quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O ritual do templo judaico é modelo para o culto cristão?


Nas publicações que tratam sobre culto e adoração, é comum o uso de episódios bíblicos do Antigo Testamento como normativos para o culto cristão. O problema fundamental aqui é saber como identificar nesses episódios os elementos prescritivos e os meramente descritivos. Em algumas publicações há a sugestão, implícita ou explícita, de que esses episódios contêm exemplos e orientações que devem ser seguidos à risca.[1]

Com frequência, é destacado o fato de que determinadas atividades ou instrumentos musicais aparecem na Bíblia em cenas de adoração “fora do templo”.  Assim, por associação, os cristãos não deveriam usar tais coisas “dentro da igreja” hoje, pois a igreja é o templo cristão. Há uma importante questão hermenêutica envolvida aqui: a analogia do templo judaico com os locais de culto cristão da atualidade.
A comparação pode ser resumida nas palavras de Bacchiocchi: “A música na igreja deveria diferir da música secular, porque a igreja, como o antigo Templo, é a Casa de Deus na qual nos reunimos para adorar ao Senhor e não para sermos entretidos.”[2]
Mas, será que o lugar onde ocorre o culto cristão é comparável ao templo judaico? Se sim, em que sentido?


Os cristãos e o templo de Jerusalém

O templo era, principalmente, lugar de sacrifícios e orações. As “reuniões” no templo eram diárias, mas por questões geográficas, era exigido do adorador o comparecimento em apenas três eventos por ano em Jerusalém (Dt 16:16).[3]

Quando estava em Jerusalém, Jesus frequentemente ia ao templo (Jo 2:13-17; 5:14; 7:14; 8:2; 10:23; 18:20). Após a ascensão de Cristo, os primeiros cristãos continuaram indo ao templo tanto para pregar (At 3:11-26; 5:20-25, 42) quanto para participar do cerimonial (At 15:1-5; 21:20; Gl 2:3-5; 5:1-5).

Os primeiros cristãos provavelmente não tinham uma compreensão clara dos significados da morte de Jesus e suas implicações sobre o culto. Alguns deles ainda ofereciam sacrifícios e celebravam festas judaicas (At 3:1; 20:16; 21:17-26; Hb 5:11-14).

Porém, mesmo permanecendo ligados à Jerusalém e ao templo (At 2:46; 3:1; 5:12, 20-21, 25, 42), os primeiros cristãos não tentaram transferir o cerimonial litúrgico do templo às reuniões cristãs (que aconteciam nas casas e também nas sinagogas). As primeiras décadas do cristianismo foram um período de transição e crescimento na compreensão da vida e morte de Jesus, e isso era refletido no culto cristão.


Os cristãos e as sinagogas

Após a destruição do templo (em 70 d. C.), e com uma melhor compreensão do significado do Evento Cristo, os cristãos continuaram se reunindo nas casas e nas sinagogas. As reuniões exclusivamente cristãs eram feitas nas casas, e o principal evento era a Santa Ceia.
Com o tempo, os cristãos deixaram de se reunir nas sinagogas com os judeus e passaram a fazer reuniões apenas nas “igrejas do lar”, nas casas. Para alguns autores, o modelo paradigmático dessas reuniões cristãs foram as sinagogas, e não o templo.

Os primeiros cristãos não se viam como uma nova religião fora do judaísmo. Eram considerados como uma das seitas do judaísmo, frequentavam as sinagogas, e, como o judaísmo era a única religião lícita no Império Romano da época (além da própria religião imperial), “se não fosse por sua identificação com o judaísmo (cf. At 18:12-16), o cristianismo teria pouca ou nenhuma chance de sobreviver no mundo grego-romano.”[4]

Alguns autores sugerem que as reuniões cristãs nas sinagogas teriam sido apenas circunstanciais, à medida em que os primeiros cristãos ainda se consideravam parte do judaísmo. Além disso, mesmo em suas reuniões nos lares, os primeiros cristãos teriam desenvolvido uma liturgia própria,  seguindo o estilo de culto das sinagogas.[5]

Outros autores duvidam que a sinagoga tenha sido modelo para o culto cristão do primeiro século.[6] Afirmam que o culto cristão era uma novidade cultural,[7] apenas incluindo alguns elementos da sinagoga, e não uma cópia de seu formato. De fato, posteriormente o formato do culto cristão passou a absorver mais elementos das reuniões das sinagogas, mas a ideia de que elas foram o grande paradigma para o culto cristão teria surgido tardiamente, por volta do século XVII.[8]  

Além disso, não há uma evidência bíblica forte de que as sinagogas, e sua liturgia, tenham surgido por ordem divina. Nem há qualquer recomendação bíblica para que os cristãos continuassem com o formato de culto das sinagogas, e nem mesmo há sequer uma justificativa bíblica para a existência das sinagogas.[9]

De qualquer forma, mesmo se o uso da sinagoga como modelo para o culto cristão primitivo tivesse sido divinamente orientado, esse fato por si só não deveria significar que os cristãos atuais estivessem obrigados a seguir rigidamente a liturgia e o estilo de culto das sinagogas do primeiro século. Provavelmente, esse foi um fenômeno cultural e sociologicamente condicionado.

Os primeiros templos cristãos surgiram com a institucionalização do cristianismo no Império Romano na Era Constantino, no século IV.[10] Até então, o cristianismo era uma religião sem templos construídos para o seu culto. O NT sugere que eles se reuniam em sinagogas e casas, e deixa claro que os próprios cristãos são “a igreja”, e não a arquitetura de um prédio (1 Co 3:16; Gl 6:10; Ef 2:20-22; Hb 3:5; 1 Tm 3:15; 1 Pe 2:5; 4:17).[11]


Por que o ritual templo não deve ser comparado ao culto cristão

Após essa breve contextualização, alguns dados devem ser considerados quando o templo é usado como modelo para o culto cristão e sua música. Aqui estão alguns deles:

1) No Novo Testamento, o templo não era o lugar de louvor musical da igreja cristã. Apesar de ainda irem ao templo, os primeiros cristãos se reuniam, principalmente, nas sinagogas e nas casas, e a música das sinagogas era diferente da música do templo. De acordo com Frank Senn:

“os cristãos dos primeiros séculos evitaram a publicidade dos cultos pagãos. Eles não tinham quaisquer santuários, templos, estátuas, ou sacrifícios. Eles não organizavam nenhum festival público, danças, performances musicais, nem peregrinações. O ritual central deles envolvia uma refeição de caráter doméstico e uma composição herdada do judaísmo.”[12]

2) O templo perdeu a importância como lugar de culto, como indica a resposta que Jesus deu à mulher samaritana: “Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai” (Jo 4:21). De fato, há no evangelho de João uma consistente indicação de substituição do templo pelo próprio Cristo. Jesus é o novo templo.[13]

3) Não havia pregações, nem apelos evangelísticos dentro do templo. A liturgia do templo não privilegiava algo como a pregação, e nosso culto hoje é centralizado na pregação. [14] Além disso, mesmo em reuniões fora do templo, as pregações ocorriam num estilo bem diferente do que é praticado hoje nas igrejas cristãs, especialmente as evangélicas.[15] O que chamamos hoje de “sermão” não é exatamente o que acontecia no AT e na sinagoga. Tanto na sinagoga quanto nas reuniões dos primeiros cristãos, longe de ser apenas um discurso diante de um auditório passivo, eram comuns a participação ativa e interrupções por parte da audiência.[16]

4) Não havia ensino da Escritura dentro do templo, como temos hoje nas escolas bíblicas (escola sabatina, escola dominical). As sinagogas eram usadas para o ensino da Bíblia. Algumas dependências externas do templo também foram usadas para tal fim, mas nunca o interior do templo.

5) O ritual do templo prescrito por Deus foi liderado e conduzido apenas por homens, hebreus da tribo de Levi, jamais por mulheres.[17] Arão e seus filhos representavam primariamente o sacerdócio de Jesus e não o ministério pastoral evangélico. A tendência de elevar o pastor a uma classe clerical enquanto o crente considerado leigo apenas vê o “sacerdócio” do lado de fora não encontra respaldo na Bíblia. O pastor evangélico não é um sacerdote como a palavra era entendida no AT, mas um sacerdote como qualquer outro cristão e um servo seguindo uma vocação, de acordo com seu dom. O sacerdócio é privilégio e dever de todo cristão (1 Pe 2:5, 9; Ap 1:6). Ao buscar no templo um modelo para o culto cristão, forma-se uma liturgia que nega o sacerdócio de todos os crentes.

6) O uso de instrumentos musicais no templo também foi reservado para homens hebreus da tribo de Levi. Ao contrário, na igreja cristã, o “sacerdócio de todos os crentes” lançou a responsabilidade de conduzir a adoração nas mãos de gentios, mulheres e leigos.

