quinta-feira, 17 de março de 2016

Conceitos e Sugestões Úteis para Explicar e Compreender a Bíblia


Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

A tarefa de explicar a Bíblia é difícil pelas seguintes circunstâncias:

a) Muitos foram seus autores.

b) O tempo da sua composição compreende um período de 1.600 anos.

c) Seus livros foram compostos em lugares inteiramente diversos.

d) Os costumes daquelas pessoas eram totalmente diferentes dos do mundo moderno.

e) O cunho das línguas hebraica e grega é bem diferente das línguas modernas.

Regras de Interpretação

1º) O texto bíblico deve ser explicado gramaticalmente, tendo em vista a significação das palavras; observando que há palavras que possuem significados diferentes em contextos diferentes.

Um exemplo frisante é carne, que significa, algumas vezes, o que é terno e dócil, como em Ezequiel 11:19: “Dar-lhe-ei um coração de carne“, em oposição a um coração de pedra. Significa também a natureza humana sem referência alguma ao estado pecaminoso, como em João 1:14; Romanos 1:3; 9:3; porém, mais comumente ainda se refere à natureza humana, corrupta e pecadora como em Romanos 8:5; Efésios 2:3. Tem, além disso, a significação daquilo que, religiosamente falando, é exterior e cerimonial, como distinto do que é interior e espiritual, o que se pode ver em Gálatas 6:12 e 3:3.

Em Romanos 11:14 (RC) – “incitar à emulação os da minha carne”, significa minha raça, meu povo. João 1:14 – “o verbo se fez carne”, Deus se tornou um ser humano.

Outra palavra importante por possuir muitas significações é sangue. As passagens seguintes confirmam suas diferenças:

Mateus 27:25 – “Caia sobre nós o Seu sangue”, significa a culpa de O terem sentenciado à morte caia sobre nós.

Romanos 5:9 – “… sendo justificados pelo Seu sangue”, tem o sentido da sua obediência até a morte.

Hebreus 9:14 – “… o sangue de Cristo purificará a nossa consciência das obras mortas”, isto é, o Seu sacrifício é o fundamento da justificação e o instrumento e o motivo da santificação.

2º) A segunda regra de interpretação muito útil é conhecer o objetivo de certos livros serem escritos e também específicos capítulos. Por exemplo, Gálatas foi escrito porque membros da Galácia influenciados por mestres judaizantes pensavam em ser justificados guardando a lei e requisitos dos judaizantes. (Gálatas 2:16; 3:1-6)

Tiago – o objetivo do autor é provar que ninguém pode ser justificado por uma fé passiva, uma fé que não produza boas obras.

Certas parábolas apenas serão compreendidas levando em consideração as circunstâncias em que foram proferidas, como exemplo a do Rico e Lázaro.

3º) A terceira regra exegética da Bíblia é comparar a Escritura com a Escritura. Se este princípio fosse sempre seguido muitos erros seriam evitados. Um exemplo bastante frisante neste aspecto é Mateus 16:18 – “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a Minha igreja”. Comparando esta passagem com 1Coríntios 3:11, tudo começa a se esclarecer, porque Paulo diz que o único fundamento da igreja é Cristo. Outra passagem incisiva para provar quem era a pedra sobre a qual a igreja seria edificada é do próprio Pedro na sua primeira epístola, capítulo 2:4-8.

Este princípio hermenêutico é também denominado de consulta às passagens paralelas, isto é, aquelas que tratam do mesmo assunto. Dentre os muitos exemplos bíblicos, que podem ser citados de passagens paralelas, o primeiro que me veio à mente foi Lucas 16:16. A passagem paralela muito mais clara em explicar o que Lucas queria dizer é Mateus 11:13 – “Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João”.

Como segundo exemplo elucidativo pode-se ver Atos 2:21. Neste verso, Pedro declarou: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. Parece haver uma contradição com Mateus 7:21 – “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no reino dos Céus”.

Que significa invocar o nome do Senhor? A leitura das passagens paralelas de Romanos 10:13-15 e 1Coríntios 1:2 (citação de Joel 2:32) nos informa que significa a aceitação da obra do Messias e ter confiança nas doutrinas que Ele revelou.

Muitas passagens das Escrituras tem de ser explicadas pondo-as em relação, não com um ou mais textos, mas com as normas gerais da Palavra de Deus. Por exemplo: se alguém quiser interpretar as passagens da Bíblia que se referem à justificação pela fé, como se elas nos desobrigassem de obedecer à lei e de levar uma vida de santidade, tal interpretação deve ser rejeitada, porque é contrária ao espírito do evangelho.

Uma passagem sempre citada para esposar ideias não defensáveis pela Bíblia é Provérbios 16:4 – “O Senhor fez todas as coisas para determinados fins, e até o perverso para o dia da calamidade”. Uma interpretação deste texto isoladamente parece indicar que os ímpios foram criados para poderem ser condenados, mas esta ideia não se conforma com muitas outras passagens da Bíblia. Basta ler Salmos 145:9 e 2Pedro 3:9. O significado, portanto, de Provérbios 16:4 é este: todo mal contribui para a glória de Deus e promove a realização dos seus insondáveis desígnios.

O sentido geral das Escrituras foi denominado por teólogos antigos, como Orígenes, de “a analogia da fé”, pela interpretação que davam a Romanos 12:6, onde está a palavra […]. Hoje os intérpretes afirmam que a passagem se refere à medida ou à proporção da fé dos que profetizam.

Auxílios Prestados pelas Línguas Originais

Mesmo as melhores traduções não conseguem transmitir as nuances de certas palavras, as subtilezas das expressões idiomáticas, as tênues diferenças de significação dos sinônimos. Sendo que muitos destes aspectos ficam velados nas traduções, a leitura do verso no hebraico e no grego poderá captar o seu verdadeiro sentido.

Particularidades idiomáticas

Certas peculiaridades do original são mantidas nas traduções, dificultando assim a compreensão do verdadeiro sentido. Os seguintes exemplos são primordiais:

a) Romanos 12:20 – “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça”. Amontoar brasa viva sobre a cabeça de alguém é uma expressão idiomática hebraica, com o sentido de fazer com que a pessoa fique envergonhada do seu procedimento.

b) Mateus 6:3 – “Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita”. Este idiotismo assim deveria ser traduzido: quando deres esmola, não deves contar o que fizeste nem mesmo ao mais íntimo amigo.

Sistema Verbal Hebraico e Grego

A compreensão destas línguas, quanto ao verbo, é muito útil na explicação de passagens difíceis. No hebraico há o intensivo e o causativo. (Intensivo – Piel e Pual; Causativo – Hifil e Hofal)

Hifil é causativo, mas também é permissivo. Em Êxodo 7:3 se diz que Deus endureceu o coração de Faraó. Moisés pergunta em Êxodo 5:22 – “Ó Senhor, por que afligiste este povo?” Há nestas duas passagens um idiotismo hebraico, o verbo usado não para expressar a execução de algo, mas a permissão para fazer isso.

Não é possível alguém fazer uma exegese correta se desconhecer alguns princípios do sistema verbal grego, como o “aspecto”, que é a duração da ação verbal. O aspecto linear nos ajuda a explicar 1João 3:9.

O uso da voz média nos indica em Atos 9:39 que as mulheres estavam usando as vestes naquele momento.

Alguns hebraísmos

Os judeus muitas vezes exprimiam o sentido de qualidade usando não o adjetivo mas um segundo nome, tendência também seguida no grego hebraizado do Novo Testamento.

1Tessalonicenses 1:3 – “a obra da vossa fé” = a vossa obra fiel.

Efésios 1:13 – “o Santo Espírito da promessa”, logo se percebe que significa – o Espírito Santo prometido.

É um hebraísmo comum na Bíblia chamar a uma pessoa que tinha uma qualidade ou era inclinada a certo mal, o filho dessa qualidade ou desse mal.

Lucas 10: 6 – “filho da paz” = pessoa pacífica.

Efésios 5: 6 – “filhos da desobediência” = filhos desobedientes.

Por respeito e consideração os hebreus evitam o uso excessivo do nome de Deus, por isso em vez de usarem a expressão “reino de Deus” eles a substituíam por “reino dos Céus”.

É um hebraísmo usar, no plural, nomes designativos de coisas grandes e suntuosas, como o céu e o mar. Daí ser comum na Bíblia o emprego de “céus” em lugar de “céu”.

A linguagem humana é muito imperfeita para transmitir conceitos divinos. Não existe nenhuma língua perfeita que possa transmitir precisamente pela palavra o pensamento exato. Neste sentido a língua grega leva vantagens sobre todas as línguas modernas. Alguém já disse com muita presteza ser a língua portuguesa “o túmulo do pensamento”. Concorda você com esta assertiva?

Não é possível numa tradução reproduzir variantes de pensamento que se encontram em uma única palavra hebraica e grega. Os exemplos poderiam ser citados às centenas confirmando esta verdade, mas limitemo-nos a estes bem elucidativos.

