista não tinha dúvida sobre isso. Davi diz a Deus o que Ele deveria dizer ao Seu servo: "Dize à minha alma: Eu sou a tua salvação." (v. 3). Ele raciocinava assim: "Se Deus disser para mim que Ele é a minha salvação, então, estarei completamente seguro, muito mais do que se eu disser isso". Com efeito, Davi já havia dito isso, no salmo 27: "O Senhor é a minha luz e a minha salvação; de quem terei medo?" Mas no verso 9 (Sl 27:9), ele teve medo da ira de Deus e medo de se perder, e no verso 12, ele teme a crueldade dos seus adversários.
Portanto, nada melhor do que ouvir a voz de Deus nos dizendo que Ele é a nossa Salvação. Não importa a multidão de inimigos que tenhamos (Sl 3:1). Se Deus está ao nosso lado, não importa quem seja, nem quantos sejam os nossos inimigos. Deus é o nosso Refúgio e Fortaleza. Ele diz à nossa alma: "Eu sou o teu Salvador." Podemos cantar com Davi e fazer nossas as suas palavras, dizendo a Deus para nos dizer a nós as palavras que mais nos consolam:
"Fala à minha alma ó Cristo, fala-lhe com amor!
Segreda com ternura: 'Eu sou Teu Salvador!'
Faze-me bem disposto para te obedecer
Sempre louvar Teu nome dedicar-te o ser.
Faze-me ouvir bem manso, em suave murmurar;
Na cruz verti Meu sangue, para te libertar;
Fala-me cada dia, fala com terno amor;
Segreda-me ao ouvido: 'Tu tens um Salvador.'"
B. Apelo por Vindicação. (Vs. 4-8)
Qual era o grande apelo de Davi? Digo isso em 3 frases:
1. Que os inimigos sejam envergonhados. "Sejam confundidos e cobertos de vexame os que buscam tirar-me a vida; retrocedam e sejam envergonhados os que tramam contra mim" (4). Davi ora por vindicação. A maior vergonha do inimigo é ser derrotado em campo de batalha. Se Deus estivesse com Davi a defendê-lo, é certo que os adversários sofreriam o maior vexame, a derrota mais esmagadora de que se tem ouvido.
2. Que os inimigos sejam perseguidos. "5 Sejam como a palha ao léu do vento, impelindo-os o anjo do Senhor. 6 Torne-se-lhes o caminho tenebroso e escorregadio, e o anjo do Senhor os persiga." Após a vergonha da derrota, o jeito é fugir. Mas assim como perseguiram os justos, merecem a perseguição de um simples justo que aplica a justiça. Deus enviaria o Seu anjo. No Salmo anterior, lemos que "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem e os livra." (Sl 34:7). É nessa confiança que Davi suplica a perseguição dos adversários, a fim de que possam em justiça sentir a amargura do que significa perseguir aos que temem a Deus.
3. Que os inimigos sejam destruídos. "8 Venha sobre o inimigo a destruição, quando ele menos pensar; e prendam-no os laços que tramou ocultamente; caia neles para a sua própria ruína." Davi estava certo em pedir a destruição dos seus inimigos? Davi não deveria amar e orar a favor dos inimigos? Mas ele aqui estava orando contra eles. Não são palavras fáceis de se ler e muito menos de se explicar. Mas o salmo todo pode nos elucidar as razões que justificam tal oração que roga a destruição dos inimigos.
Estas são as orações de vingança de Davi contra os seus inimigos. Mas por que não compreendemos as suas palavras? Muitas vezes lemos as maldições, sem ler as suas razões. Por que são justas as reivindicações de Davi? Os inimigos perseguiam a Davi (v. 3), buscavam tirar-lhe a vida (4), tramavam contra ele (4,7), abriram uma cova para a sua vida (7), e tudo "sem causa" (7). Os adversários não podiam apontar nenhum defeito na vida de Davi, mas mesmo assim, por mera crueldade e truculência, eles queriam devorar a sua vida.
4ª razão para os salmos imprecatórios, é que eles são corretos porque os inimigos são culpados do sangue inocente, e estão perseguindo aos justos "sem causa". De fato, os inimigos merecem a punição reivindicada com justiça pelos filhos de Deus. Lemos que a voz do sangue inocente clama, desde o justo Abel (Gn 4:10) até os mártires de todos os séculos: "Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?" (Ap 6:10). Esta é mais uma oração imprecatória dos justos registrada no Novo Testamento, por vontade de Deus.
5ª razão porque as orações vindicativas foram registradas é que Deus prometeu vingar o sangue inocente dos Seus filhos. Deus vingará os inimigos do seu povo, em tudo o que fizeram contra ele. Disse Moisés: "O Senhor fará justiça ao Seu povo e se compadecerá dos seus servos ... porque o Senhor vingará o sangue dos seus servos, tomará vingança dos seus adversários" (Dt 32:36,43). Aqueles que tocam nos cristãos, tocam na "menina dos olhos" de Deus (Sl 17:8). Ferem aqueles a quem o Salvador mais preza e por quem Se entregou em sacrifício na Cruz do Calvário. Deus não pode deixar de exercer a Sua justiça em favor dos Seus filhos e contra os Seus inimigos. Ele sempre aplica a justiça punitiva ou salvadora. "Porquanto derramaram sangue de santos e de profetas, também sangue lhes tens dado a beber; são dignos disso" (Ap 16:6).
C. Promessa de Louvor (Vs. 9-10)
A seguir, Davi promete que há de se alegrar e louvar: "9 E minha alma se regozijará no Senhor e se deleitará na sua salvação. 10 Todos os meus ossos dirão: Senhor, quem contigo se assemelha? Pois livras o aflito daquele que é demais forte para ele, o mísero e o necessitado, dos seus extorquiadores."
Este ponto parece mais difícil de entender. Como pode se alegrar na aniquilação dos seus inimigos? Davi não deveria estar orando pelo bem dos seus inimigos? Não deveria amar aos seus inimigos e orar pelos que o perseguiam? (Mt 5:44).