7) Não havia grupos e corais infantis dentro do templo. Se a associação for seguida estritamente, crianças não poderiam cantar nas igrejas hoje.

8) Não havia celebrações sociais como cultos de aniversário, casamento e bodas dentro do templo.

9) A adoração no templo era clerical, terceirizada na maior parte do tempo. A congregação não participava todo tempo dos cânticos, pois esse era um privilégio quase exclusivo dos músicos profissionais. 

10) Apenas homens sacerdotes tocavam trombetas no ritual do templo.

11) Não havia música vocal com harmonias a 4 vozes no templo (2 Cr 5:13 diz que eles cantavam em uma só voz, o que pode significar tanto que “cantavam junto” quanto em “uníssono”, como traduziu a NVI).

12) Durante o serviço do Templo, instrumentos musicais eram apenas tocados durante os sacrifícios. O uso levítico de instrumentos musicais era um aspecto do culto cerimonial.[18] Por isso, nas sinagogas (“fora do templo”) os judeus não usavam os instrumentos prescritos, pois os consideravam parte do ritual do templo. 

13) A igreja dos apóstolos usou mais o modelo de culto da sinagoga que o do templo. Não era no templo que os cristãos se reuniam todos os sábados, mas nas sinagogas (At 15:21; 22:19; 24:12; 26:11; Tg 2:2; Hb 10:25). Como já foi dito, a frequência mínima ao templo requerida ao adorador era de três vezes ao ano, uma frequência que nenhuma igreja cristã hoje gostaria de imitar.

14) Não havia visitantes, estrangeiros, no templo. A regra era: “o estranho que se aproximar morrerá” (Nm 3:10 ). Um culto tão restrito não tem paralelos literais com o culto cristão. Levar um visitante para o templo era profanar o lugar (At 21:28-29). No entanto, Trófimo seria bem-vindo num culto cristão. Todos nós somos propriedade exclusiva de Deus (1Pe 2: 5, 9).


Conclusão

Outros pontos poderiam ser destacados, mas o que foi apresentado já é suficiente para perceber-se o templo não pode ser usado como paradigma do culto cristão. Não há dúvida de que o Antigo Testamento contém elementos prescritivos para a adoração cristã. A dúvida está em como identificar as prescrições válidas para o culto cristão, pois a razão da existência de boa parte da liturgia do templo não existe mais. Assim, os cristãos deveriam enfatizar os princípios de adoração do Antigo Testamento, pois esses extrapolam os limites de tempo, cultura e lugar. [19]

Não é necessário tentar encaixar cada detalhe do que é praticado no culto cristão hoje nos detalhes ritualísticos do templo. Nos cultos cristãos de hoje são praticadas muitas coisas que não estão previstas e nem sequer citadas na Bíblia, e nem por isso são consideradas erradas.

Ao buscar estreitos paralelos entre o culto no templo e o culto cristão, o intérprete da Bíblia corre o risco de desconsiderar os claros significados tipológicos do ritual do santuário. Os rituais e a liturgia do templo eram sombras passageiras, que apontavam para realidades que se cumpririam em Jesus.

Essa argumentação revela um problema hermenêutico mais amplo: o uso da Bíblia de maneira equivocada para justificar práticas eclesiásticas. Longe de ser uma busca pelo “embasamento bíblico” para o que é feito hoje, isso é uma tentativa de levar a tradição atual para dentro da Bíblia e procurar respaldo.[20] No entanto, esse respaldo, como foi visto, nem sempre é obtido através de uma interpretação adequada do texto bíblico.

Por isso, é preciso muito cuidado ao tentar identificar no templo elementos prescritivos para o culto cristão. O mais seguro é identificar princípios que sejam aplicáveis em qualquer tempo e lugar.

Por Isaaac Meira, extraído do site Adoração Adventista

[1] Como, por exemplo, Ozeas C. Moura, “Instrumentos de percussão na música sacra”, em Revista Adventista, Dezembro de 2009, pp. 14-16; Samuele Bacchiocchi, Música, teologia do louvor e adoração a Deus (RJ: Material editado pela União Este Brasileira da Igreja Adventista do Sétimo Dia, 2001.), p. 22; Vanderlei Dorneles, Cristãos em busca do êxtase (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2008),p. 193-194.
[2] Samuele Bacchiocchi, O cristão e a música rock (Berrien Springs, MI: Biblical Perspectives, 2000), p. 209.
[3] Ellen G. White, O desejado de todas as nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990), p. 313.
[4] Wilson Paroschi, “Os pequenos grupos e a hermenêutica: evidências bíblicas e históricas em perspectiva”, em Teologia e metodologia da missão: palestras teológicas apresentadas no VIII simpósio bíblico-teológico sul-americano, ed. Elias Brasil de Souza (Cachoeira, BA: CePLiB, 2011), 353.]
[5] Lilianne Doukhan, In tune with God (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2010), p. 288.
[6] Como, por exemplo, Robert Banks, Paul’s Idea of Community (Peabody: Hendrickson, 1994), pp. 106-108, 112-117; e David C. Norrington, To Preach or Not to Preach? (Carlisle: Paternoster, 1996), p. 48.
[7] Frank Viola e George Barna, Pagan Christianity?: exploring the roots of our church practices (Carol Stream, Illinois: Tyndale House Publishers, 2008),  p. 15.
[8] Paul F. Bradshaw, The Search for the Origins of Christian Worship (New York: Oxford University Press, 1992), pp. 13-15, 27-29, 159-160, 186.
[9] Alfred Edersheim, The Life and Times of Jesus the Messiah (Mclean: Macdonald Publishing Company), p. 431.
[10] Graydon F. Snyder, Ante Pacem: Archaeological Evidence of Church Life Before Constantine (Mercer University Press/Seedsowers, 1985), p. 67.
[11] O uso da palavra ekklesia (igreja) para referir-se a um lugar de reunião cristã ocorre no ano 190 d.C. por Clemente de Alexandria (150-215 d. C.). Clement of Alexandria, The Instructor, Book III (Whitefish, MT: Kessinger Publishing, 2010), pp 27-41. Mesmo assim, esse lugar não era um templo cristão, mas um lugar privado que os crentes do século II usavam para suas reuniões.
[12] Frank Senn, Christian Liturgy: Catholic and Evangelical (Minneapolis: Fortress Press, 1997), p.53.
[13] Sobre a substituição do templo, ver Silas Tostes, “Jesus e o novo templo”, em Mission News: revista de missiologia online, Vol. 1, Ano 1 (Instituto Antropos, Abril de 2009), pp. 33-46. Disponível em http://missionews.com.br/v2/index.php?option=com_content&view=article&id=18:artigo-jesus-e-o-novo-templo&catid=2:numero-atual&Itemid=2 
[14] O tempo reservado para a pregação e a sua posição como ponto culminante da ordem litúrgica demonstram essa centralidade. De acordo com o Manual da Igreja, “as duas partes principais do culto de adoração são: a) A resposta congregacional em louvor e adoração, expressos em hinos, oração e ofertas. b) A mensagem da Palavra de Deus.” Sendo que a pregação é “uma das mais importantes partes da hora do culto”. Manual da Igreja, p. 181 e 182.
[15] A “homilética” evangélica atual difere do que encontramos no NT. A própria palavra grega homilew inclui o significado de “conversa” (como em Lc 24:14-15, At 24:26), um diálogo e não o monólogo.
[16] David C. Norrington, To Preach or Not to Preach? The Church’s Urgent Question (Carlisle: Paternoster Press, 1996), p. 3-4. A diferença básica entre as pregações do AT e da sinagoga é que os profetas do AT pregavam de maneira não regular, espontaneamente, sem um lugar fixo e conforme surgiam as oportunidades; e na sinagoga a pregação era uma ocorrência regular.
[17] Mulheres podiam ministrar “`a porta” do tabernáculo (Ex 38:8).
[18] Curiosamente, mesmo autores que fazem uma associação entre o ritual do templo e o culto cristão reconhecem que a música do templo tinha um caráter cerimonial. Bacchiocchi, por exemplo, em O cristão e a música rock, afirma que o ministério musical dos levitas era “parte da apresentação da oferta diária no templo” (p. 126), e que a música do templo “era um acessório ao ritual do sacrifício” (p. 129). Obviamente, tais características ritualísticas não se aplicam ao culto cristão e sua música.
[19] Textos do AT que prescrevem atitudes como reverência, santidade, temor, pureza do adorador, são aplicáveis ao culto cristão em qualquer tempo e lugar.
[20] Essa abordagem à Bíblia é conhecida como “texto-prova”, na qual o intérprete faz uma afirmação e então busca textos bíblicos que concordem com ela, ignorando contextos e omitindo textos que sejam contrários. A conclusão existe a priori, e a pesquisa bíblica, feita a posteriori, é apenas confirmatória.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Serpentes de bronze no culto cristão

Estou lendo “Igreja Simples – retornando ao processo de Deus para fazer discípulos” (Editora Palavra, Brasília, 2011). O livro é fruto de uma pesquisa que concluiu o seguinte: igrejas saudáveis são igrejas com um programa simples de discipulado. Ao contrário, igrejas “doentes” são congestionadas, complicadas, sobrecarregadas com inúmeros programas e eventos.
Os autores usam o exemplo de Ezequias para desafiar a igreja de hoje a fazer uma reforma de volta à simplicidade.


