Mostrando postagens com marcador História do Texto Bíblico. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador História do Texto Bíblico. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A Formação do Cânon


A palavra cânon, desde a sua etimologia, até o atual sentido de conjunto de livros da Bíblia, conserva o sentido de medida diretiva ordenadora.
O termo grego “Cânon” é de origem semítica, pois em hebraico “ganeh”, significa regra, régua para medir, varinha direita.
O grego clássico acentua o sentido figurado da palavra e cânon designa a vara, o nível, o esquadro, o braço da balança, norma, padrão, depois a meta a ser atingida, a medida infalível. Aristóteles chama o homem bom de cânon ou métron da verdade. Em português o termo é usado também no sentido de norma, como nesta frase de Aquilino Ribeiro. “Havendo fugido ao cânon da beleza consagrada.”
Na linguagem profana a idéia essencial da palavra é de linha reta ou direita, como se conclui de outras palavras que têm a mesma raiz: cana, canal, canhão.
Dentre os prelados da igreja aparece um grupo chamado de cônegos, porque estes deveriam conformar-se com as regras da fé e do procedimento.
Os cristãos do II século denominavam os ensinos sagrados da seguinte maneira: “o cânon (regra) da Igreja”, “o cânon da fé”, “o cânon da verdade.” Estas expressões nos fazem compreender porque os Pais da Igreja utilizaram a palavra para designar tudo quanto serve de fundamento à religião, regra da fé e da verdade e por fim o livro que contém as normas diretivas para uma correta vida cristã. Em meados do quarto século toda a coleção dos livros sagrados passou a ser designada como o cânon. Foi Atanásio quem lhe deu, pela primeira vez, este nome. A princípio a palavra cânon designava apenas a lista dos livros sagrados, mas depois passou a designar os próprios escritos, indicando assim que as Escrituras são a regra de ação investida com autoridade divina.
No Novo Testamento a palavra aparece em 5 passagens: Gálatas 6:16; II Coríntios 10:13, 15, 16 e Filipenses 3:16 (esta última não aparece em todos os manuscritos gregos, como indica o Aparato Crítico). Em Gál, 6:16, Paulo a usou no sentido grego de “uma regra”, mas que em sentido religioso seria “norma da verdadeira vida cristã.”
O SDABC, vol. I, pág. 36, declara:
“Uma compreensão correta da história da Bíblia e a coleção de seus livros não somente é de grande interesse para o leitor da Palavra de Deus, mas é necessária para refutar as falsas alegações dos que estão influenciados em seu pensamento pela alta crítica. Desde que, às vezes, se tem afirmado que a coleção dos livros do Antigo Testamento foi feita pouco antes do ministério de Jesus Cristo, ou no Concílio Judeu de Jânia, depois da destruição de Jerusalém pelos romanos, no ano 70 DC, é necessário conhecer os fatos para ver a falácia de tais afirmações.”

Cânon do Velho Testamento

Este estudo envolve algumas perguntas que tanto podem ser feitas para o Velho Testamento quanto para o Novo Testamento, tais como:
– Quem organizou o cânon?
– Como foi ele organizado?
– Quando foi feito este trabalho?
– Por que foi feito?
Nas explicações que se seguem são encontradas de maneira bem explícita ou latente respostas para cada uma destas inquirições.
No sentido religioso canonizar um livro significa:
1º) Reconhecimento de que o seu ensino era divino;
2º) Conseqüente aceitação que o escrito possui autoridade religiosa reconhecida por uma comunidade ou pelos seus dirigentes.

Como os Livros Foram Canonizados?

Foi um processo de acrescentamento gradual. E a divisão em Lei, Profetas e Escritos confirma esta afirmação. Foi o resultado do trabalho de um conjunto de pessoas. Não foi a autoridade eclesiástica que o criou, esta apenas sancionou e fixou a coleção de escritos que vinham sendo reconhecidos como divinos.

Por Que Foi Feito?

Porque Deus orientou Sua Igreja diante das necessidades prementes, como o aparecimento de heresias e de livros não inspirados.
O cânon reduzido de Marcion mostrou a necessidade de uma coleção de todos os livros inspirados do Novo Testamento.
A difusão do cristianismo entre outros povos indicou a indispensabilidade de se traduzir a Bíblia para outras línguas. Como fazer se os vários livros ainda não se encontravam definitivamente fixados.

Quem Organizou o Cânon?

Muitos livros fazem referências à “A Grande Sinagoga” um Conselho, do qual Esdras era o presidente, e que incluía entre os seus 120 membros, Neemias, Ageu, Zacarias, Malaquias, Daniel e Simão o Justo. Embora o Talmude atribua a ratificação do cânon hebraico aos membros desta sinagoga, alguns eruditos afirmam que a Grande Sinagoga não passa de uma lenda que surgiu no século XVI, sendo ela o produto de uma ficção rabínica.
Quase todos os estudiosos deste assunto concluem que Esdras e Neemias colecionaram os livros sagrados do Velho Testamento e fecharam o cânon, entre os anos 430 e 420 a.C. Alguns autores mais precisos fixam a data em 432 a.C.
Isto é evidente das seguintes conclusões:
a) Os livros históricos da Bíblia registram acontecimentos que se realizaram até o sexto e quinto séculos a.C. e não mais tarde;
b) O historiador Flávio Josefo (70 S.D.) em sua catilinária Contra Ápion 1: 8 nos afirma que os judeus no tempo de Cristo estavam convictos de que o cânon tinha sido fixado no tempo de Esdras e Neemias.
No livro Profetas e Reis, página 609, há esta elucidativa explicação:
“Os esforços de Esdras para reavivar o interesse no estudo das Escrituras receberam forma permanente, graças ao seu laborioso e constante esforço no sentido de preservar e multiplicar os Sagrados Escritos. Ele reuniu todos os exemplares da lei que pôde encontrar, mandando-os transcrever e distribuir. A Palavra pura, assim multiplicada e posta nas mãos de muitos, proveu o conhecimento que era de inestimável valor.”
Na mesma sátira Contra Ápion, já citada acima, Josefo apresenta a teoria dos judeus sobre o cânon, cujas principais características são:
1ª) Inspiração divina;
2ª) A santidade objetiva dos livros, comparados com a literatura profana;
3ª) A limitação numérica em 22 livros (os 24 livros se originaram da separação de Rute de Juízes, e de Lamentações de Jeremias;
4ª) A inviolabilidade do texto. Todos os escritos teriam sido compostos entre Moisés e Artaxerxes I (falecido em 424 a.C.).
Os judeus haviam estabelecido outros princípios para os livros do Velho Testamento figurarem ou não no cânon, e estes eram:
a) Estar em conformidade com a Lei;
b) Ter sido escrito na Palestina;
c) Redigido na língua hebraica.
Alguns estranham que Flávio Josefo fale em 22 livros e não em 24 como normalmente são citados para o cânon do Velho Testamento.
O cânon apresentado por Josefo divide os livros do Antigo Testamento em três partes: 5 livros de Moisés, 13 livros dos profetas e 4 livros contendo hinos e regras de vida. Origenes também fala em 22 livros. O próprio Jerônimo também se refere a 22 livros, mas conhece o arranjo que leva a 24 livros.
Parece-nos pelo estudo feito que os 22 não foram divididos para chegar a 24, mas estes agrupados para terem apenas 22. Conclui-se que o intuito de Josefo era o mesmo de alguns rabinos, de obterem uma correspondência entre o número dos livros e o das letras do alfabeto hebraico. Para chegar a 22 anexaram o livro de Rute a Juízes e as Lamentações ao de Jeremias. Como o alfabeto hebraico tem mais cinco letras finais, não faltou quem contasse 27 livros, fazendo para isso subdivisões em Reis, Esdras e outros livros.
A divisão que temos hoje de 39 livros tem sua origem na Septuaginta, tradução do hebraico para o grego.
Os judeus dividiam os 24 livros em seções:
1ª) A Lei (Torah), contendo os primeiros cinco livros, que os Setenta chamaram de Pentateuco: a) Gênesis, b) Êxodo, c) Levítico, d) Números, e) Deuteronômio.
2ª) Os Profetas (Nebilim), num total de oito livros, subdivididos em:
a) Quatro antigos ou anteriores – Josué, Juízes, Samuel e Reis;
b) Quatro posteriores – Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze profetas menores num só livro.
3ª) Os Escritos (Ketubim), chamados no texto grego “hagiógrafos” (escritos sagrados) são formados de três grupos, num total de 11 livros:
a) Livros Poéticos – Salmos, Provérbios e Jó;
b) Os Cinco Megilotes (rolos) – Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester;
c) Os outros livros – sem uma nomenclatura específica – Daniel, Esdras e Neemias, Crônicas.
Os judeus modernos gostam de designar sua Bíblia com a palavra TeNaK, vocábulo criado com a aproximação das letras iniciais das três partes: T de Torá, N de Nebilim e K de Ketubim.
A Alta Crítica afirma que a divisão do cânon nestas três partes, indica três estágios diferentes ou períodos de tempo de canonização. Para ela o Pentateuco foi canonizado depois do exílio Babilônico, 432 a.C., nos dias de Esdras e Neemias; os profetas foram canonizados entre 300 e 200 a.C.; os Escritos o foram no período de 160 a 150 a.C. O cânon completo foi oficialmente ratificado em 90 A.D. pelo Concílio de Jânia.
Estas asseverações nos fazem lembrar das palavras de Ellen G. White em Atos dos Apóstolos, página 474:
“Como nos dias dos apóstolos os homens procuravam destruir a fé nas Escrituras pelas tradições e filosofias, assim hoje, pelos aprazíveis sentimentos da ‘alta crítica’, evolução, espiritismo, teosofia e panteísmo, o inimigo da justiça está procurando levar as almas para caminhos proibidos. Para muitos a Bíblia é uma lâmpada sem óleo, porque voltaram suas mentes para canais de crenças especulativas que produzem má compreensão e confusão. A obra da ‘alta crítica’, em dissecar, conjecturar, reconstruir, está destruindo a fé na Bíblia como uma revelação divina.”
A divisão em três partes não visa indicar três fases da canonização, mas antes a posição oficial ou a ocupação de seus autores, 1ª) A parte inicial é obra do grande legislador do povo de Israel. 2ª) A segunda parte foi redigida por pessoas escolhidas por Deus para o sublime trabalho de profetizar. 3ª) A terceira parte foi produzida por homens privilegiados com o dom profético, mas que se dedicavam a outros trabalhos, como Davi, Salomão, Esdras, Neemias e Daniel.
A divisão do Antigo Testamento em três partes foi confirmada pelo próprio Cristo. . . importava que se cumprisse tudo o que de Mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos, que é o primeiro livro da terceira divisão. (Lucas 24:22).
No texto grego da Septuaginta, o cânon do Velho Testamento foi dividido em quatro seções:
1ª) A Tora, a Lei, ou seja o Pentateuco, com os cinco primeiros livros;
2ª) Os livros históricos – de Josué até Crônicas e mais outros como Esdras, Neemias, Ester;
3ª) Os livros poéticos – Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares;
4ª) Os livros proféticos – os quatro maiores, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel e os doze menores.
Cristo e os apóstolos aceitaram o cânon do Velho Testamento, como se pode deduzir de inúmeras passagens: Luc. 24:44, João 5:46-47, II Tim. 3:15-16, II Ped. 1:19, 21. A Igreja Cristã também aceitou todos os 24 livros canônicos do Velho Testamento. Destes livros não foram citados no Novo Testamento apenas os seguintes: Ester, Eclesiastes, Esdras, Neemias, Obadias, Naum e Sofonias.
Comentando o problema do cânon do Velho Testamento na igreja cristã, afirma o Comentário Bíblico Adventista, vol. I, página 45:
“A história do cânon do Velho Testamento na igreja cristã, centraliza-se na questão a propósito da aceitação ou rejeição da Apócrifa Judaica. Posto que estes livros fossem rejeitados pelos apóstolos e escritores cristãos até a metade do 2º século, e na verdade mesmo pelos próprios judeus, estes escritos espúrios desafortunadamente encontraram acolhida na igreja cristã aí pelo fim do 2º século. Desde esse tempo, nunca mais foram banidos da Igreja Católica. Os reformadores tomaram firme posição para rejeitarem a Apócrifa, mas após a sua morte os livros apócrifos acharam entrada mais uma vez em algumas igrejas protestantes, contudo foram finalmente rejeitados pela maioria delas no século XIX.”
Uma das provas mais cabais da aceitação do cânon do Velho Testamento pelos escritores do Novo encontra-se nas seguintes afirmações do Dr. Siegfried H. Horn, encontradas no Comentário Bíblico Adventista, vol. I, página 42:
“O autor deste artigo contou 433 claras citações no Novo Testamento, e achou que 30 dos 39 livros do Velho Testamento são definitivamente citados. Os nomes de 10 livros ou seus autores são mencionados em 46 passagens do Novo Testamento, a inspiração de 11 livros do Velho Testamento é reconhecida pela citação introdutória com as palavras de que seu autor era Deus ou o Espírito Santo, e o termo escrito é aplicado em 21 passagens de 11 livros do Velho Testamento, enquanto 73 declarações do Velho Testamento são introduzidas pelo termo técnico “está escrito”.
Mais de uma vez ouvimos a afirmação de que o sínodo de Jânia – cerca de 90 A.D., encerrou o cânon do Velho Testamento. Esta afirmação não corresponde à realidade, porque dentre os dois problemas principais ventilados neste Concílio, um dizia respeito a alguns livros, que certos eruditos achavam que não deviam estar incluídos no cânon. Este concílio defendeu a canonicidade de quatro livros contra os ataques da “Escola de Shammai”, que não queria que eles figurassem entre os demais. Os livros eram os seguintes:
a) Ester, por não fazer menção do nome de Deus;
b) Cantares, por ser considerado por muitos mero canto de amor;
c) Eclesiastes, por causa do espírito pessimista que permeia o livro;
d) Provérbios, por possuir capítulos de autores desconhecidos.