A mesma palavra hebraica significa abençoar e amaldiçoar, o mesmo acontecendo com ligar e separar, afligir e honrar, conhecer e desconhecer, emprestar e tomar emprestado, matar e curar. Em oposição a esta pobreza vocabular, o hebraico por vezes é rico em outros aspectos, apresentando subtilezas difíceis de serem expressas em outras línguas; por exemplo: há três palavras para janela no relato do dilúvio; três traduzidas por bolsa na história dos irmãos de José no Egito; três traduzidas por fermento no relato da páscoa; três para navio no primeiro capítulo de Jonas; cinco traduzidas por leão em apenas dois versos de Jó (4:10-11); dez palavras para lei no Salmos 119. Estes exemplos são suficientes para comprovarem a quase impossibilidade de comunicar em uma tradução todas as sombras de pensamento encontradas na língua hebraica.

Existem palavras tanto no hebraico quanto no grego difíceis de serem traduzidas por terem muitos significados, ou por não termos nenhuma palavra que transmita o seu significado original.

Hesed – afirmam os estudiosos ser a palavra mais difícil de ser traduzida do hebraico porque não temos nenhuma com o seu significado. Tem sido traduzida por graça, amor, misericórdia, compaixão, tolerância, clemência, favor, bondade etc., etc.

Logos é o melhor exemplo do grego de uma palavra com muitos significados, são mais ou menos uns 15 (João 1:1 – verbo; João 21:23 – dito, notícia; Atos 1:1 – livro, tratado; 1Coríntios 2:1 – expressão, declaração). O tradutor, ao deparar com um termo como este precisa escolher uma palavra que transmita mais exatamente o pensamento do escrito original.

Doxa, normalmente traduzida por glória, nem de longe expressa a ideia do original. Significa em grego o caráter de Deus, ou o conjunto dos atributos divinos.

O expositor das verdades bíblicas precisa estar bem consciente deste fato: muitas palavras tinham um significado no hebraico e grego secular, mas adquiriram no contexto bíblico outro significado, às vezes totalmente diferente. Uma extensa e interessante monografia poderia ser escrita sobre este assunto. Pensemos nos seguintes exemplos: batizar, fé, graça, justificar, expiar, mundo, conversão, salvar, apóstolo.

O Problema das Variantes nos Manuscritos

Chama-se variante a maneira diferente da mesma passagem se apresentar nos manuscritos ou nas traduções. Infelizmente não temos nenhum autógrafo ou manuscrito original da Bíblia. Possuímos apenas cópias de cópias.

Na maioria das passagens da Bíblia existe perfeito acordo, mas em outras surgem dificuldades de correntes da obscuridade dos caracteres originais ou de dificuldades gramaticais dessas línguas, acrescentando-se ainda algumas mudanças de um ou outro copista, de que resultam variações textuais. Um dos trabalhos da Crítica Textual é estudar essas variações e determinar o que teria escrito o autor bíblico.

Uma verdade deve ser conhecida: nenhuma doutrina bíblica foi afetada por mudanças no seu texto. Um dos maiores expoentes em Arqueologia Bíblica e Crítica Textual, Frederico Kenyon, afirma: “Nenhuma doutrina fundamental da fé cristã repousa num texto em disputa… O cristão deve tomar a Bíblia em suas mãos e afirmar, sem hesitação, que ele está segurando a verdadeira Palavra de Deus, transmitida de geração em geração, através dos séculos, sem nenhuma mudança essencial” (Our Bible and the Ancient Manuscripts, pág. 23).

Linguagem Figurada

Pelo seu amplo uso merece estudo aprofundado. Por não ter sido bem compreendida, muitos erros de interpretação têm aparecido.

Joseph Angus, em História Doutrina e Interpretação da Bíblia, cita muitos exemplos, como este da página 169: “Diz-se, no Salmos 18:11, que “Deus fez das trevas o seu lugar oculto” e em 1Timóteo 6:16, que “Deus habita na luz”. No primeiro caso, as trevas significam inescrutabilidade, e, no segundo, a luz significa pureza,inteligência ou honra”.

A boa compreensão das alegorias, símbolos, tipos, metáforas, parábolas bíblicas é fator indispensável na exposição das verdades escriturísticas.

É princípio fundamental na exegese bíblica que nenhuma parábola ou alegoria deve ser tomada como base ou prova de doutrina. As parábolas nos foram dadas para ilustrar ou confirmar verdades e não para ensinar doutrinas. Ver História Doutrina e Interpretação da Bíblia, de Angus, Leis da Linguagem Figurada, pág. 172.

Cântico dos Cânticos é considerado por muitos comentaristas como uma extensa alegoria representando a afeição espiritual de Cristo para com a Sua Igreja.

É fato conhecido dos intérpretes bíblicos que as parábolas e muitos outros escritos figurados jamais devem ser tomados no sentido literal. Se alguém usar tal processo violentará o que o autor almejava transmitir. As metáforas devem ser entendidas metaforicamente.

É sempre útil ter em mente o que declarou W. Arndt no livro Dificuldades Bíblicas, pág. 14: “Muitas vezes não é fácil traçar a linha divisória entre as duas espécies de linguagem. Também neste caso recomendamos ao leitor da Bíblia humildade e oração, assim que gradualmente possa desenvolver conhecimento e entendimento”.

“Outro princípio capital da interpretação da Escritura assim pode enunciar-se:  as passagens obscuras e figurativas devem ser interpretadas por meio daquelas que são claras e desprovidas de sentido metafórico”.

Um Bom Conselho

A pesquisa, para o esclarecimento de qualquer verso da Bíblia, deve ser feita com humildade e não com pretensões à infalibilidade.

Esta recomendação inspirada é oportuna: “Irmãos, cumpre-nos cavar fundo na mina da verdade. Podeis examinar o assunto a sós ou em consulta recíproca, unicamente se o fizerdes num espírito sincero. Demasiadas vezes, porém, o eu é grande, e logo que se inicia a investigação, manifesta-se um espírito não cristão. Exatamente nisto se deleita Satanás, mas devemos ter um coração humilde para conhecer, por nos mesmos, o que é a verdade” (Counsel to Writers and Editors, pág. 41).

Pensamentos Esparsos

1º) O conhecimento dos costumes antigos, da índole das línguas hebraica e grega, dos escritos de autores contemporâneos da Bíblia, da história, arqueologia, etnologia facilitam a exegese dos trechos mais obscuros da Escritura, evitando-se assim graves enganos e erros na interpretação.

2º) É útil na interpretação de um texto, ter em mente, certas regras simples, que se aplicam à compreensão de qualquer texto bíblico. Uma delas é lembrarmo-nos do tempo e das circunstâncias em que foi escrita uma declaração.

3º) Os Adventistas do Sétimo Dia sustentam a posição protestante de que a Bíblia e somente a Bíblia é a regra única de fé e prática para os cristãos.

4º) Para a formação de ideias equilibradas sobre uma verdade bíblica, é preciso atentar para tudo o que os diversos autores inspirados disseram sobre o assunto. Exemplo: Como somos salvos?

Ideias extremistas e fanáticas surgem quando alguém defende uma doutrina baseado numa só passagem.

5º) As aparentes contradições da Bíblia podem ser resolvidas com um estudo aprimorado de alguns princípios exegéticos, como: atentar bem para o contexto, a analogia da fé, estudar as passagens paralelas; consultando ainda uma concordância bíblica e um comentário digna de confiança, como o Comentário Bíblico Adventista.

6º) Há duas espécies de passagens difíceis na Bíblia, algumas podem ser aclaradas com o trabalho consciencioso dos estudiosos, outras jamais serão esclarecidas aqui.

As palavras de Pascal são oportunas: “O último passo da razão é saber que há uma infinidade de coisas que ela não pode atingir. Resolvam-se todas as questões, expliquem-se todas as palavras da Bíblia, e ficarão ainda as maiores dificuldades para a prova da nossa fé: a origem do mal, o mistério da divina presciência e da livre ação, e muito ainda sobre o plano da redenção”.

7º) Só devemos esperar encontrar nas Escrituras Sagradas o que sob o ponto de vista religioso nos importa conhecer.

Tudo o que foi revelado deve-se estudar, o que não foi considere-se como não essencial ao plano da salvação.

8º) “Não pode haver conflito entre a ciência e a religião. A Bíblia é autoridade absoluta e decisiva no domínio da verdade religiosa, mas não pretende ser a respeito de fatos e princípios científicos”. Angus – História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, pág. 109.

9ª) A Bíblia é, em essência, uma revelação graduada e progressiva do plano de Deus em salvar o homem. Revela em toda a parte o mesmo Deus, santo, sábio e bom, fala dos seus desígnios no governo do mundo, e do resultado final da presente luta entre o bem e o mal.

10º) É um fato bastante conhecido que muitas palavras mudam o seu significado com o passar dos anos; portanto, provas baseadas no significado de uma palavra têm que levar em consideração o seu sentido quando o autor bíblico a empregou.

11º) Dentre tantos comentaristas bíblicos notáveis, como: Orígenes,  Crisóstomo, Jerônimo, Lutero, Adam Clarke, Strong, Barnes, Vincent –  a quem devemos seguir? A única resposta segura seria esta: nenhuma interpretação da Escritura por uma pessoa, embora culta e bem intencionada, deveria ser considerada como infalível.