6ª razão deste salmo vindicativo é que a alegria do salmista está "no Senhor". É claro que é difícil separar a libertação do fato de que isso implica na destruição do inimigo, mas isto provoca uma alegria pelo Deus que temos, em Quem nos regozijamos pelo fato de que Ele pratica a justiça. Ao sermos libertos, podemos dizer: "Quem, Senhor, contigo se assemelha?" Isto significa o nosso reconhecimento da superioridade da justiça divina.
O salmista poderia até ficar penalizado pela morte de alguns inimigos, que anteriormente eram seus amigos; ele pode ficar triste pela perda de muitos deles e até lamentar o fato de sua perdição. Mas a sua alegria estava "no Senhor" e no fato de ser Deus o seu Salvador, em quem habita a justiça. "No Senhor", não nos inimigos destruídos.
Isto foi ilustrado na ocasião em que Davi foi perseguido pelo seu filho Absalão, juntamente com uma grande multidão de amigos que se colocaram ao lado do filho rebelde e se tornaram seus inimigos. No final da batalha em que foram derrotados todos os seus inimigos e morto o seu filho, Davi lamentou a morte do filho que caçava a sua vida para lhe usurpar o trono. Quando Davi soube da morte do filho, o que fez?
"Então, o rei, profundamente comovido, subiu à sala ... e chorou; e, andando, dizia: Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!" (2 Samuel 18:33). Eram sentimentos controversos - um misto de alegria e tristeza ao mesmo tempo, querendo dar a vida pela vida do filho. Não admira que Davi foi considerado o homem segundo o coração de Deus, que enviou o Seu Filho para morrer em lugar de nós outros, Seus filhos perdidos. 
II. APELO POR LIBERTAÇÃO (11-18)
A. Razão do Apelo (11-16): Os amigos traíram a Davi, e se tornaram em seus piores inimigos.
Sabe qual foi a maior tribulação de Davi? Não eram os seus inimigos. Eram os amigos que se tornaram em inimigos. Eram os amigos que o traíram.  Alguém poderia se lembrar das palavras de Cristo sobre amar os inimigos e orar por eles? Mas note como Davi fez exatamente isso: "11 ¶ Levantam-se iníquas testemunhas e me arguem [acusam] de coisas que eu não sei. 12 Pagam-me o mal pelo bem, o que é desolação para a minha alma. 13 Quanto a mim, porém, estando eles enfermos, as minhas vestes eram pano de saco; eu afligia a minha alma com jejum e em oração me reclinava sobre o peito, 14 portava-me como se eles fossem meus amigos ou meus irmãos; andava curvado, de luto, como quem chora por sua mãe."
É evidente o profundo amor e afeição de Davi por esses "amigos", tratados como irmãos, e lamentados "como quem chora por sua mãe", mas que se revelaram em seus piores inimigos. Mas agora, veja o resultado de amar e orar por aqueles inimigos! "15 Quando, porém, tropecei, eles se alegraram e se reuniram; reuniram-se contra mim; os abjetos, que eu não conhecia, dilaceraram-me sem tréguas; 16 como vis bufões em festins, rangiam contra mim os dentes".
7ª razão dos salmos de vingança é que os inimigos já foram longe demais. Eles são falsas testemunhas contra nós. Pagam o mal pelo bem que lhes fizemos. Alegram-se de nossas desgraças, quando o mal nos abate. Reúnem-se para tramar a morte daqueles que os amaram e suplicaram com jejum e orações, rogando por sua vida e saúde. Torturam e dilaceram aos que seguem o caminho de Deus. Revelam o seu ódio selvagem contra todos os que amam a Deus. E finalmente, desejam a morte daqueles que os ajudaram e clamaram por sua salvação. Os ímpios, que são alvos dessas orações que reivindicam a sua condenação, ultrapassaram os limites da misericórdia divina; não há como converter esses corações empedernidos. Pecaram contra o Espírito Santo. Não há salvação para eles.
É claro que não podemos julgar a espiritualidade dos outros; só Deus pode saber quem vai se salvar e quem vai se perder. Mas Davi não colocou os nomes deles, ao lado de seus pecados. Ele nem colocou o nome de Saul, que foi o pior de todos, e já estava condenado por Deus! Davi sentiu bater-lhe o coração acelerado quando se aproximou de Saul para lhe cortar o manto (1Sm 24:5)  e poupou a sua vida, por duas vezes! Mas tudo isso deixava o salmista em uma grande tribulação, ainda penalizado por seus amigos traidores. Como Jesus, que parecia não suportar a separação de Judas.
B. Apelo por libertação (V. 17)
Davi apela por libertação: "17 ¶ Até quando, Senhor, ficarás olhando? Livra-me a alma das violências deles; dos leões, a minha predileta. 18 Dar-te-ei graças na grande congregação, louvar-te-ei no meio da multidão poderosa. "
Este é um apelo urgente (Até quando, Senhor?) visando a onisciência divina (V. 17: "Ficarás olhando?"; V. 22: "Tu, Senhor, os viste."), buscando a libertação. De fato, somente um Deus onisciente poderia ver todas as coisas, e a todas as pessoas, bons e maus, em todos os lugares do universo, para atender a todos os Seus filhos, e libertá-los dos seus inimigos que "tramam enganos contra os pacíficos da terra" (20). Mas Davi sabia disso, e apela por Sua sabedoria e visão onisciente para garantir a sua libertação.
Agora, chegamos na 8ª razão dos salmos imprecatórios: Deus publicou essas orações para nos ensinar a essência da verdadeira oração, sem falsas cortesias, e sem reservas. "Até quando, Senhor, ficarás olhando?" Você ora desta maneira para Deus? Nós somos muito finos e corteses em nossas orações, não querendo falar coisas impróprias numa oração por temor a Deus. Mas a verdadeira oração lança fora essa falsa delicadeza, esse fino trato, no qual tentamos esconder mesmo de Deus as muitas coisas que estamos remoendo em nosso coração. Entretanto, a verdadeira oração revela os sentimentos mais secretos da alma.