Cânon do Novo Testamento

As mesmas perguntas já formuladas quanto ao cânon do Velho Testamento podem ser repetidas aqui:
– Quem coligiu os escritos?
A igreja cristã crê firmemente que foi o Espírito Santo que orientou os servos de Deus dos primeiros séculos na seleção dos livros neotestamentários.
Convém recordar que os primeiros cristãos que constituíam os diversos núcleos ou igrejas da Palestina, da África, da Ásia Menor, de Roma, etc., acreditavam que a volta de Cristo seria para breve, por isso não se preocuparam em registrar por escrito os empolgantes acontecimentos relacionados com a vida de Cristo e Seus sublimes ensinos. Os apóstolos e primeiros discípulos perpetuavam, sobretudo, a tradição oral composta quase exclusivamente de fatos da vida de Jesus. Com o correr do tempo, foram, naturalmente, compostos escritos fragmentários, que divulgaram palavras de Jesus (as Logias) e outros, mais cuidados e ampliados, que assinalavam fatos, milagres, acontecimentos da vida de Jesus.
Os livros do Novo Testamento foram surgindo sem desígnio, sem previsão, sendo coligidas as palavras de Jesus, as narrações de Sua vida, os atos dos apóstolos, as cartas apostólicas, o livro de Apocalipse.
Embora haja intermináveis controvérsias concernentes a data em que foram escritos alguns livros do Novo Testamento, os estudiosos parecem estar mais ou menos de acordo que o primeiro livro escrito foi I Tessalonicenses em 51; e em 96 ou 97 João escreveu o Apocalipse.
É questão também muito aceitável entre os eruditos que o Evangelho de Marcos é o mais antigo, escrito entre os anos 65 e 67. São Mateus data aproximadamente do ano 70. Lucas mais ou menos, dessa mesma época e João na última década do primeiro século.
F. F. Bruce, no livro Merece Confiança o Novo Testamento? atribui as seguintes datas às epístolas paulinas: Gálatas 48 A.D., I e II Tessalonicenses 50, Filipenses 54, I e II Coríntios 54-56, Romanos 57, Colossenses, Filemon e Efésios 60, aproximadamente.
As Epístolas Pastorais, em virtude do seu conteúdo, são posteriores às paulinas 63-64.
De acordo com a Crítica Textual, e esta idéia é aceita pela maioria dos comentaristas – Mateus e Lucas se abeberaram em Marcos, o primeiro Evangelho a ser escrito, mas recolheram material de outras fontes, como o notável documento “Q” (do alemão Quelle, fonte). Este documento “Q” original nunca foi encontrado, mas o notável exegeta Harnack tentou reconstituí-lo. É bom notar que há neste sentido muitas conjecturas baseadas em tradições.
Note bem: Outras idéias e datas são apresentadas e também as conhecemos, como por exemplo que o livro de Mateus foi o primeiro Evangelho escrito e que João escreveu o seu Evangelho depois do Apocalipse, etc, etc.
Não há aqui afirmações definidas e taxativas.

Influência de Márcion Sobre o Cânon

O mais antigo catálogo de livros neotestamentários de que temos conhecimento direto, foi elaborado em Roma pelo herege Márcion, cerca do ano 140 A.D. O desafio dos mestres heréticos, especialmente Márcion, que rompeu com a Igreja de Roma cerca de 150 D.C., serviu de estímulo e de motivo para a Igreja tomar consciência da necessidade de fixar o cânon.
Márcion, não compreendendo bem os ensinos paulinos, pregava uma doutrina de dois deuses: o Deus do Antigo Testamento: Justo, o Criador, juiz severo dos homens; Jesus, superior ao Deus Justo, enviado para libertar os homens da escravidão àquele Deus. Cristo foi crucificado através da malícia do Deus Justo. Por crer neste dualismo rejeitou o Deus do Velho Testamento e também o cânon desta parte da Bíblia. O cânon apresentado por ele à Igreja consistia apenas do Evangelho do Lucas, purificado de todas as citações do Antigo Testamento e de dez epístolas paulinas, deixando fora I e II Timóteo e Tito. Para ele apenas Paulo tinha sido o único e verdadeiro apóstolo de Cristo.
Mesmo dos livros conservados em seu cânon ele removeu todas as frases que pareciam favorecer o Deus do Velho Testamento. Foi o primeiro cristão a fazer parte da Alta Crítica. Afirmava ele: “Eliminemos a lei e fiquemos apenas com a graça!” E como os cristãos primitivos apreciavam a idéia, Márcion exercia grande influência sobre eles. Justino Mártir afirmou que quinze anos após a publicação do seu cânon e de seu livro Antítese ele possuía seguidores ao redor do mundo.
Márcion nasceu numa localidade chamada Ponto. Tertuliano escreveu o seguinte a respeito desse lugar:
“Habitam ali os povos mais ferozes. .. Suas mulheres preferem a guerra ao casamento, e, o clima é tão rude como o povo. Nada, porém, é tão bárbaro e atroz, em Ponto, como o fato de Márcion haver nascido ali.” (Contra Márcion 1:1).
Por causa de suas idéias heréticas foi excomungado pelo próprio pai, que era bispo. Foi cognominado por Policarpo como sendo o primogênito de Satanás.
Além da heresia marciana houve outros movimentos discordantes com os ensinos escriturísticos, como o docetismo, o gnosticismo e o montanismo, que levaram a igreja primitiva a apressar a catalogação dos livros sagrados.
O cânon do Novo Testamento foi ainda criado para proteger os escritos dos apóstolos de muitos escritos apócrifos. A partir do fim do segundo século A. D. a igreja começou a organizar o verdadeiro cânon cristão. O documento mais antigo e mais importante que mostra isto é o chamado Fragmento Muratoriano, escrito mais ou menos no ano 200 (esta é a data aceita, porque seu autor diz que o Pastor de Hermas não podia ser lido na Igreja, por ter sido escrito recentemente), mas descoberto somente em 1740 por Muratori.
Este documento apontava a como livros correntemente aceitos, os quatro Evangelhos, Atos, treze Epístolas de Paulo, três Epístolas de João, uma Epístola de Judas, duas de Pedro e o Apocalipse de São Pedro (este considerado apócrifo mais tarde).
Os responsáveis pela organização do cânon do Novo Testamento tiveram como norma e inspiração os livros canônicos do Antigo Testamento. Neste trabalho houve um processo de seleção efetuado por meio de agentes humanos, mas inspirados pelo Espírito Santo.
Antes da existência do Volume Sagrado, cada livro, individualmente, circulou pelas comunidades cristãs, para que estas fizessem um trabalho de seleção, baseado no seu autor, na qualidade literária e no seu conteúdo intrínseco.
No início o cânon se preocupava com os livros que contavam a história de Cristo, por isso os quatro Evangelhos e Atos dos Apóstolos foram os primeiros a serem reconhecidos como sagrados, inspirados por Deus, porém, a aprovação dos Evangelhos abriu caminho para a aceitação das Epístolas.

