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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Camelo Pelo Fundo de Uma Agulha?

S. Mateus 19:24. Muitos concluem: Os ricos não poderão entrar no reino do Céu, desde que um camelo jamais passará pelo fundo de uma agulha.

Comentários Gerais

A palavra camelo é usada seis vezes no Novo Testamento:
1. Três vezes relatando uma ilustração de Cristo. S. Mat. 19:24; S. Mar. 10:25 e S. Luc. 18:25.
2. Duas vezes com referência às vestes de João Batista. S. Mat. 3:4 e S. Mar. 1:6.
3. Uma crítica de Cristo aos escribas e fariseus que coavam um mosquito e engoliam um camelo. S. Mat. 23:24.
Uma leitura rápida da passagem tem levado muitos à seguinte conclusão: Os ricos nunca poderão entrar no reino dos Céus, desde que um camelo jamais passará pelo fundo de uma agulha.
Vejamos primeiro o estudo do contexto porque ele nos ajudará na boa compreensão do texto.
Um moço rico aproximou-se de Cristo dirigindo-Lhe a pergunta: “Mestre, que farei de bom, para alcançar a vida eterna?” S. Mat. 19:16.
Jesus o informa da necessidade de guardar os mandamentos. A resposta do jovem foi incontinente: “Tudo isso tenho observado; que me falta ainda?”
Preso aos bens materiais, a sua maneira de guardar os mandamentos, não se coadunava com as diretrizes divinas. Diante desta realidade foi que Cristo lhe expôs a necessidade de guardar os mandamentos não de maneira fria, ritualística e farisaica, mas sim de modo consentâneo com o desprendimento celeste.
O jovem rico, embora houvesse guardado os mandamentos literalmente, a sua atitude egoísta não se harmonizava com o que Deus espera de nós, guardara na letra, mas não no espírito, por isso de maneira franca e sincera Cristo lhe apresentou o que lhe faltava – desprender-se completamente das posses terrestres. O pedido do Mestre lhe pareceu exigente demais para ser cumprido, portanto o diálogo foi encerrado.
Cristo espera que Seus filhos não vejam as possessões com o única objetivo de trazer-lhes comodidade e conforto, mas como um privilégio outorgado por Deus para converter-se numa bênção aos mais carentes.
Os judeus tinham noções erradas sobre os ricos e os pobres, Inclinavam-se a pensar que a prosperidade era a prova máxima do favor divino e um símbolo das bênçãos de Deus; iam mesmo além em suas conjeturas, pois criam que era mais fácil a salvação para os ricos do que para os pobres. Cristo teve que desarraigar estas conclusões erradas, por isso O vemos antes deste incidente com o moço citar a parábola do Rico e Lázaro, onde o rico vai para a perdição e o pobre para a salvação. Longe de nós a conclusão simplista de que os ricos vão se perder, e de outro lado os pobres se salvarão. O ensinamento bíblico de acordo com esta passagem é este: É mais difícil para um rico ser salvo do que para um pobre. As riquezas podem ser perigosas para aqueles que as possuem.
O Comentário Adventista tem para o verso 23 a seguinte observação:
“É difícil para um homem rico obter o reino dos Céus, não porque ele é rico mas por causa da sua atitude para com as riquezas.”
O contexto de S. Mateus 19:24 não apresenta a impossibilidade da salvação para os ricos, mas apenas as maiores dificuldades que eles terão de vencer, basta ler os versos 23 e 26.
Os três maiores perigos das riquezas, de acordo com William Barclay, ao comentar S. Mateus 19:24 são estes:
1º) As posses numerosas fomentam uma falsa independência.
Quem tem bens materiais é inclinado a pensar que pode vencer qualquer situação inesperada. O dinheiro leva a pessoa a pensar que pode comprar o caminho da felicidade, bem como aquele que o livrará da dor. Pensa ainda que pode afastar todas as dificuldades sem Deus.
2º) As riquezas prendem as pessoas a este mundo.
“Porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” S. Mat. 6:21.
Se tudo o que o homem deseja pertence a este mundo, se todos os seus interesses estão centralizados aqui, nunca pensa em ir ao mundo do além. Apegado demasiadamente à Terra é possível esquecer que há um Céu.
3º) As riquezas tendem a fazer a pessoa egoísta.
Por mais que possua é natural ao homem desejar um pouco mais. O suficiente é sempre um pouco mais do que se tem. A pessoa que chegou a desfrutar do luxo e da comodidade sempre tende a temer viver sem eles. A vida se converte em uma luta cansativa para reter o que se possui. O resultado é que quando o homem enriquece, em lugar de sentir o impulso de dar, só experimenta o desejo de prender-se às coisas. O seu instinto o leva a possuir mais e mais, em busca da segurança, que crê, as coisas lhe possam dar.
O perigo das riquezas é que estas levam o homem a esquecer que perde o que retém e ganha aquilo que dá aos outros.

Três Interpretações Para S. Mat. 19: 24

1ª) Houve uma substituição da palavra grega – kámilos – corda, para kámelos – o animal. O fundo da agulha considerar-se-ia literalmente.
2ª) A palavra camelo deve ser considerada literalmente, mas o fundo da agulha era uma pequena porta ao lado da porta principal de Jerusalém, pela qual um camelo passaria, após tirar-lhe a carga e, mesmo assim ajoelhado e aos empurrões.
3ª) Tanto o camelo quanto o fundo da agulha são considerados literalmente.
1ª) A Substituição por uma Palavra Semelhante:
Júlio Nogueira em seu livro A Linguagem Usual e a Composição pág. 350, sem citar nenhuma fonte, nem autoridade declara: “Tem-se visto em S. Mateus 19:24 um engano de tradução do texto grego, feita por S. Jerônimo: Em vez de kámilos, corda grossa, cabo, ele tomou a palavra kámelos, camelo.”
O que aconteceu foi o inverso, pois Robertson, na pág. 192, da sua memorável gramática afirma: “Alguns poucas manuscritos cursivos substituem kámelos por kámilos, mas isto é evidentemente um erro, um mero esforço para solucionar uma dificuldade do texto.”
R. C. H. Lenski, na obra The Interpretation of St. Mathew’s Gospel, pág. 755, confirma:
“Antes do quinto século kámelos não foi mudado para kámilos.”
O renomado comentarista Henry Alford na obra An Exegetical and Critical Commentary, vol. l, pág. 197 acrescenta:
“Nenhuma alteração para kámilos é necessária ou admissível. Esta palavra, com o significado de corda ou cabo, parece ter sido inventada para escapar da dificuldade encontrada aqui.”
O Dicionário Enciclopédico da Bíblia da Editora Vozes de Petrópolis corrobora as declarações anteriores:
“Sem muito fundamento autores mais recentes quiseram ler kámilos, corda grossa, em vez de kámelos, alegando que no Talmud se encontram expressões análogas e que no tempo bizantino essas duas palavras pronunciavam-se da mesma maneira.
A Crítica Textual nos esclarece que algum copista, séculos depois de Cristo fez a substituição para kámilos. Este fato apareceu em apenas alguns manuscritos cursivos, isto é, minúsculos.
A prova de que Cristo usou a palavra camelo, nós a temos no fato de que assim aparece nos primitivos manuscritos e nas primeiras traduções da Bíblia, como a Menfítica, Latina e Peshita.
2ª) A Explicação da Porta Estreita Chamada Fundo de Agulha
Aquino apresenta um comentário sobre Anselmo, observe a data (1033-1109 AD) declarando que este autor afirma que em Jerusalém havia certa porta, chamada “fundo de agulha” pela qual um camelo só passava se entrasse de joelhos, depois de lhe ser retirada toda a carga.
Existem muitas outras vagas citações, mais ou menos idênticas à seguinte:
Lorde Nugent, ouviu falar, faz muitos anos em Hebrom de uma entrada estreita para os que passavam a pé, ao lado da porta grande e que se denominava “o fundo de uma agulha”.
Talvez um dos livros que mais contribuiu, para que esta idéia se generalizasse foi Memórias de um Repórter dos Tempos de Cristo do Padre Carlos M. de Heredia, onde ele faz menção a esta porta estreita chamada “fundo de uma agulha”. Devemos notar bem que o próprio autor nos adverte no Prólogo, que sua obra é uma novela.
O comentarista Lenski, no mesmo livro e página já citados, prossegue:
“No século quinze foi tentado o oposto, o fundo de agulha foi aumentado pela referência a um pequeno portal, que era usado por viajores a pé ao entrarem em uma cidade murada, pelo qual um camelo poderia passar ajoelhado, depois de removida a sua carga. Isto mudou o impossível para o possível e tornou-se atrativo porque sugeria que, como o camelo tinha de deixar sua carga e arrastar-se sobre seus joelhos assim o homem rico teria que desprender-se de suas riquezas ou de seu amor por elas e humilhar-se sobre seus joelhos. Mas como em S. Mateus 23: 24 Jesus tinha em mente um mosquito e um camelo reais, assim aqui camelo e fundo de agulha são reais.”
O livro Jóias do Novo Testamento Grego, de Kenneth S. Wuest, pág. 25 diz:
“Alguns têm imaginado que o buraco da agulha referido fosse uma portinhola, no muro de Jerusalém, através do qual pudesse finalmente passar um camelo, depois de muitos puxões e empurrões.
“O grego de S. Mateus 19:24 e de S. Marcos 10:25 fala de uma agulha usada com linha, enquanto que o de S. Lucas 18:25 usa o termo médico que indica uma agulha usada nas operações cirúrgicas. É evidente que ali não é considerada nenhuma portinhola, mas sim, o pequeno orifício de uma agulha de costura.”
A palavra grega usada por Mateus (19:24) é “rhafis” = agulha de costura; enquanto Lucas por ser médico empregou “belone” = agulha cirúrgica.
Note bem a afirmação seguinte, encontrada na obra: A New Testament Commentary, G. C. Howley. Consulting Editors F. F. Bruce e H. L. Ellison:
“A interpretação popular em certos círculos de que o fundo de uma agulha é uma pequena porta dentro do portão de uma cidade é sem fundamento.”
Dentre os mais considerados estudiosos do Novo Testamento Grego se acha Vincent; este autor após comentar o verso 24 de S. Mateus 19, sintetiza enfaticamente:
“A alusão não deve ser explicada como se referindo a uma porta estreita chamada o fundo de uma agulha.”
Segundo o comentarista Broadus, esta explicação nada mais é do que uma conjetura sugerida da seguinte observação alegórica de Jerônimo:
“Assim como os camelos de Midiã e Efá (Isa. 60:6), vindos com dádivas, torcidos e apertados entravam pelas portas de Jerusalém, assim os ricos podem entrar pela porta estreita despojando-se de sua carga de pecados e de toda a deformidade corporal.”
O preeminente estudioso F. F. Bruce, conceituado entre nós por suas notáveis obras, no livro Answers to Questions, págs. 55 e 56, respondeu da seguinte maneira à um de seus inquiridores. Eis a pergunta e a resposta dada:
“Tem-se afirmado recentemente que a passagem que menciona um camelo passando pelo fundo de uma agulha (S. Mar. 10:25) tem sido mal traduzido devido a uma confusão entre as palavras gregas kámelos (‘camelo’) e kámilos (‘corda’), e que nosso Senhor realmente falou de uma corda passando pelo fundo de uma agulha. É isto assim?
“Em S. Marcos 10:25 a evidência textual parece ser unânime em favor de kámelos (‘camelo’). No tocante às duas analogias sinóticas, um punhado de minúsculos e a Versão Armênia atestam kámilos (‘corda’) em S. Mat. 19:24, bem como o fazem um mais recente uncial e uns poucos minúsculos em S. Luc. 18:25. Em todos os três lugares a evidência é esmagadora em favor de ‘camelo’, e isto é reconhecido pela maioria das traduções. Eu penso que no momento a única versão inglesa que dá a tradução de ‘corda’ é The Book of Books, publicada em 1938. Os poucas escribas ou editoras que substituíram ‘camelo’ por ‘corda’ podem ter sido inconscientemente influenciados pelo desejo de fazer a entrada de um rico no reino de Deus levemente menos difícil do que nosso Senhor disse que era.
“O mesmo pode ser dito da idéia de que Suas palavras se referem a uma pequena passagem subterrânea em um grande portão, através da qual um camelo poderia comprimir-se quando as entradas principais estivessem fechadas, por cujo motivo sua carga deveria ser primeiramente removida. Nosso Senhor Se referia aos embaraços na impossibilidade da entrada de um rico no reino. Se víssemos um camelo entrando pelo fundo de uma agulha, diríamos ser isto um milagre; e é igualmente um milagre um homem rico ser salvo. Esta não é minha interpretação, é a clara afirmação de nosso Senhor: ‘Para os homens é impossível, mas não para Deus; porque para Deus todas as coisas são possíveis’ (S. Mar. 10:27). Uma observação adicional: em comparação com as condições da Palestina nos dias de nossa Senhor, muitos de nós que gozamos os padrões do viver comum através de nossa ‘opulenta saciedade’ ocidental, hoje seríamos classificados como ‘ricos’.”