A Reforma de Ezequias
O rei Ezequias trouxe o povo de Deus de volta ao Senhor através de uma grande reforma. Ele removeu os “lugares altos”, os postes-ídolos, e jogou fora entulhos de deuses que competia pela atenção do povo (II Rs 18:4).

Até aí tudo bem. No entanto, Ezequias fez algo radical, que muitos líderes de igreja teriam dificuldade de fazer hoje. Ele destruiu a serpente de bronze de Moisés. Uma serpente moldada pelo grande líder histórico, feita por ordem do próprio Deus.

A princípio, a serpente tinha utilidade: ela representava a salvação para as pessoas mordidas pelas cobras venenosas (Nm 21: 6-8). Mas a praga das serpentes passou, aquela estátua foi guardada, e passou a ser idolatrada.

Como surgem as serpentes de bronze
O processo funciona assim: alguém bem intencionado introduz um elemento no culto ou na vida religiosa. A princípio, aquilo é útil, faz sentido e abençoa vidas. Mas as circunstâncias mudam e o que era útil se torna um estorvo sem sentido. Com o tempo, aquela “relíquia sagrada” passa a ter virtude em si mesma, e torna-se objeto de veneração. Pronto: aí está mais uma serpente de bronze intocável.

Ezequias se livrou da serpente porque se tornara um entulho; as pessoas passaram a adorá-la, desviando a atenção do Salvador real. O que era algo bom se tornara um ídolo. Em muitas igrejas, coisas originalmente criados para dar vida podem se tornar entulhos. Programas, rotinas e métodos se tornam um fim em si mesmos. Mantê-los passa a ser objetivo maior, ainda não haja mais utilidade ou sentido.

Para Ezequias, eliminar a serpente de bronze talvez não tenha sido uma decisão popular, especialmente em meio a religiosos fincados no tradicionalismo. Assim também, reformas profundas em meio ao povo de Deus são difíceis. Mas o ato de Ezequias agradou a Deus, pois não houve rei como ele nem antes nem depois (II Rs 18:5). As igrejas necessitam de Ezequias modernos que não temam eliminar o desnecessário, o que desvia o foco, o que se tornou uma barreira para a adoração a Deus.

Os bem-intencionados defensores de serpentes
Você consegue imaginar quantas reuniões de comissão seriam necessárias para acabar com a serpente de bronze hoje? Você consegue ouvir os argumentos dos mantenedores da serpente?

“Isso sempre esteve aí! Por que mudar agora?”
“Quem você pensa que é para retirar algo que Moisés colocou?”
“Isso faz parte de nossa história, de nossa ‘identidade’”
“Você é jovem, e não sabe o significado dessa serpente sagrada!”

Essas pessoas são movidas por nobres sentimentos e motivos aparentemente razoáveis. Mas quando confrontamos as “serpentes” com o objetivo principal da igreja, vemos claramente que elas se tornaram obstáculos.

Hoje, comissões se reúnem para discutir e votar o número de cadeiras na plataforma, a cor do terno dos diáconos e tantos outros temas menores! De acordo com o Manual da Igreja, as comissões administrativas da igreja devem ter como item primário a obra de “planejar e promover o evangelismo em todos os seus aspectos”. E tudo o que não contribui para o objetivo, desvia o foco.

Não faz muito tempo ouvi uma discussão antes de participar de uma Santa Ceia. O tema era: devemos manter aquele ritual de lavar as mãos dos oficiantes? Naquele dia, os pães já estavam todos partidos e ninguém tocaria neles. Mas os anciãos acharam melhor manter o ritual “faz-de-conta” de lavar as mãos dos oficiantes, porque “sempre foi assim”.

E mais recentemente, soube de uma comissão que se reuniu às pressas para discutir um tema importantíssimo: a retirada do púlpito durante um evangelismo na igreja! A equipe de evangelismo queria a plataforma sem púlpito e sem cadeiras, mas os líderes da igreja não concordaram com isso, e seguiu-se um longo e acalorado debate.

Perdemos muito tempo com as serpentes de bronze. Elas tomam nosso tempo, nossa energia e nossos recursos. Não somos curadores de museu, somos testemunhas do Deus vivo num mundo dinâmico. A igreja é um bote salva-vidas num mar revolto, um pronto-socorro em plena atividade, não um “CTG* adventista”. Reunimos-nos semanalmente por vários motivos nobres, mas esses motivos não incluem o “manter a serpente de bronze” sacralizando formas.

Criando novas serpentes
O problema não se refere apenas a coisas antigas. Somos tentados a criar novas serpentes a cada nova geração. A cultura moderna da “promoção de eventos” é um exemplo disso.

Existem eventos na igreja que são bem intencionados, mas completamente fora de foco. Todos se dedicam exaustivamente ao evento, e, ao final, o objetivo principal não é alcançado – percebe-se que aquilo contribuiu pouco ou quase nada para a missão da igreja.

Cria-se uma espécie de competição interna: “O Acampamento de Jovens desse ano foi ótimo, o do ano que vem tem que superar!” Então, a coisa se torna cada vez mais complicada, grandiosa, exibicionista... e ai de quem ousar tocar nessa nova serpente! Se no próximo evento não houver o mesmo formato pirotécnico e helicópteros sobrevoando, será um “fracasso”.

E, para sacralizar a nova serpente, lançamos mão do discurso espiritual: “foi uma bênção!” Ainda que não tenha sido bênção e não tenha contribuído em nada para o Reino de Deus.

Descongestionando o culto
Uma liturgia complexa, um culto complicado, são sintomas de fraqueza. "À medida que aumenta em pompa, a religião declina em eficácia" (Educação, 77).

Ellen White alerta que “a formalidade tem tomado o lugar do poder, e sua simplicidade se perdeu numa rotina de cerimônias.” (Evangelismo, 293) E ela revela um fenômeno que ocorre no culto: “As cerimônias tornam-se numerosas e extravagantes, quando se perdem os princípios vitais do reino de Deus.” (Evangelismo, 511)

A história do povo de Deus mostra que as cerimônias e rituais se multiplicam à medida que as pessoas se afastam do Senhor (ver Ellen White, O desejado de todas as nações, 29; O grande conflito, 55). Em suma, um culto complicado é mau sinal.

O Manual da Igreja Adventista diz: “Não prescrevemos uma fórmula ou ordem específica para o culto público. Em geral, uma ordem de culto breve ajusta-se melhor ao verdadeiro espírito de adoração. Devem-se evitar longos preliminares.” Além disso, o mesmo Manual traz duas formas sugestivas de culto, e não liturgias inflexíveis. Uma dessas formas é a breve.

Se você já experimentou sugerir adaptações e mudanças na liturgia, certamente já percebeu inúmeras serpentes, antigas, tradicionais, mas totalmente complicadas, inúteis e sem sentido. O culto torna-se sem sentido quando trai o seu papel de conduzir o povo a Deus e à vida. O culto torna-se sem sentido quando, para mantê-lo, oprimimos, sufocamos e dividimos os adoradores.

O culto se torna sem sentido quando, para combater o culto epicurista-hedonista, promovemos o culto estóico-sofrido, onde o conforto, a objetividade, a beleza artística e o prazer são considerados inimigos da espiritualidade. Então, como a opinião do adorador pouco importa, soterramos a adoração sob entulhos litúrgicos destituídos de significado. E quando o adorador reclama, colocamos a culpa na sua suposta falta de “espiritualidade” e repetimos infinitamente que o culto é “para Deus, não para você” (apesar do sermão e de boa parte das músicas e hinos serem direcionado às pessoas...).

Resumindo os princípios da simplicidade e da objetividade, Ellen White escreveu: “As formalidades e cerimônias não devem ocupar tempo e energias que devam por direito ser dedicados a assuntos mais essenciais.” (Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes, 270)

Não há virtude em acumular cerimônias e tornar o culto longo e sofrido. A espiritualidade do culto não é medida pelo grau de descontentamento e desconforto das pessoas. Precisamos promover uma reforma, retornando à simplicidade e à objetividade no culto, sem “serpentes de bronze”.