Divergências na Introdução de Alguns Livros

Houve uma profunda polêmica a propósito da introdução de alguns livros no cânon do Novo Testamento, como II Pedro, I e II João, Tiago, Hebreus, Judas e Apocalipse. De todos estes foi o Apocalipse o que ofereceu maior dificuldade para ser enumerado no Cânon Eclesiástico. Aqueles que se opunham a introdução destes livros criaram um termo para esta discussão – Antilegômena, isto é, debatido, contestado, controvertido.
Hebreus foi difícil ser colocado no cânon por crerem alguns que seu autor não era Paulo, mas esta idéia é contestada por outros. Finalmente foi colocado porque os estudiosos concluíram que o livro possui profundo valor espiritual.
Nem todas as cartas de Paulo foram publicadas, mas as que foram são suficientes para o qualificarem como o mais produtivo autor do Novo Testamento.

Fixação do Cânon

De acordo com F. F. Bruce:
“Os primeiros passos no sentido da formação de um cânon de livros cristãos havidos como dotados de autoridade, dignos de figurar ao lado do cânon do Velho Testamento, a Bíblia do Senhor Jesus e Seus apóstolos, parecem haver sido tomados por volta do começo do segundo século, época em que há evidência da circulação de duas coleções de escritos cristãos na Igreja.” (Merece Confiança o Novo Testamento? p. 31).
O quarto século viu a fixação definitiva do cânon dentro dos limites a que estamos acostumados, tanto no setor Ocidental como no Oriental da cristandade. Apenas no quarto século é que o termo cânon passou a designar os escritos sagrados.
Numa carta de Atanásio, a trigésima nona, do ano 367, dirigida a seus bispos, está uma lista dos livros da Bíblia, a primeira a conter os 27 livros do Novo Testamento como os temos hoje. Destes ninguém deveria tirar, nem a eles acrescentar coisa alguma. Esta carta foi muito importante para as igrejas gregas no Oriente, quanto à aceitação do cânon, e sua influência logo se fez sentir na Igreja Latina, pois sabemos que as Igrejas do Oriente e do Ocidente divergiam quanto aos livros canônicos. Assim o Apocalipse de João era aceito no Ocidente, mas não no Oriente, Hebreus e Tiago eram aceitos no Oriente, mas não no Ocidente. Jerônimo e Agostinho acataram a orientação dada por Atanásio.
O cânon apresentado por Atanásio prevaleceu sobre o de Euzébio de 26 livros e obteve a vitória final daí por diante.
Os Concílios de Hipona (393) ao norte da África e o de Cartago (397), ratificaram este cânon, proibindo o uso de outros livros pelas igrejas, como Didaquê, Pastoral de Hermas e Epístola de Barnabé.
Foi a Igreja, que guiada por Deus, formou o cânon, determinando depois de longos debates que livros deveriam ser rejeitados e que livros deveriam ser recebidos.

Critérios Para a Canonização

De modo sintético os critérios usados para a canonicidade foram os seguintes:
1ª) Inspiração dos livros que estavam sendo considerados, I Pedro 1:21. Após a leitura do livro, este era julgado pelo próprio conteúdo.
2ª) Catolicidade do livro. Escrito para todas as pessoas da época. Deveria também ser conhecido universalmente, isto é, ter sido aceito por todas as igrejas.
3ª) Coerência na doutrina. Graças a este critério alguns livros foram deixados de fora.
4ª) Apostolicidade do Escrito. Deveria ser de fonte apostólica ou de assessor direto do apóstolo.

Quatro Evangelhos ou Um?

Desde o fim do segundo século os Pais da Igreja sentenciaram que só existe um único evangelho, por isso, devemos dizer: Evangelho “segundo” São Mateus, “segundo” São Marcos, “segundo” São Lucas, “segundo” São João, a fim de bem assinalar que se trata de um único comunicado aos homens, segundo manifestações diversas.