3ª) A Única Explicação Defensável:

“Tanto o camelo, como o fundo da agulha devem ser compreendidos literalmente. . . não é necessário sugerir que camelo poderia significar uma carda, ou que o fundo de agulha era um nome, às vezes, dado a um pequeno portão lateral para passageiros a pé. Nenhum expositor antigo adota este método de explanação, mas toma o fundo de agulha em sentido literal, como podemos crer que Cristo fez.”
Estas declarações foram feitas por Alfred Plummer na obra An Exegetical Commentary on the Gospel of Mathew, pág. 269.
Outro comentarista apreciado, especialmente por suas idéias conservadoras, é William Hendriksen. Em New Testament Commentary (Mathew), págs. 727 e 728, ele nos afirma:
“Para explicar o que Jesus quer dizer é inútil e injustificado tentar mudar camelo para cabo – veja S. Mat. 23:24, onde um camelo real deve ter sido empregado – ou definir o fundo de agulha como o portão estreito no muro de uma cidade, através do qual um camelo pode passar apenas de joelhos e depois de ter sido removida sua carga.”
Os comentaristas nos informam que Jesus Se valeu de uma ilustração, que já existia em forma de provérbio no seu tempo, como prova o Talmud. Em Babilônia, nesta mesma época, havia uma frase idêntica, apenas com a seguinte variante: “É mais fácil um elefante passar pelo fundo de uma agulha.”
Os exemplos poderiam ser multiplicados, como os do The Interpreter’s Bible, The Anchor Bible e muitos outros, porque nesta mesma tecla insistem os exegetas e comentaristas, mas para término de nossas considerações, apenas mais um relato: o do Comentário Adventista sobre S. Mateus 19:24.

Fundo de Uma Agulha

“A explicação que o fundo de uma agulha, se refere a uma porta menor aberta no painel de uma grande porta da cidade pela qual os homens podiam passar quando a grande porta estava fechada para o tráfego principal, originou-se nos séculos depois dos dias de Cristo. Não há portanto nenhum fundamento para tal explicação, embora ela possa parecer plausível, Jesus está tratando com impossibilidades (v. 26) e não há nenhum apoio para se defender uma explicação pela qual se possa traduzir como possível o que Jesus especificamente salientou como impossível.”
Será que há necessidade de aduzir mais exemplos comprobatórios, para a eliminação completa de explicações não alicerçadas em bases seguras?

Conclusão

Das três explicações existentes apenas uma é defensável para os teólogos adventistas, bem como para todos os eruditos das demais organizações religiosas.
Cristo estava usado uma hipérbole, figura que se caracteriza pelo exagero, com o objetivo de despertar a atenção dos ouvintes, para melhor fixar o fato na memória.
A informação de uma porta estreita se espalhou pelo mundo por influência de suposições e de relatos não fidedignos.
Jamais devemos usar explicações populares vulgarizadas, porque não são sancionadas pelos grandes estudiosas da Bíblia.
O seguinte princípio exegético não deve ser esquecido por nós.
O pregador deve ser bastante cuidadoso para não tirar do texto o que seu autor nunca tencionou dizer.
O contexto nos mostra que os impossíveis para os homens, tornam-se possíveis para Deus.
Extraído da Apostila Explicação de Textos Difíceis da Bíblia de Pedro Apolinário.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

“Dia do Senhor” (Apoc. 1:10)

“Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta.”
A expressão grega – Kuriakê hemera – dia do Senhor, não deixa dúvida alguma de que o profeta se refere a um dia de propriedade do Senhor, desde que a vocábulo kuriakê é adjetivo possessivo que está determinando o substantivo hemera – dia, como posse. Em outras palavras, João faz alusão a um dia semanal que, antes da visão, ele considerava como “dia do Senhor” propriedade do Senhor.
Esta expressão aparece apenas uma vez na Bíblia. Em I Cor. 11:20 encontramos uma frase mais ou menos semelhante a esta, referindo-se à Ceia do Senhor –  kuriakón deipnon.
A que dia está se referindo o apóstolo com esta afirmação?
Cinco posicionamentos são apresentados:
1º) Abrangendo toda a dispensação cristã e não qualquer particular dia de vinte e quatro horas.
2º) Uma segunda classe sustenta que se refere ao dia do Juízo.
3º) É uma referência ao dia do imperador.
4º) Um grupo mais numeroso, por óbvias razões, defende ardorosamente que é uma referência ao dia de domingo.
5º) Ainda outra classe mantém o principio, que Kuriakê hemera significa o sétimo dia, o sábado do Senhor.
O Dia da Dispensação Cristã
Há ponderáveis razões para se rejeitar esta interpretação, considerando-se os seguintes fatores:
Segundo o contexto da passagem (Apoc. 1:9-10). Sabemos o lugar da visão – ilha de Patmos; o motivo de estar ali – por causa da palavra do Senhor; sua condição em visão – no espírito, e o tempo especifico do recebimento da visão – no dia do Senhor. Estas circunstâncias nos cientificam de que o dia em que foi dada a visão tem uma existência real e não simbólica ou mística. Os que defendem que significa toda a dispensação cristã lhe atribuem um significado simbólico que não é admissível.
Dia do Juízo
Embora João tivesse tido uma visão sobre o dia do juízo, não poderia ter sido neste dia, porque este ainda estava no futuro.
Esta interpretação não pode ser aceita quando sabemos:
1º) Vincent em Word Studies in the New Testament, vol. II, pág. 425, comentando Apoc. 1:10, assim se expressa:
“Dia do juízo é expresso no Novo Testamento por he hemera tu kuriu – II Tes. 2: 2; ou – hemera kuriu – II Ped. 3:10; ou ainda - hemera christu – o dia de Cristo – Fil. 2:16″.
2º) O SDABC (Comentário Bíblico Adventista) comentando esta mesma passagem afirma:
“O contexto nos indica que a expresso ‘dia do Senhor’ se refere ao tempo em que João teve a visão e não ao seu conteúdo”.
3º) A palavra traduzida por em é en, e, quando se refere a tempo, é definida por Robertson nos seguintes termos: “tempo em que, um ponto ou período definido em, durante o qual alguma coisa se realizou”. Nunca significa acerca de, sobre. Assim sendo os que defendem que João estava se referindo ao dia do juízo, estão em contradição com a linguagem usada, querendo que a preposição en (em) signifique acerca, sobre, em vez de en (em), e talvez o pior ainda é que fazem João afirmar uma estranha falsidade, ao declarar que teve uma visão na ilha de Patmos, há aproximadamente dezenove séculos, no dia do juízo, que ainda hoje se encontra no futuro.
Dia do Imperador
A História nos confirma que no Império Romano o Imperador era freqüentemente chamado de Kúrios – Senhor, conseqüentemente todas as coisas pertencentes ao Imperador eram denominadas de Kuriakós = do Senhor.
Isbon T. Beckwith, no livro The Apocalypse of John, pág, 435 nos diz que o primeiro dia do mês era chamado na Ásia Menor – “Dia do Imperador”.
Embora houvesse o “Dia do Imperador” e a expressão “Kuriakós” para designar as coisas pertencentes ao imperador, seria difícil concluirmos que João se estivesse referindo a um dia imperial, quando atentamos para o fato de que ele fora perseguido e estava exilado, na ilha de Patmos, por negar-se a prestar culto ao imperador.
O Comentário Adventista pondera muito apropriadamente, ao explicar Apoc. 1:10.
“Parece mais provável que João tenha escolhido a expressão “Kuriakê Hemera“, para designar o dia do sábado, como uma penetrante maneira de proclamar o seguinte fato: Como o imperador tinha um dia devotado a sua honra, assim o Senhor de João, por cuja causa ele agora sofria, também tem o seu dia”.
Dia do Domingo
Este ponto de vista é defendido pela maioria dos comentaristas católicos e protestantes, interessados em justificar pela Bíblia que o domingo é o dia do Senhor.
Será que há provas bíblicas para fazer tal afirmação?
A resposta a esta pergunta apenas pode ser uma forte negação – nem uma prova bíblica jamais foi encontrada neste sentido.
A história eclesiástica nos confirma que os pais da igreja fizeram longo uso da expressão “Kuriakê hemera” para o primeiro dia da semana. Por esta razão muitos estudiosos argumentaram, que Kuriakê hemera, em Apoc. 1:10, também se refere ao domingo e que João não apenas recebeu sua visão naquele dia, mas também o reconheceu como o “dia do Senhor” pelo fato de naquele dia o Senhor haver ressuscitado dos mortos.
Esta argumentação não subsiste quando se pondera o seguinte, de acordo com o SDABC (Comentário Bíblico Adventista), vol. VII, pág. 735:
“Existem razões tanto negativas como positivas para a rejeição desta interpretação. A primeira é o reconhecimento do princípio do método histórico que declara que uma alusão deve ser interpretada somente em termos da evidência que lhe antecede no ponto de vista do tempo, ou que lhe seja contemporânea e não por dados históricos dum período posterior. Este princípio tem um aspecto importante no problema do significado da expressão ‘dia do Senhor’ como aparece na presente passagem. Embora este termo ocorra freqüentemente nos Pais da Igreja sem a significação de domingo, a primeira evidência conclusiva de tal uso não aparece senão na última parte do segundo século, no apócrifo Evangelho Segundo Pedro (9-12; ANF. Vol. 9, pág. 8), onde o dia da ressurreição de Cristo é denominado ‘dia do Senhor’. Desde que este documento foi escrito pelo menos três quartos de séculos ap6s João ter escrito o Apocalipse, ele não pode ser apresentado como prova de que a frase ‘dia do Senhor’ no tempo de João se refere ao domingo”.
O domingo ou primeiro dia da semana é designado no grego neotestamentário pelas expressões – mia ton sabbaton – Mar. 16:2; Luc. 24:1; S. João 20:1, 19; Atos 20:7; I Cor. 16:2 e – prote sabbatu – Marcos 16: 9.
Arnaldo B. Christianini em Subtilezas do Erro, na minuciosa análise histórica e exegética do livro O Sabatismo à Luz da Palavra de Deus de Ricardo Pitrowiski, inseriu um capítulo – “O Dia do Senhor”, do qual destacamos estes pensamentos:
“. . . o fato de um profeta ter visão em determinado dia, não significa que tal dia deve ser guardado. A santidade de um dia repousa em base mais sólida, fundamenta-se num claro e insofismável ‘assim diz o Senhor’.
“A afirmação de que ‘dia do Senhor’ nessa passagem se refira indiscutivelmente ao primeiro dia da semana é baseada em presunção sem nenhum valor probante. O fato de em fins do segundo século da era cristã surgirem escritos aludindo ao primeiro dia da semana como sendo ‘dia do Senhor’, não autoriza a dogmatizar que João também se referia ao domingo”.
O Sábado – O Dia do Senhor
Tendo analisado as quatro posições anteriores, nossa atenção se fixará na declaração de que o sábado é o “dia do Senhor”. Após os seis dias da Criação, Deus reservou o sétimo dia para Si, colocando sobre ele a Sua bênção e reclamando-o como Seu santo dia. Gên. 2:2-3.
A Bíblia está repleta de declarações convincentes de que o sábado é o dia do Senhor, destacando-se entre estas por sua clareza ímpar as seguintes:
a)     Êxodo 16:23 – “Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor.”
b)    Êxodo 20:8-11 – “O sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. … porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou: por isso abençoou o Senhor o dia do sábado e o santificou.”
c)     Isaías 58:13 – “. . . mas se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor digno de honra. . .”
d)    Mat. 12:8 – “Porque o Filho do homem é Senhor do sábado.”
“Cristo se apresenta como – Senhor do sábado. Desde que é o Senhor dos homens, Ele é também Senhor sobre o que foi feito para os homens – o sábado – Marcos 2:28.
“Assim, quando a frase ‘Dia do Senhor’ é interpretada de acordo com as evidências anteriores e contemporâneas dos dias de João, torna-se evidente que não há referência a nenhum outro dia a não ser o sábado ou o sétimo dia da semana”. – SDABC, Vol. VII, pág. 736.
Em conclusão são oportunas ainda as asseverações do livro já citado de Arnaldo B. Christianini, págs. 177-178:
“Temos fundadas razões para crer que S. João se referia ao sábado. Porque, consoante a Bíblia, o único ‘dia do Senhor’ que nela se menciona é o sábado. . .
“O discípulo amado conhecia muito bem as palavras do Decálogo (Êxodo 20:10) bem como as de Isaías (Isa. 58:13). À vista disso, não precisamos ter dúvida quanto ao dia a que ele quis referir-se quando no Apocalipse escreveu: ‘fui arrebatado em espírito no dia do Senhor’.”
É uma verdade acaciana entre os comentaristas, que em nenhum lugar da Bíblia, se encontra uma afirmação que identifique o primeiro dia da semana como o dia do Senhor.
Texto de autoria de Pedro Apolinário, extraído da apostila Explicação de Textos Difíceis da Bíblia.

Uma Melhor Tradução de Romanos 1:17b

A tradução de Almeida – Edição Revista e Corrigida – apresenta: “Mas o justo viverá da fé”; enquanto na Revista e Atualizada no Brasil aparece “O justo viverá por fé”.
Estudos recentes, feitos por ilustres exegetas, baseados na Teologia Paulina e em considerações específicas sobre a epístola aos Romanos têm sugerido que uma melhor tradução seria: O justificado pela fé, viverá.
Em grego encontramos: o dé díkaios ek pisteos dzésetai.
O problema com o texto grego é o seguinte: ele pode ser lido de duas maneiras:
1ª) O justo / viverá pela fé.
2ª) O justo pela fé / viverá, ou o que for justificado pela fé, viverá,
Em outras palavras: a expressão – ek pisteos (pela fé) pode ligar-se ao verbo dzesetai (viverá) ou com o dikaios (o justo) apresentando em cada caso um sentido diferente.
É bastante conhecido o fato de que os primitivos manuscritos não possuíam pontuação alguma, e ao ser esta colocada a passagem poderia ser lida com sentido bem diferente ao ser alterada a sua pontuação. Esta afirmação pode ser comprovada com estes exemplos e com muitos outros que poderiam ser alistados.
Ressuscitou, não está aqui.
Ressuscitou? não, está aqui.
A voz daquele que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor.
A voz daquele que clama: no deserto preparai o caminho do Senhor.
Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso.
Em verdade te digo hoje: estarás comigo no paraíso.
Em última análise, o problema de Rom. 1:17 segunda parte, é também um problema de pontuação como é facilmente deduzível.
Sabemos que a citação de Rom. 1:17 é tirada de Habacuque 2:4, mas que aparece na Septuaginta da seguinte maneira:
o dé díkaios ek pisteos mou dzésetai – O justo pela minha fé viverá.
A teologia de Paulo nos afiança de que o homem justificado pela fé é o único que possui vida. Ele insiste na tecla de que a lei não pode dar vida, porque esta vem unicamente de Cristo, recebida através da fé, O grande tema da epístola aos Romanos pode ser sintetizado nesta frase: O pecado conduz à morte; a justificação conduz à vida (Rom. 5:17, 21; 8:10).
Os escritores do Velho Testamento criam que a justificação vinha através da observância da lei: Lev. 18:5; Hab. 2:4, mas Paulo nos ensinou que a justificação vem através da fé em Cristo. A lei só poderia doar vida se o homem pudesse por si mesmo cumprir todos os seus requisitos, porém, isto não é possível.
O estudioso Anders Nygren em seu Commentary on Romans, página 86, afirma que a ênfase na primeira parte da epístola aos Romanos está na palavra fé, através da qual vem a justificação. Nos primeiros 4 capítulos – pistis ou o verbo pisteuo aparecem pelo menos 25 vezes, enquanto vida – dzoê, é usada 2 vezes. Em oposição nos 4 capítulos seguintes pistis (fé) é usada 2 vezes e dzoê – 25. Assim sendo nos primeiros quatro capítulos predomina a justificação pela fé, mas nos capítulos cinco a oito Paulo enfatiza a vida vitoriosa em Cristo ou a santificação.
Estudiosos sustentam que Paulo ao citar Habacuque, ele não queria dizer “viver pela fé”, mas “ser justificado pela fé” ou sendo “justificação pela fé” é a condição necessária para alcançar vida.
Rudolf Bultmann, Theology of the New Testament, pág. 270 diz:
“Se o homem, antes da fé, é um homem caído no poder da morte, o homem sob a fé é o homem que recebe vida. A passagem paralela de Rom. 5:1 – dikaiwyentev ek pistewvdikaiothentes ek písteos – justificados pela fé, nos confirma que esta será uma melhor tradução em Rom. 1:17.
Estudiosos profundos dos problemas exegéticos e de tradução, como Lange, Beza, Meyer e Dr. Benedito de Paula Bittencourt ligam “pisteos” com “dikaios” dando-lhe a seguinte tradução: “O homem que é justificado pela fé – viverá.”
A prova de que estas afirmações são procedentes se encontra nas abalizadas traduções: Nygren, Beza, RSV, NEB, O Novo Testamento na Linguagem de Hoje.
Texto extraído da Apostila de Pedro Apolinário em Explicação de Textos Difíceis da Bíblia