12º) A Igreja Católica estabeleceu no Concílio de Trento um plano ou base de doutrina, de acordo com o qual toda a Escritura devia ser interpretada, mas apesar disso ela nunca publicou um comentário infalível que pudesse explicar as passagens difíceis da Escritura.

13º) “Há realmente passagens e frases cujo sentido é obscuro. Esta obscuridade é, em muitos casos, devida à nossa ignorância de algum fato especial que esclareça o assunto, e a respeito do sentido exato das palavras” (História Doutrina e Interpretação da Bíblia, pág. 203).

14º) Sendo a Santa Bíblia a Palavra de Deus, ela não deve ser interpretada de modo arbitrário e particular. As Escrituras estão baseadas em princípios claros e firmes, por isso Jesus declarou: “a Escritura não pode falhar” (João 10:35).

15º) É princípio fundamental da exegese que as Escrituras são seu próprio intérprete. Cristo o aplicou quando repreendeu o diabo por interpretar mal um texto da Bíblia (Mateus 4:6 e 7).

quarta-feira, 16 de março de 2016

Um Verso Difícil de Traduzir – Gênesis 4:7 (O Pecado de Caim)


Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

“Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo”.

“A mensagem da Bíblia expressa-se em linguagem oriental. No seu modo de viver e pensar, o oriental é diametralmente oposto ao homem do ocidente, fato este que constitui grande barreira à compreensão e interpretação de muitos trechos das Escrituras” (Edith A. Allen).

Há versículos na Bíblia, diante dos quais os tradutores ficam perplexos, porque se sentem incapazes de transmitir com clareza a mensagem neles contida. Um verso que bem ilustra estas dificuldades é Gênesis 4:7. [“Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo”]. Os problemas que ele apresenta são de tal vulto, que notáveis comentaristas modernos creem que algum copista tenha modificado o texto hebraico original. O Novo Comentário da Bíblia, editado por Russell P. Schedd, declara: “O hebraico, neste texto, é tremendamente difícil”.

No hebraico está literalmente: Não é que, se ages bem, elevação, e se não ages bem, à tua porta o pecado (feminino) dormindo (masculino) e para ti sua (masculino) cobiça e tu o dominarás.

Em virtude do seu gênero, os pronomes hebraicos para “seu” e “ele” não podem pertencer ao pecado à espreita, mas sim, precisam ser tomados como se referindo a Caim.

A sua tradução para a Septuaginta é obscura e inaceitável, por isso o Comentário Adventista afirma sobre este verso: “Que os tradutores da Septuaginta acharam sua significação obscura no seu tempo é evidente da tradução deturpada que dele fizeram”.

Esta passagem está tão estritamente ligada com o texto precedente, que é necessário volvermos a atenção para ele por um momento, antes de qualquer explicação. Caim e Abel trouxeram uma oferta para Deus segundo suas respectivas ocupações: o primeiro, “do fruto da terra” e o segundo “das primícias do seu rebanho,e da gordura deste”. A atenção dada pelo Senhor à oferta de um e de outro foi distinta, fazendo com que Caim ficasse encolerizado, e como consequência natural apareceu deprimido. O Senhor o advertiu com significativa pergunta: “Por que andas irado? E por que descaiu o teu semblante?”, e acrescenta, no verso em discussão: “Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo” (Almeida Revista e Atualizada no Brasil).

A Bíblia de Jerusalém após traduzi-lo assim: “Se estás bem disposto não levantarias a cabeça? Mas se não estiveres bem disposto, não jaz o pecado à porta, um animal acuado te espreita, podes acaso dominá-lo?”, acrescenta a seguinte nota: Tradução aproximativa de um texto corrompido.

Lázaro Ludovico Zamenhof assim o traduziu para o Esperanto: “Sem dúvida se agires bem, serás forte, mas se agires mal, o pecado jazerá à porta, e ele a ti pretenderá, mas governa acima dele”.

Sem nos demorar em longas dissertações exegéticas e textuais, que os especialistas apresentam, cremos que o essencial é o seguinte:

Deus está advertindo Caim do seu procedimento, porque um terrível ato pecaminoso estava próximo, e em linguagem figurada o apresenta como um animal feroz, esperando saltar sobre ele. Em outras palavras o Senhor lhe estava dizendo: Se fizeres bem, em lugar deste semblante abatido, naturalmente erguerias a cabeça e terias um semblante alegre como aqueles que agem com propósitos elevados. Mas senão fizeres o bem, e continuares alimentando ódio contra teu irmão, por sua oferta ser aceita e a tua rejeitada, o pecado descerá à tua porta como um animal feroz por sua presa. Serás infalivelmente uma vítima de tua pecaminosa paixão. O pecado deseja dominar-te, mas não deves temê-lo porque o Senhor te concederá poder para enfrentá-lo e sair vitorioso. Por não ter dado a mínima atenção à advertência divina, uma sangrenta tragédia se seguiu: o bárbaro assassinato de seu irmão. Após o ato consumado, o Senhor disse a Caim: “A voz do sangue de teu irmão clama da terra a Mim”.

O castigo por fazer a própria vontade e não a vontade divina está relatado nos versos 11 e 12 do mesmo capítulo.

Comparando-o em várias traduções e pesquisando o que dele disseram os comentaristas, eis uma tentativa que fiz para o traduzir:

Se você for bom, poderá reerguê-lo (o semblante), mas se não for, o pecado como um animal bravio está à sua porta, ansioso para dominá-lo, mas você o poderá vencer.

terça-feira, 15 de março de 2016

Quem foi Melquisedeque? – Hebreus 7:1-3


Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

“Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou; a quem também Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é, por interpretação, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que é rei de paz; sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre”.

Qual o Enigma deste Personagem?

Um estudo cuidadoso deste personagem bíblico nos esclarecerá que nada existe de misterioso a seu respeito, a despeito da interpretação de alguns quanto a Hebreus 7:3.

A palavra em hebraico Malkicedeq, significa rei de justiça, ou ainda, de acordo com Hebreus 7:2, rei de Salém, isto é, rei de paz.

Para melhor compreensão deste tema duas coisas são necessárias:

1º) Estudo do contexto das passagens onde seu nome aparece.

2º) Alguns conceitos sobre o sacerdócio levítico e o de Cristo.

A) O nome Melquisedeque aparece dez vezes na Bíblia, sendo duas no Velho Testamento (Gênesis 14:18; Salmos 110:4); e oito no livro de Hebreus (5:6, 10; 6:20; 7:1, 10,11, 15, 17). Especialmente o capítulo sete de Hebreus precisa ser bem estudado.

B) Após a entrada do Pecado o indivíduo tornou-se sacerdote de si mesmo. Depois este encargo coube ao primogênito. Posteriormente a tribo de Levi foi escolhida para este mister. Quem não fosse da Tribo de Levi era indigno para este mister como vemos em Esdras 2:62. O relato desta passagem deve ser lembrado para melhor compreensão deste assunto.

O sacerdote devia ser tirado dentre os homens, com suas fraquezas, para que pudesse entender as fraquezas dos homens (Hebreus 4:14-16).

Sacerdote é a pessoa que atua como mediador ou intermediário entre duas partes.

Aquele que está encarregado de uma missão respeitável, o intercessor perante Deus a favor dos homens.

O Novo Comentário da Bíblia, editado em português por Russell P. Shedd, vol. 3, pág. 1357, afirma o seguinte:

“Sumo sacerdote é aquele que é nomeado para agir em prol dos homens naquilo que diz referência a Deus, especialmente para apresentar ofertas a Deus. O sumo sacerdote deve ser escolhido dentre os homens e ser capaz de, na qualidade de verdadeiro homem, simpatizar com as fraquezas humanas. Além disso, ele não deve presumir em tomar sobre si mesmo tal ofício; deve ter sido chamado para tal tarefa por nomeação de Deus. Tudo isso (em ordem reversa) é declarado como cumprido na pessoa de Cristo; conforme o escritor sagrado considera Sua nomeação divina, Sua perfeita humanidade e consequente habilidade de simpatizar conosco, e Seu ofício e obra. Pois foi Deus quem, ao ressuscitá-Lo de entre os mortos, reconheceu-O como Seu Filho, declarando abertamente a Sua nomeação para um sacerdócio eterno, segundo uma classificação diferente daquela de Arão, a ordem de Melquisedeque”.

Do exposto, esta declaração deve ser guardada: o sacerdote deve ser escolhido dentre os homens para poder simpatizar com as fraquezas humanas. Está é a razão pela qual Cristo só passou a exercer a função sacerdotal após ter tomado a natureza humana.

As Escrituras nos informam que há dois tipos de sacerdócio:

1º) Levítico – hereditário, e extinto com a morte de Cristo.

2º) Melquisediano – prefigurando o sacerdócio de Cristo, caracterizado por sua superioridade e eternidade.