Livros Não Introduzidos no Cânon

Até meados do quarto século alguns livros eram agregados aos demais do Novo Testamento, mas que posteriormente foram retirados como nos provam manuscritos antigos.
O Códice Sinaítico, mais ou menos do ano 350 A.D., incluía a Epístola de Barnabé e o Pastor de Hermas, obra escrita mais ou menos no ano 110. O manuscrito Alexandrino contém a Primeira e a Segunda Epistolas de Clemente. A colocação destes escritos é uma prova de que naqueles idos lhe atribuíam certo grau de canonicidade.
Pela leitura atenta da Bíblia se conclui da existência de outros livros que se perderam, mas estão mencionados nos livros canônicos. Dizem os eruditos, que destes pelo menos 16 foram citados em Josué 10:13; II Samuel 1:18; I Reis 4:32, 33; 11:41; 14:29; II Reis 1:18; I Crônicas 29:29; II Crônicas 9:29; 12:15; 20:34; 26:22; Judas 14, 15.
Estes livros foram escritos para situações especiais, com aplicações locais, e em virtude destas circunstâncias não foram introduzidos no cânon. Suas mensagens, embora úteis para necessidades locais, não foram reputadas de transcendental importância para as gerações futuras.
ORDEM CRONOLÓGICA DOS LIVROS DO VELHO TESTAMENTO
Leroy E. Froom
“A familiarização com a ordem cronológica dos livros do Velho Testamento é desejável, a fim de obter um acurado conhecimento do tempo ou colocação do ministério de cada profeta em relação com os movimentos e crises principais em Israel, juntamente com os das nações vizinhas.
Segundo as autoridades mais dignas de confiança, é geralmente aceito que o livro de Jó seja o mais antigo do Velho Testamento, escrito por volta do ano 1600 A.C.; e Malaquias, o último dos profetas do Velho Testamento a escrever, ao passo que Neemias provavelmente escreveu bem pouco antes de Malaquias – mais ou menos em 400 A.C.
JÓ. – “Antes que os primeiros poetas do mundo houvessem cantado, o pastor de Midiã registrou as . . . palavras de Deus a Jó.” – Educação, pág. 158. A autoria de Moisés lhe é amplamente atribuída pelos exegetas. Supõe-se ser o mais antigo dos livros da Bíblia. A composição é inteiramente patriarcal. É inconcebível que, tratando do pecado, do governo divino e da relação do homem para com Deus, nenhuma alusão à lei e ao sistema mosaico nele aparecesse, se já estes houvessem sido dados. Quanto ao tempo, vem cronologicamente depois de Gênesis 11.
Há uniformidade da parte de todas as autoridades no tocante à ordem dos livros do Pentateuco, chamado pelos judeus “A Lei” ou “torah”, a primeira seção dos sagrados escritos.
PENTATEUCO. – A autoria mosaica do Pentateuco é reconhecida por todos os exegetas conservadores. “O Pentateuco, como obra de Moisés, . . . formou uma divisão do cânon e em conformidade cronológica ocupou o primeiro lugar na coleção.” – Davis. “Nas cópias do manuscrito, que antecedem a era da imprensa, a ordem dos livros da Torah . . . é universalmente a mesma:” – Margolis. Assim se chamavam eles: Gênesis (princípio das coisas); Levítico (Levitas, Sacerdotes, Leis e Ordenanças); Números (Recenseamento e Peregrinações); e Deuteronômio (Repetição da Lei).
JOSUÉ. – Primeiro livro da segunda divisão judaica: “Os profetas” ou Nebilim, os quais, por sua vez, estão divididos em “Primeiros” (Josué, Juízes, Samuel e Reis) e “Últimos.” “A ordem . . . dos primeiros profetas é universalmente a mesma.” Margolis, pág. 13. “Não há variação na . . . seqüência de Josué, Juízes, Samuel e Reis.” Enciclopédia Judaica, vol. 3, pág. 144.
JUÍZES. – Este livro cita os nomes dos juízes que se levantaram para livrar a Israel do declínio na desunião que seguiram à morte de Josué. Registra sete apostasias, sete servidões a sete nações pagãs, e sete livramentos. Autor desconhecido, mas possivelmente Samuel.
RUTE. – O tempo dos eventos é afirmado ser “nos dias em que julgavam os juízes” (cap. 1:1). Deveria ser lido em conexão com a primeira metade de Juízes. A genealogia termina com Davi. Autor: possivelmente Samuel.
I e II SAMUEL. – No cânon hebraico os dois são considerados um só. I Samuel 1 a 24, escritos por Samuel; o restante, provavelmente por Natã e Gade (I Crôn. 29:29). Registam o estabelecimento do centro político de Israel em Jerusalém (II Sam. 5:6-12) e o centro religioso em Sião (II Sam. 6:1-17; comparar com o Cap. 5:17). Sião e Moriá eram eminências distintas. II Samuel marca a restauração da ordem por intermédio da entronização de Davi como rei. Com Samuel começa notável linha de profetas-escritores, que continua até Malaquias.
I e II REIS. – Também considerado outrora um livro em duas partes. Registam os reinados de todos os reis, de Salomão até o cativeiro. Elias, Eliseu, Jonas, Joel, Amós, Oséias, Isaías, Miquéias, Obadias, Naum, Jeremias, Sofonias e Habacuque profetizaram durante esse período. Também aparece dentro desse período um grupo inteiro de profetas orais. Não se descobre a identidade do autor, possivelmente tenha sido Jeremias.
I e II CRÔNICAS. – Semelhantemente, um só e livro no cânon judaico. Conquanto sejam principalmente uma repetição, suplementam o relato dos Reis, omitindo certos aspectos, mas apresentando registro mais completo de Judá e, por assim dizer, nenhuma história de Israel. Supõem muitos haver sido Esdras o compilador. O livro de Isaías já existia quando estes foram escritos (II Crôn. 32:32). Provavelmente o último dos livros históricos, com exceção de Esdras, Neemias e Ester. Fazem uma série de monografias de Natã, Samuel, Gade, Ido, Jeú e numerosos outros profetas orais. Cumpre observar que os eventos e seu registro nem sempre são sincrônicos, como no caso de Gênesis e Jó. As Crônicas são colocadas em último lugar no cânon judaico.
SALMOS. – O nome significa “louvores”. Pertence à terceira seção conhecida entre os judeus por “Os Escritos” ou kethubhim. Muitos deles têm que ver com experiências especais ou crises. Vinte e um se referem definidamente a episódios na história de Israel, desde Moisés até a Restauração. Davi é o autor da grande maioria, apesar de os títulos no alto dos capítulos atribuírem salmos a Moisés, Salomão, filhos de Asafe e Etã. Autoridades declaram que estes títulos são parte integrante dos salmos.
CANTARES DE SALOMÃO. – “Cânticos” é outro título. Este livro acha-se em todas as listas antigas. Atribuído a Salomão (Cap. 1:11).
PROVÉRBIOS – Pronunciados e compilados por Salomão. Ele os colocou em ordem. Os capítulos 25-29 foram transcritos no tempo de Ezequias. Os capítulos 30 e 31 são, respectivamente, de Agur e Lemuel.
ECLESIASTES – O nome significa “O Pregador”, Indubitavelmente, foi escrito perto do fim da vida de Salomão, e trata do problema da vida.
JONAS. – Provavelmente o primeiro dos profetas “menores” (assim chamados porque seus escritos são mais curtos do que os dos profetas “maiores”, e não por serem de menor importância, ou por haverem profetizado depois destes). Viveu e profetizou durante o reinado de Jeroboão II (II Reis 14:25).
JOEL. – Começa a grande era da composição poética. Um dos primeiros dentre os profetas “menores”. Não existe indicação direta quanto à data. O peso da evidência haveria de colocá-lo pouco antes do ano 800 A.C. Possivelmente contemporâneo de Eliseu, e não muito distante do período de Oséias e Amós.
AMÓS – Escrito quando Uzias era rei de Judá e Jeroboão II, de Israel (Cap. 1:1). Ambos os monarcas tiveram reinados longos. Limitando sua profecia ao reinado destes reis, a data mais provável de sua autoria deve ser, aproximadamente, de 780-730 A.C.
OSÉIAS. – Contemporâneo mais novo de Amós, continuando até depois do cativeiro de Israel. Seu ministério foi longo. Profetizou no reinado de Uzias, João, Acaz e Ezequias, de Judá, e Jeroboão II, de Israel (Cap. 1:1). Uzias e Jeroboão foram contemporâneos por vários anos. Colocado entre os profetas menores em primeiro lugar, porque seu escrito é um dos maiores.
ISAÍAS – O primeiro dos profetas “maiores”. A visão inaugural data do ano da morte de Uzias. Seus trabalhos se estenderam através de longo período – cerca de sessenta anos. Contemporâneo de vários profetas.
MIQUÉIAS. – Contemporâneo mais novo de Isaías (Cap. 1:1; comparar com Isa. 1:1). Profetizou antes da queda de Samaria (1:1 e 6; Jer. 26:18), e durante o reinado de Peca e Oséias, em Israel, e de Jotão, Acaz e Ezequias, em Judá,
NAUM. – Profetizou pouco antes da queda de Nínive, ou apenas bem pouco antes do ano 600 A.D. Relata a destruição de Nô-Amom (Tebas), ocorrida cerca de meio século antes dessa data.
SOFONIAS. – Viveu na primeira parte do reinado de Josias (Cap. 1:1) e foi contemporâneo, em parte, de Jeremias. Fala da destruição de Nínive como estando no futuro (2:13).
JEREMIAS. – Recebeu o chamado para profetizar quando ainda jovem, no décimo terceiro ano de Josias (1: 2), enquanto Sofonias estava proclamando mensagens vibrantes. Durante anos seus ensinos foram orais; então lhe foi ordenado que escrevesse (36:1 e 2). Trabalhou durante longo período – mais que quarenta anos. Contemporâneo de Habacuque, Ezequiel e Daniel. Testemunhou o fim de Judá e a queda de Jerusalém.
LAMENTAÇÕES. – Hinos fúnebres de Jeremias, quando em meio às ruínas de Jerusalém, e testemunhando-lhe a subversão, com a alma comovida à vista dessa desolação.
HABACUQUE. – Profetizou nos últimos anos de Josias, na véspera do cativeiro, isto é, pouco antes de 600 A.C.
EZEQUIEL. – Levado para Babilônia durante a segunda parte do cativeiro, no reinado de Joaquim (cap. 1:2), pouco depois da deportação de Daniel. Profetizou durante vinte e dois anos (1:2 e 29:17). Contemporâneo de Jeremias e Daniel.
DANIEL. – Levado para Babilônia durante o reinado de Jeoaquim (1:1). Profetizou durante o período do cativeiro. Contemporâneo de Ezequiel e Jeremias. Provavelmente, sua profecia foi colocada entre “Os Escritos” porque, embora Daniel tivesse o dom de profecia, não exercia oficialmente o cargo de profeta. “Em todos os catálogos dos escritos do Velho Testamento, fornecidos pelos primeiros Pais, até o tempo de Jerônimo, Daniel é classificado entre os profetas, geralmente na posição que ocupa na versão comum. Na Versão dos Setenta, também é classificado entre os profetas, depois de Ezequiel. . . . O lugar designado a Daniel não foi, pois, . . , o que teve no período precedente ou o que ocupou originalmente.” – McClontock e Stong.
OBADIAS. – É difícil precisar a data: antes ou pouco depois da queda de Jerusalém. As evidências internas dão preferentemente crédito à última.
ESDRAS – História parcial da restauração depois do Exílio. Primeiramente unido a Neemias como um só livro, em duas partes. Cronologicamente, segue pouco depois de Daniel. Abrange a História desde a queda de Babilônia até 456 A.C., ao passo que Neemias narra os eventos ocorridos até perto de 432 A.C. Evidentemente, o cânon foi organizado no tempo de Esdras.
AGEU – Profetizou aos restantes depois do Exílio, a data exata é o segundo ano de Dario (1:1).
ZACARIAS – Começou logo depois de Ageu (comparar o Cap. 1:1 com Ageu 1:1), e certamente sobreviveu a seu contemporâneo. A primeira data que aparece no livro é o segundo ano de Dario (1:1 e 7); a última, é o quarto ano do reinado do mesmo rei (7:1).
ESTER – Cronologicamente, o livro segue Esdras 6. Os eventos deram-se no reinado de Xerxes I, entre as duas expedições. Autor desconhecido.
NEEMIAS – Provavelmente escreveu pouco antes de Malaquias, seu contemporâneo. Continua e completa o registro de Esdras. O uso da primeira pessoa denota sua autoria.
MALAQUIAS – O último dos profetas do Velho Testamento que se dirigiu aos restantes vindos do exílio, como Neemias é o último dos historiadores desse período. Contemporâneo de Esdras e Neemias. Profetizou durante a ausência deste último que estava na Pérsia.” (Este artigo foi publicado na Revista Adventista, novembro de 1971, págs. 4-6).
Texto de Pedro Apolinário, História do Texto Bíblico, Capítulo 15.