Quando estivermos prontos a orar e falar exatamente como nos sentimos, e quais são os pensamentos que nutrimos; quando estivermos prontos a revelar os mais íntimos segredos da alma, então, sim, estaremos começando a orar de fato e manteremos a verdadeira comunhão com o nosso Deus. Daí, virão as respostas às nossas preces mais profundas, às nossas mais indizíveis aspirações.
Veja como Davi ora: "Até quando, Senhor, ficarás olhando?" "Até quando terei de esperar, sem que faças coisa alguma?" Não parece descortês? Onde está a delicadeza, o fino trato e o respeito para com o Eterno? Mas Davi falava com sinceridade de alma. Ele tinha verdadeira intimidade com Deus. Abria o coração como a um amigo. Confiava-Lhe todas as tribulações. Note a sua angústia: "Livra-me a alma das violências deles; dos leões, a minha predileta." Ele não tinha receios de falar a verdade para Deus e Deus gostava tanto de Davi, que falou dele como alguém que era segundo o Seu coração (At 13:22).  
Davi se dirige a Deus, como Alguém que tem a visão da onisciência, lamenta-se da violência de seus cruéis inimigos, suplica a libertação e promete-Lhe dar graças pela libertação. Ele crê que sua promessa de gratidão e louvor há de ser um argumento muito forte para fazer de Deus o seu Libertador naquele momento de perseguição terrível.
C. Promessa de Louvor (18)
Davi cantou a segunda promessa de que haveria de louvar a Deus diante das multidões reunidas: "18 Dar-te-ei graças na grande congregação, louvar-te-ei no meio da multidão poderosa." Davi antevê a grande vitória de seu Libertador sobre os seus inimigos.
III. APELO POR JUSTIFICAÇÃO (19-28)
A. Razão do Apelo (19-22): Os "inimigos gratuitos" odeiam a Davi e planejam a guerra contra ele. Mas Deus sabe de tudo isso.
Nesta terceira parte do salmo, Davi fala sobre a alegria malévola dos seus inimigos. E acrescenta o tipo de adversários que possuía: eles são "inimigos gratuitos" (v. 19), ou seja: eles não podem dizer por que são meus inimigos. Eles "me odeiam sem causa!" Essas palavras foram usadas por Cristo para Se referir aos Seus inimigos, fazendo delas uma profecia messiânica: "Quem me odeia, odeia também a meu Pai. Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez, pecado não teriam; mas, agora, não somente eles têm visto, mas também odiado, tanto a mim como a meu Pai. Isto, porém, é para que se cumpra a palavra escrita na sua lei: Odiaram-me sem motivo." Jo 15:23-25.
20: "Não é de paz que eles falam." A intenção dos inimigos era promover a guerra literal e fisicamente para destruir o ungido de Deus. 21: "Escancaram contra mim a boca e dizem: Pegamos! Pegamos! Vimo-lo com os nossos próprios olhos. 22 Tu, Senhor, os viste; não te cales; Senhor, não te ausentes de mim." Aqui temos a certeza de triunfo da parte dos adversários de Davi, que afirmam que já o viram em meio aos seus esconderijos. Mas ele apela a Deus que já os vira muito antes em suas ações de complô contra o Seu servo. A onisciência divina é invocada pela segunda vez (17,22).
B. Apelo por Justificação (Vs. 23-26)
Este é o 3º apelo do salmista e agora ele ora por justificação: "23 Acorda e desperta para me fazeres justiça, para a minha causa, Deus meu e Senhor meu. 24 Julga-me, Senhor, Deus meu, segundo a tua justiça; não permitas que se regozijem contra mim." Davi não só apela por justiça, mas que Deus o julgue, a fim de proceder a sua justificação perante os inimigos.
Em circunstâncias diferentes ou lutando com algum pecado, Davi não pediria para que Deus o julgasse, porque a Sua justiça haveria de quebrantá-lo; antes clamaria pela misericórdia. Mas agora, ele está precisando da justiça e apela para o mesmo Deus, porque Davi conhece muito bem o caráter divino e sabe que ele é constituído de muitas e infinitas misericórdias, mas também de justiça que absolve os justos.
Davi sabe que o juízo divino não é de se temer porque será justo. Muito mais são de temer os juízos humanos, por muitas razões e principalmente porque são injustos. Portanto, ele confia em que a justiça de Deus seja feita em prol de sua causa, a fim de que ele seja justificado diante dos seus inimigos.
Mas há uma expressão que nos é muito familiar: "Deus meu e Senhor meu." (23) Estas palavras nos indicam um íntimo relacionamento de Davi com Deus. A religião verdadeira está baseada não em regras e cerimônias, mas em um relacionamento próprio com Deus. Tomé, depois de um tempo de dúvidas e incertezas, completamente convertido diante do seu maravilhoso Salvador, disse a Jesus em atitude de adoração: "Senhor meu e Deus meu" (Jo 20:28). Necessitamos desse íntimo relacionamento com Jesus Cristo especialmente em nosso tempo quando cresce o número dos inimigos em proporção geométrica.
C. Promessa de Louvor (Vs. 27-28)
Davi faz um convite para todos os que temem ao Senhor, e sentem prazer na justiça e retidão dos justos: "27 Cantem de júbilo e se alegrem os que têm prazer na minha retidão; e digam sempre: Glorificado seja o Senhor, que se compraz na prosperidade do seu servo!" Então, promete Davi louvar a justiça pela qual ele será justificado: "28 E a minha língua celebrará a tua justiça e o teu louvor todo o dia."
Esta é a 3ª vez em que Davi promete louvar e engrandecer a Deus (9,18,27-28). São três apelos e três louvores. Aqui ele convida aos seus verdadeiros amigos que têm prazer sua integridade, a se unirem a ele e glorificarem ao Deus que lhe concede a vitória esmagadora sobre os seus inimigos.