Cristo apresenta um contraste com os sumos sacerdotes segundo a ordem levítica, que eram instalados no ofício para posteriormente serem removidos por motivo de falecimento. Por isso é que Ele se tornou sumo sacerdote para sempre. É justamente essa qualidade eterna que distingue a ordem sacerdotal de Melquisedeque da ordem levítica de Arão.

Que sabemos de Melquisedeque?

Através dos tempos tem havido muita discussão, procurando identificar quem foi Melquisedeque. As referências bíblicas para sua identificação são muito escassas. Aparece numa citação ligeira em Gênesis 14:18. Creem os estudiosos que ele era rei de algum clã semita ou de Salém. Sabe-se que era sacerdote e rei. Cristo também é sacerdote e rei, de onde ser Melquisedeque considerado uma figura de Cristo. Por ser “sacerdote do Deus altíssimo” no tempo de Abraão, este lhe devolveu o dízimo.

Tem sido assunto de grandes investigações entre os comentaristas o saber quem era realmente Melquisedeque. Defendem alguns ter sido Cristo; supõem outros que fosse o Espírito Santo; ainda outros sustentam que era um anjo; Enoque.

Não há necessidade de contestar cada uma destas suposições, mas apenas dizer o seguinte: Melquisedeque não era Cristo, declara Ellen G. White, pois Ele ainda não tinha tomado a natureza humana. Melquisedeque não podia ser o Espírito Santo, visto que o Espírito Santo não foi tirado dentre os homens. O sacerdote vivia do dízimo, porque era humano; o Espírito Santo não precisa de dízimo.

“Sem pai, sem mãe”. Esta afirmativa é que tem dado motivo para defenderem que fosse um rei sobrenatural. A opinião mais sensata e provável é a que o considera um rei, justo e pacífico, adorador e sacerdote do Deus altíssimo na terra de Canaã, amigo de Abraão, e como sacerdote superior a ele em dignidade.

A Bíblia nos apresenta a superioridade do sacerdócio de Melquisedeque sobre o sacerdócio levítico, por isso um significativo símbolo do sacerdócio de Cristo.

Russell Norman Champlin afirmou:

“Hermeneuticamente, Melquisedeque importante porque ilustra diversas coisas:

1) Um significado mais profundo da história;

2) Como a história pode ser profética e simbólica;

3) A unidade do Antigo e do Novo Testamentos;

4) A universalidade do ofício messiânico e sumo sacerdotal de Cristo;

5) A ab-rogação das ordens sacerdotais do Antigo Testamento, por estarem todas cumpridas em Cristo” (O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Vol. 5, pág. 527).

Salmos 110:4 nos ensina que o Messias seria um sacerdote divinamente nomeado, de acordo com a classificação de Melquisedeque. Essa afirmação bíblica sobre a necessidade de uma nova ordem sacerdotal é uma indicação de que a ordem levítica havia fracassado e uma melhor ordem de coisas devia levantar-se de acordo com Hebreus 7.

Pelo fato dos judeus rejeitarem a Cristo, não O aceitavam como sacerdote, então Paulo em Hebreus diz aos judeus: qual a razão de vocês não aceitarem a Cristo como sacerdote, se Abraão considerado tão grande por vocês aceitou a Melquisedeque como sacerdote, não sendo ele da tribo de Levi? É do conhecimento de todos que os sacerdotes tinham que ser da tribo de Levi, mas que Cristo pertencia a tribo de Judá (“tribo à qual Moisés nunca atribuiu sacerdotes” – Hebreus 7:14).

M. L. Andreasen escreveu: “Os judeus eram muito rigorosos no registro e preservação de suas genealogias, especialmente com referência aos sacerdotes. Ninguém podia servir como sacerdote a menos que pertencesse à família de Arão, da tribo de Levi, e isso tinha ele de provar, além de qualquer sombra de dúvida. Se porventura houvesse uma quebra na linhagem, seria ele excluído, perdendo assim os privilégios assegurados aos sacerdotes. Por esta razão todo judeu, e especialmente os sacerdotes, guardavam muito ciosamente todos os registros genealógicos” (The Bookof Hebrews, pág. 247).

A declaração de Hebreus 7:3 – “sem pai, sem mãe, sem genealogia; que não teve princípio de dias, nem fim de existência” deve ser compreendida como significando que estas informações genealógicas não estavam registradas em cartório.

Este aspecto da vida de Melquisedeque deve ser destacado: o livro de Gênesis nada diz sobre seus antepassados. No Antigo Testamento as genealogias se revestem de grande importância, particularmente no caso dos sacerdotes. Ele é apresentado como sacerdote por seu próprio direito, e não por motivo de descendência física. Semelhantemente não são mencionados nem seu nascimento nem sua morte. Nada é dito a respeito de seu sucessor. Em tudo isso ele é feito, pelo próprio silêncio das Escrituras, parecer-se ao Filho de Deus.

Se o livro de Gênesis apresenta algumas provas da grandeza de Melquisedeque, como o fato de ele ter abençoado a Abraão e este lhe devolver o dízimo, o livro de Hebreus (cap. 7) salienta a superioridade de Cristo como nosso sumo sacerdote.

domingo, 13 de março de 2016

Que Tratamento Jesus Dispensava a Maria? – João 2:4


“Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho Eu contigo? Ainda não é chegada a Minha hora”.

Do relato das bodas em Caná da Galileia, o verso 4 tem preocupado sobremaneira os comentaristas e os leitores da Bíblia, porque muitos concluem que a resposta de Cristo ao pedido de Maria não era cortês.

Os estudiosos da Palavra de Deus são quase unânimes em declararem que um dos nubentes era parente de Maria, devido ao seu procedimento em preocupar-se com a falta de vinho e também ao transmitir ordens aos criados.

Outros, familiarizados com os costumes dos judeus, nos informam que a provisão de vinho para a festa devia ser um presente dos convidados, especialmente dos familiares (Mario Veloso, Comentário do Evangelho de João, pág. 73).

Como Cristo não havia trazido um presente, Maria achou que era seu dever ajudar naquela emergência.

João 2:4, traduzido literalmente, significa: “Disse-lhe Jesus, Mulher, o que a ti e a Mim? Ainda não tem vindo a Minha hora”. Estas duas afirmações têm levado os comentaristas a apresentarem muitas sugestões visando equacioná-las de conformidade com as diretrizes divinas.

Para os protestantes a resposta de Cristo à sua mãe é um subsídio valioso para combater a mariolatria. O tratamento de “mulher” tem levado a muitos a afirmarem que Cristo não tinha Sua mãe em tão grande conceito como defende a igreja de Roma. João 19:26 e o procedimento de Cristo em todas as circunstâncias nos levam a fazer a seguinte afirmação: Jamais deveria passar pela nossa mente que Jesus usasse a palavra mãe em sentido pejorativo ou que faltasse ao respeito para com Maria. O costume da época e a índole da língua hebraica nos esclarecem que “mulher” era um título respeitoso.

As seguintes autoridades neotestamentárias são esclarecedoras:

a) De acordo com a Gramática de Robertson, pág. 539, há nesta frase uma expressão idiomática, significando, coloquialmente, mais ou menos o seguinte: ‘Não se importe com esta questão, que ela não nos diz respeito’.

b) Adam Clarke, comentando a declaração de Cristo, afirma: “Há aqui uma negação inesperada, como se Ele tivesse dito: Nós não somos empregados para providenciar as coisas necessárias para esta festa; este assunto pertence aos outros, que deveriam ter feito uma provisão adequada e suficiente para as pessoas que eles convidaram”.

c) Apesar da atitude de Cristo ser cortês, ela é firme, e inegavelmente encerra uma censura. Jesus não permitiria que de agora em diante seus familiares interferissem em Seu ministério. Não poderia ser tutelado por Maria desde que Sua missão era divina. As passagens de João 7:1-10; Marcos 3:33-35 e Lucas 2:49 nos mostram que Cristo não permitia que os familiares interviessem em Suas decisões.

Vincent, sempre muito feliz em suas sínteses, declara: “Embora de forma gentil e afetuosa, Jesus rejeitou a interferência dela, tencionando dar solução ao problema à Sua própria maneira” (Word Studies in the New Testament, vol. 2, pág. 80).

d) A Bíblia de Jerusalém apresenta a seguinte nota a este verso: “Literalmente ‘Que tenho Eu e tu com isso?’, semitismo bem frequente no Antigo Testamento (Juízes 11:12; 2Samuel 16:10; 19:23; 1Reis 17:18; etc.) e no Novo Testamento (Mateus 8:29; Marcos 1:24; 5:7; Lucas 4:34; 8:28). É empregado para rejeitar uma intervenção que se julga inoportuna ou, então, para demonstrar a alguém que não se deseja relacionamento algum com ele. Somente o contexto poderá indicar a nuança exata. Aqui, Jesus objeta a Sua mãe que ‘Sua hora ainda não chegou'”.

Todo este comentário poderia ser sintetizado com esta frase: O nome “mulher” era um título respeitoso em hebraico.

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

terça-feira, 8 de março de 2016

Pecado Para Morte e Pecado Não Para a Morte – 1João 5:16


Tem sido grande a diversidade de opiniões com respeito à significação desta passagem, e as ideias de alguns expositores do Novo Testamento não podem ser aceitas.