O Textus Receptus – Seus Defensores e Opositores


Recebe o nome de “Textus Receptus” o texto grego que dominou, no campo do estudo do Novo Testamento por mais de 300 anos. Este texto é também conhecido pelos nomes de Texto Recebido ou Texto Grego Vulgarizado.
Como foi visto no capítulo anterior, no início do século XVI dois grandes eruditos – o Cardeal Ximenes e Erasmo – lançaram-se à ingente tarefa de publicar o Novo Testamento em grego, procurando unificar os vários textos gregos existentes.
Para a boa compreensão da história do “Textus Receptus” é preciso partir do famoso editor francês Roberto Estéfano (1503-1559), que publicou quatro edições do texto grego. Sua terceira edição (1549) é o primeiro texto onde aparece um aparato crítico. Foi esta edição que se tornou o modelo para a King James Version de 1611 e até o século XIX foi o paradigma de todos os textos gregos publicados. A sua quarta edição (1551) não pode ser olvidada na história do texto bíblico, porque pela primeira vez aparece a divisão em versos numerados.
Embora a expressão “Textus Receptus” se refira à terceira edição de Estéfano, esta não foi usada por ele.
Outro nome intimamente ligado com o “Textus Receptus” é o de Teodoro Beza (1519-1605), que entre 1565 e 1604 publicou nove textos bíblicos. O texto de Beza pouco difere da quarta edição de Estéfano. A importância do seu trabalho consiste no seguinte: suas edições visavam popularizar o “Textus Receptus”. Os tradutores de King James fizeram largo uso das edições de Beza.
Em 1624, os irmãos Elzevirs, impressores alemães, lançaram uma edição do Novo Testamento Grego, em cujo texto predominava o de Estéfano, mas havia também um pouco do texto de Beza. No prefácio da segunda edição se encontravam as seguintes palavras: “No texto que é agora recebido por todos, não apresentamos nada mudado ou alterado.” A expressão “Textus Receptus” nasceu desta mesma frase em latim: “Textum ergo habes, nunc ab omnibus receptum: in quo nihil immutatum aut corruptum damus.” Os autores desta simples frase jamais sonhariam que ela fosse o início de uma grande contenda na história do texto bíblico.

Edições Posteriores ao “Textus Receptus” – Edições Críticas

O próximo estágio na história da Crítica Textual do Novo Testamento é caracterizado por assíduos esforços para reunir manuscritos gregos, versões e citações patrísticas, que diferissem do “Textus Receptus”. Por quase dois séculos, eruditos rebuscaram as bibliotecas e museus da Europa e Oriente Médio, procurando provas para o texto do Novo Testamento. Durante este período, estudiosos publicaram Novos Testamentos baseados em melhores manuscritos, Brian Walton, que publicou a grande Bíblia Poliglota (1657) baseada no exame de 16 manuscritos. John Mill, também de Oxford, trabalhou 30 anos no preparo de sua edição de 1707, baseando-se em manuscritos, versões e Pais da Igreja.
Bentley, empregando em vários lugares pessoas capazes para confrontarem manuscritos e versões, reuniu material para uma definitiva edição que suplantasse o “Textus Receptus”, mas, infelizmente, por questões alheias à sua vontade, não chegou a completar sua edição do Novo Testamento.
Entre os colaboradores de Bentley estava J. J. Wettstein de Basiléia, que após quarenta anos de pesquisas publicou em Amsterdam (1751) uma edição do Novo Testamento. Sua obra tem grande valor até hoje, não apenas pelas notas marginais e os seus prolegômenos (prefácio longo a uma obra científica), mas também pelo aparato crítico, onde pela primeira vez os manuscritos unciais são indicados pelas letras maiúsculas e os manuscritos minúsculos pelos números arábicos, Pertencem ainda a esta fase Semler (1725-1791) e Bengel (1687-1752), que individualmente publicaram uma edição do Novo Testamento Grego. Estes Novos Testamentos estavam baseados em manuscritos diferentes daqueles que foram usados para o “Textus Receptus”. Contudo eles divergiram daquele texto e os apresentados por eles poucas variantes apresentavam relacionadas com o texto consagrado.

Declínio do “Textus Receptus”

O primeiro erudito a se opor frontalmente ao “Textus Receptus” foi o alemão Karl Lachmann (1793-1851).
Seu objetivo ao editar o Novo Testamento não era reproduzir o texto original, pois ele cria ser isso uma tarefa impossível, mas procurar reconstruir o texto corrente no fim do IV século. Para isso usou manuscritos unciais primitivos, versões latinas, a Vulgata de São Jerônimo e o testemunho de alguns Pais da Igreja. Após cinco anos de trabalho, publicou em Berlim (1831) uma edição do texto grego, com uma lista de passagens nas quais diferia do texto dos irmãos Elzevirs. Por esta divergência foi duramente atacado. No prefácio de sua segunda edição Lachmann atacou seus críticos por preferirem, cegamente, um texto familiar, mas inferior, a um primitivo muito mais exato.
Seu valor está em chamar a atenção dos estudiosos para a conveniência de aceitarem um texto superior e não se contentarem com aquele, tradicionalmente conhecido e aceito por todos.

Constantino Tischendorf

Ninguém conseguiu fazer mais pelo texto bíblico do que este autor. Quando estudava teologia, seu professor de grego, Winer (autor de uma famosa gramática) despertou nele um desejo profundo para pesquisar manuscritos antigos, a fim de reconstruir a mais perfeita forma do Novo Testamento Grego. Com este objetivo em mente, dedicou-se de corpo e alma a esta sublime tarefa, pois escrevendo à sua noiva ele declarou: “Resolvi dedicar-me a uma tarefa sagrada – a luta para conseguir a forma original do Novo Testamento.”
Sem receio de contestação pode-se afirmar que ninguém fez mais do que Tischendorf para restaurar o texto original grego. Basta ter em mente que foi a pessoa que publicou mais manuscritos e produziu mais edições críticas da Bíblia Grega.
Entre 1941 e 1842 ele preparou oito edições do Novo Testamento Grego. A edição mais importante é a oitava, publicada em dois volumes, acompanhada por um rico Aparato Crítico, no qual Tischendorf reunia tudo sobre variantes textuais que ele ou seus predecessores tinham achado em manuscritos, versões e Pais da Igreja. Em virtude do grande esforço despendido, seu estado de saúde não lhe permitiu continuar o trabalho, por isso sua obra foi completada por seu discípulo – Gaspar Renê Gregory.
O texto de sua oitava edição, de acordo com Nestle difere da sétima em 3.572 lugares. Foi acusado de dar excessivo valor à evidência do Códice Sinaítico, que ele tinha descoberto entre o lançamento da sétima e da oitava edição.
Tischendorf deixou de lado o “Textus Receptus”, não levando também em conta a classificação dos manuscritos em famílias.

Samuel Tregelles

Na Inglaterra, o intelectual mais bem sucedido em afastar-se do “Textus Receptus” foi Samuel Tregelles. Desde menino, demonstrando grande talento e curiosidade intelectual, já fazia planos para uma nova edição crítica do Novo Testamento. No intervalo de 1857 e 1872 publicou um texto grego equipado com o mais completo aparato de variantes das versões que já aparecera.
Dotado de extraordinária força de vontade, Tregelles conseguiu vencer a pobreza, a oposição e a saúde precária, apresentando notável trabalho no terreno da Crítica Textual. Sua dedicação ao trabalho era um ato de adoração, pois no prefácio de sua obra declarou “na crença total de que esta deve ser para o serviço de Deus e para ser útil à Sua Igreja.”

Westcott e Hort

Estes dois intelectuais ingleses, após um dedicado trabalho de 28 anos publicaram dois volumes: O Novo Testamento no Original Grego com Introdução e Apêndice, onde os princípios críticos seguidos por ele são minuciosamente expostos.
Depois de exaustivas pesquisas na procura de manuscritos antigos, os estudiosos desejaram classificá-los em grupos, assim várias tentativas foram feitas, mas quase todas infrutíferas quanto aos seus resultados. Coube a B. F. Westcott e F. J. A. Hort, dois renomados professores da Universidade de Cambridge, a classificação dos manuscritos do Novo Testamento em quatro famílias, por eles denominadas: Siríaca, Ocidental, Alexandrina e Neutra.
Para eles a mais importante destas famílias era a neutra, por estar mais próxima dos autógrafos e por contar com os dois mais famosos códices unciais – Sinaítico e Vaticano. A preferência de Westcott e Hort por esta família é partilhada por insignes vultos da Crítica Textual, mas, estudos posteriores têm indicado que eles foram otimistas demais quanto à pureza do texto neutro. Pode-se notar ainda que o texto Alexandrino não é distinto do texto neutro, por isso, hoje, aparece como Alexandrino.

A Defesa do “Textus Receptus”

Os defensores deste discutido texto tornaram-se tão fanáticos, que não admitiam que ele fosse alterado ou melhorado. Aqueles que ousaram divergir foram tachados de irreverentes e sacrílegos.
Sendo que Westcott e Hort rejeitaram totalmente o texto tradicional, suas idéias não foram bem aceitas pelos conservadores. Em breve, intelectuais se levantaram como denodados paladinos do texto aceito por todos durante 300 anos. Dentre esses defensores destacam-se Scrivener, Edward Miller e John Burgon. O argumento principal destes estudiosos em defesa do “Textus Receptus” era este: “Se as palavras da Escritura tinham sido ditadas pela inspiração do Espírito Santo, Deus não teria permitido que elas fossem corrompidas no decurso de sua transmissão.” Os argumentos apresentados em defesa do “texto recebido” não tiveram a ressonância que eles esperavam e após a morte deles esta polêmica foi para sempre encerrada.