“Quando os professos cristãos alcançam a alta norma que é seu privilégio alcançar, a simplicidade de Cristo será mantida em todo o seu culto. As formas, cerimônias e realizações musicais não são a força da igreja.” (Evangelismo, 512)
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(*Os Centros de Tradição Gaúcha são sociedades que visam ao resgate e à preservação dos costumes tradicionais dos gaúchos. É uma bela iniciativa cultural tradicionalista, mas que não serve de modelo para o funcionamento de uma igreja cristã.)

Via Adoração Adventista

Dica de Filme - O Impossível


Sinopse:
A história de uma família em meio ao tsunami que assolou o litoral da Tailândia, em 2004. Maria (Naomi Watts), Henry (Ewan McGregor) e seus três filhos iniciam suas férias na Tailândiam em busca de alguns dias de sossego no paraíso tropical. Porém, na manhã de 26 de dezembro, enquanto a família relaxa na piscina depois das festividades de Natal, um terrível barulho surge do centro da terra. Maria, paralisada, vê à sua frente uma enorme parede de água suja que vem ao seu encontro.

Dica de Filme- Para Salvar Uma Vida

Filme Recomendado pelo Site Bíblia e a Ciência
Sinopse:
 Para Salvar Uma Vida é mais um dos grandes sucessos do gospel internacional a ser lançado no Brasil, pela BV Films. Esta produção fez e está fazendo um sucesso estrondoso nos Estados Unidos, tendo arrecadado aproximadamente 2 milhões e meio de dólares. E ao que tudo indica, o filme repetirá o mesmo sucesso junto aos jovens brasileiros, pois espera-se que os adolescentes em nosso país sejam tão impactados quanto os milhares de jovens nos EUA. O filme conta a história de um jovem popular em sua escola que muda sua vida e sacrifica seus sonhos para salvar a vida dos outros. O diretor do filme conta porque foi motivado a fazer esta produção de grande sucesso: “Estava pensando em porque não criamos filmes que possam realmente gerar uma mudança positiva na vida de jovens e adolescentes. Os filmes não devem apenas entreter, mas também impactar a vida de seus telespectadores”, conta Brian Baugh diretor de Para Salvar Uma Vida.

10 "ancestrais do homem" que já caíram


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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Qual a diferença entre o tipo de fé que devemos ter, e a fé que os demônios têm?


“Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem.” Tiago 2:19
           
            Os demônios não tem fé em Deus, eles apenas acreditam nEle, mesmo porque o conhecem. Fé não é apenas acreditar que algo vai acontecer, e como num passe de mágica ver isso se realizar. Fé é confiar mesmo que não se consiga enxergar uma luz no fim do túnel.
Não há dúvida de que os demônios acreditam na existência de Deus. Sua crença pode ser certa, mas continuam sendo demônios. Ninguém pode dizer que conhecer a verdade é ter fé suficiente. A fé que salva, transforma a vida.
Os demônios não têm fé, e a prova disso é que deixaram o céu por duvidarem do amor de Deus. Eles confiaram mais nas palavras de Lúcifer do que nas palavras do próprio Deus.
A fé genuína é fruto da comunhão com Deus, ou seja, é o resultado de um relacionamento íntimo com o Senhor. Essa fé leva o crente a confiar em Deus, aconteça o que acontecer. (Um grande exemplo de fé registrado na Bíblia é o Jó).
            Que o seu interesse pela verdade seja sempre crescente e que o amor de Jesus seja a grande motivação da sua vida.


Atenciosamente,Setor de Respostas Teológicas
             A Voz da Profecia e “Está Escrito”

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Paulo acreditava na imortalidade da alma? 10.09.2013


O velho testamento foi abolido?
Deus aceitaria alguém que vendeu a sua alma para conseguir riquezas?
Há alguma condenação a adoração à imagens de escultura?
Jesus quando esteve aqui na terra perdeu as atribuições divinas? Ele sabia que seria traído?
Daniel prostrou-se perante a estátua de Nabucodonosor?
Quando Jesus voltar à terra, Deus virá com Ele? O Céu ficará vazio?
Se Moisés escreveu o Pentateuco, como ele escreveu sobre a sua própria morte?
Há vida em outros mundos? Existe a possibilidade de eles virem à terra?

Arena do Futuro - A Bíblia Sagrada

Lei Dominical na Argentina a partir de Outubro de 2013

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O que é Cristianismo?

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Salmo 37 - Como podem os ímpios prosperar?