Meu prezado amigo, por acaso você está orando contra os seus inimigos? Ou a favor deles? É possível que inimigos sejam transformados em amigos, e depois sejam salvos. Deus responde as agonizantes e fervorosas orações dos cristãos. Ou será que alguém está orando e rogando impropérios contra você? Será que há entre nós alguém que esteja roubando propriedades, dinheiro ou a reputação dos outros? Será que há alguém que está tramando o mal e arruinado a felicidade de outros? Eu conheço pessoas que se dizem cristãos e agem exatamente assim. Tudo isso é motivo para orações a Deus.
Mas se você está orando contra alguém, será que essa pessoa não é especial para Deus? Você quer o mal para alguém que confia no sacrifício de Jesus Cristo? Por acaso você persegue a alguém que é reputado segundo o coração de Deus? Então, cuide para que esse mal não se volte contra si mesmo.
Davi dizia sobre os seus inimigos: "Não digam eles lá no seu íntimo: Agora, sim! Cumpriu-se o nosso desejo! Não digam: Demos cabo dele!" (25). Davi dizia para os seus amigos: "Digam sempre: Glorificado seja o Senhor!" Mas para o Senhor, Davi dizia: "Dize à minha alma: Eu sou a tua salvação."
Cantemos sempre e louvemos ao nosso Redentor:
"Fala à minha alma ó Cristo, fala-lhe com amor!
Segreda com ternura: 'Eu sou Teu Salvador!'
Faze-me bem disposto para te obedecer
Sempre louvar Teu nome dedicar-te o ser.
Faze-me ouvir bem manso, em suave murmurar;
Na cruz verti Meu sangue, para te libertar;
Fala-me cada dia, fala com terno amor;
Segreda-me ao ouvido: 'Tu tens um Salvador.'"

Pr. Roberto Biagini
Mestrado em Teologia
30/11/2012

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Salmo 34 – Como Alcançar a Longevidade?


INTRODUÇÃO (1-3)
Este cântico de louvor é um acróstico: cada verso inicia com as letras em sequência do alfabeto hebraico. Quanto ao conteúdo, é um cântico de Ação de Graças, semelhante no pensamento ao livro de Provérbios. Pode ser descrito como um salmo didático, que nos ensina lições extraordinárias, lições que procedem da experiência pessoal de Davi, o suave cantor de Israel, que muito mais do que todos, sabe o que é ser atribulado, mas que sabe também o que é ser liberto.
Davi se introduz com uma promessa de que louvará a Deus. Verso 1: "Bendirei o Senhor em todo o tempo, o seu louvor estará sempre nos meus lábios." Não basta louvar a Deus apenas em alguns momentos em que estamos emocionados diante das muitas maravilhas divinas. É um estilo de vida louvar a Deus em todo o tempo, ininterruptamente, porque isso passa a ser parte de nossa atitude mental. Não pode ser diferente, se você está com o coração cheio da Sua graça e amor.
Então, o salmista apresenta o resultado de louvar a Deus em todo o tempo: o seu louvor ajudará outros a conhecerem a Deus e estes passarão a louvá-lO também. A resolução de louvar a Deus continuamente é a base para levar outros a magnificar e exaltar o Senhor. V. 2: "Gloriar-se-á no Senhor a minha alma; os humildes o ouvirão e se alegrarão."
Muitos se gloriam nas suas aquisições, nos seus carros novos, em suas casas ou terras férteis. Outros se gloriam no seu conhecimento, nas suas aquisições intelectuais, nos seus doutorados. Outros ainda se gloriam nos seus talentos, nas suas habilidades, nos seus recursos humanos. E há até os que se gloriam no seu cônjuge, no seu casamento, e nos seus filhos.  Mas o salmista aqui se gloria no Senhor: toda a sua glória, todo o seu valor, todo o seu mérito, toda a sua riqueza estava em Deus. A glória do seu passado, a realidade do seu presente e a esperança do seu futuro estavam centralizadas em Jeová, o Deus da aliança.
Mas enquanto Davi fala em se gloriar, ele destaca que isso não deveria se confundir com orgulho porque louvar a Deus é uma atividade dos humildes: "os humildes o ouvirão e se alegrarão." A humildade é essencial para louvar a Deus, porque esse louvor exige a necessidade de reconhecer, não só a nossa pecaminosidade completa e a incapacidade de nos salvar, como também exige a necessidade de reconhecer as virtudes e qualidades de um Deus Criador, Mantenedor e Salvador. Portanto, Jesus Cristo inicia o seu maior discurso com um glorioso estímulo aos humildes: "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus." (Mt 5:3).
Então, Davi faz um convite universal, no v. 3: "Engrandecei o Senhor comigo, e todos à uma lhe exaltemos o nome." Este convite é dirigido a todos. Não importa quão pobres sejam os adoradores. Não importa quão desprezados sejam os que O louvam. Não importa quão pecadores sejam os que O buscam. Se eles começarem a louvar a Deus, eles deixarão os seus pecados e se voltarão para Aquele que é poderoso para salvar, bendizendo-O por Sua gloriosa salvação. 
OS JUSTOS QUE LOUVAM A DEUS BUSCAM 3 COISAS: LIBERTAÇÃOLONGEVIDADE E APROVAÇÃO.  
I – OS JUSTOS BUSCAM LIBERTAÇÃO (4-10)
V. 4: "Busquei o Senhor, e Ele me acolheu." Davi buscava a Deus continuamente, tanto nas horas boas, como nos momentos difíceis. Buscava ao Senhor quando estava feliz, mas também O buscava quando se sentia muito infeliz. Buscava o Seu Libertador quando estava alegre, mas também O buscava quando se sentia triste. E o seu testemunho é de que ele nunca foi decepcionado; pelo contrário, sempre foi acolhido. Assim como Davi, temos que buscar ao Senhor nosso Deus em todas as circunstâncias, porque Ele sempre nos acolherá.
1. Deus nos liberta do temor. Davi podia comprovar esse fato. Ele pôde testificar: O Senhor "livrou-me de todos os meus temores" (verso 4). Davi tinha muitos temores. Temor de animais selvagens, temor de pessoas invejosas, temor de gente hipócrita no palácio, temor de traidores, temor da guerra, temor de seus muitos inimigos, temor de falsos amigos, temor de não ser perdoado, temor de perder a salvação, temor de ser abandonado por Deus. Mas o Senhor o livrou de todos esses temores, e como Ele fez com o Seu servo, pode fazer com você.