Entre as explicações apresentadas, as seguintes se destacam:

1ª) Há aqui referência ao pecado contra o Espírito Santo.

2ª) João faz alusão a um grande pecado, como homicídio, idolatria, adultério.

3ª) Alguns comentaristas creem que haja aqui referência ao pecado punido com a morte pelas leis do Velho Testamento.

4ª) Pecados castigados com a expulsão da sinagoga ou da igreja.

5ª) Pecado que acarretaria doença fatal sobre o ofensor.

6ª) Crimes contra as leis, pelos quais o ofensor era sentenciado à morte.

7ª) Pecados cometidos antes e depois do batismo; os primeiros seriam perdoados, mas os segundos, jamais.

8ª) A Igreja Católica explica que eram pecados que poderiam ou não ser perdoados após a morte. Baseando-se neste verso, a Igreja de Roma estabeleceu a doutrina do purgatório. Ainda com base nesta passagem, teólogos e comentaristas católicos classificam os pecados em dois grupos: pecados veniais e pecados mortais. Pecado venial é aquele digno de vênia, de desculpa, perdoável; enquanto o pecado mortal é aquele para o qual não há perdão; a pessoa deve pagá-lo com a morte.

Um dos primeiros pontos na exegese desta passagem é saber o que significa pecado para a morte (hamartia prós thánaton). Seria o pecado que terminaria em morte, teria como penalidade a morte, ou o pecado que, se prosseguisse em seu curso, traria doença que acarretaria a morte?

A palavra morte é usada no Novo Testamento com três significados:

1º) A morte física ou do corpo.

2º) A morte espiritual. Mortos em delitos e pecados (Efésios 2:1).

3º) A segunda morte.

Cingir-nos-emos a dois comentários por serem suficientes para nos elucidarem sobre o texto joanino.

I. “Se alguém. Comparar com capítulos 1:6; 2:1; 4:20. João usa um caso hipotético para apresentar uma importante lição. Aqui a referência é obviamente a um cristão que possui sã consciência de pecado.

Seu irmão. Isto limita a lição de João à comunidade cristã: ele está falando da preocupação com um irmão na fé.

Cometer pecado. Literalmente, “pecando um pecado”, isto é, verdadeiramente no ato do pecado.

Não para morte. Parece inegável que João esteja fazendo uma distinção entre formas de pecado, uma vez que, pouco depois, neste mesmo verso, ele fala de “pecado para morte”. Mas deve-se ter em mente o contexto. Nos versos 14 e 15 ele deu a certeza de que as orações do crente serão atendidas; aqui está aplicando a promessa a um tipo específico de oração – a oração em favor de outro – e está explicando sob que circunstâncias esta pode ser eficaz. Ao fazê-lo, discute duas classes de pecado – aqueles nos quais há esperança para o pecador e aqueles nos quais não há esperança. Na primeira classe, a oração pode ser um eficaz auxílio para a redenção; na segunda, como João mais tarde explica, não há garantia de que a oração será eficaz. Sustenta-se geralmente que o pecado para morte é o pecado imperdoável (ver Comentário Bíblico Adventista, Mateus 12:31-32). Daí que um pecado não para morte é qualquer outra forma de pecado em que incorre um irmão que caiu em erro.

Pedirá. Pedirá a Cristo, isto é, orará pelo irmão que caiu em erro. A frase pode ser tomada ou como uma injunção para orar ou como uma descrição da relação natural de um crente fervoroso quando confrontado com a delinquência de outro. Quão mais feliz seria a igreja se, em vez de discutir a fraqueza de um irmão, orasse por ele, e, se possível, com ele. Tal atividade intercessória habilitar-nos-á para a delicada tarefa de falar ao pecador e apontar-lhe o Salvador. Tal conversação servirá para edificar a igreja, enquanto que o mexerico e crítica derrubá-la-ão.

Lhe dará vida. É difícil determinar a quem os prenomes desta frase se referem. A sequência de ideias sugere que o apóstolo ainda está falando do cristão que ora por um irmão errante e é portanto um instrumento para conferir vida ao pecador. Mas é também possível que João tenha mudado abruptamente de assunto e esteja dizendo: Cristo dará, ao cristão que ora, vida para transmitir aos pecadores que não endureceram definitivamente o coração. A diferença é apenas de interpretação, pois a operação é a mesma em qualquer dos dois casos. O cristão não tem qualquer poder à parte do Salvador; assim, no final, é Cristo quem dá a vida, embora a oração intercessória possa ter sido o instrumento através do qual tenha sido concedida essa vida. Tal “vida”, contudo, é concedida apenas se há sincero arrependimento por parte do pecador.

Aos que. O escritor passou do caso particular ao geral, e fala de todos os que cometem “pecado não para morte.”

Há pecado para morte. Uma vez que João não define um pecado particular que resulte inevitavelmente na morte, é provável que esteja aqui se referindo a um tipo de pecado que certamente produzirá a morte. Se ele soubesse de um pecado específico que deixaria um homem sem esperança de salvação, poderíamos esperar que ele o identificasse, para que todos se acautelassem de cair na condenação irrevogável. Conquanto seja verdade que todo pecado, se nele se persistir, levará à morte (Ezequiel 18:4 e 24; Tiago 1:15), há uma diferença no grau ao qual qualquer ato específico de pecado trará um homem próximo da morte. Os pecados cometidos por aqueles que estão genuinamente ansiosos de servir a Deus, mas que sofrem de uma vontade fraca e fortes hábitos, são muito diferentes daqueles pecados que são deliberadamente cometidos em desafio impudente e deliberado a Deus. É mais a atitude e o motivo que determinam a diferença do que o ato do pecado em si. Neste sentido há distinções de pecados. Os erros menores, dos quais logo houve arrependimento e perdão, são pecados não para morte. Os pecados graves, nos quais se caiu repentinamente pela falha em manter o poder espiritual, ainda não é também um pecado para morte se seguido de genuíno arrependimento; mas a recusa em arrepender-se torna certa a morte final.

A distinção é claramente ilustrada nas experiências de Saul e Davi. O primeiro pecou, e não se arrependeu; o segundo pecou gravemente, mas se arrependeu sinceramente. Saul morreu sem esperança de desfrutar a vida eterna; Davi foi perdoado e lhe foi assegurado um lugar no reino de Deus.

Não digo. João não nos ordena orar, nem diz que não vamos fazê-lo, mas hesita em garantir respostas a oração por aqueles que deliberadamente se desviaram de Deus. Há uma diferença entre oração por nós mesmos e oração em favor de outros. Quando nossa própria vontade está ao lado de Deus, podemos pedir de acordo com Sua vontade e saber que receberemos resposta às nossas orações, mas, quando há uma terceira pessoa envolvida, precisamos lembrar que ela, também, tem vontade. Se recusar arrepender-se, todas as nossas orações e toda a obra que Deus poderia fazer e levar-nos a fazer não forçará a vontade. Ao recusar-Se a forçar o homem a permanecer bom, Deus também renunciou ao poder de forçar um pecador a arrepender-se.

Isto não significa que não devemos continuar a orar por aqueles que se desviaram do caminho da justiça, ou que nunca se entregaram ao Salvador. Não significa que não haverá muitas conversões surpreendentes como resultado de orações fervorosas e contínuas de corações fiéis. Mas João está mostrando que é inútil orar pelo perdão de um pecador enquanto ele se recusa a arrepender-se de seu pecado. Contudo, enquanto há qualquer base para esperança, devemos continuar a orar, pois não podemos dizer com certeza quando um homem já foi longe demais” (Comentário Bíblico Adventista,  1João 5:16).

II. “Verso 16. Pecado não para morte. Esta é uma passagem extremamente difícil, e tem sido interpretada de várias maneiras. O que é o pecado não para morte, pelo qual devemos pedir, e será dada vida àquele que o cometer? E o que é o pecado para morte, pelo qual não devemos rogar?

Mencionarei três das principais opiniões sobre este assunto:

1. Presume-se que haja aqui alusão a uma distinção na lei judaica, onde havia chattaah lemithah, “pecado para morte”, e chattaah lo lemithah, “pecado não para morte,” isto é, um pecado, ou transgressão, para o qual a lei determinara a punição de morte, tal como idolatria, incesto, blasfêmia, quebra do sábado, e outros semelhantes. E um pecado não para morte, isto é, transgressões por ignorância, inadvertência, etc., e as que, por sua própria natureza, parecem ser comparativamente leves e triviais. Que tais distinções de fato existiam na sinagoga judaica tanto Schoeltgen como Carpzovius provaram.

2. Por pecado não para morte, pelo qual se podia fazer intercessão, e para morte, pelo qual não se podia rogar, devemos entender transgressões da lei civil de determinado lugar, das quais algumas devem ser punidas com a morte, segundo os estatutos, sendo que o crime não admite perdão; outras poderiam ser punidas com a morte, mas o magistrado tem o poder de comutar a pena, isto é, de mudar a morte para banimento, etc., por razões que pudessem parecer-lhe satisfatórias, ou pela intercessão de amigos poderosos. Interceder no primeiro caso seria inútil, porque a lei não cederia, portanto, não necessitam suplicar por isto; mas a intercessão no último caso poderia surtir efeito, portanto, podiam suplicar; caso não o fizessem, a pessoa poderia sofrer a punição de morte.