Como pode um Deus justo ficar aparentemente inerte frente à injustiça da prosperidade dos ímpios? O tema do salmo 37 está expresso nas palavras do verso 7, e trata do grande problema da prosperidade dos ímpios, que muitas vezes nos deixa perplexos e sem resposta.
Esta era a preocupação do salmista Davi: Como podem os ímpios prosperar? Como Deus aparentemente não vê tanta iniquidade, tanta violência e tanto crime, adicionados a tanta roubo, opressão e corrupção descabidos? Como podem prosperar os perversos e corruptos, quando os justos e bons muitas vezes estão sofrendo na miséria?
Em suas profundas meditações e grande experiência de alguém já idoso (V.25), além de ser poeta e profeta inspirado e rei da nação israelita, Davi apresenta os imperativos para todo o seguidor de Jeová Deus e de Jesus Cristo, a fim de que tenha esse assunto claro em sua mente, e não venha a decair em sua fé. Ele responde a indagação com um salmo em forma de acróstico, no original. Ele apresenta como resposta mais convincente o destino dos ímpios em contraste com a recompensa dos justos.
Qual deve ser a nossa atitude frente ao problema da prosperidade imerecida dos ímpios? OS 10 IMPERATIVOS do salmista nos ajudam a enfrentar o problema. O primeiro imperativo de sua coleção é este, embora pareça estranho:
1 – NÃO TE INDIGNES (V. 1)
Não te indignes por causa dos malfeitores” (v.1) Este é o primeiro imperativo de Davi.
Davi passou por essa experiência. Imagine o salmista encerrado em uma caverna, escondido para que o seu rei [Saul] a quem ele tanto ajudara, não o mate com o seu exército armado. Imagine o grande rei Davi com vestes reais, atravessando um rio gelado com a família, mulheres e crianças, acompanhados de amigos fiéis, levando bagagem pesada, passando fome e frio pelo caminho, enquanto que os seus adversários estavam festejando a vitória sobre ele. Não estaria ele se perguntando: Como podem prosperar os ímpios na sua iniquidade? Como pode um Deus Todo-poderoso deixar que isso aconteça? Ele diz: “Não te indignes por causa dos malfeitores.”
Mas Davi não nos deixa apenas no seu imperativo. Ele nos dá a resposta divina para a nossa inquietação e perplexidade no verso 2: “Pois eles dentro em breve definharão como a relva e murcharão como a erva verde.” Ou seja: Não se preocupe se os ímpios prosperam. A prosperidade deles é passageira, efêmera, porque eles mesmos passarão, e tudo quanto possuem será dado aos justos que possuirão a terra de modo exclusivo e final. Ora, se os ímpios são tão fugidiços, tão transitórios, por que você gastaria tempo e energia em se preocupar com eles?
Aqui podemos ver claramente o Destino dos Ímpios. A maioria dos teólogos protestantes e católicos prega a doutrina do castigo eterno em que os ímpios sofrerão eternamente nos fogos ardentes do Inferno. Eles dizem que enquanto os justos recebem a vida eterna no Céu, os ímpios sofrerão a vida eterna no Inferno. Mas isto seria multiplicar a impiedade, o pecado, a irreverência e a transgressão, porque preservar o malfeitor equivale a preservar o mal e a iniquidade. Graças a Deus, esta doutrina não encontra eco nas Escrituras.
Além disso, prolongar a vida  dos perversos a fim de prolongar eternamente o seu castigo não se combina com a justiça de um Deus cujo caráter é amorável e justo por excelência. Como poderia o ímpio sofrer com justiça por toda a eternidade, enquanto Deus existir, se pecou por muito pouco tempo, cerca de 70 anos, em comparação com a eternidade? No mínimo, isso seria completamente desproporcional. Mas a Bíblia afirma que há gradações de culpa (Lc 12:47-48), além de também afirmar a extinção dos ímpios. Mesmo a retribuição de um ser humano depois de um certo tempo se limita e clama, dizendo: “Basta! Deixai-o, já sofreu tanto que chega!”
Robert G. Ingersoll (1833-1899), crítico da religião cristã, se tornara cético e crente no agnosticismo, após ouvir a mentira de que o fogo do Inferno arderá por toda a eternidade a queimar pobres e indefesas criaturas humanas. Ele atacou a Bíblia, usou todos os argumentos da incredulidade contra as Escrituras, e morreu na descrença. Eu li os ataques dele contra a Bíblia. Mas, se eu pudesse lhe entregar uma mensagem de esperança, eu lhe diria: Robert, não se preocupe, porque, embora você tenha combatido contra Deus e contra as Sagradas Escrituras, o “fogo eterno” do Inferno não arderá eternamente; isso foi um engano dos seus líderes espirituais!” Mas, infelizmente, não posso dar esse recado ao meu xará, porque os mortos não têm mais a possibilidade de saber ou se comunicar conosco (Ec 9:5-6).
O que nos diz o salmista Davi? Ele apresenta a doutrina bíblica a respeito dos malfeitores: Os ímpios não participam da vida eterna, nem no Céu nem no Inferno. Seu castigo será terrível; porém, não eterno. O seu fim logo virá. Eles serão consumidos para sempre. Isto é dito no Antigo e Novo Testamentos. Note o que disse o salmista neste Salmo 37:  
1 - Os ímpios murcharão: “Pois eles dentro em breve definharão como a relva e murcharão como a erva verde” (v. 2,20).
2 - Os ímpios serão exterminados: “Os malfeitores serão exterminados” (v. 9, 22,28,34,38).
3 - Os ímpios passarão: “Mais um pouco de tempo, e já não existirá o ímpio; procurarás o seu lugar e não o acharás” (v. 10).
4 - Os ímpios serão traspassados: “A sua espada ... lhes traspassará o próprio coração” (15).
5 - Os ímpios serão quebrados: “Pois os braços dos ímpios serão quebrados” (v. 17).
6 - Os ímpios perecerão: “Os ímpios perecerão” (20).
7 - Os ímpios serão aniquilados: “Os inimigos do Senhor serão... aniquilados” (v. 20).
8 - Os ímpios se desfarão: “Se desfarão em fumaça” (v. 20).
9 - Os ímpios serão destruídos: “Quanto aos transgressores, serão, à uma, destruídos” (v. 38).
10 - Os ímpios desaparecerão: “Vi um ímpio prepotente a expandir-se qual cedro do Líbano. Passei, e eis que desaparecera; procurei-o, e já não foi encontrado” (v. 35-36).                                   
Depois destas 10 afirmações, exceto se passou por uma lavagem cerebral, ninguém pode em sã consciência afirmar que os malfeitores continuarão a sua vida denegrindo o caráter de Deus com as suas blasfêmias no Inferno por toda a eternidade. As afirmações mais categóricas do salmista são usadas para responder à pergunta: Para onde irão estes ímpios que prosperam apesar de sua impiedade?
O seu destino já está reservado: eles serão destruídos, se desfarão em cinzas, serão exterminados completamente, e desaparecerão para sempre. Jamais serão vistos novamente, jamais lembrados, jamais viverão outra vez. Extinção completa, aniquilamento e esquecimento total. Nada de Inferno eterno. O Universo inteiro será purificado da mácula do pecado para sempre. Voltará a felicidade dos justos eternamente.
2 – NÃO TENHAS INVEJA (V. 1)
Nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade”.
A prosperidade é algo que atrai a inveja dos que desejam ter uma vida fácil e confortável. É por isso que muitos enveredaram pelo caminho do tráfico das drogas e da corrupção. Mas, quem, em um momento de lucidez, invejaria um ímpio que prospera? É muito interessante a afirmação de um pregador: “Quem  invejaria ao boi gordo com faixas e grinaldas que o decoram, quando é levado ao matadouro? Pois bem, … o ímpio rico não é mais que um animal engordado para o matadouro.”
Colocados um ao lado do outro estes dois imperativos [Não te indignes, nem tenhas inveja] longe de serem sinônimos, são antagônicos. Indignação é uma repulsa, enquanto que a inveja é um desejo de posse. Indignação é agressiva, enquanto que a inveja parece passiva. Aqui temos dois sentimentos contrários. O indignado rejeita, o invejoso aceita. Entretanto, muitos que parecem indignados, estão apenas lamentando por não estar na posição dos invejados.
Portanto, considerando a nossa natureza sutil, uma pessoa que se demonstra externamente indignada, irada, revoltada, está às vezes, revelando a sua inveja interna. Isso aconteceu com os líderes judeus que se indignaram diante da alegada blasfêmia de Cristo apenas por inveja (Mc 2:7; 15:10). Mas eles estavam apenas acariciando sentimentos maus contra um homem justo, o que é totalmente inaceitável.
Ora, se é inaceitável qualquer sentimento de ira ou mesmo de inveja contra um justo, alguém poderia dizer que isto é justificável para com os ímpios e maus. Entretanto, qualquer sentimento de ira, inveja ou vingança contra eles será um julgamento contra a administração de Deus, que, com Sua infinita e insondável sabedoria, preserva os ímpios mesmo em sua mais crassa impiedade e corrupção.  Nunca esqueçamos as palavras do sábio Salomão: “Não te aflijas por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos perversos”. “O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a podridão dos ossos.” Pv 24:19;  Pv 14:30.
3 – CONFIA NO SENHOR (V. 3)
Este é o 3º imperativo, um imperativo duplo, porque um completa e resulta no outro: “Confia no Senhor e faze o bem”.
No contexto deste salmo, é mister confiar em Deus, quando nos vem à lembrança que os ímpios estão prosperando e nós indo de mal a pior, em posições contrárias (2Tm 3:13). Há homens do passado que tiveram de confiar em Deus, depois de passarem por idêntico problema.