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A Ira de Deus e a Ira do Homem


Este é um dos assuntos mais difíceis de ser explicado dentro das Escrituras, porque estas condenam a ira e de outro lado apresentam tantas referências à ira de Deus. Este estudo tenciona esclarecer os estudantes da Bíblia sobre a necessidade de fazer nítida distinção entre ira humana e o real significado da expressão ira de Deus.
Sobre a importância do tema basta mencionar estes aspectos:
1º) O Theological Dictionary of the New Testament de Kittel dedica 62 páginas ao estudo da palavra ira:
2º) Há uma compreensão totalmente errada, de modo geral no mundo e mesmo entre nós com respeito à expressão “ira de Deus”.
Faz pouco tempo obtive da Biblioteca Evangélica de São Paulo uma brochura, que é um sermão intitulado “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado” de autoria de Jonathan Edwards, um destacado teólogo e erudito dos Estados Unidos no século XVIII.
Suas ponderações sobre a ira divina são verdadeiramente absurdas. Para termos uma idéia precisa do que ele pregou basta este trecho:
“Ó pecador, considera o temível perigo em que te achas! E sobre uma grande fornalha de ira, um abismo hiante e sem fundo, cheio do fogo da ira, que és seguro na mão daquele Deus, cuja ira é provocada e despertada contra ti, tanto quanto contra muitos dos condenados do inferno.. .”
O sermão é todo neste mesmo diapasão, mostrando uma distorção total do caráter de Deus.
Comentários Gerais
Definição de Ira
“Mágoa ou paixão que a injúria desperta na pessoa injuriada; raiva, cólera. Desejo de vingança.” – Laudelino Freire.
No consenso comum esta palavra significa fúria, raiva, cólera, com um desordenado desejo de vingança. Esta seria a ira humana, por isso é condenada na Bíblia.
Ira do Homem
De acordo cem o Dicionário Enciclopédico da Bíblia (Editora Vozes Limitada, Petrópolis) a ira do homem geralmente é reprovada na Escritura; quanto ao Velho Testamento sobretudo, nos escritos de Salomão. O motivo parece ser mais utilitário desde que a ira nos causa prejuízo.
  • Prov. 15:18 – “O homem iracundo suscita contendas, mas o longânimo apazigua a luta.”
  • Prov. 18:19 – “Homem de grande ira tem de sofrer o dano.”
O Novo Testamento também condena a ira, basta ler:
 Mat. 5: 22 – “Quem se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento.”
• Efésios 4:31 – “Longe de vós toda a amargura, e cólera e ira…”
Pode-se ler ainda: Gál. 5:20; Ecles. 7:9; Jó 5:2, Sal. 37:8; Prov.14:17.
A ira está classificada pela Igreja Católica entre os sete pecados capitais; sendo os outros seis: orgulho, avareza, luxúria, gula, inveja, preguiça. Destes sete há dois que merecem, no uso corrente da linguagem, uma exceção muito honrosa, o orgulho e a ira. Falamos habitualmente em santo orgulho (a justa soberba) como em santa ira (o ódio bem fundado). Quando nos orgulhamos de atos que merecem o nosso respeito e representam verdadeiros paradigmas de nossa conduta, o orgulho deixa de ser pecado para se transformar em virtude. É o santo orgulho. Quando odiamos a injustiça, o erro, o pecado e discernimos, com isso, o bem do mal, o certo do errado, a virtude do relaxamento, esse ódio se transfigura e se redime. É a santa ira. Desta santa ira o próprio Jesus nos deu o exemplo, como se vê na sua maneira de falar sobre os fariseus e no seu comportamento no templo. Estas atitudes estão relatadas em Marcos 3:5 e Mat. 21:12.
Em Marcos 3:5 no grego se encontra: olhando-os ao redor, cem ira – orguê.
Não seria a esta ira que se refere a Palavra Divina, quando preceitua: “Irai-vos e não pequeis” (Efés. 4:26?
A Palavra Ira no Original
No Velho Testamento a palavra ira é a tradução de várias palavras do original hebraico, enquanto no Novo Testamento ira é a tradução de três palavras gregas:
orghv – orguê;  qimovv – thimós;  parorgismovv – parorguismós:
1ª) orghv – orguê, a mais usada no Novo Testamento, por aparecer 385 vezes.
É ira com desejo de vingança. É a ira pensada, mais calma, mais firmada na vontade e na razão, orguê é usada para a ira do homem:
Efés. 4:31; Col. 3:8; I Tim. 2: 8; Tiago 1:19, 20; para a ira de Cristo contra os fariseus, relatada em Marcos 3:5; mas também para o julgamento final de Deus: Mateus 3:7; Luc. 3:7; Rom. 1:18; 2:5, 8; 3:5; 12:10; Efésios 2:3; 5:6; Col. 3:6; I Tess. 1:10; 5:9.
2ª) qimovv – thimós, empregada apenas 18 vezes, 10 das quais se acham no Apocalipse. É a paixão irascível, ira a ferver, ira como algo em ebulição.
W. E. Vine Expository Dictionary of the New Testament Words, pág. 55 assim a distingue de orguê – “thimós expressa mais o sentimento interno, orguê a emoção ativa.”
Vincent afirma: “Tanto orguê como thimós são unidos no Novo Testamento para ira ou cólera, e sem qualquer distinção comumente observada. Orguê denota um mais profundo e mais permanente sentimento, um hábito mental estabelecido, enquanto que thimós é uma agitação mais turbulenta, embora temporária. Ambas as palavras são usadas na frase ira de Deus, que comumente denota uma manifestação distinta do juízo divino (Rom. 1: 18; 3: 5; 9: 22; 12: 19).” – Word Studies in the New Testament, vol. II, pág. 110.
De acordo com The Interpreter’s Dictionary of the Bible, vol. I, pág. 135, a distinção a ser feita é esta:
“Se há qualquer distinção entre estas duas palavras no Novo Testamento em relação à emoção humana, parece que thimós denota melhor a paixão irrefletida da ira (por ex. Luc. 4:28); orguê, a indignação moral mais relativamente considerada (Tiago1:19).
Nota: Há autores que afirmam que nenhuma distinção pode ser feita entre estas duas palavras.
3ª) parorgismovv – parorguismós.
Nesta palavra se encontra uma reforçada forma de orguê. Ela aparece apenas uma vez no Novo Testamento em Efés. 4:26, com o sentido de ira provocada.
O verbo cognato parorgxw – parorguidzo, irritar, excitar à ira é usado duas vezes: Rom. 10:19 e Efés. 6:4.
Vine ao explicar parorguismós de Efés. 4: 26 afirma:
“O verbo precedente, orguidzo; neste verso faz supor uma ocasião justa para o sentimento. Isto é confirmado pelo fato de que é uma citação do Salmo 4:4 (Septuaginta), onde a palavra hebraica significa tremer com forte emoção.” – Expository Dictionary of the New Testament Words, pág. 56.
Ira de Deus
Uma pesquisa na Bíblia nos leva à conclusão de que a ira humana e a ira de Deus são totalmente distintas.
Freqüentemente o princípio da ira de Deus é apresentado em termos antropomórficos. Veja apêndice.
Russel Norman Champlin, em seu comentário sobre Romanos 1:18 pondera:
“A ira de Deus não indica alguma forma de emoção humana, que perturbe o equilíbrio emocional das pessoas e as torne desejosas de ferir às outras, em forma de ações maldosamente planejadas, conforme a ira humana geralmente obriga as suas vitimas a fazerem. A ira de Deus é ordinariamente aludida em termos escatológicos, referindo-se ao julgamento que haverá no futuro dia do Senhor.”
“É a justa indignação de Deus quando do julgamento contra o pecado.” – Idem, comentário de Rom. 5:9.
F. F. Bruce no livro: Romanos – Introdução e Comentário, pág. 69 ao analisar Rom. 1:18 nos esclarece:
“Se se pensa que a palavra ira não é muito apropriada para usar-se com relação a Deus, é provavelmente porque a ira como a conhecemos na vida humana, constantemente envolve paixão egocêntrica, pecaminosa. Com Deus não é assim. Sua ‘ira’ é a reação da santidade divina face à impiedade e rebelião. Paulo decerto concordaria com Isaías ao descrever esta ira de Deus, como ‘sua obra estranha’ (Isaías 28:21) à qual Ele a aplica lentamente e com relutância. …
“A idéia de que Deus é ira não é mais antropopática do que o pensamento de que Deus é amor. A razão pelo qual a idéia da ira divina está sempre sujeita a mal-entendidos é que a ira entre os homens é eticamente errada. E contudo, mesmo entre os homens não falamos da ira justa?”
Há dois extremos que devem ser evitados ao tratar-se da ira de Deus. O primeiro pertence àqueles que O apresentam cheio de amor e longanimidade e como um Pai amoroso não irá destruir os seus filhos, portanto não acreditam na severidade ou na ira de Deus. No extremo oposto se encontram os que apresentam a Deus como um ser vingativo e irado que fará os homens queimarem para sempre. Muitos sacrifícios têm sido feitos para aplacar esta ira.
Não há nenhuma discrepância nos versos que apresentam a Deus cheio de bondade e amor com aqueles que revelam sua ira contra o pecado e os pecadores que acintosamente o rejeitam. O amor requer julgamento. A severidade divina é sempre manifestação do amor.
Como bem se expressou Arthur John Gossip:
“Mas no Novo Testamento os homens não ouvem qualquer choque entre a ira divina e a longanimidade divina: pelo contrário, ficam certos tanto da bondade como da severidade de Deus; certos de que a sua severidade faz parte da Sua bondade, e que, se essa severidade estivesse ausente, ele não seria bom, porquanto os alicerces morais do mundo se desequilibrariam e entrariam em colapso.”
Do cotejo de várias passagens bíblicas os estudiosos têm chegado à conclusão de que há uma dupla necessidade da ira de Deus, que neste caso seria sinônimo de sua justiça:
1ª) Para que haja manutenção das leis divinas que pedem justiça.
2ª) Para extermínio do pecado e dos pecadores impenitentes que se opuseram à misericórdia divina.
A Bíblia nos apresenta a ira de Deus desviada após confissão do pecado e arrependimento. Salmo 106:43-45; Jer. 3:12, 13; 31:18-20; Luc. 15:18-20.
A ira de Deus é justa. Salmo 58: 10, 11; Rom. 6:2, 8; Apoc. 16:6, 7.
De acordo com Rom. 2:4 e 5 a ira de Deus significa o juízo de Deus.
Ela é usada contra:
a) Os ímpios – Isa. 13:9; Rom. 1:18; Efés. 5:6.
b) A apostasia – Heb. 10:26-27.
c) A idolatria – Deut. 29:27-28; Jos. 26:16; Jer. 44:3.
d) Aqueles que se opõem ao evangelho. Salmo 2:2, 3, 5; I Tess. 2:16.
Ela é temperada com misericórdia no caso dos santos. Salmo 30: 5; Isa. 26:20; Jer. 30:11.
Ela deve conduzir-nos ao arrependimento. Isa. 42: 24-25; Jer. 4:8.
O livro Essays in Honor of Edward Heppenstall – The Stature of Christ apresenta como capítulo final: “An Interpretation of the Wrath of God”, de Morris D. Lewis, trabalho honesto, bem fundamentado e que expressa de maneira feliz a crença adventista sobre este empolgante tema. Para que se tenha melhor compreensão do problema aqui se encontram traduzidos das primeiras 8 páginas, das 22 de sua pesquisa, alguns trechos mais significativos:
“As centenas de textos bíblicos que descrevem a ira como uma característica de Deus criam um problema. O amor na personalidade da Divindade parece estar em conflito com as muitas referências às demonstrações de cólera, furor e ira de Deus. Uma referência típica é aquela de Jeremias retratando a exasperação divina por causa da pecaminosidade dos habitantes de Jerusalém.
“Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: . . . eu planejarei contra vós com mão estendida, e com braço forte, e com ira, e com indignação e com grande furor. E ferirei os habitantes desta cidade, assim os homens como os animais: de grande pestilência morrerão. (Jer. 21:4-6).
“A maioria dos teólogos modernos hoje crêem que em adição à característica divina de amor, a personalidade da Divindade, às vezes, se inflama ante a rebelião do homem e exibe cólera e ira para testificar contra a odiosidade do pecado. Alguns escritores tendem ao raciocínio de que a ira de Deus é justificável porque é expressa somente após incessante agravamento dos pecadores. Outros enfatizam que a ira de Deus apenas confirma sua santa aversão ao pecado.”
“Seja qual for o arrazoamento para justificar a característica de cólera e ira na natureza da Divindade, a argumentação é destituída de fundamento escriturístico. Os Escritos da Inspiração como registrados por Isaías testificam da declaração do próprio Deus: “Não há indignação em mim”: (Isa. 27: 4). O mesmo escritor também confirmou a atitude divina no verso nove do capítulo 54:9 – “. . . assim jurei que não me irarei mais contra ti, nem te repreenderei.” A palavra hebraica mais freqüentemente usada para provocação é a mesma palavra usada muitas vezes para ira. Ficar zangado e ser provocado e mostrar ira são expressões muito semelhantes e intimamente relacionadas. Mas de Cristo, a escritora de O Desejado de Todas as Nações disse: “Sua calma resposta proveio de um coração imaculado, paciente e brando, que não se irritava.”1 Cristo nunca foi agitado por pecadores a ponto de revidar com uma atitude excitada. “O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava” (I Ped. 2:23). Cristo nunca foi provocado à cólera ou ira, e ele expressava o caráter de Deus o Pai.
“Que Deus é soberano é indisputável. Como o termo ira de Deus está relacionado com a soberania da Divindade, liga-se primeiramente com a operação da lei. Quer em função da natureza, quer em função do relacionamento moral do homem, a mesma posição predominante de Deus permanece.
Disse o salmista, falando de Deus: “Tu firmaste a terra, e firme permanece. Conforme o que ordenaste, tudo se mantém até hoje; porque todas as coisas te obedecem.” Sal. 119:90, 91. Em outra referência o escritor depois de exaltar o poder criador de Deus em estabelecer o sol, a lua, as estrelas e as águas, concluiu: “Louvem o nome do Senhor, pois mandou, e logo foram criados. E os confirmou para sempre, e lhes deu uma lei que não ultrapassarão. (Sal. 148:5, 6).
São estas apenas umas poucas das muitas referências em que Deus é retratado como constantemente controlando a natureza pela lei natural. Neste contexto a operação da natureza é declarada Sua serva.
Os  processos da natureza que dão vida, alimento, beleza e prazer são os servos de Deus. Eles executam Seu mando. Esses mesmos processos podem tornar a ser uma tempestade ou uma praga para destruir o homem e a natureza. As funções destrutivas da natureza podem muito bem ser chamadas a ira ou a cólera de Deus.
“O Senhor é um Deus zeloso e que toma vingança, o Senhor toma vingança e é cheio de furor: o Senhor toma vingança centra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos. O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em força, e ao culpado não tem por inocente; o Senhor tem o seu caminho na tormenta, e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés” (Naum 1:2-3).
O Senhor tem o Seu caminho nas tempestades; elas, também, são Suas servas. Tempestades de tal violência podem destruir os ímpios” (Jer. 23:19-20). Quer as operações da natureza sejam tranqüilas e serenas, quer sejam violentas e destruidoras, ambas as funções são mencionadas como sendo a mão de Deus.
A Palavra Inspirada fornece uma compreensão mais profunda e atribui as funções naturais de destruição aos poderes do mal. Disse Isaías: “Eis que o Senhor mandará um homem valente e poderoso; como uma queda de saraiva, uma tormenta de destruição, e como uma tempestade de impetuosas águas que transbordam, violentamente e derribará por terra” (Isa. 28:2).
O valente e poderoso é a força satânica. Em outra referência em Isaías o profeta observou o poder de Deus como a força que cria o destruidor. “. . . também criei o assolador para destruir”. (Isa. 54:16). O artigo com a palavra assolador indica uma pessoa específica. A mesma palavra aqui empregada ocorre em Êxo. 12:23, e nesta referência é traduzida por destruidor e tem também consigo o artigo. Satanás é o poderoso como uma tempestade destruidora fazendo devastação em a natureza.
Ellen White faz as mesmas observações:
“Assim foi que Lúcifer, “o portador de luz”, aquele que participava da glória de Deus, que servia junto ao Seu trono, tornou-se, pela transgressão, Satanás, o “adversário” de Deus e dos seres santos, e destruidor daqueles a quem o Céu confiou a sua guia e guarda.”2
“Satanás também opera por meio dos elementos a fim de recolher sua colheita de almas desprevenidas. Estudou os segredos dos laboratórios da Natureza, e emprega todo o seu poder para dirigir os elementos tanto quanto o permite Deus. . . . nos violentos furacões e terríveis saraivadas, nas tempestades, inundações, ciclones, ressacas e terremotos, em toda parte e sob milhares de formas, Satanás está exercendo o seu poder.”3
Para o observador casual a fúria da tempestade parece ser a demonstração direta do poder divino. Isto não é totalmente verdade. O princípio bíblico de soberania atribui a Um que comanda todos os atos feitos sob Sua autoridade.
Isto se verifica claramente no trato de Davi com o amalequita que pretendia ter matado Saul. Em uma referência (II Sam. 1:15), é dito que Davi chamou um de seus jovens para lançar-se sobre o amalequita e matá-lo, e em outro relato (II Sam. 4:10), Davi disse que lançou mão do homem e o matou. Aqui não há nenhuma contradição. O que foi feito por aqueles que estavam sob o comando de Davi é dito ter sido feito pelo próprio Davi. Este mesmo princípio é verdade na descrição do profeta da soberania de Deus sobre todas as forças da natureza. A fúria da tempestade é declarada ser a ira de Deus, quando em realidade a ira é Satanás usando os elementos da tempestade quando Deus permite.
Como pode ser dito que Deus trouxe a tempestade e ao mesmo tempo declarar que Ele não estava nas funções destrutivas da natureza? Quando as impetuosas exibições da natureza ocorreram no vento, terremoto e fogo, foi dito ao profeta Elias que Deus não estava nelas. (I Reis 19:11, 12). A declaração acima de O Grande Conflito torna claro que tempestades e calamidades da natureza são a obra do diabo, não de Deus. Satanás usa as leis de Deus para destruir. As leis são de Deus. O propósito de destruir é o intento de Satanás. A destruição é a obra do poder maligno, até onde Deus o permite.
Enfermidade, sofrimento e morte são obra de um poder antagônico. Satanás é o destruidor, Deus é o Restaurador.4 Onde quer que a Bíblia fale de Deus como estando a causar destruição através dos elementos da natureza, a destruição ocorre apenas por Sua soberana permissão e através da operação de Suas leis.
“Nada ocorre na Terra ou no Céu sem o conhecimento do Criador. Nada pode acontecer sem Sua permissão.”5
A obra de destruição no mundo natural é a obra de Satanás; é dito ser de Deus apenas no sentido de Sua soberania.
Para entender a ira, é muito importante ver a relação íntima entre a lei natural e a lei moral.
“Os homens podiam aprender do desconhecido pelo conhecido; coisas celestiais foram reveladas pelas terrenas; . . . As coisas naturais eram o veículo para as espirituais; cenas da Natureza e da experiência diária de Seus ouvintes eram relacionadas com as verdades das Escrituras Sagradas.”6
Todo o esquema do ensino bíblico está baseado na íntima relação das leis natural e moral. Paulo concluiu: “Não erreis; Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, na carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna” (Gál. 6:7, 8).
Cristo repetiu o mesmo princípio básico de ensino quando Se referiu à Sua morte como um grão de trigo caído no solo. (João 12:24, 25).
É mais evidente perceber a lei física na operação de cada simples função do corpo humano. É menos aparente, mas certamente como concreto, concluir que a operação da evolução e inteligência humanas está em conexão com a lei moral.
Como supremo Soberano do Universo, Deus ordenou leis para o governo não só de todos os seres vivos, mas de todas as operações da Natureza. Todas as coisas, quer grandes quer pequenas, animadas ou inanimadas, acham-se sujeitas a leis fixas, que não podem ser desrespeitadas. Não há exceções a esta regra; pois coisa alguma feita pela mão divina, foi esquecida pela mente divina. Mas se bem que tudo em a Natureza seja governada pela lei natural, o homem, tão-só, como ser inteligente, capaz de compreender seus reclamos, é responsável à lei moral.7
Cada função, seja física ou mental, está operando por lei. É bastante íntima a influência de uma sobre a outra, e o princípio funcional é também íntimo. A autora White, tendo citado Sal. 19:1-6, disse: “O salmista relaciona a lei de Deus no mundo natural com as leis dadas às Suas inteligentes criaturas.8 Assim, a mesma função operacional de vida e destruição na lei natural seria encontrada também na lei moral.
Os dez mandamentos são a regra básica para a vida e a morte; amor e ódio. O segundo mandamento estabelece este duplo conceito.
“. . . Porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira geração daqueles que me aborrecem. E faço misericórdia em milhares aos que me amam e guardam os meus mandamentos” (Êxo. 20:5, 6).
A lei diz que Deus visitará suas iniqüidades sobre aqueles que odeiam e a Sua misericórdia sobre aqueles que amam. Um princípio muito importante e distinto é formulado aqui que envolve a natureza da ira e a fonte de sua origem. Deus é a fonte de misericórdia sobre aqueles que amam, mas iniqüidade e ira vêm sobre o homem tendo o próprio homem como fonte.
A palavra para visitar no texto acima é a mesma palavra usada para mandamento no texto seguinte: “As obras das suas mãos são verdade e juízo; fiéis todos os seus mandamentos.” (Sal. 11:7). O princípio da visitação é uma lei. Quando o Senhor visitar os pecadores, Ele visitará os seus pecados sobre eles. (Êxo. 32:34). Esta função da lei moral é precisamente a mesma que a lei da natureza; o que é semeado, o mesmo é ceifado. Se alguém semeia na carne, colherá na carne. O profeta Jeremias falando dos falsos profetas disse que o Senhor visitaria sobre eles a maldade de suas ações. (Jer. 23:2). No mesmo capítulo o profeta explicou o processo mais detalhadamente.