Vivemos em um mundo de temor. O homem moderno vive acicatado pelo temor. O homem de nosso tempo vive atormentado pelo medo. O homem tem medo do escuro, da sexta-feira 13, tem medo de perder o emprego, teme um colapso cardíaco, tem medo da velhice, tem medo da vida, tem medo da morte, e teme o que virá depois da morte, e teme se perder no fogo do inferno. Mas Deus prometeu livrá-lo de todos esses temores. Disse Davi: O Senhor "livrou-me de todos os meus temores". (v. 4).
2. Deus nos liberta do vexame: V. 5: "Contemplai-O e sereis iluminados, e o vosso rosto jamais sofrerá vexame." O sentimento de vergonha é inato no ser humano decente, naquele que tem caráter. Note o sentimento dos cristãos romanos, em relação ao tempo de sua vida pregressa: "Quando éreis escravos do pecado, ... Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte." Rm 6: 20-21.
Davi também olhava para o seu passado e temia que os outros lançassem em seu rosto os seus erros e pecados. Se não, vejamos. Ele tinha cometido adultério com a mulher de Urias, esposa de um de seus mais valorosos oficiais. Para piorar a situação, Davi, longe de Deus, planejou e executou a morte de Urias, a fim de ocultar o seu pecado. Pouco depois, Amnon, filho de Davi, se apaixonou por sua irmã Tamar e, arquitetando um plano diabólico, praticou um pecado de incesto e estupro contra ela, arruinando a sua vida e a vida dela.
Ora, o povo reclamava por justiça, e Davi foi tentar censurar o pecado de Amnon, seu filho, atribuindo-lhe o castigo merecido. Mas quando Davi foi lhe falar em castigo, Amnon riu de sua cara e lhe lançou os seus próprios pecados em rosto. Pode imaginar a vergonha de Davi diante dos seus oficiais, com o rosto ruborizado, sem nenhuma moral para repreender o filho, ao dizer-lhe que era digno de morte, quando o filho era menos culpado que o próprio pai que agora o ameaçava?
Davi sentiu um grande complexo de inferioridade por causa de seus pecados. Nós também sentimos muitos complexos de inferioridade por causa do sexo, por causa da cor, ou a profissão, pela falta de conhecimento, pela falta de habilidade, mas também sentimos um grande complexo de inferioridade por causa de nossos pecados.
Mas agora, Davi nos fala como evitar a vergonha: "Contemplai-O e sereis iluminados, e o vosso rosto jamais sofrerá vexame." Em outras palavras: "Buscai a Deus, contemplai-O, e então, vocês serão iluminados com a luz fulgurante de Sua glória; então, nunca sofrereis a vergonha de seus pecados, porque estes serão perdoados e esquecidos."  
Contemplar a Deus não significa passar 4 horas em meditação vazia, como sugere a doutrina do yoga. Contemplar a Deus significa meditar no Seu caráter, nos Seus atributos e no Seu poder. O Seu caráter é justo, santo e bom. Os Seus atributos são a imortalidade, a imutabilidade e a eternidade. Já o Seu poder se mede pela onisciência, onipresença e onipotência.
Quando contemplamos a Deus desse modo, somos iluminados, conforme nos disse Davi, e somos transformados, conforme disse Paulo: "E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito." (2Co 3:18).
Quando contemplamos a Deus, somos transformados à semelhança do Seu caráter, e somos iluminados de tal modo que vencemos toda a espécie de complexos. Nessa feliz contemplação, nós teremos a solução de todos os problemas espirituais e psicológicos. Conhece pessoas que ficam com o rosto vermelho facilmente? Aqui está o segredo para vencer esse tipo de constrangimento: Contemplar a Deus pela fé, a fim de ver não os nossos pecados, mas o próprio Libertador. Disse Paulo: "Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus." (Hb 12:2).
"Olhar firmemente" é contemplar. Temos que contemplar mais Aquele que é o Autor e Consumador de nossa fé, Jesus, o qual morreu numa ignominiosa cruz para que não precisássemos sentir ignomínia, vergonha de nada, mas para que fôssemos capazes de levantar a cabeça e sairmos vitoriosos em nossa vida espiritual.
3. Deus nos liberta da dúvida: V. 6: "Clamou este aflito, e o Senhor o ouviu." Davi duvidou de que seria ouvido por Deus em sua oração de angústia. A sua dúvida é provada por seu forte clamor buscando a Deus em momentos em que parecia que Ele estava muito longe, cuidando de Suas galáxias. Mas as suas dúvidas acabavam porque, quando Davi clamava Deus o ouvia, e Se fazia entender em Suas claras respostas ao Seu servo aflito.  
Assim pode acontecer conosco. Assim ocorrerá com você: quando você clamar com fé, com inteireza e confiança, Deus o ouvirá. Naturalmente, Deus ouve todas as suas orações, mas aqui "ouvir" significa atender, responder, tornar-se propício. Nossas dúvidas devem ser todas dirimidas, porque Ele nos ouve, atende e Se torna propício para conosco, abrindo um mar de esperanças, mesmo quando estamos desesperados, sem ver nenhuma saída para os nossos intrincados problemas.
4. Deus nos liberta da tribulação. Davi passou muitas vezes pela experiência de que Deus "o livrou de todas as suas tribulações". Muitas foram as suas tribulações, mas Deus o livrou de todas. A palavra "todas" é significativa. Não somos libertos de algumas tribulações; não somos libertos apenas de umas poucas tribulações. Não somos deixados sozinhos quando as tempestades da tribulação nos afligem, porque o Senhor nos livra de "todas" as nossas tribulações.
Ou podem vir angústias, aflições de espírito, melancolia de alma. Podem nos visitar as provações, os testes em nossa vida familiar, ou no trabalho, ou mesmo na vida espiritual. Deus nos prova a todo o momento, a fim de desenvolvermos um caráter à Sua semelhança. Mas Ele promete nos valer em todas as nossas tribulações.