O patriarca Jó que sofria sem saber por quê e acusado pelos amigos (Jó 21); José como escravo do Egito (Gn 39:1,20); Davi neste Salmo (Sl 37) e Asafe que quase desistiu (Sl 73: 2-3), além de Jeremias que disse: “Por que prospera o caminho dos perversos, e vivem em paz todos os que procedem perfidamente?” (12:1), e o povo do tempo de Malaquias que dissera: “Ora, pois, nós reputamos por felizes os soberbos; também os que cometem impiedade prosperam, sim, eles tentam ao Senhor e escapam.” (Ml 3:15)  – todos estes alcançaram a vitória porque confiaram em Deus plenamente.   
Confiar em Deus é uma necessidade de todos os que se sentem fracos e dependem de Alguém que é Todo-poderoso. Precisamos confiar em Deus quando os ímpios tramam contra nós enfurecidos, rangendo os dentes (v. 12). Precisamos confiar em Deus quando “os ímpios arrancam da espada e distendem o arco para abater o pobre e necessitado, para matar os que trilham o reto caminho” (v. 14). Precisamos confiar em Deus quando temos pouco e os ímpios tem em abundância, sabendo que o pouco dos justos vale mais (v. 16).
Precisamos confiar em Deus para não sermos envergonhados no dia do mal, e nos dias da fome sermos fartos (v. 19), porque o justo jamais será desamparado (v. 25). Devemos confiar em Deus quando “o perverso espreita ao justo e procura tirar-lhe a vida” (v. 32), sabendo que o Senhor não nos deixará nas mãos homicidas dos ímpios, nem nos condenará no dia em que formos julgados em tribunal (v. 33).
Mas muitas pessoas ficam só na primeira parte do imperativo. Muitos ficam numa confiança imóvel. Entretanto, temos que agir: “Faze o bem” (v. 3), diz o poeta. O que significa fazer o bem? “Habita na terra e alimenta-te da verdade” (v. 3), ou seja: Vive no lugar em que Deus o colocou em amor e justiça, e na esfera em que Ele deseja que você atue; você não precisa ficar vagueando de um lugar para outro, pela sua segurança e estabilidade. Fazer o bem significa praticar as obras da justiça divina no lugar onde Deus determinou para nós.
Então, demonstre que a verdade de Deus tem poder em sua vida, porque você se alimenta dela. Alimentar-se da verdade é alimentar-se do próprio Cristo que é a Verdade, o Pão que desceu do Céu: “Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o Pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede.” “Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a Mim.” (Jo 6:35,45; 14:6).
E mais: Você poderá dizer ao mundo ímpio que você é livre mesmo quando eles o prenderem em suas celas, porque a verdade liberta os seus possuidores, e você estará pronto a dar o seu testemunho a favor da verdade, só a verdade e nada menos do que a verdade. Disse Cristo: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8:32). Especialmente quando a verdade é um alimento diário, quando temos o privilégio de nos alimentarmos dela continuamente, assim como nos alimentamos de nosso pão cotidiano. 
Enquanto confiamos em Deus, fazemos o bem e andamos na verdade. Esta será a maior arma contra os inimigos que desejam nos condenar: eles não terão nada de que nos acusar, a não ser buscar alguma coisa em nossa devoção. Isso aconteceu com Daniel, mas ele foi logo livrado da boca dos leões famintos. Ele confiava em Deus, mas continuou a fazer o bem, orando ao Altíssimo, habitando na terra onde Deus o colocara, alimentando-se da verdade, e levando a sério a sua devoção, sem se importar com o que os outros diziam.   
4 – AGRADA-TE DO SENHOR (V. 4)
Aqui temos um imperativo seguido de uma promessa: “Agrada-te do Senhor e Ele satisfará os desejos do teu coração” (v. 4). A Bíblia tem ordens e imperativos, mas sempre acompanhados de promessas e bem-aventuranças. Quando obedecemos às ordens, podemos esperar o cumprimento das promessas. “Ele satisfará os desejos do teu coração.”
O que significa esse imperativo? Agradar-se do Senhor é uma experiência de relacionamento pessoal de amor para com Deus, de tal modo que O amamos independentemente das circunstâncias que nos envolvem. O cristão vive para agradar-se de Deus, através de um relacionamento de amor que ele obtém dEle, porque “Deus é amor” (1Jo 4:8). Isto inclui mesmo passarmos por sofrimento ocasionado por ímpios que nos afligem e prosperam. Não podemos concordar com os maus; porém, nos agradamos de Deus que nunca nos decepcionou. E como Maria, mãe de Jesus, a música de nosso coração será: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador” (Lc 1:46-47).
Agradar-se do Senhor é ser, viver e fazer tudo para agradá-lO. E como nós podemos agradar ao Senhor? Fazendo a Sua vontade, que é boa, agradável e perfeita (Rm 12:2). Quando fazemos a vontade de Deus sinceramente, nós nos agradamos do Senhor. Mas de que modo conseguimos isto? Guardando a Sua Lei e os Seus mandamentos que são santos, justos e bons (Rm 7:12). Nisto, temos o exemplo do próprio salmista Davi que se deleitava em Deus. Ele mesmo disse: “Agrada-me fazer a Tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a Tua lei” (Sl 40:8). E neste salmo (37:31), ele diz de todo justo que “no coração tem ele a Lei do Seu Deus”.
Agradar-se do Senhor, significa que teremos a maior alegria em recebê-lO no Seu santo dia: “Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no Meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no Senhor” (Is 58:13-14). Então, “deleitar-te-ás, ... no Todo-Poderoso e levantarás o rosto para Deus” (Jó 22:26).
Mas o que significam as palavras da promessa: “Ele satisfará os desejos do teu coração”? Pareceria que agora temos o cumprimento de nossos mais íntimos desejos e tendências, mesmo que irrelevantes ou pecaminosos? Bastaria nos agradar de Deus? Temos aí a garantia de que todas as nossas orações ainda nem apresentadas serão atendidas? De fato, como serão os nossos desejos, quando nós nos deleitamos em Deus? É evidente, como vimos, que nossos desejos estarão afinados de acordo com a justiça e sabedoria da Lei de Deus, gravada em nosso coração (Sl 37:30-31).
Deleitar-se em Deus é tanto um privilégio como um dever. Mas Ele não prometeu satisfazer os apetites pervertidos do corpo, a sua intemperança ou o temperamento da vaidade, mas os desejos da alma renovada e santificada. Qual é o desejo de um homem renovado que tem a Lei de Deus no coração? É conhecer, amar e servir a Deus. Os seus desejos serão lícitos e justos, além de serem também agradáveis a Deus, que Se deleita nos filhos que se agradam dEle (Mt 3:17). Nisto consiste a sua alegria e a recompensa apenas segue como um resultado: “Ele satisfará os desejos do teu coração.”
5 – ENTREGA O TEU CAMINHO AO SENHOR (V. 5).
Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nEle, e o mais Ele fará” (v. 5). Uma ordem, seguida de outra ordem, porque ambas se explicam, seguidas de uma grande promessa.
Uma das coisas mais difíceis de fazer é entregar o nosso caminho a Deus. Muitos não entregam o seu caminho a Deus porque se julgam mais sábios do que Ele, ou têm receio de que a Sua vontade exija sacrifícios de sua parte. Queremos dirigir os nossos passos em um caminho que já traçamos por nossa própria sabedoria, e julgamos que vamos indo muito bem. E até nos elogiamos por nossas proezas. No final, vemos que perdemos tempo, energia e propriedades, simplesmente por não seguirmos o caminho de Deus. Então, resta lamentar e prometermos a nós mesmos não fazer mais isso, apenas para repetirmos a mesma rotina no dia seguinte.
O que significa entregar o nosso caminho a Deus? Salomão nos ajuda a identificar o nosso caminho, em um verso paralelo, dizendo: “Confia ao Senhor as tuas obras, e os teus desígnios serão estabelecidos” (Pv 16:3). Nosso caminho são as nossas obras, todos os afazeres e negócios da vida, as coisas que fazemos, e nas quais andamos. Devemos entregar todas as nossas obras, os nossos planos, as nossas afeições, os nossos sentimentos, e desejos do coração. Tribulações, provações, aflições pelas quais estamos andando. Tudo deve ser entregue a Deus, em forma submissa e contente.
Portanto, entregar o caminho ao Senhor é outra maneira de dizer “Confia no Senhor” (v. 3), pois aqui estão as palavras do salmista, em seu duplo imperativo: “Entrega o teu caminho ao Senhor, [ou seja:] confia nEle” (v. 5), em forma de paralelismo sinônimo. Quando entregamos o nosso caminho a Cristo Jesus, Senhor nosso, nós confiamos a Ele todas as coisas em que estamos envolvidos, buscando dEle a direção, quanto às nossas vontades e necessidades, certos de que Ele cumprirá todas as Suas promessas.
Portanto, há um estreito relacionamento entre confiar e entregar. Quando você entrega, é porque você já confia. Por exemplo: Você entregaria o seu carro, a uma pessoa que você sabe que não tem carteira de motorista? Você só entrega se você confia. Se você não confia, você não vai entregar. Desse modo, é por isso que o salmista está repetindo a ideia de confiar (V. 3) e vai repeti-la por  mais 3 vezes (vs. 7,9,34). Entregar e confiar estão muito relacionados. Entregar já contém a confiança implícita. Porque confiar é essencial para todas as coisas espirituais.
Enfim, entregar o caminho a Deus significa mais: “Consagre-se a Deus pela manhã; faça disso a sua primeira atividade. E ore: ‘Toma-me, ó Senhor, para ser Teu inteiramente. Deponho todos os meus planos a Teus pés. Usa-me hoje para o Teu serviço. Fica comigo, e que tudo o que eu fizer seja operado por Ti.’ Essa e uma questão diária. Cada manhã consagre-se a Deus para aquele dia. Entregue-Lhe todos os seus planos para saber se devem ser levados avante ou não, de acordo com o que Sua providência indicar. Assim, dia após dia, você poderá entregar sua vida nas mãos de Deus, e ela será cada vez mais moldada segundo a vida de Cristo.” (EGW, Caminho a Cristo, p.  45).