Edições Gregas Após Westcott e Hort

A) Herman Von Soden: (1852-1913)
Graças ao apoio financeiro da Sra. Elise Koenigs, Von Soden, professor em Berlim, pôde enviar muitos estudantes que tinham sido treinados por ele para examinarem manuscritos nas bibliotecas e museus da Europa e do Oriente Médio. Ele identificou três grupos de manuscritos, designando-os pelas letras gregas K, H, I. Estas letras são inicias das seguintes palavras: K de koinê – comum, H de Hesíquio e I de Siríaco de W. H.; O H incluiria o Neutro e o Alexandrino de W. H., enquanto o I eqüivaleria ao Ocidental dos dois professores da Universidade da Universidade de Cambridge.
Discordando da classificação dos manuscritos em unciais e minúsculos e do agrupamento em famílias de W. H., idealizou nova classificação que indicasse a idade, conteúdo e tipo de cada manuscrito. Por ser um trabalho complexo, difícil de ser aceito na prática, redundou num grande desapontamento para a Crítica Textual, por isso foi totalmente posto de lado.
Como resultado de suas pesquisas e de seus muitos auxiliares, Von Soden publicou a História do Texto Bíblico em 2.203 páginas de seus prolegômenos. Este trabalho, resultado de prolongada investigação e intensivo estudo, tem sido descrito como um magnífico fracasso.
B) Bernard Weiss (1827-1918)
Enquanto professor de Exegese Grega, em Berlim, editou o Novo Testamento em três volumes. Sendo um profundo exegeta tratou com eficiência de problemas teológicos e literários do texto do Novo Testamento.
Seu trabalho se caracteriza pela valorização das evidências internas, discordando assim de Westcott e Hort, que se apoiavam em evidências externas, concordando, porém, com eles em classificar o manuscrito Vaticano como o melhor.
Weiss discorda também dos defensores da teoria genealógica na classificação dos manuscritos bíblicos.
C) Eberhard Nestle (1851-1913)
A edição do Novo Testamento Grego mais amplamente usada, foi preparada por Nestle, através da Sociedade Bíblica de Stutgart (1898). Seu texto é baseado em uma comparação dos textos editados por Tischendorf, Westcott e Hort e Weiss. A obra de Nestle representa o aperfeiçoamento do texto do fim do século XIX. Sendo notável pela síntese maravilhosa do Aparato Crítico e pela precisão da grande soma de informações textuais, sua edição tem sido muito apreciada.
Uma nova edição do Novo Testamento Grego de Nestle foi planejada, quando a Sociedade Bíblica Britânica comemorou seu sesquicentenário (1954). O texto foi preparado por Kilpatrick, com a ajuda de Erwin Nestle e Kurt Aland (Londres – 1958). Houve mudanças numas 20 passagens e diversas alterações na ortografia, acentuação e no uso de parênteses.
D) Nova Edição para os Tradutores da Bíblia.
Em 1966, após uma década de trabalho por uma Comissão Internacional, cinco Sociedades Bíblicas publicaram uma edição do Novo Testamento Grego com a finalidade de ser usada pelos tradutores da Bíblia.
As edições do Novo Testamento Grego, aqui apresentadas, são as mais importantes, mas o seu número exato desde 1514 até nossos dias é difícil de ser avaliado. Bruce, cuja autoridade em problemas de crítica textual ninguém discute, calcula que mais de mil edições já apareceram.
Texto de Pedro Apolinário, História do Texto Bíblico, Capítulo 14.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

A Imprensa e Sua Influência na Divulgação da Bíblia

A invenção da imprensa tem sido motivo de grandes controvérsias. Alguns autores afirmam categoricamente que Gutenberg não foi, como freqüentemente se diz, o inventor da imprensa, pois ela já era conhecida antes do seu nascimento, aperfeiçoou-a simplesmente, e, adotando o sistema das letras móveis, contribuiu para que a arte tipográfica tomasse um desenvolvimento considerável.
A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, discutindo este assunto no verbete “Tipografia” afirma:
“O livro impresso mais antigo que a história da tipografia registra, foi encontrado em 1900, na China, na província de Kansu. Foi impresso em 11 de maio do ano 868. Tinha sido impresso com o uso de blocos, provando-se assim que muitos séculos antes de Gutenberg, já os chineses tinham inventado a imprensa.”
“A impressão com tipo móvel foi pela primeira vez feita também por um chinês Pi Sheng, que de 1041 a 1049 usou desse processo para publicar vários livros, sendo notável, que ambas estas descobertas estão inteiramente autenticadas. Verifica-se, porém, que devido ao grande número de caracteres usados na língua chinesa, o novo processo de publicação não foi na generalidade adotado e em breve esse método caiu em desuso.”
“Como a Holanda, a França, a Alemanha, e a Itália, reclamam para si tal glória, um investigador colocou do seguinte modo o problema: A Holanda tem livros, mas não tem documentos. A França tem documentos mas não tem livros. A Itália não tem documentos nem livros. A Alemanha tem documentos e livros”.
A história desta descoberta é bastante longa e sendo nosso interesse o seu papel na divulgação da Bíblia, limitar-nos-emos a este assunto, partindo da premissa de que este invento foi obra de Gutenberg.
A invenção de João Gutenberg, de imprimir usando tipos móveis, teve conseqüências momentosas na cultura ocidental. Agora, exemplares de livros poderiam ser reproduzidos mais rapidamente, a preço mais acessível e com grau de precisão bem maior do que antes era possível. A ciência e a cultura, jamais poderiam ter alcançado o extraordinário desenvolvimento de nossos dias, sem a contribuição de Gutenberg, que com seu invento possibilitou que não apenas as classes ricas tivessem o privilégio do estudo, mas mesmo a classe média e até os pobres.
A Bíblia era, nesse tempo, o livro mais caro, porque sua transcrição manual ocupava o trabalho de muitas pessoas. Muito apropriadamente, o primeiro grande produto da imprensa de Gutenberg foi uma edição magnificente da Bíblia. O texto foi a Vulgata Latina de São Jerônimo sendo publicado em Mogúncia entre 1450 e 1456. Era uma grande Bíblia de 1282 páginas – também conhecida como a Bíblia de 42 linhas, porque em cada página havia duas colunas com este número de linhas. Outros ainda a denominam Bíblia de Mazarino (nome do cardeal, em cuja biblioteca foi descoberto, em 1760 um volume da obra).
A tarefa da impressão da Bíblia foi extenuante e quase além das limitadas possibilidades humanas do século XV, mas graças ao idealismo do homem de Mogúncia todos os óbices foram superados.
Ao Gutenberg expor seu plano de imprimir toda a Bíblia, seus sócios e auxiliares pensaram que ele estivesse perdendo o juízo, porque pelo moroso processo da incipiente impressão eles poderiam apenas imprimir duas páginas por mês. Se pensarmos em 1000 páginas para a Bíblia é fácil deduzir que talvez morressem antes de ver a empreitada terminada.
A princípio, as letras eram gravadas em madeira e estas arrumadas em tabuinhas, mas sendo a madeira de pouca resistência, não suportava a impressão. Depois de muito meditar ele idealizou gravar os tipos separados não em madeira, mas em metal. Persistentemente Gutenberg trabalhou durante oito dedicados anos, entalhando letras e as arrumando em caixinhas. A primeira frase que ele imprimiu em tipos móveis foi: “Pai nosso que estás no Céu”.
Impressos os primeiros exemplares da Bíblia, põe-se logo João Fust o rico ourives e sócio de Gutenberg a disseminar o Livro Santo. O primeiro exemplar foi vendido ao rei Carlos II por 825 dólares. Outro foi vendido ao arcebispo de Paris pelo mesmo preço. Passados alguns dias o rei e o arcebispo se encontram e trocam idéias a respeito do maravilhoso livro que haviam comprado. Os exemplares são trazidos e ao examinarem ficam estupefatos ao perceberem que eram exatamente iguais. A grande descoberta os desorienta e atônitos exclamam: “Esta obra é do diabo”. Incontinenti prendem a Fust, e este para obter a liberdade, teve que esclarecer todo o mistério.
Embora um exemplar impresso da Bíblia fosse oito vezes mais barato do que um autêntico manuscrito, seu preço ainda era elevado para poder ser adquirido por tantos compradores quantos os que seriam necessários para que Gutenberg pagasse as suas dívidas e Fust satisfizesse a sua ânsia de dinheiro, Infelizmente, lides intelectuais precisam estar sujeitos a problemas materiais.
Dessa primeira edição foram feitos apenas 41 exemplares. Destes ainda existem três, impressos em pergaminho. Um se acha na Biblioteca do Congresso nos Estados Unidos, outro no Museu Britânico e o terceiro na Biblioteca Nacional de Paris.
A que se encontra na Biblioteca do Congresso, foi comprada, em 1939, por um milhão e meio de dólares. São três volumes.
Na revista da Sociedade Bíblica lemos:
“Durante quase três anos – de 1452 até 1455 – Gutenberg trabalhou na impressão da Bíblia. Para imprimir o Livro dos livros foi necessário o trabalho de uma grande equipe: Além de Gutenberg, 6 impressores, 12 tipógrafos e mais 20 auxiliares. O primeiro livro impresso, já então era muito caro e, para adquirir naquela época, precisar-se-ia de quatro vezes o ordenado anual de um escrivão de livros manuscritos.
“O material empregado para Bíblia impressa por Gutenberg foi o pergaminho, e para as suas 30 primeiras Bíblias ele precisou da pele de 5.000 cabras. Ao todo foram impressas cerca de 180 Bíblias por Gutenberg.” (A Bíblia no Brasil, Nov. e Dez. de 1980, p. 13).
Davi d’Angers ao fazer a estátua de Gutenberg, que se encontra em Estrasburgo, ele o apresenta no momento de retirar da prensa uma folha, em que estão impressas estas palavras: “E a luz se fez”.
Do vale do Reno a imprensa expandiu-se pela Europa com grande velocidade. Esta difusão contribuiu para que a Bíblia (a luz que vem de Deus) se tornasse conhecida rapidamente em muitos países da Europa. Antes de 1500, Bíblias tinham sido impressas em várias das principais línguas vernáculas da Europa Ocidental, como a francesa, a alemã e a italiana.
Não deve ser olvidado que a disseminação da Palavra de Deus levantou oposição: em conseqüência edições inteiras da Bíblia foram queimadas em praça pública e seus pregadores ameaçados, coagidos e, às vezes, levados à fogueira. A Igreja de Roma durante muito tempo resistiu à divulgação da Bíblia, mas com o passar dos anos teve que mudar de orientação e em 1757 o Papa Bento XIV deu permissão para que a Bíblia fosse publicada em italiano, espanhol e português.
Em 1477, vinte e sete anos depois da invenção da imprensa, apareceu a primeira porção impressa da Bíblia Hebraica, ou seja, o livro dos Salmos.
Onze anos depois, isto é, em 1488, a primeira edição do Velho Testamento hebraico, apareceu publicada pela imprensa Soncino, perto de Milão, na Itália.
O Novo Testamento grego somente foi impresso em 1514. Por que tanta demora?
Duas razões são apresentadas para esta longa espera desde a invenção de Gutenberg até o primeiro testamento grego impresso.
1) A produção de tipos gregos necessários para a publicação de um livro de tamanho considerável era difícil e cara. Havia formas diferentes da mesma letra e numerosos sinais, fazendo com que os impressores preparassem cerca de 200 caracteres diferentes para a primeira impressão. Posteriormente, houve uma simplificação, tanto de sinais como do alfabeto e tudo se tornou mais fácil.
2) A segunda razão apresentada para este retardamento estava no prestígio que gozava a Bíblia latina, a Vulgata de São Jerônimo.