“Portanto, o caminho deles será como lugares escorregadios na escuridão; serão empurrados e cairão nele; porque trarei sobre eles calamidade, o ano mesmo em que os castigarei, diz o SENHOR” (Jer. 23:12).
O Senhor visitaria os caminhos escorregadios sobre eles, e eles cairiam em trevas. Assim, o dia da visitação é um dia de recompensa. (Osé. 9:7). O dia da visitação é o dia em que os pecados que o pecador semeou tornar-se-ão uma ceifa. A visitação dos pecados sobre os pecadores funciona à parte da intervenção direta de Deus. Visitar a iniqüidade dos pais sobre os filhos é retribuir o mal dos pecadores sobre si mesmos. Este processo é chamado a ira de Deus.
“E aos que são fiéis em Seu serviço, promete-se a misericórdia, não meramente à terceira e quarta geração, como é ameaçada a ira contra os que O aborrecem, mas a milhares de gerações.”9
Na citação acima a autora cita o comentário do segundo mandamento e iguala o termo “visita a maldade dos pais sobre os filhos” com ira. Deste modo, o processo de visitação como uma operação de lei traz ira sobre aqueles que odeiam. Paulo faz a mesma declaração em Rom. 4:15 – “. . . a lei opera a ira”.
A lei moral como a lei natural opera em um sentido duplo, para a vida e para a morte. Paulo salientou distintamente a operação da lei do pecado como outra lei e a denominou a lei do pecado e da morte.
“Mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros.” “causou-me a morte” (Rom. 7:23, 13).
“Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.” (Rom. 8:2).
A palavra outra está enfatizando outra em qualidade de preferência a outra em número. (A palavra outra de Rom. 7:23 em grego é evterov – héteros e não – álos, por ser álos outro da mesma qualidade e héteros  – outro de natureza diferente. Nota do autor do livro.)
Deus fala de ambos os grupos, aqueles que são governados por Sua lei de amor. Falando de Israel, o Senhor disse que eles eram Seus servos (Lev. 25:55) Também, a maioria dos ímpios são chamados Seus servos. Assim o Senhor falou de Nabucodonosor quando ele primeiro veio contra Judá. Sua soberania é inquestionável no domínio do pecado e da justiça. A operação da vontade é do homem; a operação da lei é Sua. Como declarou Davi que a ação de seu oficial subordinado era sua própria, assim Deus fala do caminho dos pecadores como Sua própria realização.
“Eu sou o SENHOR, que faço todas as coisas, que sozinho estendi os céus e sozinho espraiei a terra; que desfaço os sinais dos profetizadores de mentiras e enlouqueço os adivinhos; que faço tornar atrás os sábios, cujo saber converto em loucuras” (Isa. 44:24, 25).
O Senhor conduz os tortuosos e aqueles que obram a maldade (Sal. 125:5). O Senhor conduz os mentirosos, os adivinhadores, os sábios, e os tortuosos pela função de Sua lei do pecado em suas vidas. Os poderosos da Terra são a vara da indignação de Sua ira.
“Ai da Assíria, cetro da minha ira! A vara em sua mão é o instrumento do meu furor.” (Isa. 10:5).
“O orgulho assírio, conquanto usado por Deus por algum tempo como a vara de Sua ira, para punir as nações, não deveria sempre prevalecer.10
A ira não era uma expressão pessoal da Divindade. Os assírios, como servos de Deus da lei do pecado, estavam sob Seu soberano controle. A palavra hebraica para ira neste contexto é a mesma usada em muitos lugares.
Deus usou Sisaque como Sua ira.
“. . . Humilharam-se, não os destruirei; antes, em breve lhes darei socorro, para que o meu furor não se derrame sobre Jerusalém, por intermédio de Sisaque.” (II Crôn. 12:7)
Não havia nenhuma expressão de ira da parte de Deus neste exemplo. O Egito, como os outros poderosos da Terra, era o servo de Deus. “Eu dei ordens aos meus consagrados, sim, chamei os meus valentes para executarem a minha ira, os que com exultação se orgulham.” (Isa. 13:3). Deus usa a ira dos homens para controlar os homens. Assim disse o profeta: “Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, com mão poderosa, com braço estendido e derramado furor, hei de reinar sobre vós” (Ezeq. 20:33).
A operação da lei do pecado (ira de Deus) é a relação de homens maus contra os homens maus. Desta forma, Deus governa em sociedade com a ira dos homens maus para com homens maus.
“Quando pais ou governadores negligenciam o dever de punir a iniqüidade, Deus mesmo tomará o caso em Suas mãos. Seu poder restringidor será em certa medida removido dos agentes do mal, de tal forma que uma sucessão de circunstâncias se levantarão, as quais punirão o pecado com pecado.”11
Assim, vemos na Bíblia e no Espírito de Profecia que Deus não é um Deus de ira. Ele é um Deus que tem soberano controle de tudo, mesmo dos ímpios. As expressões nas Escrituras que parecem indicar Deus com raiva e ira são, na realidade, a verificação de Seu soberano controle.
A lei moral do Deus de amor funciona pelo desejo e intenção da divindade; a lei do pecado e da morte, que é a ira de Deus, funciona pela permissão de Deus. É um idiomatismo da semântica bíblica para atribuir a Deus aquilo que em Sua providência Ele permite que ocorra. “Deus domina sobre tudo” (Sal. 103:19). Isto inclui também os ímpios. (II Crôn. 20:6). O trato de Deus para com os ímpios é o da permissão. Do contrário, a Bíblia parece contradizer-se.
“Pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias; porque não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens” (Lam. 3:32, 33).
No primeiro versículo acima, é declarado que Deus causa aflição e no seguinte é dito que Ele não aflige ou entristece. Jeremias disse que o Senhor afligiu Jerusalém. (Lam. 1:12) e Jó disse que o Todo-Poderoso não aflige (Jó 37:23). A verdade é encontrada da avaliação das citações de Lamentações. O Senhor não aflige de Seu coração; isto quer dizer, não é Sua intenção segundo Sua santidade. O Senhor permite que a aflição ocorra.
“Nós lemos que Deus tentou a Abraão, que Ele tentou aos filhos de Israel. Isto significa que Ele permitiu que ocorressem circunstâncias para testar sua fé, e conduzi-los a olhar para Ele para obter auxilio.”12
Desta forma, o Espírito de Profecia e a Bíblia concordam na semântica da permissão divina. O que é dito do que Deus faz no reino do pecado é feito somente pela Sua permissão. Um bom exemplo disto é encontrado em Isaías: “Eu formo a luz, e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas” (Isa. 45:7).
Sob esta luz, Jeremias disse: “Acaso não procede do Altíssimo assim o mal como o bem?” (Lam. 3:38). O mal não procede do coração de Deus. A divindade somente permite que o mal ocorra.
Tais contradições aparentes são numerosas na Bíblia. As declarações da ira de Deus são somente uma delas. Há um princípio muito definido e padronizado revelado em uma longa conseqüência de causa e efeito do pecado. O eminente sábio hebreu Mainmonides mostrou todos os eventos humanos como uma fila de dominós, tendo efeito contingente sobre os eventos bem sucedidos. Sejam eles bons ou maus, Deus foi a primeira grande causa. Então, citou ele o idiomatismo dos profetas hebreus que cancela os eventos intermediários e conecta o primeiro ao último como se não houvesse entre eles registro intermitente. Ao invés de um caso sem envolvimento com o mal ou a ira, parecia como se Deus fosse o real causador.
“Satanás procura esconder dos homens a ação divina no mundo físico – a fim de conservar fora das vistas a incansável operação da primeira grande causa.”13
“Os homens têm geralmente atribuído a Deus tais características de raiva, ira, tentação, maldade, enviando fogo e oprimindo o coração dos homens, quando na realidade tais termos são usados para estabelecer Deus como a primeira causa e, por conseguinte, o soberano da terra. É tempo de as dissimulações de Satanás serem expostas. Assim fazendo, Satanás é removido de seu alto e cobiçado lugar e sujeito a uma linha de ação permitida por Deus. Satanás pode exercer sua autoridade usurpada somente como Deus permite.”14
“Seus sofrimentos são muitas vezes representados como sendo castigo a eles infligido por decreto direto da parte de Deus. É assim que o grande enganador procura esconder sua própria obra. Pela obstinada rejeição do amor e misericórdia divina, os judeus fizeram com que a proteção de Deus fosse deles retirada, e permitiu-se a Satanás dirigi-los segundo a sua vontade.”15
Quantas vezes a ira que veio a Israel foi interpretada como vinda de Deus. Assim, Satanás oculta sua obra, atribuindo-a a Deus. Ele tem alistado muitos teólogos ao seu lado para ajudá-lo nesta fraude.
“Satanás exerce domínio sobre todos os que Deus não guarda especialmente. Ajudará e fará prosperar alguns, a fim de favorecer os seus próprios intuitos; trará calamidade sobre outros, e levará os homens a crer que é Deus que os aflige.”16
Após outros exemplos, confirmações e elucidações para ilustrar as maneiras distintas de agir de Deus e Satanás, Morris D. Lewis conclui suas ponderações declarando:
Embora a ira do homem opere pela lei de Deus, pela mesma lei o amor de Deus opera a ira do homem. Deus não é um Deus de ira, mas um Deus de amor.
 Conclusão
Quando a Bíblia fala da ira de Deus ela nos deseja ensinar que Ele é justo e tem aversão ao pecado.
Ira de Deus é uma expressão bíblica que significa o castigo dos ímpios no Juízo Final.
Ira de Deus é outra expressão para a justiça divina.
Apêndice
Os judeus apresentavam a divindade com reações humanas antropomórficas.
A palavra antropomorfismo significa em grego – avnqrwpov – antropos, homens e morfhv – morfê, forma. Seria atribuir a Deus formas e qualidades humanas. A Bíblia fala da boca, lábios, mãos, olhos, etc. de Deus. Atribui ainda à Divindade as paixões e sentimentos experimentados pelos homens, por isso fala em cólera, alegria e vingança de Deus.
Referências
  1. O Desejado de Todas as Nações, pág. 700.
  2. Patriarcas e Profetas, pág. 40.
  3. O Grande Conflito, págs. 589-590.
  4. O Ministério da Cura, pág. 11.
  5. Minha Vida Hoje, pág. 291.
  6. Parábolas de Jesus, pág. 17.
  7. Mensagens Escolhidas, vol. I, pág. 216.
  8. SDABC, vol. III, pág. 1114.
  9. Idem, pág. 306.
  10. Profetas e Reis, pág. 349.
  11. Profetas e Reis, pág. 728.
  12. SDABC, vol. I, pág. 1094.
  13. Patriarcas e Profetas, pág. 509.
  14. Desire of Ages, pág. 130.
  15. O Grande Conflito, pág. 35.
  16. O Grande Conflito, pág. 589.
Texto de autoria de Pedro Apolinário, extraído da apostila Explicação de Textos Difíceis da Bíblia.
Fonte: Sétimo Dia