Esta opinião, que foi promovida por Rosenmüller, insinua que os homens devem sentir as aflições um dos outros, e usar sua influência em favor dos infelizes, sem nunca abandonar os desafortunados, a não ser que o caso fosse absolutamente sem esperança.

3. O pecado não para morte significa um caso de transgressão, particularmente de grave apostasia da vida e poder da piedade, que Deus determina punir com morte temporal, estendendo ao mesmo tempo misericórdia à alma penitente. O profeta desobediente, em 1Reis 13:1-32, é, segundo esta interpretação, um exemplo: muitos outros ocorrem na história da igreja e de todas as comunidades religiosas. O pecado não para morte é qualquer pecado que Deus não escolha punir desta forma. Esta opinião sobre o assunto foi tomada por John Wesley, num sermão entitulado Um Chamado aos Apostatados – Works, vol. 2, pág. 239.

Não creio que a passagem tenha qualquer coisa a ver com o que é chamado o pecado contra o Espírito Santo; muito menos com a doutrina papista do purgatório; nem com pecados cometidos antes e depois do batismo – os primeiros perdoáveis, os últimos imperdoáveis, segundo alguns dos pais da igreja. Qualquer uma das duas últimas opiniões fazem sentido; e a primeira não é improvável; o apóstolo pode aludir a alguma máxima ou costume na igreja judaica que não é distintamente conhecida agora. Contudo, isto sabemos, que qualquer penitente pode encontrar misericórdia através de Jesus Cristo, pois através dEle todo tipo de pecado pode ser perdoado ao homem, exceto o pecado contra o Espírito Santo, que provei que nenhum homem pode cometer agora. Ver o comentário sobre Mateus 12:31-32.” (Adam Clarke, A Commentary and Critical Notes, vol. 6, págs. 925-926).

Pensamentos:

“Só existe uma coisa pior que o pecado: a perda do senso do pecado” (Papa João Paulo II).

“A única coisa com a qual contribuo para a minha salvação é o pecado do qual preciso ser redimido” (Vincent).

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Deus Envia Espíritos Malignos e Mentirosos? – 1Samuel 18:10 e 1Reis 22:19-22



1Samuel 18:10 – “E aconteceu no outro dia, que o mau espírito da parte de Deus se apoderou de Saul, e profetizava no meio da casa”.

1Reis 22:19-22 – “Vi ao SENHOR assentado sobre o Seu trono, e todo o exército do céu estava junto a Ele, à Sua mão direita e à Sua esquerda. E disse o SENHOR: Quem induzirá Acabe, para que suba, e caia em Ramote de Gileade? E um dizia desta maneira e outro de outra. Então saiu um espírito, e se apresentou diante do SENHOR, e disse: Eu o induzirei. E o SENHOR lhe disse: Com quê? E disse ele: Eu sairei, e serei um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas. E ele disse: Tu o induzirás, e ainda prevalecerás; sai e faze assim”.
Inegavelmente nos encontramos diante de declarações que causam dificuldades aos leitores.

Para boa compreensão destas passagens é necessário ter em mente os seguintes fatos:

1º) Tanto anjos bons quanto maus estão sujeitos ao poder de Deus. O próprio poder de que Satanás dispõe lhe é permitido por Deus.

2º) Veracidade destaca-se como atributo divino (Números 23:19), enquanto Satanás é o originador da mentira (João 8:44).

3º) É difícil, por vezes, transmitir em português o que os escritores bíblicos expressaram em hebraico e grego, por serem línguas com peculiaridades distintas.

Partindo do princípio que a divindade não está imbuída de nenhum espírito maléfico, a lógica determina que nenhum ente espiritual malfazejo integra a Essência Divina, logo nenhuma personalidade angelical maligna pode emanar de “Eli him”, precisamente o termo hebraico ocorrente em 1Samuel 18.10.

O que se deve ter muito em conta nesta investigação teológica é que a expressão(em português) “da parte de” não aparece no original hebraico. O famoso interlinear de Green traz, cautelosamente, a preposição inglesa “from” entre parênteses, querendo com isso denotar que não pertence ao Texto Massorético.

A melhor explicação para 1Samuel 18:10 é a que fornece o teólogo A. Neves de Mesquita, em sua obra Estudos nos Livros de Samuel, quando comenta 16:14-23. Eis o que diz:

“Deus mandara tanto nos espíritos bons como nos maus. Nada escapa ao governo divino, e os demônios são usados para perseguir os que estão desviados. O mundo invisível é muito misterioso para nós que só entendemos as coisas de acordo com a vista. Pode-se entender pelo texto que Deus tanto mandou um espírito mau para Saul, como o permitiu. Tanto vale uma coisa como outra. Em Jó, capítulo 1, verso 7, Deus dialoga com Satanás a respeito das atividades deste na Terra. Parece estranho, mas não é. Deus tem sob Seu domínio anjos e demônios, como tem os homens, e usa-os no Seu governo providencial, do modo que quer”.

Há uma particularidade no sistema verbal hebraico que deve ser lembrada. O chamado “hifel” é causativo, mas também é permissivo. É tarefa árdua distinguir nos escritores do Antigo Testamento o que é executado por Deus e por Ele permitido. Esta informação lança luz sobre o endurecimento do coração de Faraó.

O espírito maligno da parte de Deus significa permitido por Deus.

O Comentário Bíblico Adventista, referente Ezequiel 20:25, afirma: “Na linguagem bíblica, muitos atos são atribuídos a Deus, não com a ideia de que Deus os executa, mas de que em Sua onipotência e onisciência, não os impede”.

A expressão “o Senhor pôs o espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas”, de 1Reis 22:23, é uma adaptação antropomórfica, que traz indestrinçável incógnita. O tal espírito pertencia às hostes do bem ou do mal?

Na exegese precedente (1Samuel 18:10), “um espírito mau” pode ser entendido: um anjo bom autorizado ou ordenado à prática de um ato mau. O anjo que sai para ferir mortalmente os primogênitos dos egípcios pertencia às potestades benéficas, comissionado a ceifar vidas humanas, para o cumprimento da justiça de Deus, foi em certo sentido um “anjo mau” da parte de Deus.

É útil o comentário de Adam Clarke (*) sobre 1Reis 22:23:

“Ele permitiu ou tolerou que um espírito mentiroso influenciasse teus profetas. É indispensável novamente lembrar ao leitor que as Escrituras reiteradamente representam a Deus como o autor daquilo que Ele, no desenrolar de Sua providência, apenas permite ou tolera que ocorra. Nada pode ser feito no Céu, na Terra ou no inferno, que não seja por Sua atividade imediata ou por sua permissão”.

Síntese: Muitas vezes anjos bons são solicitados a fazer o mal para a obtenção do bem. Similarmente anjos maus operam o bem para a aquisição do mal, em inumeráveis circunstâncias.

(*) Adam Clarke, teólogo metodista, 1760-1832.