Bíblia Poliglota Complutense

O primeiro Novo Testamento Grego foi impresso em 1514 como parte de uma Bíblia Poliglota. Esta Bíblia, planejada em 1502 pelo Cardeal da Espanha, Francisco Ximenes, chama-se Poliglota por trazer os textos hebraico, aramaico, grego e latino. Pelo fato de ter sido impressa na Universidade de Alcalá (nome árabe para o lugar onde estava a Universidade, em latim o nome era Complutum) esta Bíblia recebeu também o nome de Poliglota de Alcalá.
Das 600 coleções que foram impressas, são conhecidas e localizadas hoje 97 delas, estando uma na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Esta Bíblia é constituída de seis volumes, sendo que os quatro que contêm o Velho Testamento apresentam o texto hebraico massorético, o latim da Vulgata e o grego da Septuaginta. Na parte inferior vem o texto do Targum aramaico de Onkelos, acompanhado de uma tradução latina. O Novo Testamento está no quinto volume, havendo no final deste um índice de nomes próprios, uma gramática da língua grega e um dicionário grego-latino. No sexto volume há um extenso dicionário hebraico-latino e outro pequeno latino hebraico, além de uma gramática hebraica.
Embora fosse o primeiro Novo Testamento impresso, não foi o primeiro a ser vendido, porque para a sua divulgação era necessária uma autorização papal e esta só foi obtida em 1520. Por alguma razão, até hoje não explicada, a Bíblia Poliglota Complutense não circulou antes de 1522.
Não sabemos que manuscritos foram usados pelo Cardeal Ximenes na elaboração desta grande obra. Em sua dedicação ao Papa Leão X, depois de mencionar as dificuldades enfrentadas para obter manuscritos latinos, hebraicos e gregos, Ximenes afirma:
“Pelas cópias gregas somos reconhecidos a Sua Santidade, que muito bondosamente, nos enviou da Biblioteca Apostólica códices mui antigos, tanto do Velho como do Novo Testamento, que nos ajudaram muito nesta empreitada.”
Houve outras poliglotas famosas publicadas em Antuérpia (1569 – 1572) e Paris (1629-1645); porém, a mais notável de todas foi a Poliglota de Londres (1657-1669), publicada por Briam Walton em oito volumes, contendo cada página o texto do Velho Testamento em hebraico, latim da Vulgata, Targum, grego da Septuaginta, siríaco, árabe e Pentateuco Samaritano.

Novo Testamento de Erasmo

Embora o texto complutense seja o primeiro Novo Testamento a ser impresso, o primeiro Novo Testamento Grego a ser impresso e colocado no mercado foi a edição preparada pelo famoso erudito Erasmo de Roterdam (1469-1536).
Ao Erasmo visitar Basiléia em 1514 recebeu uma proposta de Froben para que preparasse uma edição do Novo Testamento Grego, prontificando-se a pagar-lhe uma importância vantajosa para um trabalho de tal envergadura.
Em Basiléia, Erasmo não encontrou manuscritos gregos suficientemente bons e nenhum que contivesse o Novo Testamento inteiro. Para a maioria do texto ele confiou em dois manuscritos inferiores da Biblioteca de um mosteiro em Basiléia, sendo um dos Evangelhos e outro dos Atos e Epístolas, ambos mais ou menos do século XII. Para o livro de Apocalipse ele possuía apenas um manuscrito também do século XII, que tomara emprestado do seu amigo Reuchlin. Faltava a este manuscrito a última folha com os seis últimos versos da Bíblia. Para suprir a falta dos inexistentes, bem como alguns outros ilegíveis no manuscrito, Erasmo traduziu-os da Vulgata Latina para o grego. Como poderíamos esperar, o texto grego traduzido por Erasmo é diferente do que se encontra em qualquer manuscrito grego conhecido.
A impressão, terminada em 1516, por ter sido apressada e descuidada estava repleta de erros tipográficos. Embora muitos destes erros fossem corrigidos pelo próprio Erasmo nas quatro edições seguintes (1519, 1522, 1527 e 1535) o texto não foi aperfeiçoado.
A aceitação da primeira edição foi relativamente boa, pois muitos compradores foram encontrados através da Europa. Dentro de três anos uma segunda edição foi publicada e o número total de exemplares das edições de 1516 e 1519 alcançou 3.300. A segunda edição tornou-se a base da tradução alemã de Lutero.
Se em certos círculos a obra foi bem aceita, em outros ela foi recebida com preconceito e mesmo com aberta hostilidade, para isto contribuindo, especialmente, os seguintes fatores:
a) Descuido na sua apresentação gráfica;
b) Anotações cansativas de Erasmo, procurando justificar sua tradução;
c) Inclusão entre as notas filológicas de diversos comentários cáusticos, sobre a vida desregrada e corrupta de muitos sacerdotes.
Como era de se esperar, clérigos protestaram através dos púlpitos e seu clamor ressoou por toda a parte. As conseqüências da atitude desassombrada de Erasmo logo se fizeram sentir, sendo proibida a leitura de seus livros nas Universidades de Cambridge e Oxford, estendendo-se ainda a proibição aos livreiros para que não vendessem os seus livros.
COMMA JOANINA
Entre as críticas levantadas contra Erasmo, uma das mais sérias, foi a acusação de que no seu texto, em I João 5:7-8, não apareciam as palavras: “no céu, o Pai, a Palavra e o Espírito Santo, e estes três são um; e há três que testemunham na terra”. Erasmo replicou que não encontrara estas palavras em nenhum manuscrito antigo e descuidadamente fez a afirmação que inseriria a “Comma Joanina”, do latim Comma Johanneum, como é chamada nas edições futuras, se um único manuscrito grego fosse encontrado, anterior ao século XII, que contivesse a passagem. Este manuscrito lhe foi mostrado, e Erasmo, cumprindo a promessa, colocou a passagem na terceira edição de 1522, porém, em longa nota marginal indica suas suspeitas de que o manuscrito fora preparado para confundi-lo. Segundo Bruce em “The Text of the New Testament”, página 101, este manuscrito foi falsamente preparado lá por 1520 por um monge franciscano, que tomara estas palavras da Vulgata Latina.
A Crítica Textual esclarece que dos milhares de manuscritos gregos, somente três contêm esta passagem espúria, sendo eles posteriores ao século XII. A Comma Joanina, provavelmente teve a sua origem num comentário exegético, escrito na margem e transcrito para o texto de manuscritos da Vulgata Latina antes do ano 800 A.D. Em vista de sua inclusão na Vulgata Clementina de 1592, o Santo Ofício em Roma (1897) fez um pronunciamento, aprovado pelo Papa Leão XIII, dizendo que não é seguro negar que estas palavras não sejam de João.
A Bíblia católica, tradução do Padre Antônio Pereira de Figueiredo, com comentários e anotações traz a seguinte nota sobre esta interpolação:
“Este versículo (1 João 5:7) tem dado lugar a séria controvérsia, afirmando uns e contradizendo outros a sua autenticidade. Um decreto do Concílio de Trento, confirmado no Concílio do Vaticano, fulmina com anátemas todo aquele que recusar aceitar como canônicas, em todas as suas partes, os livros sagrados contidos na versão Vulgata . . . Ora, não resta dúvida que este versículo faz parte integrante dum livro reputado como canônico, pois está inserto na edição de Sisto V e Clemente VIII, que proibiram mutilar qualquer parte, fosse qual fosse. . . Os testemunhos mais graves e os monumentos mais respeitáveis da tradição eclesiástica consideram canônico este versículo, podendo citar-se S. Cipriano, S. Fulgêncio, S. Eugênio, bispo de Cartago, o herege Prisciliano, Cassiodoro, no seu comentário às epístolas apostólicas, etc. Além destes testemunhos valiosos extrínsecos, temos os intrínsecos, que não são de menor valia. Truncando-se este versículo fica uma lacuna inexplicável, não haveria relação entre os antecedentes e conseqüentes. Considerar este versículo como uma interpolação é acusar de fraude todos os bispos de África, o que seria imputação temerária. Que vantagem lhes adviria daí, se o seu caráter não excluísse a hipótese do logro? Refutar os Arianos? De que lhes servia a invenção dum texto novo, falso, desconhecido pela antiguidade, tendo de discutir como homens que conheciam a Sagrada Escritura? É certo que este versículo se não encontra em muitos manuscritos gregos, mas a explicação é fácil, é um erro de cópia trivialíssimo, visto que as palavras do versículo seguinte: são exatamente as mesmas. Foi uma inadvertência, um saldo natural de quem copiava. Modernamente pois não tem faltado críticos ortodoxos que consideram o versículo 7 como uma glosa explicativa do versículo seguinte, e entre estes citaremos Rude, Shortz, Kauben, Guntner, Bispina, Shauz, Comely e outros, apresentando razões de valor, entre as quais não se ter a Igreja pronunciado sobre o assunto, não ser decisivo o testemunho e tradição, e restabelecer-se o sentido, considerado o versículo em questão como uma nota.”
A Bíblia de Jerusalém, tradução católica, traz a seguinte nota, bem mais consentânea como a Crítica Textual:
“O texto dos Vv. 7-8 está acrescido na Vulgata de um inciso (aqui abaixo entre parênteses) ausente nos antigos mss. gregos, nas antigas versões e nos melhores mss. da Vulg., e que parece ser uma glosa marginal introduzida posteriormente no texto: ‘Porque há três que testemunham (no Céu: o Pai, o Verbo e o Espírito Santo, e esses três são um só; e há três que testemunham na terra): o Espírito, a água e o sangue, e esses três são um só’.”
Traduções modernas, baseadas no texto original, a tem omitido com muita razão.
Em virtude dos fatos aqui apresentados e seguindo orientação superiora, como do Comentário Bíblico Adventista, este texto nunca deverá ser usado para provar a existência da trindade.