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Amor: A Maior das Virtudes



Quatro verbos para amar em grego.
O grego, sendo uma das mais ricas línguas do mundo, tem o poder inigualável de expressar sutis diferenças de significado por palavras distintas. Freqüentemente o grego apresenta várias palavras para expressar mudanças de significados, enquanto nós o fazemos mediante um só vocábulo. Em português todas as cambiantes do rico sentimento do amor são expressas por uma palavra, enquanto o grego o faz através de quatro formas distintas. São elas:
1ª) O verbo agapavw – agapao e o substantivo avgaph – ágape.
2ª) O verbo filevw – fileo e o substantivo filiva – filia
3ª) O verbo stevrgw – stergo e o substantivo stovrgh – storge.
4ª) O verbo eravw  – erao e o substantivo erov – eros.
Distinção Entre Estas Quatro Formas
1) Agapao é considerar com reverência, admirar por algum bem, amar de modo mais elevado. No grego clássico significava saudar afetuosamente. Sua grande diferença com fileo é a seguinte: agapao não tem nada do calor e da afetividade que caracteriza o fileo.
2) Fileo é olhar para alguém com afetuosa consideração, ter afeição, amizade, gostar de; podendo até ser traduzido por acariciar, beijar. Pode ser usado para o amor entre o marido e a esposa. No Novo Testamento fileo é usado para expressar o amor de pai e mãe e de filho e de filha (Mat. 10:37). É usado para o amor de Jesus por Lázaro (João 11:3, 36) e uma vez é usado para o amor de Jesus pelo discípulo amado (S. João 20: 2).
3) Stergo é um verbo que está mais relacionado com afeição familiar. Seria traduzido com propriedade para o português por amar com ternura, suportar.
Pode ser usado para o amor de um povo por seu governo, mas o seu uso mais normal é descrever o amor entre cônjuges, e entre pais e filhos. Platão escreveu: “Um filho ama (stergein) e é amado por aqueles que o geraram”.
Este verbo não aparece no Novo Testamento, mas apenas em um adjetivo cognato – filovstorgov – filóstorgos – Rom. 12:10, traduzido na Almeida Revista e Atualizada no Brasil por “amor fraternal”. Paulo o usa como indicação de que a comunidade cristã não é uma sociedade, mas uma família.
4) Erao – usado principalmente para o amor entre os sexos, Tanto em grego como os derivados em português (erotismo, erótico) nos evidenciam que este verbo adquiriu uma conotação pejorativa. A nossa palavra amante expressa esta idéia decadente do vocábulo.
Também não é usado no Novo Testamento, porém, aparece duas vezes na Septuaginta em Ester 2:17 e Prov. 4: 6.
Sendo que erao expressava o lado negativo do amor, isto é, a palavra desprezível, e que stergo estava ligado mais com afeição familiar, elas tinham que ser colocadas de lado, por não expressarem os vastíssimos conceitos do amor cristão.
Das afirmações anteriores, concluímos que as duas que se sobressaem e merecem nosso especial interesse são: agapao e fileo, sendo João o escritor bíblico que mais constantemente usa estas duas palavras.
Agapao
O verbo agapavw – agapao e o substantivo avgaph – ágape são as duas palavras mais comuns no Novo Testamento. Agapao e fileo corresponderia às palavras latinas diligo e amo usadas na Vulgata.
As seguintes declarações de William Barclay, em New Testament Words, págs. 20-23 ao comentar ágape são importantes:
“A grande razão por que o pensamento cristão se fixou em ágape é que esta palavra exige o exercício do homem todo. O amor cristão não deve apenas se estender aos nossos mais próximos e mais queridos, nossa parentela, nossos amigos e aqueles que nos amam; o amor cristão deve estender-se à comunidade cristã, ao próximo, ao inimigo, a todo o mundo”.
Ágape tem a ver com a mente: não é simplesmente uma emoção que surge espontaneamente em nosso coração; é um princípio pelo qual vivemos deliberadamente. Ágape tem a ver supremamente com a vontade. É uma conquista, uma vitória, uma realização. Ninguém jamais amou naturalmente os seus inimigos. Amar os inimigos é uma conquista de todas as nossas inclinações naturais e emoções”.
“Este ágape, este amor cristão, não é meramente uma experiência emocional que nos vem espontaneamente e não procurada, é um princípio mental deliberado, é uma deliberada conquista e aquisição da vontade. É de fato o poder para amar o não amável, amar as pessoas de quem não gostamos. O cristianismo não nos pede que amemos nossos inimigos e os homens em geral da mesma maneira como amamos nossos mais próximos e mais queridos e aqueles que estão intimamente ligados a nós; isto seria ao mesmo tempo impossível e errado. Mas requer que tenhamos sempre certa atitude mental a todos os homens, não importa quem sejam.”
“Qual é então o significado deste ágape?”
“A passagem principal para a interpretação do significado de ágape é Mat. 5:43-48. Ali estamos sob a obrigação de amar os nossos inimigos. Por quê? A fim de que sejamos semelhantes a Deus. E qual é a ação típica de Deus que é citada? Deus envia sua chuva sobre os justos e injustos e sobre os maus e os bons, o que eqüivale a dizer – não importa a que um homem é semelhante, Deus nada procura senão seu mais elevado bem.”
“Quer o homem seja um santo, quer seja um pecador, o único desejo de Deus é o maior bem daquele homem, Ora, isto é o que significa ágape. Ágape é o espírito que diz: ‘Não importa o que qualquer homem faz a mim, eu nunca procurarei o seu mal; eu nunca procurarei vingança; eu sempre procurarei apenas o seu mais elevado bem’.”
“O ágape cristão é impossível para qualquer um, exceto para um homem cristão”.
“O grande presidente dos Estados Unidos, Abraão Lincoln, soube muito bem praticar este ágape cristão, Ele foi acusado de tratar seus oponentes com demasiada cortesia e amabilidade, quando era seu dever destrui-los. Sua resposta foi interrogativa: Não destruo meus inimigos quando faço deles meus amigos?”
Fileo
Este verbo é usado 25 vezes no Novo Testamento, 22 das quais significando amar e 3 com o significado de beijar.
Há um fascinante calor nesta palavra, Ela significa olhar para alguém com afetuosa consideração. Esta palavra tem em si todo o calor da verdadeira afeição e do verdadeiro amor.
Umas poucas vezes fileo é usado para expressar o amor do Pai pelo Filho – João 5:20; para o amor de Deus pelo homem (João 16:27); para a devoção que o homem deve prestar a Jesus (I Cor. 16:22); mas as ocorrências de fileo no Novo Testamento são comparativamente poucas, quando comparadas a agapao que é usado quase seis vezes mais.
Kenneth S. Wuest, no livro Jóias do Novo Testamento Grego, da Imprensa Batista Regular, páginas 57 e 60 tentou mostrar as diferenças entre as formas agapao e fileo, Destacam-se de suas afirmações:
Agapao é termo grego que significa um amor despertado pelo senso de valor do objeto amado, e que leva o indivíduo a prezar tal objetivo. Origina-se na percepção da preciosidade do objeto”.
“A qualidade desse amor é determinada pelo caráter daquele que ama, mas também pelo caráter do objeto amado”.
Fileo é o amor que consiste ao ardor aceso no coração pela percepção de algo que no objeto amado lhe confere prazer. É a reação do espírito humano àquilo que o atrai por ser-lhe agradável”.
“Quando usados no bom sentido, ambos são legítimos, mas o primeiro representa o amor mais nobre”.
Apesar destas afirmações e de outras anteriores há estudiosos que tentam provar que não há nenhuma diferença entre estes dois vocábulos, aludindo muitas provas em que aparecem como sinônimos; porém esta afirmação não deve ser levada muito a sério desde que os fatos comprovam que na maioria dos casos elas são empregadas para expressar sentimentos distintos.