Você tem problemas, tribulações, privações? Entrega isso a Deus. Você precisa se casar? Entrega isso ao Senhor. Você precisa estudar e não sabe em que faculdade? Entrega isso a Deus. Você precisa fazer compras? Entrega isso ao Senhor. Você precisa viajar, mas tem alguma dúvida? Entrega isso a Deus. Você precisa pregar e não sabe qual é o assunto que Deus deseja que você pregue? Entrega isso a Ele. Você precisa falar com o patrão sobre o sábado? Entrega isso a Deus, e Ele lhe dirá as palavras mais sábias e oportunas. Portanto, entregar o nosso caminho a Deus significa uma completa dependência dEle, em todas as coisas de nossa vida.
É uma questão de prioridades: Antes de qualquer coisa, entregue o seu caminho a Deus. Antes  dos seus planos, coloque os planos de Deus. Antes de suas opiniões, coloque as opiniões de Deus. Antes da sua vontade, antes dos seus desejos, antes das suas afeições, coloque a vontade, os desejos e as afeições de Deus. Antes dos seus pensamentos, palavras e atos, coloque os pensamentos, palavras e os atos de Deus em sua vida. Antes da sua visão e antes da suas prioridades, coloque a visão e as prioridades de Deus no seu dia a dia. Faça de Deus a sua maior prioridade e coloque tudo nas Suas mãos.
E aqui temos a Sua promessa que acompanha o imperativo de entregarmos tudo a Deus: “Ele tudo fará” (v. 5). Isso não significa que ficaremos na ociosidade, de braços cruzados, sem fazer nada, apenas esperando que Deus faça todas as coisas por nós. De fato, aquilo que nós podemos realizar, Ele Se nega a fazer. Lázaro estava morto, e diante da sepultura do Seu amigo, Cristo ordenou que tirassem a pedra que cobria a entrada. Jesus podia ter dado um sopro e a pedra seria rolada e removida. Mas Ele não faz aquilo que nós podemos fazer.
Ele não poderá fazer tudo se não entregarmos tudo a Ele. Portanto, entregar o nosso caminho a Deus significa entregarmos tudo o que temos a Deus, e esperar que Ele faça tudo de acordo com a Sua vontade. E a Sua vontade inclui fazermos tudo o que Ele nos ordenar, independentemente daquilo que já planejamos em contrário. “Buscai, pois, o reino de Deus e a Sua justiça e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6:33).
O que mais o Senhor fará? “Fará sobressair a tua justiça como a luz e o teu direito, como o sol ao meio-dia” (v.6). Qual é a nossa justiça? Nossa justiça está em Cristo, nosso Salvador e “Senhor, Justiça Nossa” (Jr 23:6; 33:16). De nós mesmos não temos justiça própria, mas Deus nos dá a justiça de Cristo e o direito de nossa vida está em Suas mãos. Ele nos cobre simbolicamente com as vestes da justiça de Cristo que passa ser nossa e resulta em atos de amor e justiça dos cristãos. O apóstolo João escreveu acerca disso: “O linho finíssimo são os atos de justiça dos santos” (Ap 19:8).
A promessa do salmo é que a nossa justiça há de sobressair como o sol ao meio dia. Cristo, o Sol da justiça será visto em nossa vida, de modo fulgurante, e todos poderão contemplar a salvação de Deus em nós. Foi por isso que Jesus disse no sermão do monte: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:16).
6 – DESCANSA NO SENHOR (V. 7)
O 6º imperativo é triplo: “Descansa no Senhor e espera nele, não te irrites por causa do homem que prospera em seu caminho, por causa do que leva a cabo os seus maus desígnios.” Aqui temos a ordem tríplice para descansar, esperar, e não se irritar.  E aqui de modo mais claro se destaca o tema deste salmo: “por causa do homem [ímpio] que prospera em seu caminho!”
Deus sabe que precisamos de descanso. Estamos cansados deste mundo de pecado,  cheio de mentiras, desonestidades e  crimes. Estamos cansados de ver pessoas cansadas da justiça. Como disse o grande Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto" (Obras Completas, v. 41, t. 3, 1914, p. 86).
Jesus Cristo sabe que necessitamos de descanso. Ele ainda nos convida: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11:28-30).
Descansar em Deus no original hebraico é ficar em silêncio diante dEle. “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” (Sl 46:10). É preciso parar de falar, parar de reclamar e de se indignar diante dos ímpios e perante Deus. É preciso parar de acusar a Deus porque os ímpios não são castigados logo que cometem a iniquidade, ou porque os justos não são recompensados ou reconhecidos de imediato. Temos que aprender a calar ou descansar na sabedoria divina, e esperar nEle, confiando em todas as ocasiões, que tudo está em Suas mãos e que Ele a Seu tempo dará um final justo e perfeito ao nosso mundo para testemunho do universo.
7 – DEIXA A IRA (V. 8)
“Deixa a ira, abandona o furor; não te impacientes; certamente, isso acabará mal. Porque os malfeitores serão exterminados, mas os que esperam no Senhor possuirão a terra” (v. 8-9).
Aqui temos novamente um imperativo em ampliação: Há aqui outro imperativo tríplice: “Deixa a ira (1), abandona o furor (2), não te impacientes (3).” Há uma admoestação: “Certamente isso acabará mal!” Há uma razão convincente: “Porque os malfeitores serão exterminados!” E há também uma promessa alvissareira: “Os que esperam no Senhor possuirão a terra.”
Observando as condições prevalecentes em nosso mundo moderno, vemos tantos malfeitores, tantos pecadores, tantos perversos, ladrões, assassinos e corruptos. Mas muitas vezes não podemos deixar de ficar impacientes ao ver como prosperam os ímpios em sua maldade. Como ficar inertes diante de bandidos que roubam a sua casa e ainda matam toda a sua família diante dos seus olhos e você impotente tem que contemplar a barbárie de homens ímpios, perversos e maus, que ainda saem dando risadas escarnecedoras? Este sentimento de ira não precisa ser erradicado, mas controlado. Como disse Lutero sobre o Salmo 37: “Aqui está a paciência dos santos.”
Com efeito, o cristão não é caracterizado pela ira, pelo furor, ou pela impaciência, mas pela mansidão. Mas eles não podem competir com os justos porque a garantia é de que os malfeitores serão exterminados e desaparecerão do universo, “mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz” (v. 10, 11). Cristo usou essas palavras e acrescentou um elogio aos mansos no Seu Reino (Mt 5:5): “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.” Esta é a promessa de Cristo e está em toda a Bíblia.
Há uma crença errônea de que os justos hão de morar no Céu, eternamente, com os anjos. Assim dizem muitos teólogos protestantes e católicos. Mas os ensinos e as promessas da Palavra de Deus indicam para outra direção. A Bíblia ensina no Apocalipse que haveremos de morar com Deus no Céu onde Ele está hoje, por mil anos (Ap 20), mas depois disso, todos os justos e anjos virão para esta Terra, quando a Nova Jerusalém descerá do Céu (Ap 21:2), e Deus estabelecerá o Seu trono de glória aqui neste mundo (Ap 21:3) para sempre (Dn 7:14).
A razão para isto está no fato de que Cristo esteve aqui pessoalmente, morrendo na Cruz do Calvário, e derramando o Seu precioso sangue por nossa Salvação, exaltando a importância desta Terra por toda a eternidade e diante de todo o Universo.
Então, se cumprirá a promessa: “Os que esperam no Senhor possuirão a terra” (v. 9); “Os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz” (v. 11); “Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre” (v. 29); “Pois eis que Eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas” (Is 65:17); “Nós, porém, segundo a Sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2Pe 3:13); “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe” (Ap 21:1).
8 – APARTA-TE DO MAL (V. 27)
Aparta-te do mal e faze o bem, e será perpétua a tua morada.  Pois o Senhor ama a justiça e não desampara os seus santos; serão preservados para sempre” (v. 27-30)
No grande conflito entre o bem e o mal, o salmista nos orienta: “Aparta-te do mal e pratica o bem” (v. 27). Vivemos em um mundo cheio de mal; porém, precisamos nos apartar do mal, hoje mais do que nunca. Quando deixamos a ira, estamos nos apartando do mal. Quando evitamos os maus sentimentos, estamos nos apartando do mal. Quando deixamos de lado a violência, estamos nos apartando do mal. Quando evitamos a sensualidade, estamos nos apartando do mal.
Os homens santos do passado tinham a coragem de obedecer a este imperativo, que é o clamor da consciência espiritual: “Aparta-te do mal.” Isso requer muito poder espiritual, porque o mal em nossa natureza clama por satisfação. Não basta dizer como a grande maioria sem Cristo diz: “Eu sou bom, porque eu não mato, não roubo, não adultero, não desejo o mal para o meu próximo, não fumo, não bebo, não uso drogas,...” e a lista vai longe de coisas que não fazem, mas que, contudo, não se constituem  numa forte tentação.
É preciso ir mais a fundo e perceber a maldade da natureza nas coisas mais sutis, mais básicas como a cobiça, o egoísmo, a avareza, a preguiça, a gulodice, a inveja, a luxúria, e por aí vão os pecados capitais. Destes pecados devemos nos apartar com o auxílio do Espírito Santo, que nos fortalece a vida espiritual.