Edições do Novo Testamento Depois de Erasmo

Mais de trinta edições do Novo Testamento apareceram rapidamente depois das edições de Erasmo.
A primeira edição completa da Bíblia em Grego foi impressa pela famosa Editora Aldine em 1518, na cidade de Veneza.
Quando o surgimento da imprensa, as Escrituras ou parte delas, tinham sido traduzidas em menos de 20 línguas. Desde então o progresso na tradução e divulgação da Bíblia tornou-se notável. A tradução de Lutero, em 1534, fez com que a Bíblia se tornasse o livro mais popular da Alemanha. Dentro de pouco tempo a Palavra de Deus estava traduzida para o espanhol, eslavo, árabe, polonês, dinamarquês, inglês, sueco, húngaro, islandês e finlandês.
Depois de 1800 as versões da Bíblia se multiplicaram nas línguas e dialetos mais importantes do mundo.
Dentre os tradutores da Bíblia destacam-se:
a) John Eliot, que na América do Norte a traduziu para a língua dos índios;
b) Guilherme Carey, um dos tradutores mais notáveis do mundo, pois fez e ajudou a fazer a tradução para 35 1ínguas e dialetos da Índia.
Muito contribuíram para a disseminação da Palavra de Deus através do mundo a organização de várias sociedades bíblicas.
A Apostila Fuentes Bíblicas página 80-91 fornece-nos úteis informações sobre estas sociedades, que aqui tomamos a liberdade de sintetizá-las.
FUNÇÕES DAS SOCIEDADES BÍBLICAS
Estas funções são múltiplas, pois não consistem apenas na publicação da Bíblia, sem visar lucro; mas, angariar os fundos para a prossecução do trabalho; selecionar pessoas capazes para a preparação de novas versões; escolher elementos que incentivem a disseminação da Bíblia em diferentes países, etc.
As mais destacadas sociedades bíblicas são as seguintes:
1. SOCIEDADE BÍBLICA DE CANSTEIN
Nome derivado do título de seu promotor – Karl Hildebrand – Barão de Canstein, Foi organizada na. cidade alemã de Halle em 1710 (segundo outros em 1712).
Sua importância se baseia nestas duas proposições:
a) Distribuiu 6.000.000 de exemplares da Palavra de Deus;
b) Foi a precursora de uma linha notável de idênticas beneméritas sociedades.
2. SOCIEDADE BÍBLICA BRITÂNICA E ESTRANGEIRA
Em 1802 o Reverendo Thomas Charles, sentindo a escassez de Bíblias, lançou a idéia de uma entidade que promovesse a sua publicação. Em resposta ao seu anelo, no dia 7 de março de 1804, mais de 300 pessoas de distintas denominações se reuniram em Londres para a Organização da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira.
Durante os primeiros anos de sua história publicou edições francesas e castelhanas da Bíblia, que se destinaram ao uso de 30.000 prisioneiros de guerra dessas nacionalidades. Atualmente publica as Escrituras completas ou parcialmente em quase 400 1ínguas distintas.
3. SOCIEDADE BÍBLICA AMERICANA
Por influência das agradáveis notícias da Sociedade Britânica, várias sociedades locais foram organizadas nos Estados Unidos. A primeira delas foi em Filadélfia em 1808. Após 8 anos seu número chegou a 128, Percebendo as vantagens de unir todas estas sociedades o Sr. Elias Boudinot, Presidente da Sociedade Bíblica de Nova Jersey fez um apelo neste sentido. Atendendo ao seu apelo representantes de 28 sociedades locais se reuniram em Nova Iorque em maio de 1816, organizando a Sociedade Bíblica Americana.
Embora não tenha tido as mesmas proporções da Britânica, publica a Bíblia em mais de 80 idiomas.
4. OUTRAS SOCIEDADES CONHECIDAS
a) A Sociedade Bíblica Prussiana, fundada em 1814;
b) A Sociedade Bíblica dos Países Baixos, iniciada em 1815;
c) A Sociedade Bíblica da Escócia, cooperando para divulgação da Palavra de Deus desde 1861;
d) A Sociedade Bíblica da Irlanda e outras.
Além das sociedades acima mencionadas há ainda um número considerável de sociedades menores, sendo o seu número superior a 80.
Existem também casas editoriais particulares que publicam a Bíblia.
a) A da Universidade de Oxford;
b) A da Universidade de Cambridge;
c) Waterlow & Sons Limited, de Londres;
d) Samuel Bagster e Filhos.
O vulto do trabalho realizado por estas sociedades é realmente impressionante. Apenas algumas cifras elucidativas.
Segundo uma estatística de 1912, o número de Bíblias ou partes da Bíblia distribuídas em 1911 foi de 16 milhões de exemplares. A sociedade Bíblica Americana no primeiro século de sua existência distribuiu 109.926.214 Bíblias ou algumas de suas partes, destas 23.456.549 foram completas.
Aproximadamente já foram editadas, até 1955, pelas Sociedades Bíblicas, nada menos do que 1.000.000.000 (um bilhão) de exemplares ou porções das Sagradas Escrituras.
Exemplares completos alcançam o número de 190.000.000 desde 1804. Durante o ano de 1955 somente a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira distribuiu 7.830.000 exemplares.
De acordo com o relatório de dezembro de 1949 da Sociedade Bíblica Americana, a Bíblia completa tinha sido publicada em 190 línguas, o Novo Testamento completo em 245, um Evangelho ou outro livro da Bíblia em 581; porções selecionadas em 92 línguas, um total de 1.118 línguas em que pelo menos, parte da Bíblia foi publicada.
Em nossos dias a Bíblia pode ser lida em quase todas as línguas do mundo. Não podemos fixar o número exato de traduções, porque os algarismos variam conforme os autores. As Sagradas Escrituras estão traduzidas para línguas das quais talvez nunca ouvimos falar, como o malgaxe e o ouolof.
A Sra. Ellen G. White escreveu em O Grande Conflito páginas 287 e 288 o seguinte:
“Quando se formou a Sociedade Britânica, a Bíblia havia sido impressa e circulara em cinqüenta línguas. Desde então foi traduzida em mais de duas mil línguas e dialetos. …
“Os aperfeiçoamentos da imprensa deram impulso à obra da circulação da Escritura Sagrada. As ampliadas facilidades de comunicação entre os diferentes países, a ruína de antigas barreiras de preconceitos e exclusivismo nacional, e a perda do poder secular pelo pontífice de Roma, têm aberto o caminho para a entrada da Palavra de Deus. Há anos a Bíblia tem sido vendida sem restrições nas ruas de Roma, e atualmente está sendo levada a cada parte habitável do globo.
“O incrédulo Voltaire jactanciosamente disse certa vez: ‘Estou cansado de ouvir dizer que doze homens estabeleceram a religião cristã. Eu provarei que basta um homem para suprimi-la.’ Faz mais de um século que morreu. Milhões têm aderido à guerra contra a Escritura Sagrada. Mas tão longe está de ser destruída que, onde havia cem no tempo de Voltaire, há hoje dez mil, ou antes, cem mil exemplares do Livro de Deus. Nas palavras de um primitivo reformador, relativas à igreja cristã, a ‘Bíblia é uma bigorna que tem gasto muitos martelos’. Disse o Senhor: ‘Toda a ferramenta preparada contra ti, não prosperará; e toda a língua que se levantar contra ti em juízo, tu a condenarás.’ Isa. 54:17.
” ‘A Palavra de nosso Deus subsiste eternamente.’ ‘Fiéis [são] todos os Seus mandamentos. Permanecem firmes para todo o sempre; são feitos em verdade e retidão.’ Sal. 111:7 e 8. O que quer que seja edificado sobre a autoridade do homem será destruído; mas subsistirá eternamente o que se acha fundado sobre a rocha da imutável Palavra de Deus.”
Texto de Pedro Apolinário, História do Texto Bíblico, Capítulo 13.

▲ TOPO DA PÁGINA