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

domingo, 6 de março de 2016

A Bíblia Manda Odiar o Pai e a Mãe em Nome de Jesus? – Lucas 14:26





“Se alguém vem a Mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo”. Assim foi traduzido este verso na Almeida Revista e Atualizada no Brasil, mas com a seguinte nota ao pé da página: “Aborrecer – isto é, amar menos. Mateus 10:37”.
O verbo aborrecer parece ser uma amenização do texto original, onde se encontra o verbo miseo, que significa odiar.
A Bíblia de Jerusalém verte o texto da seguinte maneira: “Se alguém vem a Mim e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser Meu discípulo” – explicando que esta construção é um hebraísmo, onde Jesus não exige ódio, mas desapego completo e imediato.
O Novo Testamento Vivo transmite com muito mais propriedade o sentido exato da declaração de Cristo: “Todo aquele que quer ser Meu seguidor deve amar-Me bem mais do que ao seu pai, mãe, esposa, filhos, irmãos ou irmãs; sim, mais do que a própria vida; caso contrário, não pode ser Meu discípulo”.
A Bíblia na Linguagem de Hoje também o traduz sem deixar nenhuma margem para dúvida quanto ao que Cristo quis dizer.
Uma exegese correta nos mostrará que não há necessidade para preocupações, pensando que Cristo exige ódio aos familiares para poder tornar-se Seu discípulo.
O procedimento de Cristo no lar e Seu ensino nos é muito útil para elucidar o que Ele queria dizer.
Se Lucas declarasse ódio aos parentes como condição essencial para tornar-se cristão, como entendemos em nossa linguagem ocidental, estaria em contradição consigo  mesmo ao declarar que até aos trinta anos Jesus era submisso aos Seus pais (Lucas 2:51).
Lucas 18:20 relata a impressionante cena do moço rico, que afirma ter guardado os mandamentos de Deus, e, ao citar cinco deles, conclui com o “honrar pai e mãe”. Jesus não condena este procedimento de respeito e obediência aos pais.
Uma explicação literal de Lucas 14:26 colocaria Cristo em conflito com o que Ele apresenta na Parábola do Filho Pródigo, considerada a pérola das parábolas. Seria uma narrativa conflitante a terna e comovente história do afeto paterno para com o filho extraviado em relação com Lucas 14:26.
De Seus ensinos, a declaração mais enfática se contra em Marcos 7:10 – “Pois Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe, e quem maldisser a seu pai ou a sua mãe, seja punido de morte”.
Este verso é uma introdução para condenar o falso sentimento de religiosidade expresso com o objetivo final de prejudicar os próprios genitores. Havia judeus tão apegados aos bens materiais que engendraram um plano para não ajudar os pais necessitados. O plano era oferecer a Deus os próprios bens. Cristo condena tal atitude fingida, porque ela se opõe ao mandamento divino que ordena honrar aos pais. Cristo aqui apresenta um caso de prioridades, isto é, a ajuda e a honra aos pais têm precedência sobre a oferta material a Deus.
Com a declaração de que os discípulos de Cristo devem “odiar os familiares”, Ele está apresentando uma subordinação de valores, isto é, os afetos mais íntimos não devem embaraçar a nossa ligação total a Deus.
Os comentaristas em geral mandam ver Mateus 10:37, que expressa com objetividade a verdadeira significação desta passagem: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim”.
Lucas 14:26 será compreendido quando sabemos que existe aqui um idiomatismo hebraico, semelhante aos encontrados em Gênesis 29:30-31 e Deuteronômio 21:15-17, onde aparece a palavra odiar significando amar menos.
Ângelo Pena, no livro Cem Problemas Bíblicos, pág. 326, concluiu a explicação desta passagem da seguinte maneira: “Mas por que usa Lucas o termo ‘odiar’? Pelo simples motivo que, no estilo oriental, amante da ênfase, prefere-se assinalar uma oposição aparentemente radical (ódio-amor), mesmo quando se quer manifestar uma subordinação precisa ou um grau diverso de sentimento afetivo. Os casos desse contraste, justamente com os dois verbos famosos, são muito numerosos no Novo Testamento e, mais ainda, no Antigo. Conhecemos essa tendência do estilo oriental; muitas vezes, porém, nos esquecemos. Para evitar explicações ilógicas basta ter presente o princípio e examinar os ditos de Jesus não separados, mas no conjunto e confrontando-os entre si. Então se vê logo que não existe o problema de conciliar o quarto mandamento com a máxima de odiar os parentes. As duas normas supõem uma perspectiva diversa. No fundo, Jesus com aquelas palavras quis simplesmente aplicar o princípio do maior preceito: amor a Deus e ao próximo. Este último, mesmo se referindo às pessoas mais caras, deve ser subordinado ao primeiro”.
A explicação apresentada para esta passagem pelo Comentário Bíblico Adventista, vol. 5, pág.894, não deve ser desprezada: “A Escritura torna claro que o verbo odiar não está empregado no sentido usual da palavra. Na Bíblia, ‘odiar’ frequentemente deve ser compreendido simplesmente como uma típica hipérbole oriental, significando ‘amar menos’ (veja Deuteronômio 21:15-17). Este fato é salientado claramente na passagem paralela, onde Jesus diz: ‘Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a Mim não é digno à mim’ (Mateus 10:37). Esta impressionante hipérbole é aparentemente usada para impressionar o seguidor de Cristo de que sempre na vida precisa escolher em primeiro lugar o Reino dos Céus”.
Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

sábado, 5 de março de 2016

Pr. Rodrigo Silva - Sentido da Vida - Espaço Novo Tempo Fortaleza

quinta-feira, 3 de março de 2016

“Fomos planejados”, diz cientista

 

Foi por meio de um livro publicado pela Casa Publicadora Brasileira que Everton Fernando Alves teve seu primeiro contato com a Teoria do Design Inteligente (TDI). “Fiquei impressionado e interessado pelo tema ao ponto de ir pesquisar na internet se as evidências apresentadas faziam sentido ou não”, conta Alves, que é mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), com ênfase em imunogenética. Depois de ler Por Que Creio, de autoria do jornalista Michelson Borges, ele concluiu: “As evidências de design na natureza não só fazem sentido, como também consistem na melhor explicação para a complexidade percebida com meus próprios olhos nas estruturas biológicas.” “Para mim, o design inteligente foi uma porta de entrada ao criacionismo que, a meu ver, é muito mais amplo”, acrescenta. Desde então, o jovem pesquisador, de 31 anos, tem dado grande contribuição no país para a disseminação dessa teoria que ganhou status científico há pouco mais de duas décadas. Além de ser autor de dezenas de artigos publicados na área das ciências da saúde e ter escrito o e-book Teoria do Design Inteligente: Evidências científicas no campo das Ciências Biológicas e da Saúde (lançado em 2015), Everton Alves foi convidado recentemente pelo editor de uma importante publicação científica para apresentar e defender a TDI.



Segundo ele, o trabalho publicado na revista Clinical and Biomedical Research consiste na primeira divulgação científica brasileira sobre design inteligente numa revista revisada por pares no campo da biomedicina (para ler a publicação na íntegra, clique aqui). “Minha contribuição ao periódico é apenas o primeiro de muitos trabalhos de divulgação científicos que estão sendo elaborados e serão publicados também no Brasil pela Sociedade Brasileira do Design Inteligente, a partir de 2016”, ele enfatiza.



Nesta entrevista, concedida à Revista Adventista, Everton, que é membro da Igreja Adventista Central de Maringá e atua como diretor de ensino do Núcleo Maringaense da Sociedade Criacionista Brasileira (NUMAR-SCB), comenta sobre a abertura no meio científico para a divulgação de cosmovisões contrárias ao evolucionismo e explica em quais aspectos a Teoria do Design Inteligente e o criacionismo bíblico concordam ou não.

quarta-feira, 2 de março de 2016

A que Sábado se refere Paulo em Colossenses 2:16?





Resultado de imagem para sabado de colossenses

Para melhor compreender este verso é preciso estudá-lo bem no seu contexto, especialmente Colossenses 2:14-17:

“Tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz. Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo”.

Nosso estudo tem como finalidade primordial provar que a palavra “sábados”, de Colossenses 2:16, se refere aos sábados cerimoniais; logo, é distinta do vocábulo sábado – o sétimo dia da semana. O termo sábado é usado 59 vezes em o Novo Testamento para o sétimo dia da semana e uma vez, no plural, nesta passagem, com referência a festas cerimoniais.

Os que se opõem à lei de Deus se apegam a algumas passagens, que no seu entender “refutam o conceito sabatista”. Dentre estas passagens, uma das mais citadas é Colossenses 2:16.

Russell Norman Champlin apresenta extenso comentário para este verso visando provar que o vocábulo “sábados” se refere ao sábado do quarto mandamento. Segue-se uma pequena parte:

“… ou sábados … O plural com frequência representa o singular, talvez por analogia com ‘dias de festa’ (plural). Alguns eruditos pensam que o sábado normal está particularmente em foco, neste ponto ou pelo menos, que o mesmo não é excluído… Mas parece certo que está mesmo em foco o sétimo dia da semana (e que o plural é usado em lugar do singular)” (O Novo Testamento Interpretado, vol. 5, pág. 124).

Valter R. Martin, no livro The Truth About Seventh-day Adventism, se valeu da mesma dialética e textos bíblicos usados pelas igrejas tradicionais para refutar algumas de nossas crenças, como a vigência da lei e do sábado na dispensação cristã. Como prova de que os cristãos não necessitam mais de guardar o sábado ele menciona Colossenses 2:13-17:

“Primeiro, nós que estávamos mortos, temos sido vivificados em Cristo, e foram-nos perdoados todos os nossos pecados e transgressões. Somos livres da condenação da lei em todos os seus aspectos, pois Cristo assumiu nossa condenação na cruz. Como já foi observado, não há duas leis, moral e cerimonial, mas apenas uma lei contendo muitos mandamentos, todos perfeitamente cumpridos na vida e morte do Senhor Jesus Cristo”.

Na página 162 ele afirma: “De todas as declarações do Novo Testamento, estes versos são os que mais fortemente refutam a reivindicação sabatista para observar o sábado judeu”. Declara ainda que “o sábado como lei se cumpriu na cruz e não é mais obrigatório para os cristãos”.

Crê ele que estamos desobrigados de guardar a lei porque ela é contra nós e foi pregada na cruz. Afirma que suas declarações são irrefutáveis porque se baseiam em leis da gramática e no contexto.

Cremos nós que suas afirmações são facilmente contestadas.

1º) Não há diferença entre lei moral e cerimonial.

Inúmeros comentaristas protestantes fazem esta distinção. Mateus Henry, presbiteriano, em seu Comentário das Escrituras, declarou:

“Sob o Evangelho ficamos libertos do jugo da lei cerimonial e da maldição da Lei moral…”.