5. Deus nos liberta do perigo: V. 7 "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem e os livra." A Bíblia nos informa em muitos lugares que o Anjo do Senhor foi o próprio Jesus Cristo, que andava entre o Seu povo no Antigo Testamento. Deus enviou o Seu Anjo para Josué, antes da destruição de Jericó. E ele viu um homem  diante dele com uma grande espada reluzente, e lhe perguntou:  "És tu dos nossos ou dos nossos adversários?" E o Anjo lhe respondeu: "Não; sou Príncipe do Exército do Senhor e acabo de chegar." Era o Senhor Jesus Cristo que Se manifestava diante dele, em forma de um anjo, e aceitou a sua adoração. (Js 5:13-15; At 5:31). Com efeito, Deus manda o Seu Anjo para nos visitar e proteger. Mas esse texto (Sl 34:7) também se aplica à verdade de que cada um de nós tem o seu anjo da guarda.
Davi sofreu muitos perigos. Sua experiência começou quando cuidava de seu rebanho e teve de enfrentar um leão e logo um urso; depois, teve de enfrentar o perigo de lutar com o gigante Golias; então, teve de se livrar do rei Saul que lhe atirou uma lança tentando matá-lo, movido de inveja; e tratou de persegui-lo de morte, caçando a sua vida como a um bandido, tentando destruí-lo. Davi enfrentou o perigo nas guerras combatendo os inimigos de fora, perigos entre inimigos de dentro dos limites de Israel, perigos entre os seus próprios filhos, sendo perseguido por Absalão, que, além de cometer os crimes incestuosos com suas mulheres, tentou matá-lo para lhe usurpar o trono. Mas o anjo do Senhor se acampou ao seu redor, e o livrou de todos esses perigos, dando-lhe a força descomunal para salvá-lo, preservando-lhe a vida e o trono até ditosa velhice.
Paulo, como Davi, passou por muitos perigos: "Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez." (2Co 11:24-27).
Vivemos em um tempo de muitos perigos, muito mais do que em épocas antigas, por mais perigosas que fossem. Enfrentamos hoje perigos na natureza, perigos de enchentes, de ciclones, de furações, de terremotos, de maremotos, de tsunamis como jamais houve em outras épocas. Temos o perigo de pessoas, em roubos, assaltos à mão armada, estupros, pedofilia, incesto e assassinatos. Temos perigos políticos que geram as guerras, as revoluções e os levantes, além de roubos em grande escala da riqueza pública. Temos perigos dentro e fora de casa. Enfrentamos o perigo em uma loja comercial, num banco ou andando numa praça com nossos filhos, ou passeando em nosso carro com a família.
Mas a grande promessa é de que Deus enviará o Seu anjo para nos livrar de qualquer perigo, se nós, ao invés de colocar o temor mórbido no homem, colocarmos o nosso temor saudável em Deus. O Seu anjo nos cercará com as asas de Sua proteção a fim de nos preservar a vida.
6. Deus nos liberta da necessidade: V. 8: "Oh! Provai e vede que o Senhor é bom". As bondades de Deus são a certeza de que não passaremos nenhuma necessidade. Somos desafiados a testar ao Senhor, a fim de provar que, de fato, a bênção é reservada aos que põem nEle a sua confiança, e experimentam a felicidade. Portanto, é "bem-aventurado o homem que nEle se refugia" quando surge a necessidade ameaçadora.
Podem vir privações. Isto significa que a pobreza pode bater à nossa porta. Um problema financeiro na China ou na Grécia, um decisão do governo nas poupanças (como em 1990), uma guerra inoportuna, um sequestro, um assalto à mão armada, e lá se vão as nossas economias de uma vida toda. De uma hora para outra, os ricos podem se tornar pobres, e os pobres tornam-se miseráveis. Mas Deus nos liberta das privações e necessidades.
O salmista continua enfatizando esse aspecto, e nos estimula a temer ao Senhor em vista de Suas bondades, e ilustra o fato na própria natureza: V. 9 e 10: "Temei o Senhor, vós os seus santos, pois nada falta aos que O temem. Os leõezinhos sofrem necessidade e passam fome, porém aos que buscam o Senhor bem nenhum lhes faltará."
II – OS JUSTOS BUSCAM A LONGEVIDADE (11-14)
Davi tem uma orientação para dar aos filhos de Deus. V. 11: "Vinde, filhos e escutai-me; eu vos ensinarei." Aqui ele se coloca na posição de pai e professor, pela experiência que já demonstrou de tantas tribulações na sua vida. A matéria é o seu conhecimento experimental que lhe deu o direito de ensinar aos outros. O auditório é composto por aqueles que são chamados de filhos, pessoas humildes e capazes de aprender, discípulos de todas as idades. O método é através de perguntas e respostas didáticas como fazem os homens sábios, na sua simplicidade. O tema é a vida, não a vida física simplesmente, herdada de um processo biológico, mas a vida espiritual e como pode ser prolongada e bem vivida, em paz e felicidade. 
 Aqui está o convite do salmista: V. 11: "Vinde, ... eu vos ensinarei o temor do Senhor." O grande tema geral é o temor de Deus. Este é um tema que engloba toda a nossa vida espiritual. O temor do Senhor está enraizado na vida de todos os que Lhe pertencem e desejam fazer a Sua vontade.
No verso 12, temos a pergunta retórica: "Quem é o homem que ama a vida e quer longevidade para ver o bem?" Aqui está a proposição: quem ama a vida deseja saber como viver mais e melhor. "Quem de vós ama tanto a vida que deseja longevidade, mais vida ainda?" Longevidade não só para viver e apreciar a vida, mas para viver uma vida eterna na companhia de um Deus amorável.
Anote as 3 simples regras do suave cantor de Israel:
1 – Domínio das palavras: V. 13: "Refreia a língua do mal e os lábios de falarem dolosamente." Todos têm a capacidade de falar, mas nem todos dominam a arte de falar bem. Temos que ter o domínio da linguagem, refreando a língua do mal. Mas não é fácil dominar a arte de falar, dominar as palavras. Tiago falou desse assunto: "Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo." (Tg 3:2). Porque virão muitas consequências desastrosas, se nós não atentarmos cedo na vida para esta simples regra.