Mas mesmo isso não é suficiente. Não basta nos apartarmos do mal, negativamente. É preciso ir além disso. Muitos pensam que a vida cristã se resume em não fazer o que é considerado mal. Não praticam o pecado e se satisfazem com isso, achando que esta é a sua parte. Mas isso não é suficiente. O 10º imperativo duplo se completa ao dizer mais: “Faze o bem!” Não só nos aparatamos do mal, mas ao mesmo tempo fazemos o que é bom, e praticamos o bem.
Acerca de Jó, lemos que ele se desviava do mal (Jó 1:1). Mas ele não ficou só nisto, por mais importante que isto seja. Jó adorava ao verdadeiro Deus, negando os falsos ídolos (Jó 31: 24-28); ele repartia o seu pão com os pobres e com as viúvas (v. 16-17); ele cobria os necessitados com roupas e cobertas (v. 19); praticava a justiça nos tribunais e defendia os órfãos (v. 21); ele atendia bem aos seus servos, dando-lhes a razão (v. 13); ele respeitava os seus inimigos (29-30); hospedava os estrangeiros e praticava a hospitalidade sem acepção para com os viajantes (v. 32). Leia o capítulo todo (Jó 31), e você verá o que significa realmente apartar-se do mal e praticar o bem!
Para fazer o bem, precisamos amar a verdade, amar a justiça e odiar o pecado. De Cristo, lemos: “Amaste a justiça e odiaste a iniquidade” (Hb 1:9). Certa vez, um pastor encontrou um membro de sua igreja fumando. Quando ele percebeu que não podia mais se esconder e disfarçar o cigarro, disse ao pastor: “Você me pegou. Mas eu odeio esse vício.” O pastor lhe perguntou: “Até que ponto você o odeia? Você odeia esse vício a ponto de largá-lo?” Então, o homem lhe disse: “Agora, você me pegou de novo. Eu quero deixá-lo e de agora em diante, eu odeio isso de fato, e deixo de fumar!” O pastor fez uma oração e aquele homem nunca mais voltou ao vício. Ele agora estava pronto para fazer o bem. Para fazer o bem, é preciso se purificar primeiro, apartar-se do mal, odiando o pecado e a iniquidade, e praticar a verdade e a justiça.
E qual será a recompensa? Qual é a promessa? Leia de novo essas palavras cheias de esperança, no v. 27: “E será perpétua a tua morada!” Que gloriosa promessa! Que esperança estimulante! Vivemos em um mundo em que a nossa morada é transitória e passageira. Outras pessoas vão nos substituir, e ocupar ao nosso lugar, onde agora habitamos. Mas, se nos separamos do mal, praticamos o bem, então, satisfeitas as condições, a promessa nos pertence, com todas a letras!
Logo, temos a segurança de quem nos deu a promessa, v. 28-29: “Pois o Senhor ama a justiça e não desampara os Seus santos; serão preservados para sempre, mas a descendência dos ímpios será exterminada. Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre.” A nossa morada será perpétua, eterna, junto a um Deus imortal! Nunca temos um imperativo sem uma gloriosa promessa. Pois se Deus ama a justiça, os Seus santos refletem essa justiça: “A boca do justo profere a sabedoria, e a sua língua fala o que é justo” (V. 30).
9 – ESPERA NO SENHOR (V. 34)
Espera no Senhor, segue o Seu caminho, e Ele te exaltará para possuíres a terra.Aqui temos um outro imperativo duplo e uma promessa de exaltação e prosperidade para os humildes e mansos.
Ninguém gosta de esperar, mesmo que seja por Deus. Aliás, a tendência é pensar que, se Deus é Todo-poderoso, então, não precisamos esperar por Ele; Ele é que tem que esperar por nós que somos tão limitados. Mas, Ele pensa diferente de nós, tem planos que para nós são impenetráveis e desconhecidos, e muitas vezes, perdemos a paciência com Ele, e há certas pessoas que até dizem que Deus os decepcionou. Mas, pacientemente, depois de esperar muitas vezes por nós, Ele nos ordena que esperemos igualmente por Ele: “Espera no Senhor!”
E, se o único Senhor de toda a Bíblia é Jesus Cristo (1Co 8:6; Ef 4:5), então, esperar no Senhor é esperar em Jesus Cristo, o nosso Salvador, que morreu por nós. Portanto, temos em Cristo Aquele que é o nosso Salvador mas também é o nosso Senhor. Nunca nos esqueçamos de que primeiro Ele nos salva e depois, recebemos o Seu amorável convite: “Segue-Me!” (Mt 9:9). E, como Mateus, que ouviu este convite, haveremos de segui-Lo, deixando tudo para trás. Portanto, Davi se dirige a nós e nos diz neste penúltimo imperativo duplo do Salmo 37: “Segue o Seu caminho!” (v. 34). Se já seguimos o  Seu caminho como nosso Salvador, por que não O seguiríamos como o Senhor de nossa vida? Se Ele já deu a Sua vida por nós, o que não faríamos por Ele?
Daí, teremos o cumprimento de Sua promessa: “Ele te exaltará para possuíres a terra” (v. 33). Davi sabia muito bem o que era ser humilhado, diante do seu povo, diante de sua família e diante de Deus. Mas também sabia o que era ser exaltado, porque, depois de tanta humilhação, ele foi enaltecido como o rei de Israel como ninguém jamais fora, além de ser um tipo de Cristo, e pai do Messias.
Mas, mesmo depois de ser assim exaltado, Davi ainda não chegou a possuir a terra,  porque ele, como outros heróis da fé, ainda não pôde ver a concretização da promessa (Hb 11:32,39). Isso acontecerá após o Milênio (Ap 20-21). Então, todos os justos serão exaltados para receber o reino eterno de Deus para todo o sempre (Dn 7:27).
10 – OBSERVA O HOMEM ÍNTEGRO (V. 37)
Observa o homem íntegro e atenta no que é reto; porquanto o homem de paz terá posteridade (v. 37).
A Bíblia disse a respeito de Jó, cito novamente o patriarca do sofrimento e da paciência: “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal” (Jó 1:1). Por que será que isso foi escrito na Bíblia? Foi escrito para que nós pudéssemos observar homens íntegros, a fim de aprendermos deles, e imitarmos o seu exemplo em nossa vida.
Jó foi um dos homens de Deus que enfrentou o grande problema da prosperidade dos ímpios. Ele não podia entender esse assunto e disse: “Como é, pois, que vivem os perversos, envelhecem e ainda se tornam mais poderosos? ... Passam eles os seus dias em prosperidade e em paz descem à sepultura. E são estes os que disseram a Deus: Retira-te de nós!” (Jó 21:7, 13-14). Mas Jó saiu vitorioso e recebeu de volta em dobro todas as coisas e os filhos que perdeu. Mas qual foi o segredo de Jó? Apesar de muitas dúvidas a respeito das razões do seu sofrimento, pôde dizer: “Eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra” (Jó 19:25).
 Disse o salmista em seu décimo imperativo: “Observa o homem íntegro!” Contemple o patriarca Noé. Disse Deus a respeito dele: “Eis a história de Noé. Noé era homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos; Noé andava com Deus.” (Gn 6:9).
Ao observarmos a esse homem íntegro, veremos que ele era de tal fibra de caráter, não em uma cidade celestial, mas em uma terra cheia de corrupção e violência (v. 11). No entanto, pôde revelar aos homens antediluvianos que ele era diferente, porque andava com Deus. Aqueles homens ímpios não terão desculpas no dia do Juízo. O homem que é íntegro se torna vitorioso. Ele não se intimida com o problema da prosperidade dos ímpios, porque todos eles serão exterminados, assim como aconteceu no Dilúvio.
Mas o último imperativo também é duplo e nos diz mais: “Atenta no que é reto” (v.37). Assim como observamos aos homens íntegros, contemplamos a retidão, as virtudes que são a expressão da justiça de Deus, e continuamos praticando o que agrada a Deus e seguindo o caminho reto. E pela contemplação seremos transformados.
E qual será a nossa recompensa? A promessa que nos estimula ao cumprimento do seu último imperativo? “O homem de paz terá posteridade” (v. 37). Os transgressores serão destruídos e a descendência dos ímpios será exterminada (v. 38), mas os justos terão uma posteridade abundante como a areia do mar, senão aqui lá no Céu. Imagina, quantos filhos, quantos amigos e companheiros e anjos que nunca pecaram nós teremos lá! Sem contar com os amigos dos bilhões de mundos afora em todo o universo! Lá poderemos contar a nossa história e de quão maravilhoso foi Jesus Cristo para conosco! Esta é a verdadeira posteridade e com ela a verdadeira prosperidade.
CONCLUSÃO
Como Davi termina este salmo? Quais são as últimas promessas inspiradas na conclusão do Salmo? “Vem do Senhor a salvação dos justos; Ele é a sua Fortaleza no dia da tribulação. O Senhor os ajuda e os livra; livra-os dos ímpios e os salva, porque nEle buscam refúgio.” (v. 39-40). Portanto, vamos buscar o refúgio em nosso grande e maravilhoso Deus, que certamente nos dará a salvação hoje e eternamente. Vamos confiar em Deus e entregar o nosso caminho e todos os nossos projetos ao Todo-poderoso. Vamos descansar e esperar nEle, e vamos seguir o Seu Caminho. Porque disse Jesus: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida! ninguém vem ao Pai senão por mim.” (Jo 14:6).
O contexto dessa mensagem é o grande problema e a grande solução para a prosperidade dos ímpios, mas esta grande solução serve para todos os maiores problemas e tribulações da existência. Portanto, guarde bem para os 10 IMPERATIVOS:
1-   NÃO TE INDIGNES
2-   NÃO TENHAS INVEJA
3-   CONFIA NO SENHOR
4-   AGRADA-TE DO SENHOR
5-   ENTREGA O TEU CAMINHO
6-   DESCANSA NO SENHOR
7-   DEIXA A IRA
8-   APARTA-TE DO MAL
9-   ESPERA NO SENHOR
10-       OBSERVA O HOMEM ÍNTEGRO
Pr. Roberto Biagini
Mestrado em Teologia
prbiagini@gmail.com

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