“A lei moral não foi senão para a localização da ferida, e a lei cerimonial serviu como sombra precursora do remédio; Cristo, porém, é o fim de ambas”.

A Confissão de Fé de Westminster, A Segunda Confissão Helvética, e outros credos protestantes, assinalam as diferenças entre estas duas leis.

2º) A lei foi cumprida pela vida e morte de Cristo.

Sim Cristo cumpriu a lei, mas isto jamais quis dizer que a lei foi anulada, significa sim que o Senhor Jesus viveu inteiramente de conformidade com a lei. Se cumprir a lei significa suprimi-la, cumprir a justiça de Mateus 3:15, quer dizer extingui-la. Esta afirmação é simplesmente absurda.

3º) A lei é contra nós.

Como pode alguma coisa que é contra nós ser chamada pelo apóstolo Paulo de santa, justa e boa (Romanos 7:12)? Paulo jamais condenou a lei, mas, sim, o mau uso da lei (legalismo). Em seus escritos ele salientou bem esta verdade: A lei não tem função salvadora.

Em sua defesa de que o termo “sábados” de Colossenses 2:16 se refere ao sétimo dia da semana, Walter R. Martin cita Vine, Alford e Vincent como autoridades que defendem a conveniência de traduzir a palavra “sábados” pelo singular sábado. Acrescenta ele que “a erudição moderna e conservadora estabelece a tradução singular de sábado”.

Esta não é bem a realidade, desde que os eruditos não defendem que é preciso traduzi-la no singular, mas meramente afirmam que pode ser traduzida de uma ou de outra maneira.

Não podemos desconhecer o fato de que muitas formas plurais, tanto na Septuaginta como em o Novo Testamento, devem ser traduzidas pelo singular, como nos confirmam as seguintes passagens: Êxodo 16:23 e 25; 20:8; Deuteronômio 5:12; Mateus 12:1; 28:1; Lucas 4:16.

Várias explicações têm sido apresentadas para esta peculiaridade da língua grega, porém, a que mais nos satisfaz é a do eminente estudioso A. F. Robertson, em A Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research, págs. 95, 105. Sugere ele que as duas formas, sábbaton e sábbata, conquanto aparentemente sejam o singular e o plural da mesma palavra, em realidade são o singular de palavras diferentes. Defende ele que o termo hebraico shabbath, “sábado”, é a fonte lógica do termo comum grego sábbaton. Nos tempos pós-exílicos, porém, o aramaico era generalizadamente usado na Palestina, e seu termo para “sábado” é shabbethá, palavra que bem poderia haver sido introduzida no grego como sábbata. Assim sábbaton foi sempre um termo singular, ao passo que sábbata poderia ser singular ou plural, dependendo se era usada como derivada do aramaico ou como o plural de sábbaton.

Diante desta exposição é evidente que o nosso argumento do uso do plural em Colossenses 2:16 para os sábados cerimoniais não apresenta muita estabilidade, em face de que o original sábbaton, ali usado, pode tanto ser singular como plural.

O argumento mais válido para comprovar a natureza cerimonial desses “sábados” se encontra em seu contexto.

O “sábado” a que o apóstolo Paulo se refere está relacionado com comidas, bebidas, festas judaicas e lua nova. Eram observâncias dos judeus que Paulo classifica como sombras das coisas futuras. A frase “sombra das coisas futuras” ou “que haviam de vir”, como aparece em outras traduções, é a chave que nos abre o entendimento para a compreensão do verso 16.

O Comentário Bíblico Adventista acrescenta: “Todos os itens alistados neste verso são sombras ou tipos representativos da realidade que é Cristo”.

Sobre esta passagem, Albert Barnes, comentador presbiteriano, bem observou:

“Não existe nenhuma evidência nesta passagem que ele (Paulo) pudesse ensinar de não haver nenhuma obrigação de observar algum tempo sagrado, porque não há a mais leve razão para crer que ele pretendesse ensinar que um dos dez mandamentos tivesse cessado a sua obrigatoriedade para o ser humano. Ele tinha seus olhos sobre o grande número de dias que eram observados pelos hebreus como festas, como parte de sua lei cerimonial e típica, e não a lei moral ou os dez mandamentos. Nenhuma parte da lei moral, nenhum dos 10 mandamentos poderia ser chamado como ‘uma sombra das coisas por vir’.Estes mandamentos são da natureza da lei moral, de aplicação perpétua e universal”.

Infelizmente existem pessoas bem intencionadas, mas pouco esclarecidas quanto às doutrinas bíblicas que desconhecem o fato de que as Escrituras mencionam o sábado da criação ou do decálogo e os sábados, feriados religiosos dos judeus, que caíam nos diferentes dias da semana como acontece com as nossas datas cívicas, natalícias etc.

Nesses dias festivos havia uma “santa convocação”, pois eram também dias de descanso, por isso a mesma palavra hebraica é usada para o sábado e para os dias de festa.

João 19:31 é assim traduzido em A Bíblia na Linguagem de Hoje:

“Então os líderes judeus pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas dos que tinham sido crucificados e mandasse tirá-los das cruzes. Pediram isso porque era sexta-feira e não  queriam que, no sábado, os corpos ainda estivessem nas cruzes. E aquele sábado era especialmente santo”.

A razão para esta santidade especial é simplesmente esta. Nele também se comemorava a páscoa, outro dia feriado, dia de descanso, isto é, outro sábado cerimonial.

Nos capítulos 16 e 23 de Levítico, e 28 e 29 de Números, estão enumerados os chamados sábados cerimoniais, ou sejam: o Dia da Expiação, a Páscoa, a Festa dos Pães Asmos, a Festa da Colheita (ou Pentecostes), a Festa das Trombetas e a Festa dos Tabernáculos.

Arnaldo Christianini, em Subtilezas do Erro, pág. 110 escreveu:

“É irrecusável que a Bíblia chama de ‘sábados’ estes dias festivais que nada tinham a ver

com o descanso semanal, ou o sábado do decálogo. Estes sábados cerimoniais estavam no livro de Moisés, e não nas tábua dos dez mandamentos, que só mencionam o sábado do sétimo dia, comemorativo da Criação, ‘porque em seis dias fez o Senhor os céus, a Terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou'” (Êxodo 20:11).

“Os sábados festivais foram instituídos no Sinai, após a entrega da lei de Deus, ao passo que o sábado semanal o foi na Criação (Gênesis 2:2-3) e incorporado na lei moral, precedido de um imperativo ‘Lembra-te‘. Não pode haver confusão. Além disso, a própria Bíblia estabelece uma linha divisória entre eles, no verso 38, de modo a não deixar dúvidas: ‘Estas são as festas do Senhor independentemente dos sábados do Senhor.’ E também independentemente de ofertas, sacrifícios e outras exigências. Eram festas especiais e soleníssimas. Bem distintas. Convenhamos que os sábados do Senhor, os do sétimo dia, já existiam quando foram instituídos os sábados festivais. ‘Exceptio sabbatis Domino…’ – diz a versão de Jerônimo”.

Sobre Colossenses 2:16 e 17, eis o que diz o mesmo autor:

“a) Estes “sábados” aí estão associados a dias de festa e Lua nova, que eram solenes festividades nacionais judaicas, ou feriados fixos. Ora, o sábado do decálogo não tem esta natureza. Não era festivo nem típico;

“b) Estes “sábados” estão incluídos entre instituições que eram ‘sombras das coisas futuras’ – prefigurações de fatos que ainda estavam por vir. O sábado do decálogo é comemorativo de um fato passado: a Criação. Não era sombras de coisas futuras. Sem dúvida, o texto se refere aos sábados cerimoniais” (pág. 112 do livro já citado).

Os comentários acima são respaldados pelas opiniões de eruditos tais como Jamieson, Fausset, Brown, Adam Clarke e Albert Barnes, entre outros, todos da comunidade evangélica.

“Em Oseias 2:11 está profetizado o fim da observância de todos os tipos de sábados por parte do povo judeu. Mas isto em função do castigo divino que tornaria a terra de Israel uma desolação, com a destruição do templo e seus serviços religiosos. Basta ler o contexto da passagem, ou mesmo to do o livro de Oséias, para percebê-lo” (O Atalaia, dezembro de 1977, pág. 22).

A citação de Colossenses 2:14-17 como prova de anulação do quarto mandamento do decálogo é um dos maiores disparates no campo da exegese bíblica.

Walter R. Martin acusa os adventistas de não fazerem exegese (explicação correta), mas eisegesis (extrair um sentido não explícito). Além disso ainda nos acusa de ignorarmos a gramática e o contexto. São incríveis suas afirmações quando se constata que não há nada no contexto para provar que a expressão “sábados” se refira ao sétimo dia da semana.

Temos uma destas provas na tradução de Colossenses 2:17 em O Novo Testamento Vivo:

“Estes eram preceitos apenas temporários, que terminaram quando Cristo veio. Eram apenas sombras da realidade do próprio Cristo”.

Paulo torna claro este fato: os ensinos bíblicos visando orientar os homens para a vinda de Cristo perderam toda a significação após a Sua vinda.

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

▲ TOPO DA PÁGINA