Mas então, onde está o segredo para dominarmos a arte de falar bem e refrearmos a língua do mal? Jesus Cristo fez a mesma pergunta nestas palavras: "Como podeis falar coisas boas, sendo maus?" O seu auditório ficou esperando que Ele mesmo desse a resposta. E Ele completou: "Porque a boca fala do que está cheio o coração." (Mt 12:34). Então, eles concluíram que o problema está no coração; resolvendo o problema do coração, podemos refrear a língua do mal.
O coração é um símbolo de nossa mente. A língua está sempre pronta para falar aquilo que está na mente. Se temos a mente cheia do mal, do que é que falaremos? Portanto, precisamos renovar o nosso coração, a nossa mente. Paulo disse: "Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." (Rm 12:2). Renovamos a nossa mente quando lemos a Bíblia, e somos iluminados pelo Espírito Santo. Temos que encher a nossa mente com as coisas espirituais. Então, teremos domínio de nossa língua e falaremos as palavras de Deus.
2 – Domínio dos atos: V. 14: "Aparta-te do mal e pratica o que é bom." Temos uma luta que não termina senão apenas na morte. Temos uma natureza má, cheia de paixões, tendências para o mal. Assim nasceram todos os habitantes desta terra. Mas podemos, mercê de Deus, dominar as paixões de nossa natureza pecaminosa. Podemos dominar os nossos atos. 
Temos muitos exemplos na Escritura de homens justos que se desviavam do mal e praticavam o que era bom. José do Egito, um padrão de pureza e retidão de vida, não só fugia literalmente do pecado, como salvou aquela nação da extinção pela fome. O patriarca Jó foi descrito como um "homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal." (Jó 1:1). Disse o mesmo Jó que Deus falou ao homem: "Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento." (Jó 28:28).
Disse também Jesus Cristo que é do coração que vem todo o mal: "Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura." (Mc 7:21-22). Portanto, assim como más palavras procedem de um coração mau, assim procedem os maus atos de um coração maligno. Desse modo, concluímos como antes: o problema está no coração; se o coração for consertado, daí procederão só boas práticas e boas ações. Nós estaremos nos desviando do mal e praticando o que é bom.
3 – Domínio dos pensamentos. V. 14: "Procura a paz e empenha-te por alcançá-la." Isto significa que devemos buscar a paz de tal modo que não desistimos até que a encontremos. Deus é a Fonte da paz, chamado o "Deus da paz" (Rm 15:33), e temos de buscar a paz em Deus porque só Ele a pode dar. Ele primeiro nos dá a paz judicial, que significa o perdão dos pecados. Isto se consegue através da justificação, que nos vem quando recebemos a Jesus Cristo, o "Príncipe da Paz" (Is 9:6). "Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo" (Rm 5:1). Depois como resultado, Ele nos dá a paz mental.
Paz é uma virtude da mente ligada em Deus. É a harmonia do pensamento humano com o divino: quando todos os pensamentos estão em harmonia, temos paz com Deus, paz conosco mesmos e paz com os semelhantes. Esta é uma virtude que está diretamente relacionada com a mente humana.
É por isso que Satanás está muito preocupado em dominar as mentes de homens e mulheres. Porque, se ele conseguir isso, então conseguirá dominá-los completamente. Se Satanás tiver o domínio da mente, poderá dominar as palavras e os atos do homem. Desse modo, não haverá limites para o mal.
Portanto, precisamos do temor de Deus a fim de receber o Seu poder que nos capacita a dominar a mente e em consequência os nossos pensamentos. E o conselho de Davi é para que dominemos os pensamentos, as palavras e os atos: Refreando a língua, desviando-nos do mal, e buscando a paz, como base fundamental de tudo o mais. Temos que seguir as regras de Davi que é uma regra tríplice: boas palavras, bons atos, e bons pensamentos. Palavras sem dolo, atos do bem, e pensamentos de paz.
A ordem é um costume oriental e hebraico de colocar o principal no fim, quando nós ocidentais colocamos o principal no início: pensamentos, palavras e atos. O que Davi quer dizer é que, se temos dificuldades com as palavras, se temos dificuldades com os atos, na sua prática, então, temos que avaliar os nossos pensamentos. Portanto, ele coloca isso em último lugar, didaticamente, em um grande clímax: cuide dos pensamentos, harmoniosamente, e tudo estará bem. Este é o máximo domínio que está à nossa disposição.
Aqui está o segredo da longevidade, o segredo da vida longa. E a base está no temor de Deus. Muito tem se feito em busca da longevidade. Esse tema tem despertado o interesse de todos os povos. Todos querem viver muito e com muita felicidade, porque longevidade só tem graça se estiver ao lado da felicidade. Mas longevidade e felicidade só podem ser conquistadas se tivermos a Deus como o centro de nossa vida e de nossos pensamentos. Se nós tivermos o nosso "eu" como o centro de tudo, logo haverá desarmonia nos pensamentos, não estaremos em paz com o nosso mundo, nem com as pessoas próximas ou distantes, e não estaremos em paz nem conosco mesmos. O resultado será degenerescência e morte, não vida prolongada.
III – OS JUSTOS BUSCAM A APROVAÇÃO (15-18)
1 – Os justos buscam a aprovação de Deus: V. 15: "Os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos ao seu clamor."Muitas vezes teremos de clamar a Deus e buscar a Sua aprovação. Às vezes estamos angustiados com muitos problemas e muitos conflitos em nossa vida. Quando buscamos ao Senhor e a Sua aprovação, somos surpreendidos com o fato maravilhoso de que Ele já tem os Seus olhos repousando sobre nós e os Seus ouvidos atentos ao nosso clamor.