O SDABC (Comentário Bíblico Adventista), apresenta os textos de João 14:23 e 16:27 para mostrar que as duas expressões podem ser usadas como sinônimos perfeitos, Apesar desta declaração há muitas fontes que mostram distinção de significado entre as duas palavras, bastando citar:
a) E. W. Bullinger – A Critical Lexicon and Concordance, págs. 467-470.
b) Vincent – New Testament Words, em muitos passos, como este; “Deve notar-se a diferença entre agapavw – agapao e filevw – fileo no grego clássico ou profano e no grego bíblico. No grego clássico agapao é uma palavra mais fria do que fileo e menos íntima. No Novo Testamento está livre de qualquer frieza e é mais profunda em seu significado que fileo, apesar desta última ter uma conotação mais humana.”
Moulton afirma: “Se é que devem ser diferenciadas, uma se refere ao amor reverencial e a outra ao amor de companheirismo.
Que é Amor?
Já falamos muito sobre o amor, mas ainda não o definimos.
Todas as definições conseguidas são limitadas e ineficazes para expressar este atributo divino.
Os seguintes pensamentos (eu chamaria de tentativas para defini-lo) são úteis para ampliarem nossa compreensão deste profundo sentimento.
“O amor é o caminho mais curto de recondução a Deus”.
“Amor é uma gota celeste colocada no cálice da vida para lhe corrigir o amargor”.
No dizer de Leibnitz: “O amor é aquela qualidade que encontra sua felicidade no bem alheio”.
Para Guerra Junqueira “O amor é uma escada sublime que prende o ser humano ao doce olhar de Jesus”.
De acordo com Ellen G. White: “O amor é uma planta de origem divina que deve ser cultivada entre nós”.
Goethe assim se expressou: “O amor consegue em um momento o que o trabalho dificilmente pode conseguir em uma era”.
O escritor Patrício Ramiz Galvão numa síntese significativa declarou: “Nada no mundo vive e prospera senão à sombra do amor”.
Diante destas afirmações fácil é concluir que o amor inegavelmente é a maior de todas as virtudes, é a virtude característica da fé cristã. Aliás, nem há necessidade de concluirmos, porque isto Paulo já nos declarou enfaticamente em I Coríntios 13.
O amor é superior à fé e à esperança, pois como bem salientou o estudioso de palavras gregas De Wett – “O amor é a maior dessas virtudes, porque contém em si mesmo a raiz das duas outras virtudes: cremos em alguém a quem amamos, e esperamos somente naquilo que amamos”.
O amor deveria governar as ações de toda a família de Deus. (Ver João 13:35 e 14:21).
“Deus é amor (1 João 4: 16) e o amor é a imagem de Deus estampada na alma; onde o amor se encontra, a alma está bem moldada, e o coração está preparado para toda a boa obra”. – Mathew Henry.
O amor é virtude e força, pois:
a) Aperfeiçoa a pessoa diante de Deus. Mat. 5:48.
b) O amor impele as pessoas a fazerem as obras do Senhor.
II Cor. 5:14 – “Porque o amor de Cristo nos constrange.”
c) Faz com que o indivíduo mantenha um bom relacionamento com o próximo – S. João 13: 35.
d) Afasta a contenda e dissenções entre os crentes. Mat. 24:12.
Pense bem nestas 10 significativas frases:
1ª) A palavra mais elevada é Deus.
2ª) A mais veloz é tempo.
3ª) A mais doce é lar.
4ª) A mais forte é retidão.
5ª) A mais rastejada é hipocrisia.
6ª) A mais comprida é eternidade.
7ª) A palavra mais querida é mãe.
8ª) A mais triste é nunca.
9ª) A mais negra é pecado.
10ª) A mais significativa e mais terna é amor.
Embora João seja conhecido como o discípulo do amor, Paulo foi o apóstolo que melhor nos apresentou as características do amor cristão.
Dentre muitas outras destaquemos estas dez :
1ª) O amor é generoso –  II Cor. 8:24.
2ª) O amor é longânimo – Efés. 4:2.
3ª) O amor é prático, resultando em ação – Heb. 6:10.
4ª) O amor resulta em perdão e restauração – II Cor. 2: 8.
5ª) O amor é sincero – Rom. 12: 9;11Cor. 6: 6; 8: 8.
6ª) O amor é inocente, não prejudica a ninguém – Rom. 13:10.
7ª) O amor é salvador e santificador – II Tes. 2:13.
8ª) O amor controla e ama a verdade – II Tes. 2:10.
9ª) O amor é o poder motivador da fé. Gál. 5:6.
10ª) O amor é o aperfeiçoamento da vida cristã – Col. 3:14.
Em todas estas citações bíblicas a palavra usada no original é ágape. Evidentemente a vida cristã deve ser edificada sobre o sólido pilar do amor.
O  Diálogo  do  Amor  Entre  Cristo  e  Pedro  Relatado em S. João 21:15-17 o Mestre pergunta ao discípulo acerca do relacionamento entre ambos. Por três vezes Cristo perguntou a Pedro se ele o amava, recebendo sempre a mesma resposta. Nas primeiras duas perguntas Cristo usou o verbo agapao, porém Pedro respondeu com o verbo fileo. Na terceira interpelação Cristo mudou para fileo e a resposta do discípulo continuou sendo idêntica às duas primeiras.
A que conclusões chegaremos pelo uso dos verbos agapao e fileo em João 21:15-17?
“Apesar das duas palavras também serem usadas quanto ao amor de Deus aos homens (João 14:21, agapao) (João 20:2, fileo), a distinção entre as duas permanece e elas nunca são usadas indiscriminadamente na mesma passagem”.
As idéias dos comentaristas podem ser apresentadas nestas três proposições:
1ª) Pedro teria considerado o termo agapao no seu contexto secular muito frio para definir a verdadeira paixão pessoal que nutria pelo Seu compreensivo Mestre ressuscitado.
2ª) Pedro usa a palavra menos exaltada como que para indicar a consciência de sua própria fraqueza. Ainda assim ele confirma seu grande afeto pelo Mestre, desta vez sem qualquer comparação com seus condiscípulos (Alford, Vincent).
3ª) Nosso Senhor usa a mais nobre palavra da linguagem grega e depois muda o vocábulo preferido por Pedro; porém, assegura-lhe que o futuro martírio deste demonstrar-lhe-ia que o amor ao Mestre não é baseado apenas no deleite, mas na apreensão mais ampla da preciosidade das coisas eternas.
Como comprovação de que os autores divergem, quanto às palavras serem sinônimas ou diferentes no significado, vamos concluir com a resposta dada por Bruce, a um de seus consulentes, sobre o texto de S. João 21:15-17.
Pergunta: O uso das palavras para “amor’ em João 21:15-17 é geralmente explicado afirmando-se que fileo denota afeição natural e agapao um amor mais elevado. Freench, entretanto, parece apresentar uma interpretação diferente, explicando fileo como um amor pessoal e desarrazoado, e agapao como o amor de um raciocínio mais conexo. Como o senhor comentaria isto?
Resposta:
“Se algum comentarista à base de qualquer uma dessas diferenciações no uso joanino dos dois verbos para amor puder mostrar satisfatoriamente qual é a diferença entre os dois em João 3:35 e 5:20, estarei preparado para considerar se há uma diferença entre os dois em S. João 21:15-17. Ambas as passagens, João 3:35 e 5:20, afirmam que “o Pai ama o Filho”; mas o verbo na passagem anterior é agapao e nesta última é fileo. É o amor do Pai pelo Filho em uma passagem afeição natural e na outra um amor mais elevado? Ou é ele em um lugar um amor pessoal e desarrazoado e na outra um amor de raciocínio mais conexo? Penso que não. Outra vez, nas referências ao discípulo “a quem Jesus amava”, agapao é usado de modo permutável no grego helenístico. Na Septuaginta, em Gên. 37:3, agapao é usado na afirmação de que “Israel amava a José mais do que a todos os seus filhos”, porém no verso seguinte, onde nos é dito que “seus irmãos vendo que seu pai o amava mais do que a todos os seus irmãos”, o verbo empregado é fileo. Entretanto um e o mesmo verbo é usado em ambas as passagens no texto hebraico. Conseqüentemente, eu não estou convencido por aquelas interpretações que vêem mais significado na mudança de verbo em João 21: 15-17.” – Answers to Questions, de F. F. Bruce, pág. 73.
Texto de autoria de Pedro Apolinário, extraído da Apostila Explicação de Textos Difíceis da Bíblia.

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