Mas isso não acontece com os ímpios sobre quem impende a desaprovação divina. V. 16: "O rosto do Senhor está contra os que praticam o mal, para lhes extirpar da terra a memória." O rosto de Deus Se demonstra a favor ou contra uma pessoa consciente e livre para agir. Se ele age pelas práticas do bem, Deus se lhe mostrará com Seu rosto favorável. Mas se ele pratica o mal conscientemente, a terrível desaprovação divina virá contra ele e logo, se ele não se arrepender, a sua memória será apagada e extinta da terra.
2 – Os justos clamam a Deus. V. 17: "Clamam os justos, e o Senhor os escuta e os livra de todas as suas tribulações." Este verso é uma repetição do que Davi havia dito no v. 6, onde ele declara que esta foi a sua experiência. Se Deus podia cuidar de Davi desse modo tão amorável, Ele também pode cuidar de nós da mesma forma, quando clamarmos com inteireza de coração.  
Assim também somos estimulados a clamar ao Senhor. Não basta apresentar diante de Deus uma oração vazia, desconcentrada e sem alma. Você tem que colocar todo o seu coração e toda a sua esperança em Deus ao clamar em oração fervente. É preciso erguer a voz com sentimento e interesse real. E a promessa é de que seremos ouvidos, atendidos e libertos de todas as tribulações.
3 – Os justos sentem a presença de Deus. V. 18-19: "Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido. Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra." Aqui está a definição do que é um justo: ele sente a presença divina. Ele tem uma noção muito clara da presença de Deus consigo mesmo. Ao passar por muita opressão ocasionada pelos ímpios, ele tem o seu coração quebrantado e oprimido porque é humano e padece, mas tem a consoladora certeza da presença divina. Ele sabe que Deus o livrará de todas as suas aflições. Consola-se com a convicção de que Deus sabe de tudo o que se passa com ele e o salvará.
4 – Os justos são protegidos de Deus: V. 20: "Preserva-lhe todos os ossos, nem um deles sequer será quebrado." Esta é uma vívida figura de completa preservação. Esta afirmação foi literalmente cumprida na experiência de Cristo, após a Sua morte (Jo 19:36). Os Seus ossos não Lhe foram quebrados, por não ser isto necessário, porque Ele já estava morto, segundo interpretação do costume da época, mas isso ocorreu com os outros dois crucificados, cujas pernas foram-lhe quebradas. Portanto, este salmo tem nesta parte uma aplicação messiânica.
Davi sentiu a proteção física de modo extraordinário, sendo perseguido pela lança de Saul, pelas flechas do inimigo e pela espada dos soldados gentílicos que também buscavam a sua morte. Ele foi preservado e seus ossos não foram quebrados. Assim, os justos serão preservados, no tempo de angústia: nenhum osso lhes será quebrado. Mas isto não acontecerá com os ímpios: "Deus tirou do Egito a Israel, cujas forças são como as do boi selvagem; consumirá as nações, seus inimigos, e quebrará seus ossos, e, com as suas setas, os atravessará." (Nm 24:8).
Mas esta é a promessa de Deus para aqueles que O servem: "O Senhor te guiará continuamente, fartará a tua alma até em lugares áridos e fortificará os teus ossos; serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas jamais faltam." (Isaías 58:11). 
CONCLUSÃO (21-22)
Os dois últimos versos do salmo 34 podem ser considerados como uma conclusão e um resumo de todo o salmo: Só há duas classes de pessoas: os justos que são absolvidos, e os ímpios que serão condenados. Este é um dos principais temas de todo o livro dos Salmos: o justo que será salvo da perseguição do ímpio que por sua vez será condenado, e sua memória extinta para sempre. Isto acontecerá com o ímpio, porque "o infortúnio matará o ímpio, e os que odeiam o justo serão condenados". (v. 21).
1 – Os ímpios serão condenados. Aqui está a própria razão por que serão condenados os ímpios: eles "odeiam o justo". De fato, não serão condenados os ímpios à morte, basicamente, porque cometem alguns pecados, como assassinatos, ou adultérios, porque isto também aconteceu com alguns homens de Deus. Os ímpios serão condenados porque "odeiam os justos" que são protegidos por Deus, e odeiam a Deus porque protege os justos. Se não podemos amar os filhos de Deus a quem vemos, como poderíamos amar a Deus a quem não vemos? (1Jo 4:20). Os ímpios estão condenados porque odeiam os justos. E quem odeia é assassino e está em trevas. (1Jo 3:15; 2:11).
2 – Mas os justos serão justificados: V. 22 "O Senhor resgata a alma dos seus servos, e dos que nEle confiam nenhum será condenado." Davi compreendia o Evangelho: Deus resgata a alma dos que O servem, daqueles que confiam nEle, pela fé em Seu poder, providência, proteção e, finalmente na Sua salvação. Os justos são chamados "justos" porque já foram justificados e perdoados no passado, vivem uma vida justa no presente e porque no futuro serão também justificados diante do tribunal divino.
Davi sabia muito bem a definição do Evangelho: são as boas novas que podem nos tornar sábios e justificados para a salvação. Como disse Paulo: "Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus." "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós." Rm 8:1,33-34.
E como é com você meu prezado amigo? Este salmo pôde falar ao seu coração? Você tem a aprovação de Deus e já foi muitas vezes liberto de muitas tribulações? Deus enviará o Seu Anjo para protegê-lo, o próprio Salvador Jesus Cristo. Você sente a presença de Deus com você agora mesmo? Você se sente justificado diante de Deus tendo os seus pecados perdoados? Aquele que confia em Deus e aceita o Seu plano de salvação será justificado, jamais será condenado. Você está ansiando por longevidade, vida longa e feliz? Saiba que isso depende de sua ligação com Deus que dá o poder para dominar os pensamentos, palavras e atos. 
Portanto, aceite a Jesus Cristo como Salvador pessoal. Busque a Deus e a Sua Libertação. Busque a Vida verdadeira, que está no temor do Senhor, e domine pelo Seu poder os seus pensamentos, palavras e atos. Busque a Sua aprovação. Você terá paz e felicidade, e muita vida, a própria vida eterna.

Pr. Roberto Biagini
Mestrado em Teologia
15/08/2012

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